Altas concentrações de metais pesados e substâncias radioativas colocam em risco a saúde pública da população
Uma Ação Civil Pública (ACP) foi protocolada nesta terça-feira (20) contra a Usina Termelétrica (UTE) de Figueira, uma das mais antigas do Brasil, localizada em Figueira, Paraná. A denúncia, que destaca irregularidades no licenciamento ambiental e os riscos à saúde pública e ao meio ambiente, aponta para um dos maiores casos de contaminação radioativa e tóxica já registrados no Brasil.
A UTE Figueira, em operação há mais de seis décadas, tem uma trajetória marcada por problemas ambientais. De acordo com o estudo “Usina Termelétrica Figueira: Impactos da queima do Carvão Mineral em Figueira-PR”, a usina libera elevadas concentrações de metais pesados, como arsênio, cádmio e mercúrio, além de elementos radioativos como tório e urânio. Essas substâncias, encontradas em níveis acima das médias globais, representam sérios riscos para as comunidades próximas e para o meio ambiente local, incluindo a contaminação do solo e das águas superficiais e subterrâneas.
Para o gerente de Energia, Clima e Geociências do Instituto Arayara, organização que protocolou a ACP, a ação pública movida serve como restabelecimento do que já deveria ter sido corrigido há muito tempo. “É uma usina de pequeno porte e o seu fechamento não produz nenhum impacto no suprimento de energia do Sistema Interligado Nacional (SIN)”, explica Anton Schwyter.
A operação da usina também é marcada por falhas no licenciamento. De 2002 a 2019, a usina operou com uma licença vencida, sem que o órgão ambiental responsável emitisse um parecer final. Em 2019, uma nova licença foi concedida sem o cumprimento de todas as etapas legais exigidas, o que levanta dúvidas sobre a regularidade do processo. Apesar da outorga vencida, a usina continuou operando com autorizações provisórias, enquanto a Companhia Paranaense de Energia (Copel), responsável pela usina, não cumpriu integralmente os requisitos para restabelecer sua operação comercial.
Impactos ambientais de à saúde da população
Segundo os dados do Relatório State of Global Air de 2020 (HEI, 2020), a poluição do ar foi identificada como o quarto principal fator de risco para mortalidade em todo o mundo, acarretando em aproximadamente 6,7 milhões de mortes no ano de 2019, sendo 20% destas, causadas por doenças respiratórias crônicas, como a pneumoconiose causada pela exposição fugitiva a poeiras minerais.
A população que vive em um raio de até 5 km da usina enfrenta um risco aumentado de doenças respiratórias e cardíacas, devido à alta exposição aos poluentes atmosféricos. Em estudos realizados, o município de Figueira apresentou níveis de chuva ácida superiores aos de grandes cidades como São Paulo, provavelmente em decorrência das emissões da UTE. Além disso, trabalhadores podem estar expostos a níveis perigosos de radônio, um gás radioativo gerado a partir da combustão do carvão de Figueira.
Pedidos de compensação e transição econômica
A economia da região, fortemente ligada à atividade carbonífera, também está em jogo. Embora a operação da usina represente riscos graves, a transição para uma economia sustentável é vista como um desafio. Há pedidos por compensação ambiental e pela criação de um fundo para apoiar essa transição de forma justa e planejada.
“Os projetos de lei atuais preveem subsídios para o carvão mineral até 2040, podendo se estender até 2050. Portanto, se o planejamento de transição econômica não for implementado logo, ao final dos subsídios, o município ficará sem fontes de receita e com grandes passivos ambientais”, alerta Juliano Araújo Bueno, diretor técnico do Instituto Arayara.
Se a Ação Civil Pública for julgada procedente, a UTE Figueira poderá enfrentar a obrigação de reparar ou indenizar os danos ambientais e só retomar suas atividades após regularização completa do licenciamento ambiental.
Edição: Mayala Fernandes
Foto: Leo Dias Maciel/ Google Maps
Fonte: Brasil de Fato