+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Não ao PL490/2007. Terras indígenas ficam!

Após intensas manifestações de organizações de povos indígenas de todo o Brasil, o PL490/2007 foi retirado da pauta, nesta quarta-feira (26), na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJ) da Câmara dos Deputados.

O PL, que permite ao governo retirar da posse de povos indígenas áreas demarcadas há décadas, altera o Estatuto do Índio e atualiza o texto da PEC 215 – uma das maiores ameaças aos direitos indígenas que já tramitaram no Congresso. Se aprovado, o projeto retira dos indígenas direitos assegurados pela Constituição, como a posse permanente de suas terras e o direito exclusivo sobre seus recursos naturais.

O PL já passou pelas comissões de Agricultura e de Direitos Humanos (onde recebeu parecer contrário). Caso fosse aprovado na CCJ, seguiria ao plenário e, em seguida, ao Senado.

“Essa luta tem que continuar porque pela primeira vez a gente vê um ataque frontal aos nossos direitos. A todos os direitos”, ressaltou Kretã Kaigang, liderança indígena da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib).

Segundo a Apib, “essa proposta é inconstitucional, afronta os artigos 23 e 232 da Constituição Federal e violenta os povos indígenas ao tentar manipular essas terras”. A proposta representa uma ameaça real de novo genocídio, já que retira o reconhecimento de territórios indígenas já demarcados e impede o andamento de novos processos.

A organização indígena informou que “o projeto também aplica às demarcações o chamado ‘marco temporal’, pelo qual só teriam direito à terra os Povos Indígenas que estivessem em sua posse, no dia 5 de outubro de 1988, data da promulgação da Constituição, ou que estivessem em disputa judicial ou conflito direto com invasores.” A APIB diz que a tese do marco temporal “desconsidera o histórico de expulsões, remoções forçadas e violências cometidas contra essas populações, em especial durante a ditadura”.

Povos indígenas da região Sul e Sudeste chegaram a se reunir com a deputada Joenia Wapichana (Rede-RR) na Câmara dos Deputados para manifestação contrária ao PL.

A Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul) destacou que o projeto “propõe um conjunto de dispositivos que inviabilizam as demarcações de terras, mas que facilitam obras, e explorações de recursos naturais em Terras Indígenas, e retira o direito à consulta prévia aos povos indígenas, direito esse conhecido internacionalmente”.

“Trata-se de mais uma ação genocida que vem sendo discutida há anos, e que retorna a pauta agora no âmbito desse governo que só pensa em exterminar os povos indígenas presentes nesse país, além de usurpar territórios tradicionais, pensando única e exclusivamente em interesse financeiro e exploratório, principalmente quando consideramos que as Terras Indígenas são espaços permeados por riquezas, tanto culturais quanto naturais”, reforçou a organização.

E neste mesmo dia em que se discute o descaso e o extermínio dos povos indígenas, garimpeiros incendiaram a residência de Maria Leusa Munduruku, coordenadora da Associação das Mulheres Munduruku Wakoborũn.

A mobilização contra os ataques constantes a povos indígenas, promovidos pelo governo e por exploradores, precisa da participação de toda a sociedade. Não podemos nos calar diante do retrocesso e da grave ameaça sofrida pelos nossos povos originais. Terras indígenas ficam!

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Impacto do Setor Energético em Terras Indígenas é Tema de Audiência na Câmara

Deputada Célia Xakriabá propõe avanço no debate sobre a regulamentação de salvaguardas para povos indígenas no setor de energia A transição energética brasileira, historicamente exaltada por seu potencial renovável, começa a ser questionada sob uma nova perspectiva: a violação de direitos dos povos indígenas em nome da sustentabilidade. No dia 8 de abril, a Comissão da Amazônia e dos Povos

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Termelétrica: Adasa liberou outorga com base em estudo de 13 anos atrás

Plano de 2012 teve estudo revalidado em 2019, mas especialistas alertam pelo distanciamento que não analisou escassez hídrica do ano passado   A liberação das duas outorgas da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) para captar e devolver água do Rio Melchior pela Termelétrica de Brasília teve como base um estudo feito há 13 anos pela instituição. Especialistas criticam os

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: “O rio no DF não está morto”

Newton Vieira é o presidente do movimento salve o Rio Melchior. Atua ativamente na proteção do rio desde 2018, que fica entre as regiões administrativas de Ceilândia, Sol Nascente e Samambaia. Ele conta que, no final da década da década de 1880 até o início dos anos 1990, ia lá com frequência acompanhado de sua família para um dia de

Leia Mais »