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Vacinação privada aprofundaria negacionismo, alerta historiador

“Teríamos concentração ainda maior do número das mortes na população trabalhadora periférica”, afirma pesquisador brasileiro que acompanha o avanço da COVID-19 no mundo

Após 10 meses de acompanhamento diário da evolução da COVID-19 no Brasil e no mundo, o professor Gilberto Calil, da cadeira de História Contemporânea na Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), conseguiu chegar a um ponto que lhe possibilita fazer análises complexas das políticas públicas aplicadas ao enfrentamento à pandemia e, também, à forma como as sociedades reagem.

Sobre a vacinação paga – proposta pela Associação Brasileira das Clínicas de Vacinas, que planeja importar da Índia 5 milhões de doses -, Calil é assertivo:

“A imposição de uma lógica concorrencial, mercadológica, significa não apenas o individualismo e a competição, mas a quebra de qualquer possibilidade de um planejamento, em âmbito mundial, inclusive”, diz, observando que a capacidade global de produção de vacinas no curto prazo é insuficiente inclusive para atender somente a profissionais de saúde, idosos e portadores de comorbidades crônicas. Mas, segundo ele, o efeito da imunização pelo sistema privado de saúde levaria a outros problemas- talvez ainda mais graves.

A vacinação (privada) de parcelas mais enriquecidas da população as levaria a radicalizar o seu negacionismo”. “Vamos ter uma concentração ainda maior do número das mortes , de adoecimentos e sequelas na população trabalhadora periférica. A vacinação privada é um absurdo do ponto de vista epidemiológico, mas há um efeito ainda mais pernicioso do ponto de vista político. Isso significa que uma parcela da população vai se sentir equivocadamente protegida e vai agir de acordo com isso”, afirma o professor da Unioeste, que em seu monitoramento voluntário chegou a produzir mais de 800 tabelas com números da COVID-19.

Ao longo da realização de seu monitoramento, realizado por ele apenas, em sua própria casa, Calil acompanhou a política de disponibilização de informações que deveriam ser públicas, por parte do Ministério da Saúde.

“Desde o mês de março, o tratamento do governo Bolsonaro é marcado pela guerra de informações. O governo Bolsonaro tem no agravamento e manutenção da pandemia o eixo de sua estratégia de facistização. Isso fica absolutamente explícito no trágico discurso de 24 de março da “gripezinha”, “histórico de atleta” etc. Aquele foi o momento de uma gigantesca proliferação de fake news nas redes sociais, sobretudo o WhatsApp e isso se mantém por toda a pandemia”, recorda.

Em paralelo, segundo o professor, “a dificuldade de encontrar informações pública tem como contraface a circulação de falsas informações na forma de fake news, e são elas que demarcam o fundamental da percepção que a população tem sobre a pandemia”.

Essa situação, segundo Calil, “se agrava muito com a militarização do Ministério da Saúde, quando sai do ar o site (do Ministério), quando uma série de informações do histórico da Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) desaparece. Há informações de vários profissionais, como alguns da Fiocruz, por exemplo, que projetam que o número total de óbitos seja próximo a 50% a mais do que o registrado”.

A entrevista completa do professor Gilberto Calil está aqui :

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