+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Biden e o fracking: Uma responsabilidade que precisa ser assumida

A eleição de Joe Biden como presidente dos Estados Unidos traz importantes reflexões sobre sua política climática que, apesar de profundamente mais realista que a de Donald Trump, ainda apresenta contradições que não podem ser ignoradas.

Biden anunciou um plano de US$ 2 trilhões para criar empregos e alcançar eletricidade 100% limpa até 2035, além de defender o Green New Deal e sinalizar o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, dentro do planejamento de tornar a economia do país neutra em carbono até 2050.

O plano de mudança climática de Biden visa atingir emissões líquidas de gases de efeito estufa, mas não envolve o enfrentamento ao fracking, um dos grandes responsáveis pelas emissões desses gases. Além das questões que cercam a contaminação e destruição do meio ambiente, das águas subterrâneas e da atmosfera, já foi comprovado que emissões fugitivas sequer chegam aos inventários.

“Eu descarto a proibição do fracking porque (…) precisamos que outras indústrias façam a transição para chegar a uma emissão zero completa”, disse Biden em um dos debates durante a eleição.

Diversos países do mundo, inclusive o Brasil, constroem termelétricas a gás, sendo este gás importado dos Estados Unidos e originado do fracking. É uma responsabilidade de Joe Biden — como presidente de um país influente e fornecedor de um combustível fóssil que continua estimulando termelétricas fósseis pelo mundo — fazer a transição energética, deixar o gás de xisto em seu lugar, ou pelo menos encontrar outras formas de fraturar poços para sua extração, e providenciar outras formas de energia.

“Já é muito importante que Biden esteja alinhado com uma agenda climática concreta, mas o que as pessoas, em todo o planeta, estão apoiando é a necessidade de energia limpa e de políticos que estejam dispostos a enfrentar as grandes petrolíferas. Criar um plano para diminuir a emissão dos gases e não combater um dos principais causadores dessas emissões enfraquece qualquer iniciativa de mudança climática”, ressalta o engenheiro Juliano Bueno de Araújo, fundador da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil, que há sete anos e meio vem realizando a campanha nacional para o banimento do fraturamento hidráulico, também conhecido como Fracking.

O fracking, junto com as discussões sobre extinção de postos de trabalho locais, se tornou uma das questões decisivas na disputa pelos votos da Pensilvânia, que foram para Obama em 2012 e importantes na vitória de Trump em 2016.

Vale dizer que a maioria dos habitantes da Pensilvânia se opõe ao fracking. De acordo com uma pesquisa da Climate Power 2020, 73% dos eleitores da Pensilvânia apoiam os planos de transição dos EUA para uma economia de energia limpa até 2050 e menos da metade (40%) apoia a indústria de fracking.

Os danos causados pelo fracking são decisivos para as mudanças climáticas. Um estudo divulgado pela Universidade Cornell, nos Estados Unidos, aponta que o aumento da concentração de gás metano — 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2) — vem, em grande parte, da exploração do gás de xisto por meio do fracking.

A água utilizada no procedimento é misturada com areia e cerca de 150 mil litros de até 600 produtos químicos, incluindo substâncias cancerígenas e toxinas conhecidas, tais como urânio, mercúrio, metanol, rádio, ácido hidroclorídrico, formaldeído, entre outras.

Esses produtos podem escapar e contaminar as águas subterrâneas em torno do local. No condado de Washington, por exemplo, poluentes do fracking deixaram a água acima dos níveis de radioatividade. Dentro do processo de extração, esses elementos são despejados em aterros sanitários, enviados para estações de tratamento de água e devolvidos para o rio local.

Cada poço de fracking utiliza aproximadamente de 7,8 a 15,1 milhões de litros de água. Geralmente, essa grande quantia é transportada para o local do fraturamento por vias terrestres, em caminhões movidos à diesel, representando um custo ambiental significativo – visto que vivemos em meio a uma crise hídrica.

Em West Virginia, são injetados aproximadamente 19 milhões de litros de fluido em cada poço fraturado e, de toda a água utilizada, apenas 8% retorna à superfície.

Por estes e tantos outros impactos, muitas vezes permanentes, reforçamos que não é possível construir uma agenda de mudança climática com ações concretas sem que se pense em formas de combater o fracking e investir em novas formas de energia não agressivas.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Organizações ambientais pressionam ANP por mais transparência e prazo em consulta pública sobre concessão de blocos de petróleo e gás

Nesta terça, 3/9, membros do Instituto Internacional Arayara, da Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS), do Observatório do Petróleo e Gás (OPG), Coalizão Energia Limpa e Fé, Paz e Clima participam da Audiência Pública, promovida pela Agência Nacional do Petróleo e Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que visa fazer uma análise sobre alteração de minutas dispostas para Consulta Pública Nº 02/2024

Leia Mais »

Carta Manifesto sobre derramamento de Petróleo é assinada por mais de 130 organizações e entregue ao MME

Transparência nos processos e indenizações às comunidades afetadas pelo derramamento de 2019 fazem parte dos pleitos apresentadas ao Secretário de Transição Energética,Thiago Barral Após uma semana de negociação com o Ministério de Minas e Energia, por meio da Assistência de Participação Social, representantes do Instituto Internacional Arayara, da Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros

Leia Mais »

“Queremos justiça ambiental e reparação aos povos atingidos pelo derramamento de petróleo”, diz a coordenadora do Conselho Pastoral de Pescadores, Andrea Souza

Ato em memória dos 5 anos do maior crime ambiental na costa marítima brasileira reuniu ativistas na Esplanada dos Ministérios, exigindo a responsabilização dos culpados O Instituto Internacional Arayara, em parceria com o grupo Jovens pelo Clima, o GT-Mar (Grupo de Trabalho para Uso e Conservação Marinha), a Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas e Povos Tradicionais Extrativistas Costeiros

Leia Mais »
Reunião CONFREM

Monitor Oceano é apresentado na reunião da CONFREM

A Comissão Nacional de Fortalecimento das Reservas Extrativistas Costeiras e Marinhas (CONFREM), realizou o Encontro de Planejamento e Articulação Interinstitucional, durante os dias 16 e 22 de agosto de 2024, em Brasília (DF). O evento tem o propósito de formular estratégias que assegurem o reconhecimento e a proteção dos territórios extrativistas tradicionais costeiros e marinhos. O Instituto Arayara participou ativamente

Leia Mais »