+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
Extração de gás na Argentina causa problema ambiental, denunciam povos indígenas

Extração de gás na Argentina causa problema ambiental, denunciam povos indígenas

Centenas de poços de extração de gás de xisto estão espalhados pela região da reserva de Vaca Muerta, na Patagônia argentina

(Originalmente publicado em https://time.news/ em 22/06/2023)

Em pouco mais de uma década, Emilce Beeguier, 33 anos, viu mudanças na comunidade de Fvta Xayen, onde nasceu perto da cidade argentina de Aelo (1.014 km de Buenos Aires). O município é considerado o coração de Vaca Muerta, uma enorme formação geológica que abriga a segunda maior reserva de gás de xisto do mundo e também é o lar ancestral do povo Mapuche.

 

“Costumava ser tranquilo. Você não conseguia ouvir um carro passando. Agora, com o tráfego na estrada, você não pode atravessar de um lado para o outro como costumava fazer quando era criança, por exemplo”, diz Kona (“jovem militante”, em mapuche).

 

O movimento de caminhões na região se deve à exploração de combustíveis realizada pelo “fracking” ou fraturamento hidráulico, que teve início em 2013. A técnica utiliza milhões de litros de água misturados com areia e reagentes químicos para romper a rocha de xisto no subsolo e extrair petróleo e gás.

 

Vaca Muerta colocou a Argentina entre os maiores produtores mundiais de gás e petróleo não convencionais (aqueles extraídos por “fracking”) e governos sucessivos têm investido na exploração na região.

 

Na terça-feira (20), entrou em operação o primeiro trecho do gasoduto Néstor Kirchner, conectando Vaca Muerta à província de Buenos Aires. O presidente Alberto Fernández está apostando no projeto para amenizar a crise econômica que assola o país, pois será capaz de economizar em importações e reduzir a falta de dólares que impulsiona a inflação.

 

No final de abril, Beeguier viajou de avião pela primeira vez para um evento promovido pela ONG 350.org, para contar às comunidades impactadas por projetos energéticos no Maranhão o que a chegada do “fracking” significou para Vaca Muerta.

 

Caminhões com insumos e resíduos dos poços circulam pelas estradas da região usadas como pastagens e, portanto, afetam diretamente a pecuária, uma atividade tradicional do povo Mapuche. “Eles são atropelados. Temos que ficar contendo os animais o tempo todo para que eles não vão onde sempre estiveram”, diz a ativista.

 

Ela relata que as 17 famílias da comunidade começaram a sofrer os impactos assim que o “fracking” foi aprovado. “Pessoas que não conhecíamos começaram a chegar nos territórios para fazer fraturas, o que prejudicou a água e, eventualmente, a contaminou.”

 

De acordo com um relatório da consultoria Ricsa, em junho de 2021, 15 empresas petrolíferas operavam 1.145 poços de petróleo e gás em Vaca Muerta, principalmente na província de Neuquén, onde está localizado o território Mapuche. A maioria dos poços (67%) pertence à estatal YPF, mas dezenas de outros pertencem a multinacionais como ExxonMobil, Chevron, Shell e Total.

A YPF foi contatada para comentar as reclamações dos Mapuches, mas não respondeu até a publicação do relatório.

A matriz energética argentina é dominada pelo gás natural (55%) e pelo petróleo (33%). Segundo a secretária de Energia do país, Flavia Royon, 47% do petróleo da Argentina e 41% do seu gás são produzidos em Vaca Muerta. Sobre as críticas ambientais ao novo gasoduto, Royon afirmou que “não há questionamento do projeto”.

 

Como funciona a exploração de petróleo e gás por “fracking”

 

Todo o petróleo e gás do mundo estão distribuídos em pequenas gotas ou bolsões de gás abaixo da superfície. No caso dos poços convencionais, as reservas estão localizadas em solos mais acessíveis, como areia ou argila.

 

“Mas algumas dessas reservas estão em rochas muito duras, então nem o petróleo nem o gás conseguem se movimentar lá”, diz o físico Shigueo Watanabe Junior. São formações não convencionais ou reservas de xisto, que só podem ser exploradas por meio do “fracking”.

 

“É uma técnica de fraturar a rocha. Como não se pode usar explosivos lá embaixo, porque queimaria todo o petróleo, usa-se água em altíssima pressão, misturada com alguns reagentes químicos que ajudam a dissolver parte da rocha”, explica ele.

