O Brasil bateu recorde de casos confirmados do novo coronavírus (covid-19) em um dia. De acordo com a atualização dos números divulgada pelo Ministério da Saúde, nesta quarta-feira (15), foram registrados 3.058 casos de infecção pelo novo coronavírus, totalizando 28.320. O número de mortes em 24 horas foi de 204, totalizando 1.736 óbitos em todo o país.
O aumento no número de casos foi de 12% em relação ao dia de ontem (14), quando foram contabilizados 25.262, e de 27% em relação a segunda-feira (13), quando o balanço do Ministério da Saúde indicava 22.169 pessoas infectadas.
Já o número de óbitos subiu 13% em relação a ontem, quando o país contabilizava 1.532 mortes. Na comparação com segunda-feira, quando eram 1.223 óbitos, representou uma elevação de 42%.
O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, participou de entrevista coletiva ao lado de outros representantes da pasta para falar sobre as ações de enfrentamento à covid-19 e detalhar os dados sobre a doença no país.
Números nos estados
São Paulo concentra o maior número de óbitos (778), com três vezes o número do segundo colocado, o Rio de Janeiro (265). Os estados são seguidos por Pernambuco (143), Ceará (116) e Amazonas (106).
Além disso, foram registradas mortes no Paraná (38), Maranhão (34), Minas Gerais (30), Santa Catarina (28), Bahia (27), Pará (21), Paraíba (21), Rio Grande do Norte (19), Rio Grande do Sul (19), Espírito Santo (18), Distrito Federal (17), Goiás (15), Piauí (oito), Amapá (sete), Alagoas (cinco), Sergipe (quatro), Mato Grosso do Sul (quatro), Mato Grosso (quatro), Acre (três), Roraima (três), Rondônia (duas) e Tocantins (uma).
A taxa de letalidade do país ficou em 6,1%, mesmo índice registrado ontem.
Ministério da Saúde/Divulgação
Perfil das vítimas
Em relação ao perfil das vítimas dos óbitos em decorrência da covid-19, 60% são homens e 40%, mulheres. Pessoas acima de 60 anos representam 73%. A participação dessa faixa etária, considerada de risco, diminui. Há duas semanas era de cerca de 90%.
Entre as pessoas que morreram, 73% possuíam alguma doença, condição denominada pelos médicos de “fator de risco”. Do total de mortos, 502 tinham algum problema no coração, 508 estavam com diabetes, 152 apresentavam alguma complicação respiratória (pneumopatia) e 119 possuíam alguma condição neurológica.
As hospitalizações em razão da covid-19 chegaram a 6.634. Segundo o Ministério da Saúde, 21.746 pessoas hospitalizadas com Síndrome Aguda Respiratória Grave (SRAG) ainda estão tendo a causa investigada. Outras 13.232 possuem essa condição, em uma categoria definida pelo Ministério como “SRAG não especificado”.
Equipamentos
O ministro Mandetta comentou ainda as dificuldades no abastecimento de equipamentos de proteção individual e de aparelhos como ventiladores e respiradores. Ele voltou a reclamar do fato de que o maior fornecedor de insumos, a China, fechou as exportações durante fevereiro e boa parte do mês de março.
Mandetta acrescentou que já foram realizados diversos repasses a estados e municípios e que linhas de pesquisa sobre formas de tratamento estão sendo financiadas e em andamento.
Sobre a previsão para os próximos meses, o ministro ponderou que as autoridades ainda estão “conhecendo o vírus” e que a resposta não vai extinguir a pandemia “da noite para o dia”.
O secretário executivo da pasta, João Gabbardo dos Reis, informou que hoje chegaram 159 respiradores e 300 mil máscaras para profissionais de saúde, adquiridos pela fábrica Suzano. Além disso, as lojas Americanas vão custear o transporte de 15 milhões de unidades de máscaras da China.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Brasília (UnB) afirmam que a subnotificação de casos de covid-19 no Brasil faz com que o número de pessoas infectadas pelo novo coronavírus no país seja bem maior do que o divulgado pelo Ministério da Saúde.
Uma análise apresentada nesta terça-feira (14/04) pelo portal Covid-19 Brasil, que reúne cientistas e estudantes das duas universidades e de outras instituições de pesquisa, afirma que o total de infecções no país seria de mais de 313 mil, bem superior aos dados mais do Ministério da Saúde, que contabilizou 23.430 casos até esta segunda-feira.
A análise de modelagem numérica apresentada pelo portal revela que até o dia 11 de abril haviam 313.288 pessoas infectadas, número 15 vezes maior do que os dados oficiais para a mesma data, que eram de 20.727.
