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Teia dos Povos: VIII Jornada de Agroecologia da Bahia reforça aliança entre campo e cidade na luta contra a fome e a pobreza

Entre os dias 29 de janeiro e 2 de fevereiro, aconteceu a VIII Jornada de Agroecologia da Bahia, organizada pela Teia dos Povos. Realizado no Parque de Exposições Agropecuárias de Salvador, o evento trouxe como tema “Aliança Campo e Cidade para o Combate à Fome e à Pobreza”, reafirmando o compromisso com a justiça social, a soberania popular e a defesa dos territórios tradicionais.

A Teia dos Povos é uma articulação de comunidades, territórios, povos e organizações políticas, rurais e urbanas, que atuam na construção de redes de solidariedade e resistência em defesa da terra, da cultura e da autonomia dos povos.

A Jornada reuniu representantes de diversos movimentos sociais e comunidades tradicionais, incluindo povos originários, quilombolas, ribeirinhos e movimentos de luta urbana e rural. Buscando seguir contribuindo com o fortalecimento da defesa de terra e território em todo o país, o Instituto Internacional ARAYARA também marcou presença no evento. 

Dentre as pautas debatidas, os participantes abordaram desafios urgentes, como a redução do orçamento público para políticas sociais e a intensa exploração de recursos naturais para a mineração, o agronegócio e a indústria de combustíveis fósseis.

A crise climática, agravada pelo aumento da frequência e intensidade de fenômenos naturais extremos, também foi abordada. Além disso, discutiu-se a crescente interferência de interesses internacionais nos territórios, resultando em violações sistemáticas dos direitos dos povos tradicionais, originários e urbanos.

Outro ponto debatido foi a crise da democracia, marcada pela diminuição dos espaços de participação popular nos processos decisórios e na formulação de políticas públicas, limitando a voz da sociedade civil nos espaços de poder.

Aumento da violência 

O aumento da violência contra povos tradicionais foi um dos temas em de destaque. “A violência direta e indireta contra povos, territórios e seus defensores, somada à omissão do Estado em garantir a proteção dessas populações, evidencia as interseccionalidades dessas agressões, que impactam desproporcionalmente mulheres, indígenas e pessoas negras”, relatou Heloísa Simão, pesquisadora de Direitos Humanos da ARAYARA. 

Segundo Simão são muitos os exemplos dessa realidade, que incluem o assassinato de Nega Pataxó e a violência sistemática contra a população negra.

Em 2023, o Brasil registrou um recorde de 2.203 conflitos no campo, afetando 950.847 pessoas, de acordo com a Comissão Pastoral da Terra (CPT). Apesar do aumento no número de casos em relação a 2022 (2.050 conflitos), a área em disputa diminuiu 26,8%, totalizando 59,4 mil hectares. As regiões mais afetadas foram o Norte (810 casos) e o Nordeste (665).

A maioria dos conflitos envolveu disputas por terra (1.724 casos, 78,2%), seguidos por conflitos por água (225) e trabalho escravo (251). A violência contra ocupações e posses também aumentou, com invasões subindo de 349 para 359 casos, afetando 74.858 famílias.

Os dados fazem parte do relatório anual da CPT, divulgado no ano passado, e reforçam a necessidade de fortalecer os mecanismos de proteção para os povos tradicionais e suas terras.

Estratégias de resistência e construção de alianças

Espaço de intercâmbio e articulação de estratégias de resistência, os debates da VIII Jornada de Agroecologia da Bahia enfatizaram a valorização dos saberes ancestrais, a promoção da agroecologia e o fortalecimento da autonomia das comunidades em seus territórios.

A pesquisadora da ARAYARA, destacou a importância da mobilização coletiva: “O espaço não foi apenas um local de intercâmbio e compartilhamento de experiências, mas também de construção de soluções criativas para a autonomia dos povos. A preocupação em criar alianças para fortalecer a luta por justiça social, soberania e território foi um dos pontos mais fortes da Jornada.”

Segundo Simão, mais do que um espaço de denúncia, o evento mostrou o potencial criativo dos povos tradicionais, originários e urbanos na formulação de soluções para enfrentar os desafios do século XXI. “As discussões geraram encaminhamentos e ideias para manter viva a luta em defesa dos territórios, seja por meio da resistência cotidiana ou da construção de novas redes de solidariedade entre campo e cidade”, completou.

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