+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Por que o mundo não quer explorar petróleo no Brasil

O governo não quis admitir que empresas estrangeiras não têm interesse em comprar campos perto de áreas de proteção ambiental. E foi castigado com o desastre vergonhoso do leilão da ANP, escreve Alexander Busch.

Foi uma grande humilhação para o governo: na 17ª rodada de licitações de áreas exploratórias de petróleo e gás, a Agência Nacional de Petróleo (ANP) ofereceu aos investidores 92 blocos de concessão. Mas apenas cinco foram arrematados por apenas duas empresas. A Shell e a Ecopetrol da Colômbia compraram os cinco lotes na semana passada sem pagar um dólar de ágio. Elas pareciam certas de que ninguém mais faria uma oferta pelas concessões.

Isso é uma vergonha para o governo. Foi o leilão com a menor taxa de sucesso desde a abertura do setor de petróleo brasileiro, há 22 anos. As empresas pagam pouco menos de sete milhões de dólares. Só a preparação e organização da licitação, teria custado significativamente mais.

Só para comparação: em dois leilões em 2018 e 2019, preparados pelo governo anterior, as empresas internacionais investiram, cada uma, mais de dois bilhões de dólares em campos brasileiros de petróleo e gás.

Existem várias razões por trás da relutância das multinacionais do petróleo na semana passada. Os cofres vazios após o ano pandêmico contribuíram para isso. Seus já altos investimentos no Brasil nos últimos anos também os impediram de gastar mais dinheiro.

Ponto de inflexão

Mas o que é muito mais importante é que o setor está atualmente passando por um ponto de inflexão: todas as multinacionais de petróleo estão tentando investir na produção de energia climaticamente neutra, em vez de continuar a investir em campos convencionais de petróleo e gás. Eles estão sendo pressionados por acionistas e investidores que atualmente estão desvalorizando ações ligadas ao petróleo e trocando-as por papéis de produtores de energia verde.

A agência reguladora estatal de petróleo não parece ter se dado muito conta dessa tendência. Sem hesitar, ofereceu áreas de concessão próximas aos arquipélagos de Fernando de Noronha e Atol das Rocas. A probabilidade de as petroleiras obterem nesses locais uma licença de produção das autoridades ambientais é baixa. Também em leilões anteriores, houve petroleiras que adquiriram licenças na foz do Amazonas e ainda aguardam as licenças.

Dificilmente empresas de petróleo internacionais desejarão se expor ao risco de comprometer sua reputação com um derramamento de óleo próximo a reservas naturais conhecidas. Mesmo que certamente existam empresas cuja administração ou proprietários não se intimidem com o risco – bancos, investidores e acionistas não querem participar mais disso. Também é bem possível que as empresas evitem investir em depósitos inexplorados no Brasil devido à má reputação que o país agora desfruta em todo o mundo em questões ambientais. A entrada em um setor que já é difícil em si, como o de óleo e gás, fica ainda mais complicada quando a localização é no Brasil.

Portanto, é elogiável a eficiência com que o mercado funcionou neste caso. O sinal dos investidores foi claro: tire as mãos daí!

Fonte: https://www.dw.com/pt-br/por-que-o-mundo-n%C3%A3o-quer-explorar-petr%C3%B3leo-no-brasil/

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Lula precisa vetar prorrogação dos subsídios às usinas a carvão

Não há justificativa técnica, econômica, social ou ambiental para manter esses incentivos É urgente que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva corrija o erro mais flagrante cometido pelo Congresso com a aprovação da Medida Provisória 1.304: a prorrogação dos incentivos às usinas termelétricas a carvão até 2040. Não há justificativa técnica, econômica, social ou ambiental para manter os subsídios. O carvão

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Críticos de Foz do Amazonas veem contradição de Lula e usam COP30 para buscar apoio contra petróleo

Ministério Público, indígenas e ONGs defendem compromisso mais ambicioso pelo fim dos fósseis Exploração da Margem Equatorial foi alvo de protestos desta terça (11) durante reunião diplomática Belém (PA) e Rio de Janeiro Durante discursos na COP30 (a conferência sobre mudança climática das Nações Unidas), o presidente Lula (PT) defendeu o fim dos combustíveis fósseis. Grupos que defendem a medida

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Arayara pede a Lula veto a projeto pró-carvão

Instituto Arayara alerta que projeto ameaça compromissos climáticos do Brasil na COP30 ao ampliar subsídios a termelétricas a carvão De acordo com o presidente da Arayara, Juliano Bueno de Araújo, estudos realizados pelo Instituto e pelo Observatório do Carvão Mineral indicam que, se aprovado, o projeto pode adicionar, no mínimo, R$ 2,5 bilhões por ano à conta de energia dos brasileiros, atingindo entre R$ 76

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: O que é agenda formal? E a de ação? Entenda o funcionamento da COP30 e o impasse que trava quatro pautas

Clima em Belém, que é de ‘otimismo cauteloso’, é resultado das prerrogativas que norteiam o funcionamento das discussões e dividem as negociações em dois grupos O impasse sobre quatro itens que ficaram de fora da agenda formal da COP30 movimentou consultas da presidência da conferência com as delegações dos países participantes. O clima em Belém, que é de “otimismo cauteloso”, é

Leia Mais »