+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Mina Guaíba será um desastre para a saúde da região metropolitana

Por Profa. Dra. Olga Falceto
Professora aposentada da Faculdade de Medicina da UFRGS
Coordenadora de Ensino do Instituto da Família

Sou médica e professora universitária. Sou avó de 7 netos. Por eles e pelas outras crianças tenho extrema preocupação com as mudanças climáticas que já aumentaram em mais de um grau a temperatura média mundial. Em Porto Alegre nos últimos dez anos cada verão vimos sentindo uma novidade: o efeito de pequenos ciclones. Recém tivemos novamente essa experiência.

Já está bem estabelecido que temperaturas extremas afetam a saúde de forma intensa: aumentam as mortes de velhos e crianças, os suicídios e surtos, as brigas e a violência.

O impacto é ainda mais grave quando se examina a poluição do ar. O material particulado 2.5 (PM 2.5), tão pequeno que não pode ser visualizado, penetra nos pulmões e na corrente sanguínea e causa morte em populações mais sensíveis com risco pulmonar ou cardiovascular. Também causa doenças crônicas, inclusive câncer. Seu efeito está bem documentado com evidencias na literatura médica.

Poluição do ar e aumento da temperatura se combinam no chamado efeito estufa que aumenta o teor de CO2 e outros gases a ponto que, em países como a China, com frequência é necessário usar máscaras para sair à rua.

Poluição do ar e aumento da temperatura são resultado de fábricas, meios de transporte e mineração entre outros. Trazem também o envenenamento do solo e da água pelos químicos que eliminam.

Os países avançados já decidiram que em 50 anos ou menos só usarão energia limpa renovável. Mesmo a China está diminuindo todos os poluentes e em especial diminuindo o uso de carvão mineral que era fundamental em sua indústria.

E qual a consequência dessas decisões? Estão querendo transferir para nós essa produção, são grandes financiadores da Mina Guaíba que está querendo se instalar em Charqueadas e Eldorado do Sul.

Essa mina em seus 23 anos de exploração explodirá nosso solo com a potência de 2 bombas de Hiroshima. Serão muitas explosões por dia para extrair o carvão mineral. E para onde irá o pó, já que ela estará situada a apenas 16 km do centro de Porto Alegre?

Afora isso, a mineradora não detalhou no EIA-RIMA a composição do carvão mineral da área, sabidamente uma compactação ao longo dos tempos, de quase todos os elementos químicos da tabela periódica, inclusive os mais tóxicos e radioativos. Estes provavelmente serão lavados para dentro do rio Jacuí em uma de suas muitas inundações, afetando a nossa água do Lago Guaíba.

Também planejam esgotar o aquífero subjacente à área para chegar ao carvão e com isso acabarão com potencial reserva de água para Porto Alegre e prejudicarão toda a agricultura e pecuária ao redor. Além disso comprometerão a fauna e flora do Parque Estadual do Jacuí que serve de filtro natural de nossa água.

Todos esses fatores afetarão a saúde dos habitantes da região metropolitana de Porto Alegre, mas o mais agudo e diário é sem dúvida o nível de PM 2.5 no ar que já é de risco moderado em alguns dias conforme mostram os monitores de poluição do ar colocados em 5 unidades básicas de saúde da cidade pelo grupo Porto Ar Alegre.

As mudanças climáticas já estão prejudicando a saúde de crianças no mundo todo e vão determinar o bem-estar da próxima geração, a menos que o mundo cumpra as metas do Acordo de Paris de limitar o aquecimento a abaixo de 2 °C. O novo paradigma em saúde, a Saúde Planetária (para além da saúde pública e saúde global) chama a uma reestruturação radical de nossa forma de produzir e consumir. Está centrado na ideia de pensar global e agir localmente. A poluição do ar já existente em Porto Alegre e os riscos trazidos pela mina de carvão mineral Guaíba que quer se instalar aqui ao lado são dois importantes problemas a enfrentar. A saúde da região está em risco. E quem quererá morar na cidade coberta de pó escuro  em que vamos nos transformar?

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Biodiversidade em perigo: aquecimento dos oceanos e branqueamento dos corais

Entrevistada pelo Instituto Internacional Arayara, a bióloga responsável Biofábrica de Corais, Maria Gabriela Moreno Ávila, explica fenômeno que ameaça a vida marinha na costa brasileira A Conferência das Partes (COP) da Convenção das Nações Unidas sobre Diversidade Biológica (CDB) ocorre a cada dois anos, constituindo o principal fórum internacional para promover a cooperação em prol da conservação e do uso

Leia Mais »

A duas semanas da COP29, o alerta: emissões máximas, esforços mínimos

A liberação de gases de efeito estufa nunca foi tão alta. Ao mesmo tempo, avaliação das contribuições nacionais para contê-los aponta uma redução de apenas 2,6% até 2026, colocando a meta principal do Acordo de Paris em risco   A duas semanas da Conferência do Clima de Baku, no Azerbaijão (COP29), que começa em 11 de novembro, dois documentos da

Leia Mais »

COP16: Brasil apoia frente parlamentar em defesa de um futuro livre dos combustíveis fósseis

Na manhã desta sexta-feira (25), o Instituto Internacional Arayara uniu-se a uma coalizão de parlamentares latino-americanos para conter a expansão da exploração de petróleo na Amazônia, durante a primeira audiência pública da Frente Parlamentar Global pelo Futuro Livre de Combustíveis Fósseis. O evento faz parte da programação da COP16, que acontece até o dia 1º de novembro em Cali, na

Leia Mais »

Arayara na Mídia | Terra deve chegar ao fim do século 3,1ºC mais quente

O aumento de temperatura esperado para o fim do século será de 3,1°C caso as contribuições nacionais para reduzir emissões de CO2 não atinjam níveis mais ambiciosos   Por Paloma Oliveto para o Correio Braziliense    O planeta se aproxima de chegar ao fim do século 3,1°C mais quente do que na era pré-industrial, alcançando temperaturas incompatíveis com a vida.

Leia Mais »