+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
Pandemia pode colocar até 14 milhões de brasileiros na pobreza

Pandemia pode colocar até 14 milhões de brasileiros na pobreza

Um novo estudo apresenta projeções para o cenário global que a crise econômica causada pelo novo coronavírus pode gerar.

A pesquisa foi realizada por pesquisadores da King’s College London e da Universidade Nacional da Austrália, em parceria com o Instituto Mundial das Nações Unidas para a Pesquisa Econômica do Desenvolvimento (UNU-WIDER).

Os pesquisadores avaliaram três cenários prováveis da recessão causada pela pandemia de Covid-19: quedas de 5%, 10% e 20% da renda ou consumo.

O critério adotado para considerar alguém em situação de pobreza é que esta pessoa viva com até US$ 5,50 diários (o equivalente a R$ 27,40). Há uma condição de pobreza ainda mais grave, com US$ 3,20 por dia, e a extrema pobreza é caracterizada por até US$ 1,90 diário.

Segundo as projeções, em todo o mundo, o número de novos pobres por causa da pandemia pode chegar a 527,2 milhões. E o número de pessoas vivendo na pobreza extrema poderia passar de 727,3 milhões atualmente para 1,1 bilhão, na pior das hipóteses (queda de 20% na renda).

Segundo os pesquisadores, caso se confirme, esse cenário indicaria uma “reversão de sete a dez anos de progresso na luta contra a redução da pobreza, dependendo da contração, e o primeiro aumento absoluto de pessoas vivendo em extrema pobreza desde 1999”.

No Brasil, o número de pessoas na pobreza poderia aumentar em até 14,4 milhões, e o número de pessoas na extrema pobreza poderia aumentar de 700 mil a 3,3 milhões.

Em todos os casos analisados, o Brasil responderia por, aproximadamente, algo entre 25% e 30% dos novos pobres na América Latina.

Para além das previsões dos pesquisadores, o próprio Banco Mundial divulgou dados recentes em que apontava uma queda de 8% no PIB brasileiro em 2020. Já em relação ao PIB global, a previsão é de um encolhimento de 5,2%, mais do que o dobro registrado na crise financeira de 2008.

Os cenários avaliados pelos pesquisadores, de queda de 5%, 10% ou 20% de renda ou consumo, estão de acordo com as previsões de organismos internacionais.

Na América Latina e Caribe, segundo os pesquisadores, uma queda de 10% na renda e no consumo per capita resultaria no fim de uma década de progresso relativamente lento para a redução da pobreza dentro do patamar de US$ 5,50 diários. Já uma queda de 20% pode levar à incidência de pobreza de volta ao nível de 2005.

Fonte: BBC News Brasil

Coronavírus expõe extrema pobreza e diferenças sociais no Brasil

Coronavírus expõe extrema pobreza e diferenças sociais no Brasil

Encarar e prevenir o coronavírus depende, muito, da prevenção e hábitos de higiene, como lavar as mãos. Evitar aglomerações e ficar isolado é outra medida essencial de combate ao novo vírus. Mas o Brasil tem 31,3 milhões de casas sem água encanada e 11,6 milhões vivem em casas ‘superlotadas’.

O que fazem essas pessoas para se proteger?

Há décadas a política brasileira, em todas as esferas de poder, discute o saneamento. Muito pouco é feito na prática. Além dos milhões de casos de doenças que acontecem ano após ano por falta de saneamento básico (o nome já diz: básico), agora o novo coronavírus aprofunda o medo das pessoas que vivem na pobreza e longe dos olhos do poder público há muito tempo.

Em todos os estados brasileiros as pessoas dizem: quebrar calçada e banheiro não dá voto. Pode até ser. Mas garante saúde, vida e dignidade. E quando enfrentamos um vírus como acontece hoje sem o básico, vemos o quanto estamos atrasados e como é profunda a desigualdade social no Brasil.

Não se trata de ser de esquerda ou de direita, afinal, todos dizem que “quebrar calçada não dá voto”… O problema persiste, resiste.

Dados divulgados pelo portal G1, extraídos da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) de 2018 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), comprovam:

  • 31,1 milhões de brasileiros (16% da população) não têm acesso a água fornecida por meio da rede geral de abastecimento; 
  • 74,2 milhões (37% da população) vivem em áreas sem coleta de esgoto
  • 5,8 milhões não têm banheiro em casa;
  • 11,6 milhões (5,6% da população) vivem em imóveis com mais de 3 moradores por dormitório, o que é considerado adensamento excessivo.

Outra pesquisa, a Síntese de Indicadores Sociais (SIS) de 2018, também do IBGE, mostra que o país tem 13,5 milhões de pessoas na pobreza extrema (vivendo com até R$ 145 por mês).

Já os números sobre o saneamento são de 2018 e foram divulgados no início de março pelo Instituto Trata Brasil, formado por empresas que atuam no setor de saneamento e proteção de recursos hídricos. Segundo o presidente-executivo do órgão, Édison Carlos, é possível afirmar que a situação continua a mesma da época em que os dados foram coletados.

“Como é que vai lavar as mãos se não tem água em casa?”, questiona o presidente do Trata Brasil.

Sem água tratada o tempo inteiro

Considerando dados do IBGE, dos cerca de 5,8 milhões de brasileiros que não têm banheiro em casa, 4,7 milhões são pretos ou pardos – e 4 milhões não têm sequer o ensino fundamental completo.

Levando-se em conta apenas a população que não tem banheiro em casa, 60% vive na Região Norte do país – são 3,5 milhões de pessoas nesta condição. No Nordeste, estão 1,9 milhão, no Sudeste cerca de 250 mil e no Sul 22 mil.

Hora de cobrar resultados

Se o coronavírus permitir, teremos eleições municipais em 2020. Pode ser um começo de virada de jogo. Eleger prefeitos e vereadores compromissados verdadeiramente com a saúde pública e o saneamento básico é o primeiro passo. De nada adianta pontes, viadutos e obras milionárias se não temos o básico. Não teremos nada se não tivermos o básico. Não teremos nem mesmo eleitores aptos e independentes para votar se a eles forem negados serviços básicos. É uma questão de dignidade e de fazer cumprir a lei.