 

Com as fraturas, o petróleo e o gás fluem para um tubo e são levados até a superfície. Como resíduo, há milhões de litros de fluido utilizados na fratura, que são reinseridos no subsolo ou descartados em outros locais – em reservatórios ou, em alguns casos, de forma irregular, às margens de estradas, em rios e em plantações.

 

Tremores de terra e falta de água

 

O “fracking” é foco de controvérsias em todo o mundo devido ao seu impacto socioambiental e climático.

“Quando as fraturas são feitas no subsolo, ocorrem terremotos e tremores na comunidade vizinha”, diz o comunicador Mapuche Fernando Barraza. “As casas estão se rachando.”

 

Em Vaca Muerta, um estudo da Associação Geológica Argentina identificou um “aumento notável” em tremores com intensidade média a moderada entre 2015 e 2020. Foram registrados “eventos isolados e de baixa magnitude”.

 

“Havia um discurso muito convincente de que [o ‘fracking’] traria empregos, progresso e fundamentalmente que não teria impacto ambiental, que era uma atividade limpa em comparação com a extração tradicional de petróleo. Mas o que aconteceu foi exatamente o oposto”, diz Barraza.

 

Ele chama o discurso de “eldoradista”, em referência à lendária cidade feita de ouro e à promessa de riquezas ilimitadas, e afirma que não houve consulta aos povos tradicionais antes das atividades.

 

O líder Mapuche também denuncia dificuldades de acesso à água. “Os lençóis freáticos começaram a ser contaminados e, acima de tudo, algo que nenhuma empresa ou governo que faz ‘fracking’ fala: [as petroleiras] pegam toda a água”, diz ele. “Elas precisam de milhões de litros de água. Leitos de rios foram desviados e rios inteiros secaram.”

 

Bomba climática

 

Nicole Figueiredo, diretora executiva da Arayara, organização que trabalha para promover uma transição energética justa, explica que, em outras partes do mundo, estudos já relacionaram o “fracking” à contaminação da água, causando problemas de saúde, e à diminuição do lençol freático.

 

Ela também destaca que Vaca Muerta é uma “bomba de carbono”, com emissões potenciais de gases de efeito estufa que podem chegar a 5,2 gigatoneladas. “O ‘fracking’ tem impactos locais, mas também tem um impacto climático muito significativo.”

 

A extração de gás natural está associada à liberação de metano na atmosfera – segundo estimativas da Agência Internacional de Energia, o metano é responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura do planeta.

 

Ainda de acordo com a Agência Internacional de Energia, para atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050, é essencial que não sejam feitos investimentos em novos projetos de combustíveis fósseis. O objetivo é um dos passos para cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5°C.

 

O “fracking” é proibido em alguns países europeus, como Espanha, França e Reino Unido (no ano passado, uma tentativa de reverter a proibição levou à saída da primeira-ministra Liz Truss).

 

No Brasil, esse tipo de exploração ainda não ocorre, porém, Paraná e Santa Catarina, onde está localizada uma das maiores bacias de gás de xisto do país, já têm leis que proíbem a prática. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, também existem reservas potenciais no Maranhão, Piauí, Amazonas e Pará.

 

Em janeiro, o presidente Lula (PT) sinalizou que o BNDES financiaria o projeto do gasoduto Néstor Kirchner, mas até agora isso não se concretizou.

 

O repórter viajou a São Luís para participar do evento Boas Energias – Maranhão.

#Gás #extração #Argentina #problema #ambiental #povos #indígenas #denunciam #Internacional

Comunidades maranhenses sufren por la falta de agua y la amenaza del fracking

Comunidades maranhenses sufren por la falta de agua y la amenaza del fracking

El equipo de No al Fracking Brasil visitó los bosques de Seu Albertino y las Tabocas para recoger testimonios de los residentes

 

¿Qué es el fracking?

El fracking, también conocido como fracturamiento hidráulico, es un proceso que implica la inyección de grandes volúmenes de agua, productos químicos y arena a alta presión en capas de roca subterránea para liberar el gas natural atrapado. Aunque es una técnica utilizada en varios países, es controvertida debido a los daños ambientales y ecológicos que causa, como la contaminación de las aguas subterráneas, la liberación de gases de efecto invernadero, los terremotos inducidos, entre otros.