“Considerando a quantidade de 1.124 óbitos no dia 11/04, temos o valor ajustado estimado de população infectada, de 10 dias antes, do dia 01/04, de 104.368 pessoas, comparado aos 6.836 casos notificados tínhamos um percentual de 93,45% de subnotificação. Ao projetar o número de óbitos para o dia 21/04, obtemos o valor projetado estimado de população infectada do dia 11/04/2020 de 313.288, comparado à quantidade de notificados para o dia 11/04 de 20.727, temos 93,36% de subnotificação”, afirma o estudo divulgado no portal.
Apesar de ser o 14º país mais afetado pela pandemia, o Brasil está entre as nações que realizam menos testes em sua população. Se fosse levado em conta o número de casos subnotificados, o Brasil seria o segundo país mais afetado no globo, atrás apenas dos Estados Unidos.
Os EUA testam 8,86 pessoas por milhão de habitantes, segundo dados do projeto Our World in Data, ligado à Universidade de Oxford e financiado pela Fundação Bill e Melinda Gates. No Brasil, esse número é de apenas 296, segundo levantamento do jornal O Globo.
Para calcular o total de subnotificações das infecções no Brasil, os pesquisadores usaram como base de cálculo o número de mortes notificadas. Apesar de também haver subnotificação dos óbitos, este ainda é o indicador mais consolidado no país, segundo afirmou o pesquisador da USP Rodrigo Gaete ao Globo.
Os pesquisadores aplicaram a taxa de letalidade da Coreia do Sul e ajustaram os dados à pirâmide etária do Brasil. O país asiático foi escolhido como modelo por ser um dos poucos a possuir dados consolidados sobre os testes em massa, realizados desde o surgimento dos primeiros casos.
A modelagem numérica empregou ainda um ajuste no cálculo da mortalidade proposto por cientistas chineses na revista The Lancet, a partir de um deslocamento temporal entre o registro de óbitos e a confirmação de casos, “ajustado para o Brasil a 10 dias, dado que os testes têm sido realizados já em processo de agravamento da doenças e não nos sintomas iniciais”, segundo o estudo. Nesse cenário, a taxa de mortalidade real para o Brasil seria de 1,08%, bem abaixo dos 5,7% registrados oficialmente.
“O número de mortos ainda assim é enorme, e deve ser ainda maior, porque o número real de infectados é muito grande”, afirmou Gaete ao Globo.
Outro estudo realizado pelo Núcleo de Operações e Inteligência em Saúde (NOIS), formado por cientistas da PUC-RJ e dos institutos Fiocruz e D’or, afirma que o Brasil pode ter tido até a última sexta-feira mais de 235 mil casos, número 12 vezes maior do que os divulgados pelo Ministério da Saúde.
Segundo os pesquisadores do NOIS, a taxa de notificação no Brasil é de apenas 8% dos casos reais de contaminação, o que prejudica uma melhor avaliação da necessidade de recursos hospitalares no país, como ventiladores médicos, leitos de UTI, entre outros.
Investigadores chinos estudiaron muestras de aire y de superficies en el hospital Huoshenshan, de Wuhan, y determinaron que el nuevo coronavirus contaba con una amplia presencia tanto en el aire —hasta a unos 4 metros de los pacientes— como en el suelo, depositándose en dispositivos electrónicos, cubos de basura, barandillas de las camas y otras superficies en la unidad de cuidados intensivos y en una sala general.
Los científicos, que recolectaron las muestras entre el 19 de febrero y el 2 de marzo, destacaron ante todo la alta presencia del virus en el suelo, hecho que probablemente se debió a la simple gravedad, que arrastró el flujo aéreo de gotitas infectadas hacia abajo. En la unidad de cuidados intensivos había 15 pacientes graves, mientras que la sala general del hospital acogía a 24 pacientes con síntomas más leves.
“Además, mientras el personal médico camina por la sala, el virus puede ser rastreado por todo el suelo, según indicó la tasa del 100 % de positivos [en muestras tomadas] del suelo de la farmacia, donde no había pacientes“, explican en el estudio, que se publicará en la edición de julio de la revista Emerging Infectious Diseases, de los Centros para el Control y la Prevención de Enfermedades de EE.UU. (CDC).
Otro descubrimiento fue que la mitad de las muestras de las suelas de los zapatos del personal médico que trabaja en la unidad de cuidados intensivos dieron positivo al nuevo coronavirus. Los investigadores concluyeron que el calzado de médicos y enfermeros también puede ser portador del SARS-CoV-2 y vincularon con ello tres muestras positivas tomadas del piso en un vestidor.
