+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Transição de carvão para renováveis é mais barata do que para gás, diz estudo

Custo de renováveis diminuiu 99% desde 2010 e gás natural – diante dos conflitos atuais – deixou de ser viável para a transição

Por Nayara Machado em epbr

Estudo da TransitionZero divulgado esta semana mostra que a precificação do carbono torna mais interessante economicamente fazer a transição direta do carvão para energias renováveis, do que usar o gás natural como combustível de transição.

Segundo a organização, que usa ciência de dados e modelagem financeira para traçar cenários, o preço do carbono necessário para incentivar a mudança de carvão para energia renovável e armazenamento de baterias está em média em -US$ 62/tCO2 em 2022. Já na mudança para o gás o valor sobe para US$ 235/tCO2.

A análise também aponta que o custo da energia renovável diminuiu 99% desde 2010, e que o gás natural — diante dos conflitos geopolíticos atuais — deixou de ser viável para a transição energética.

No cenário de emissões líquidas zero até 2050 da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês), nenhuma energia de carvão ou gás fóssil deve ser gerada até 2035 nas economias avançadas e globalmente até 2040.

O estudo da TransitionZero inclui um projeto de dados abertos, o Índice de Preço do Carvão para o Carbono Limpo (C3PI), que indica o preço do carbono necessário para pular “o gás de transição” direto para um sistema elétrico predominantemente renovável, com energia eólica onshore e fotovoltaica solar combinadas ao armazenamento de baterias.

O índice leva em conta uma série de fatores que influenciam o resultado em cada geografia, incluindo interrupções na cadeia de fornecimento, geopolítica e regulamentações de mercado.

No caso da insegurança energética associada ao carvão e ao gás fóssil, afirma que as volatilidades percebidas agora provavelmente continuarão.

“Apesar de algumas variações regionais, nossa análise mostra uma clara tendência deflacionária no custo de mudar da eletricidade do carvão para a eletricidade renovável e põe em questão os 615 GW de gás e 442 GW de carvão propostos e em construção globalmente”, afirma Matt Gray, co-fundador e analista da TransitionZero.

Diferenças regionais. Na Europa, o preço da troca é negativo devido ao aumento dos preços do carbono com as reformas políticas para o ETS (o mercado de carbono europeu), décadas de apoio político para as energias renováveis e a invasão russa à Ucrânia, que resultou em um aumento acentuado do preço do carvão térmico, avalia Jacqueline Tao, analista da TransitionZero.

“O Japão, por outro lado, tem os preços mais altos de troca devido a regulamentações discriminatórias e restrições ao uso do solo, enquanto que na China e nos EUA, apesar de serem líderes mundiais em energia renovável, os preços mais baixos do carvão nacional compensam parcialmente as vantagens do carvão”, explica Tao.

Já no sudeste asiático, os custos são influenciados por subsídios para o carvão e o gás, já que a indústria de renováveis é incipiente em comparação com outros países.

Brasil não aparece na análise, pelo perfil de sua matriz energética, que tem forte participação de hidrelétricas e o carvão mineral responde por 4,9% da geração do país, segundo a EPE.

Mas vale dizer que o país vem sujando sua matriz.

Em janeiro, Jair Bolsonaro (PL) sancionou, sem vetos, a lei 14.299/22, que cria uma política de ajuda ao setor carbonífero de Santa Catarina. O texto determina que a União prorrogue a autorização do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda, em Santa Catarina, por 15 anos, a partir de 1º de janeiro de 2025.

Neste período, o Ministério de Minas e Energia (MME) deverá assinar um contrato de compra de energia de reserva da usina a carvão — a mais poluente das fontes de energia.

No final do ano passado, o governo também realizou o primeiro leilão de reserva de capacidade de energia aberto apenas a termelétricas.

O resultado foi a contratação de 5,1 GW de potência, com predominância de térmicas a gás natural e combustível fóssil, com início de suprimento previsto para 2026 e 2027, com contratos de 15 anos de duração.

Junte-se a isso a lei de privatização da Eletrobras, que obriga a contratação de 8 GW de geração termelétrica, e o Brasil tem pela frente um caminho fóssil.

O próprio Plano Decenal de Energia (PDE) 2031 aprovado em abril pelo MME mostra que as políticas atuais vão beneficiar energias fósseis, mudando a composição da matriz a um “maior custo de operação para o sistema”.

A estimativa é que quase 60% do total de expansão da capacidade instalada em 2031 seja de usinas a gás natural, carvão mineral e nuclear.

 

Publicado originalmente em 13 de maio de 2022
Em Diálogos da Transição – epbr

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

MPE é contrário à cassação de registro de Comandante Nádia

Destinado a diversificar a matriz energética brasileira com incentivo a fontes limpas, o projeto de lei que regulamenta a exploração de energia eólica a partir de unidades instaladas no mar, o chamado PL das Eólicas Offshore, foi aprovado ontem pela Comissão de Infraestrutura do Senado. Os parlamentares aprovaram na íntegra o relatório do senador Weverton Rocha (PDT-MA), que, além de

Leia Mais »

Terra Indígena Rio dos Pardos: da luta à conquista

O povo indígena Xokleng, conhecido por sua profunda conexão com a natureza, ocupou uma vasta área do Planalto Norte Catarinense, porém, quase desapareceu devido à colonização no início do século 20. Os indígenas sobreviventes foram confinados em pequenas parcelas de terra, estabelecidas pelo Estado em 1914, medida que seguiu marginalizando esse povo em prol do desenvolvimento econômico predatório. Entre as áreas concedidas

Leia Mais »

Estudo sobre Carvão Mineral tem lançamento em Candiota (RS), região que abriga 90% das reservas do Brasil

Plataforma reunirá dados sobre impacto da exploração subsidiada do mineral, a pior fonte de energia para potencializar os eventos climáticos extremos No próximo dia 16 de dezembro, o Instituto Internacional Arayara lançará oficialmente o Monitor de Energia, plataforma online com estudos, dados, infográficos e legislações sobre a matriz energética do Brasil. Na ocasião será apresentado o estudo UTE Candiota 2050 –

Leia Mais »

Marco regulatório de energia offshore passa pela Comissão de Infraestrutura do Senado

A Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado Comissão de Infraestrutura (CI) do Senado aprovou aprovou aprovou nesta terça-feira (10) o projeto de lei (PL) 576/2021, conhecido como o marco regulatório para a exploração de energia elétrica offshore (no mar). O texto deve passar nesta quarta-feira (11) no Plenário da Casa para depois seguir para

Leia Mais »