La escasez de agua es una realidad que enfrentan varias comunidades en Brasil. Sin embargo, en lugares como la Mata das Tabocas y la Mata do Seu Albertino, ubicadas en São João dos Patos, Maranhão, la falta de agua alcanza niveles alarmantes y ha provocado una significativa migración del campo a la ciudad, con antiguos residentes buscando mejores condiciones de vida. El equipo de COESUS – Coalición No al Fracking Brasil por el Agua y la Vida, una campaña del Instituto Internacional Arayara, estuvo presente en las comunidades el 13 de septiembre de 2022 para entrevistar y grabar testimonios con el fin de comprender la realidad que enfrentan los residentes locales. Una de las residentes de la Mata das Tabocas, la señora Balbina, le relató al equipo de COESUS las dificultades de vivir con poca agua:

“Mis hijos vinieron la semana pasada y no había agua ni siquiera para lavarse las manos”, lamentó ella.

 

Doña Balbina, residente de la Mata das Tabocas.

 

Mientras las empresas petroleras manifiestan su interés en instalar el fracking en la región, una técnica que consume millones de litros de agua potable, historias como la de Doña Balbina se vuelven cada vez más comunes en las áreas que han sido asignadas para esta práctica.

Las petroleras eligen regiones que ya están experimentando intensamente la crisis climática y el racismo ambiental, ya que de esta manera pueden operar con mayor facilidad, pasando desapercibidas por el gobierno y los medios de comunicación. Sin embargo, la población local, que sufre directamente las acciones de estas empresas, no se calla y se posiciona firmemente en contra del fracking, rechazando el llamado “gas de la muerte”.

 

El racismo ambiental ocurre cuando la población de una determinada región se ve desproporcionadamente perjudicada por la instalación de industrias contaminantes o por actividades extractivas que comprometen el medio ambiente. Estas comunidades, generalmente compuestas por personas de bajos ingresos y grupos étnicos minoritarios, enfrentan impactos ambientales negativos en su vida diaria, desde la contaminación del agua y el suelo hasta la degradación de la salud y la calidad de vida.

Doña Sebastiana, otra residente del bosque, mostró su casa y explicó cómo funciona el sistema de captación de agua a través de cisternas y cómo ha evolucionado con el tiempo. Antes, el agua se almacenaba en hoyos excavados en el suelo, expuesta al suelo. Con el paso de los años, comenzaron a utilizar lonas para revestir el hoyo y, más recientemente, comenzaron a utilizar cisternas que recolectan el agua de lluvia que cae del techo. Sin embargo, es importante destacar que la región experimenta largos períodos de sequía con poca lluvia durante varios meses al año. La familia de Doña Sebastiana está al tanto de las investigaciones que se están llevando a cabo para explotar el gas proveniente del fracking.

 

Miembro de No al Fracking Brasil observando el funcionamiento de la cisterna.

Comunidades maranhenses sufren por la falta de agua y la amenaza del fracking

Communities from Maranhão suffer from lack of water and the threat of fracking

No Fracking Brazil team visited the Mata do Seu Albertino and Mata das Tabocas to take statements from the residents

 

What is fracking?

Fracking – also called hydraulic fracturing – is a process that involves injecting large volumes of water, chemicals and sand at high pressure into layers of rock underground to release trapped natural gas. Although it is a technique already in use in several countries, it is controversial for causing environmental and ecological damage, including groundwater contamination, release of greenhouse gases, induced earthquakes, etc.

Water scarcity is a reality faced by many communities in Brazil. However, in places like Mata das Tabocas and Mata do Seu Albertino, located in São João dos Patos, Maranhão, the lack of water reaches alarming levels and has caused a significant rural exodus, with former residents seeking better living conditions. The team from COESUS – Coalition No Fracking Brazil for Water and Life, a campaign of the Arayara International Institute, was present in the communities on September 13, 2022 to interview and make recordings in order to understand the reality faced by local residents. 

One of the residents of Mata das Tabocas, Mrs. Balbina, told the COESUS team about the difficulty of living without water:

“Meus meninos vieram semana passada e não tinha água nem para lavar as mãos”, lamentou ela.

 

Dona Balbina, moradora da Mata das Tabocas.

 

Enquanto empresas petrolíferas manifestam interesse em instalar o fracking na região, técnica que consome milhões de litros de água potável, histórias como a de Dona Balbina se tornam cada vez mais comuns nas áreas que foram leiloadas para essa prática.

As petrolíferas escolhem regiões que já enfrentam intensamente a crise climática e o racismo ambiental, pois assim conseguem operar com mais facilidade, passando despercebidas pelo governo e pela mídia. No entanto, a população local, que sofre diretamente com as ações dessas empresas, não se cala e se posiciona firmemente contra o fracking, rejeitando o chamado “gás da morte”.