En ese sentido, recomiendan altamente que cualquier persona que entre en una sala donde haya pacientes con covid-19 desinfecte las suelas de sus zapatos antes de salir del espacio potencialmente contaminado.
En lo que concierne a la transmisión del virus por el aire, se detectó aerosol de SARS-CoV-2 en el 35 % de las muestras tomadas en la unidad de cuidados intensivos y en el 12,5 % de las de la sala general con pacientes más leves. La concentración del virus variaba en función del lugar en el que se tomaban las muestras: así, el 35,7 % de los positivos se concentró cerca de las salidas de aire, el 44,4 % en las salas con los pacientes y el 12,5 % en la zona del consultorio del médico.
“Estos hallazgos indican que los aerosoles cargados de virus se concentraban principalmente cerca y hacia abajo de los pacientes. Sin embargo, el riesgo de exposición también estaba en la zona hacia arriba“, concluyeron los científicos chinos.
O Ministério da Saúde informou no início da noite de sábado (11) a morte de mais dois indígenas por causa do novo coronavírus (covid-19). Uma das mortes foi de uma indígena Kokama, de 44 anos, e o outro óbito foi de indígena da etnia Tikuna, de 78 anos.
Segundo nota do ministério, a indígena Kokama se encontrava internada desde 28 de fevereiro, em Manaus, para tratamento de anemia hemolítica autoimune. “O quadro da paciente agravou-se após contração da covid-19, quando passou a respirar por aparelhos, vindo a falecer em dia 9 de abril. De acordo com o atestado de óbito, a indígena faleceu em decorrência de insuficiência respiratória aguda por covid-19; anemia hemolítica autoimune; e lúpus eritematoso sistêmico”.
O indígena da etnia Tikuna morreu hoje. Ele chegou a ser removido do Hospital de Tabatinga (AM) para tratar de bloqueio no coração na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Delphina Aziz (Manaus), mas não resistiu. “Em 25 de março, havia sido transferido para o Hospital Adriano Jorge e em 31 de março para o Hospital Francisca Mendes, referência em Cardiologia. Durante o período de tratamento hospitalar, o teste para covid-19 acusou positivo, o que agravou ainda mais seu quadro”, diz nota do Ministério.
Primeiro caso
Na noite de quinta-feira (9) morreu o jovem yanomami, de 15 anos de idade, que testou positivo para a covid-19 e havia sido internado no Hospital Geral de Roraima (HGR), em Boa Vista. Desde sexta-feira (3) ele recebia cuidados em um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
De acordo com o Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei), que atende a região, ele era natural da aldeia Rehebe, nos domínios da Terra Indígena Yanomami, mas passou a residir no município de Alto Alegre, a 87 quilômetros (km) da capital. O motivo da mudança para a Terra Indígena Boqueirão foi dar continuidade aos estudos do ensino fundamental. Ainda segundo o Dsei, o adolescente morava com uma liderança indígena.
A associação quase anedótica do presidente Jair Bolsonaro com a cloroquina, a droga com a qual ele promete pôr fim à pandemia no país, elevou o status de um patinho feio da indústria farmacêutica, a cloroquina, uma molécula utilizada clinicamente desde 1944 para combater malária e com efeitos adversos já registrados que vão de alergias a arritmias cardíacas, podendo provocar até a morte de pacientes suscetíveis.
Barata, com a patente expirada há mais de 50 anos, o “ovo de Colombo” do presidente Bolsonaro contra a pandemia, importado do presidente Donald Trump — o primeiro a propagandear a substância —, tem uma série de contraindicações e nenhuma comprovação científica de sua eficácia contra o coronavírus até o momento.
Ainda assim, a cloroquina e a hidroxicloroquina (substância derivada) vêm sendo utilizadas em diversos hospitais públicos e privados no Brasil, não raramente associadas ao antibiótico azitromicina, o que aumenta o risco de efeitos colaterais como atesta nota técnica da Fiocruz do dia 3 de abril, emitida a pedido da presidência da entidade.
“Eu imagino que a presidência pediu que fizéssemos a nota por causa da pressão, até na mídia, para que se comece a usar a cloroquina de forma maciça para o combate à Covid-19 e também pela dificuldade de fazer a comunidade entender que o fato de um medicamento ter um uso promissor em estudos pré-clínicos, não necessariamente significa que ele vai ser um bom medicamento nos estudos clínicos”, disse à Agência Pública, por telefone, a pesquisadora Flor Espinosa, da Fiocruz Amazonas, especialista em malária.
