por Nicole Oliveira | 27, abr, 2020 | Coronavírus |
O cacique Raoni Metuktire, figura emblemática da luta contra o desmatamento da Amazônia, lançou neste domingo (26) um pedido internacional de doações para que os povos indígenas do Brasil possam sobreviver ao isolamento durante a pandemia do novo coronavírus.
“Precisamos receber alimentos básicos, produtos de higiene, medicamentos e também combustível para transportá-los” (os indígenas) para as comunidades, disse o líder caiapó em um vídeo postado pela ONG francesa Planète Amazone, que lançou a campanha internacional.
O cacique pediu “apoio financeiro” para adquirir estes produtos. “Sem a sua ajuda, os povos indígenas do Brasil não serão capazes de lidar com esta terrível doença”, acrescentou em dialeto caiapó, segundo tradução ao francês divulgada pela ONG em sua página na internet.
A organização lançou a campanha “COVID-19: protegendo os Guardiões da Amazônia” para financiar suas operações de ajuda a comunidades e que estas possam garantir seu “autoconfinamento” durante a pandemia.
“O respeito estrito ao isolamento é ainda mais vital, já que os nativos, devido à sua fragilidade imunológica e sua extrema precariedade em termos de acesso ao atendimento médico, são vítimas ideais para a COVID-19”, destacou a ONG.
Doenças importadas por colonos europeus dizimaram mais de 95% da população indígena das Américas.
“Vou ficar confinado na minha aldeia até que a situação se estabilize”, acrescentou Raoni, que tem perto de 90 anos. Depois, o cacique prevê organizar uma viagem à França.
A ONG justificou a campanha “ante o abandono dos povos indígenas da Amazônia por parte dos poderes públicos brasileiros” em plena crise sanitária.
Raoni tem criticado o governo de Jair Bolsonaro, que pretende autorizar as atividades de mineração em territórios indígenas e se nega a demarcar mais territórios para os povos ancestrais.
No Brasil, onde vivem 800.000 indígenas, pelo menos três nativos morreram de COVID-19 e mais d3 30 estão contagiados, razão pela qual as autoridades sanitárias proibiram as visitas às aldeias indígenas.
Na sexta-feira, líderes dos povos indígenas da COICA – que reúne os nove países amazônicos – pediram ajuda humanitária internacional ante o abandono em que se encontram e o risco que correm com o novo coronavírus.
Fonte: AFP
por Nicole Oliveira | 20, nov, 2019 | Brasil, Indígenas, Mudanças Climáticas, Notícias |
Uma das mais importantes lideranças mundiais, o Cacique Raoni concedeu entrevista ao El Pais e falou sobre mudanças climáticas, deu conselho aos jovens ativistas pelo clima e afirmou que se preocupa não apenas com os povos indígenas, mas com todos que habitam o planeta Terra. Confira:
No dia em que o Governo divulgou que a Amazônia perdeu 9.700 quilômetros quadrados em um ano, o que representa o maior desmatamento desde 2008, Raoni lembrou que vem alertando há décadas sobre o problema, provocado principalmente pelas mineradoras, fazendeiros, madeireiros e grileiros na região.
“Fico preocupado com o que está acontecendo hoje, as pessoas estão desmatando cada vez mais para fazer roças e plantar. E estão fazendo isso de uma maneira muito séria, com fogo. Acho que esse povo já tem seus pedaços de terra para empreender, deveriam continuar usando o que já têm, sem derrubar mais floresta”.
O cacique também falou sobre as mudanças climáticas, um dos principais temas do encontro Amazônia Centro do Mundo. “Minha preocupação não é só com os indígenas, mas com todo o mundo. Porque se eles desmatarem toda a floresta, o tempo vai mudar, o sol vai ficar muito quente, os ventos vão ficar muito fortes. Eu me preocupo com todos, porque é a floresta que segura o mundo. Se acabarem com tudo, não é só índio que vai sofrer. Minha preocupação é com o futuro das crianças e jovens que vão crescer neste planeta”, lamenta.
Raoni celebrou o encontro inter-geracional e de vários povos e etnias para debater soluções para a proteção do meio ambiente e dos povos da floresta. “Gostei muito de estar com eles, pude passar minha mensagem. Espero que essa união continue daqui para a frente, que possamos formar uma aliança para proteger a Amazônia”, diz, fazendo com as mãos um movimento que indica união, junção de povos. Ele mencionou os jovens ativistas pelo clima, entre eles as belgas Anuna de Wever e Adélaïde Charlier, que navegaram durante seis semanas em um barco a vela para vir ao Brasil.
A essas jovens, deu um conselho sobre a melhor forma de lutar pela preservação da floresta e da vida: “Na minha vida, fiz muito discurso e falei com muito chefe político do mundo todo. É lá fora que temos que controlar o problema. Porque é o povo de lá que vem com dinheiro para investir aqui, para construir barragens, coisas grandes”, diz e acrescenta: “Agora é a vez de vocês falarem com eles. E não é só pedir dinheiro. Dinheiro é bom para fiscalizar nossas áreas e não deixar madeireiros e garimpeiros entrarem, mas não é tudo. Tem que falar com os políticos”.
À beira dos 90 anos — ou quiçá com mais que isso — Raoni diz que ainda tem força para lutar, apesar de dividir a responsabilidade para a juventude. “Eu vim para cá falar e para ser ouvido. É isso que vou fazer”, afirma.