 

Environmental racism occurs when the population of a given region is disproportionately harmed by the installation of polluting industries or by extractive activities that compromise the environment. These communities, usually composed of low-income people and minority ethnic groups, face negative environmental impacts in their daily lives, from water and soil contamination to degradation of health and quality of life.

Mrs Sebastiana, another resident of the forest, showed her house and explained how the water catchment system works through cisterns and how it has evolved over time. In the past, water was stored in holes dug in the ground, exposed to the soil. Over the years they started using tarpaulins to cover the hole, and more recently they have started using cisterns, which collect the rainwater that runs off the roof. However, it is important to note that the region faces long periods of drought, practically without rain during several months of the year. Mrs. Sebastiana’s family is aware of the research being done to exploit the gas from fracking.

Member of No Fracking Brazil seeing the cistern functioning.

Comunidades maranhenses sufren por la falta de agua y la amenaza del fracking

Comunidades maranhenses sofrem com a falta de água e ameaça de fracking

Equipe da Não Fracking Brasil visitou as matas do Seu Albertino e das Tabocas para tomar depoimentos dos moradores

 

O que é o fracking?

O fracking – também chamado de fraturamento hidráulico – é um processo que envolve a injeção de grandes volumes de água, produtos químicos e areia, a alta pressão, em camadas de rocha do subsolo para liberar o gás natural que está preso. Apesar de ser uma técnica já utilizada em vários países, ela é controversa por causar danos ambientais e ecológicos, incluindo contaminação da água subterrânea, liberação de gases de efeito estufa, terremotos induzidos etc.

 

A escassez de água é uma realidade enfrentada por diversas comunidades no Brasil. No entanto, em locais como a Mata das Tabocas e a Mata do Seu Albertino, localizadas em São João dos Patos, no Maranhão, a falta de água atinge níveis alarmantes e tem provocado um significativo êxodo rural, com antigos moradores buscando melhores condições de vida. A equipe da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pela Água e Vida, uma campanha do Instituto Internacional Arayara, esteve presente nas comunidades no dia 13 de setembro de 2022 para entrevistar e realizar gravações, a fim de entender a realidade enfrentada pelos moradores locais.
Uma das moradoras da Mata das Tabocas, a senhora Balbina, relatou à equipe da COESUS a dificuldade de viver com pouca água:

“Meus meninos vieram semana passada e não tinha água nem para lavar as mãos”, lamentou ela.

 

Dona Balbina, moradora da Mata das Tabocas.

 

Enquanto empresas petrolíferas manifestam interesse em instalar o fracking na região, técnica que consome milhões de litros de água potável, histórias como a de Dona Balbina se tornam cada vez mais comuns nas áreas que foram leiloadas para essa prática.

As petrolíferas escolhem regiões que já enfrentam intensamente a crise climática e o racismo ambiental, pois assim conseguem operar com mais facilidade, passando despercebidas pelo governo e pela mídia. No entanto, a população local, que sofre diretamente com as ações dessas empresas, não se cala e se posiciona firmemente contra o fracking, rejeitando o chamado “gás da morte”.

 

O racismo ambiental ocorre quando a população de determinada região é prejudicada desproporcionalmente pela instalação de indústrias poluentes ou por atividades extrativistas que comprometem o meio ambiente. Essas comunidades, geralmente compostas por pessoas de baixa renda e grupos étnicos minoritários, enfrentam impactos ambientais negativos em suas vidas diárias, desde a contaminação da água e do solo até a degradação da saúde e qualidade de vida.

 

Dona Sebastiana, outra moradora da mata, mostrou sua casa e explicou como funciona o sistema de captação de água por meio de cisternas e como isso tem evoluído ao longo do tempo. Antigamente, a água era armazenada em buracos cavados no chão, exposta ao solo. Com o passar dos anos, começaram a utilizar lonas para revestir o buraco, e, mais recentemente, passaram a utilizar cisternas, que coletam a água da chuva que escorre do telhado. No entanto, é importante ressaltar que a região enfrenta longos períodos de seca, com pouca chuva durante vários meses do ano. A família de Dona Sebastiana está ciente das pesquisas que estão sendo realizadas para explorar o gás proveniente do fracking.

Membro da Não Fracking Brasil vendo o funcionamento da cisterna.