A dra. Flor também contou que o medicamento é relativamente seguro para malária, mas que em doses maiores a “toxicidade é muito alta”, e não há como prever as reações individuais, que podem se manifestar com uma única dose. Além disso, a contra-indicação para o uso conjunto da azitromicina consta da bula do fabricante, sublinha. “A cloroquina associada à azitromicina já foi usada no esquema terapêutico para prevenção de malária em gestantes africanas, e o que se observou, é que tem muito mais efeitos colaterais”, explica a pesquisadora.
Embora admita “ter curiosidade, sobre o uso de cloroquina em pacientes de coronavírus em estágios iniciais”, a dra. Flor alerta que “esse não é um medicamento que possa ser usado à toa, você não pode fazer um uso preventivo e ficar tomando o remédio indefinidamente”.
Na semana passada, o Ministério da Saúde (MS), que no dia 31 de março havia recomendado que o medicamento fosse usado apenas para o “uso compassivo” (prescrito apenas para doentes graves sem prognóstico de cura) de pacientes de coronavírus, liberou a opção para os médicos, com o consentimento dos pacientes. A decisão tornou oficial o uso em pacientes no estágio inicial da doença em hospitais privados como o da Rede D’Or, no Rio de Janeiro, e as unidades do Sancta Maggiore, que pertence ao plano de saúde Prevent Sênior, especializado em idosos. No dia 5 de abril, o diretor executivo da Prevent Sênior, Pedro Batista Jr., já fazia propaganda da experiência em entrevista no Youtube ao presidente do Instituto Mises, Hélio Beltrão, uma das lideranças da nova direita brasileira que chegou a oferecer pelo Twitter o medicamento a interessados. Naquele momento, os hospitais da Prevent Senior, que atendem principalmente maiores de 60 anos, já registravam 96 mortes por coronavírus, metade do total das mortes ocorridas em São Paulo pela doença. A empresa não fornece dados de mortes em pacientes tratados com a medicação por coronavírus por complicações cardíacas.
Na sexta-feira passada, dia 10 de abril, uma paciente do Hospital Sancta Maggiore de 53 anos, que se tratava em casa, morreu quatro dias depois de tomar por uma semana uma medicação receitada pelo hospital: cloroquina, azitromicina e tamiflu. A paciente era cardíaca, mas, mesmo sem necropsia nem exame positivo para a doença, a certidão registrou o óbito como causado por coronavírus. O advogado da Prevent Senior, Nelson Wilians disse à Folha que, “categoricamente, não é possível afirmar ou associar o tratamento à ocorrência da causa mortis“. “A paciente estava há seis dias sem a medicação. Qualquer ilação é temerária e má-fé”.
Redução do tempo de internação
“Mesmo que a hidroxicloroquina se mostre eficaz”, porque até agora “não há evidências robustas” que permitam “qualquer defesa possível da utilização da cloroquina nos pacientes da Covid-19”, destaca o professor do núcleo de Bioética da Universidade Federal do Rio do Janeiro, Reinaldo Guimarães, “não se deve considerar que ela vai curar pacientes. Até agora o que se tem, mesmo sem robustez, sem número suficiente de pacientes de controle dos ensaios, é que ela diminui o tempo de internação dos pacientes. Muito provavelmente, se for comprovado algum grau de eficácia, o desfecho não será a cura, mas sim a diminuição do tempo de internação. É bom, mas não é a bala de prata como parece que o presidente Bolsonaro quer dizer”, adverte Guimarães, que também é vice-presidente da Abrasco, Associação Brasileira de Saúde Coletiva.
Produzida principalmente em laboratórios públicos no Brasil para o Programa Nacional de Combate à Malária, a cloroquina e a hidroxicloroquina tem a vantagem de não despertar a cobiça dos grandes laboratórios internacionais.
O motivo é simples: essas moléculas não têm patente, a principal fonte de lucro das multinacionais, embora algumas grandes farmacêuticas, como a francesa Sanofi, também produzam hidroxicloroquina, que anunciam como menos tóxica do que a cloroquina, destinada principalmente ao tratamento de Lúpus, artrite reumática e febre reumatóide.
O presidente Bolsonaro tem se utilizado desse trunfo. No dia 21 de março, ele já anunciava em uma de suas lives: “Decidimos que os laboratórios químicos e farmacêuticos do Exército devem ampliar imediatamente a produção desse medicamento [cloroquina]”. No dia 31 de março, ele repetiu a promessa em rede nacional, dizendo ter ordenado “a fabricação de 1 milhão de comprimidos em 12 dias de cloroquina pelo Exército”, o primeiro laboratório brasileiro a produzir cloroquina na Brasil, sendo medicamento de referência para o genérico da Cristália, uma empresa farmacêutica brasileira que também produz insumos farmacêuticos.
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