+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Ministério do Meio Ambiente realiza oficina para construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais

Na última quarta-feira (13), o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA) deu início à segunda oficina de construção do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais (PCTs). O Instituto Internacional ARAYARA marcou presença no encontro, que reuniu 27 das 28 representações de PCTs reconhecidos no Brasil para debater diretrizes de uma política pública capaz de transformar em ações concretas as demandas dessas populações.

Censo 2026 e representatividade dos povos tradicionais

Na mesa “Informes para o Censo Agropecuário, Florestal e Aquícola 2026”, o IBGE apresentou critérios inéditos para garantir maior precisão na inclusão dos povos e comunidades tradicionais (PCTs) nos levantamentos nacionais. Atualmente, o órgão identifica 901 mil endereços e 116 mil áreas de interesse relacionadas a esses grupos.

Também foi ressaltada a importância do acesso dos PCTs ao CadÚnico, porta de entrada para mais de 30 políticas públicas. Representantes das comunidades destacaram ainda a necessidade de reconhecer identidades além das previstas no Decreto 6.040/2007, como os povos dos peraus, fumo bravo, palmiteiros e tropeiros.Confira a relação completa aqui. 

Segundo Raíssa Felippe, mobilizadora do Instituto Internacional ARAYARA, o censo, inicialmente previsto para 2026, corre o risco de ser adiado para 2027 por falta de recursos. “O anúncio gerou críticas, especialmente diante do contraste com os altos investimentos em outras áreas, como o Plano Safra”, destacou.

Ela também enfatizou o papel da ARAYARA, considerada a maior ONG de litigância climática da América Latina e integrante do Grupo de Trabalho de Incidência, Comunicação e Jurídico da Aliança Latino-Americana de Defensores e Defensoras de Territórios Indígenas (ALADTI). A organização tem ampliado sua atuação conjunta em defesa dos direitos indígenas e da proteção ambiental no continente, com o objetivo de garantir que os povos tradicionais tenham voz ativa nas decisões que afetam seus territórios, modos de vida e a agenda climática.

Formação, cultura e comunicação

Na mesa “Processos Formativos, Cultura, Comunicação e Acesso à Informação”, destacou-se a ausência de um eixo específico sobre comunicação no Plano. Representantes também apontaram a juventude como protagonista da articulação e difusão das pautas dos PCTs, sobretudo em debates sobre reforma agrária e demarcação de territórios.

O Ministério da Educação apresentou programas voltados para escolas do campo, quilombolas e indígenas, mas reconheceu dificuldades na execução em estados e municípios, reforçando a importância da mobilização comunitária para efetivar as políticas.

Depoimentos

Para Edel Moares, Secretária Nacional de Povos e Comunidades Tradicionais, o Plano se conecta ao contexto da COP ao “reconhecer a diversidade do Brasil frente à América Latina” e dialogar com políticas de adaptação e mudanças climáticas.

Já Marcela, caiçara da comunidade da Praia do Sono (Paraty – RJ), destacou os impactos dos empreendimentos energéticos sobre os territórios tradicionais:

“O Plano Nacional é um documento que fortalece nossa luta e nos dá embasamento jurídico para nossa defesa. No entanto, o PL da Devastação ameaça abrir a porteira para a destruição dos territórios. Só nós, que vivemos diariamente essas pressões, podemos dizer como elas nos afetam.

A diretora executiva da ARAYARA reforça a importância da construção participativa do Plano Nacional dos Povos e Comunidades Tradicionais, buscando garantir visibilidade, direitos e justiça climática às populações que há séculos preservam a sociobiodiversidade do Brasil.

“Nosso compromisso é somar esforços para garantir segurança física e jurídica a essas lideranças, ao mesmo tempo em que fortalecemos sua voz nas arenas de decisão pública”, declarou Nicole Oliveira, diretora executiva da ARAYARA.

 

Foto: Raíssa Felippe/ ARAYARA

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

POSICIONAMENTO: TFFF, uma das iniciativas mais ambiciosas e controversas no financiamento climático global

Proposto pelo Brasil e lançado oficialmente durante a COP 30 em Belém. Este mecanismo busca mobilizar recursos permanentes para conservação de florestas tropicais através de um modelo financeiro que combina capital público e privado. O atual presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, apresentou essa iniciativa pela primeira vez durante a COP 28 em Dubai (2023). Liderado pelo Brasil

Leia Mais »

Especialistas discutem o avanço da litigância climática na  defesa povos e meio ambiente

A independência do judiciário e o livre exercício da profissão jurídica continuam sob ameaça em muitos países. Juízes, promotores e advogados enfrentam ataques, intimidações, detenções arbitrárias e até assassinatos. A declaração de Margaret Satterthwaite, Relatora Especial da ONU, abriu a “Oficina de Litigância Climática: da Investigação aos Casos Práticos”, realizada nesta terça-feira (18/11) no Amazon Climate Hub, marcando um debate

Leia Mais »

Quem Paga a Conta da Crise Climática? pesquisa evidencia peso da crise climática sobre mulheres

Para revelar o trabalho feito pelas mulheres e traduzir em números e propostas de políticas públicas, a Hivos, em parceria com o WRI e com pesquisadores da Rede Vozes pela Ação Climática (VAC), lançou os resultados da pesquisa “Custos Sociais e Econômicos da Mudança do Clima sobre Domicílios liderados por mulheres: Evidências do Brasil e da Zâmbia (2022–2025)”. A apresentação

Leia Mais »

Além da Impunidade: COP30 Debate Responsabilidade Estatal e Reparação Climática na Amazônia

A crise climática na Amazônia não é apenas uma questão de desmatamento, mas um resultado direto da impunidade empresarial e da omissão estatal frente à expansão extrativista. O evento “Responsabilidades de los Estados frente a la impunidad de las empresas para garantizar un clima seguro y una transición justa fuera de fósiles y con justas reparaciones para países amazónicos”, realizado

Leia Mais »