+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Índia: as crianças que trabalham no “inferno” de carvão de Jharia

Por entre a fumaça tóxica, centenas de crianças – algumas com apenas quatro anos – transportam, à cabeça, cestos de pedras negras que pesam quase o mesmo que o seu próprio corpo. Colina acima, cobertas de fuligem, caminham em direcção ao local onde depositam o suado resultado do seu esforço. Uma tarefa monumental que remete para o castigo de Sísifo: diário, repetitivo, tortuoso.

 

“Inferno” foi a palavra que o fotógrafo indiano Supratim Bhattacharjee escolheu para descrever as minas de carvão de Jharia. E garante que não está exagerando. Este não é um lugar comum; afinal, aqui lavra, há mais de um século, um dos incêndios mais antigos do mundo. E, em simultâneo, outros 69 que, apesar de mais jovens, são igualmente nocivos. As chamas, o calor infernal e o esforço escravo compõem o retrato do local.

 

É com as próprias mãos, com recurso a picaretas e a força bruta, que as crianças de Jharia recolhem as pedras. O trabalho será convertido em menos de dois euros por dia. “A população é tão pobre que as crianças são forçadas a trabalhar e, ainda assim, sofrem de malnutrição”, explica o fotógrafo indiano. O dinheiro ganho por elas é trocado por arroz, a base da sua deficitária alimentação. “Colocar os filhos na escola é um sonho para os pais, nesta região.” É a pobreza destes, também trabalhadores da mina, que obriga as crianças a abdicar da escola. E é a iliteracia que as mantém “escravas” do carvão enquanto adultas. O ciclo é vicioso. E, sem intervenção, refere Supratim, é parca a esperança de ver algo mudar.

O carvão alimenta, mas mata devagar. “Aqui, a morte está presente todos os dias”, lamenta Supratim, em entrevista ao P3. Mortes por esmagamento, intoxicação e doença prolongada são as mais comuns. O fotógrafo indiano conhece a fundo esta realidade; a série de fotografias que criou, The Curse of Coal – “A Maldição do Carvão”, em tradução livre –, resulta de seis anos de trabalho. Gases tóxicos que estão presentes em grande densidade no ar da mina, como dióxido e monóxido de carbono, ou óxido de nitrogénio, são a causa de problemas pulmonares, dermatológicos, oftalmológicos. 

Existe uma larga parcela de trabalhadores da mina que se encontram em situação ilegal, grupo no qual se incluem todas as crianças. “Existem máfias que subcontratam, à força, estas pessoas, e ficam com grande parte do seu lucro diário”, explica o fotógrafo. Por esse motivo, a presença da polícia no local é frequente – e as crianças são o seu principal alvo. Não raramente são forçadas a fugir, deixando para trás o fruto da sua jorna. 

75% da electricidade que a Índia consome provém da combustão de carvão, o que torna o país num dos principais emissores de CO2 do planeta, a seguir à China e aos Estados Unidos. Apenas em Jharia são extraídas 32 milhões toneladas de carvão por ano e ainda existem, em reserva, cerca de 19,4 mil milhões de toneladas para extracção, pelo que não existe previsão de encerramento. “A situação piora de dia para dia”, afirma o fotógrafo. “A exploração laboral aumenta, os salários diminuem. As condições de salubridade deterioram-se, a doença é cada vez mais frequente.” É urgente uma intervenção externa. “Gostaria que o meu projecto chegasse a pessoas de todo o mundo e que alguém fizesse algo por estas pessoas.”

Fonte: P3

CARVÃO AQUI NÃO
Diga não ao carvão! Assine nossa petição:
https://campanhas.arayara.org/carvaoaquinao

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Energia cara e poluente: o leilão extinto que pode voltar como vetor de emissões

O encerramento do processo do Leilão de Reserva de Capacidade na forma de Potência de 2025 (LRCAP), anunciado nesta terça-feira (20) pela diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), vai além de uma simples decisão técnica. Em um momento crítico para a agenda climática global, a medida expõe uma ameaça estrutural à transição energética brasileira e levanta questionamentos sobre

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: O que está em jogo no projeto da usina termelétrica no DF

Projeto aguarda aprovação de licenciamento ambiental do Ibama. Movimentos questionam impactos ambientais e sociais sobre área que receberá instalação FOTO: Kayo Magalhães/Câmara dos Deputados Manifestações em seminário sobre a UTE Brasília Está em discussão desde março a aprovação de licença ambiental do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) para a UTE (usina termelétrica) Brasília, no

Leia Mais »

Alerta Vermelho: Petrobras avança na intenção de explorar petróleo na Margem Equatorial

O Instituto Internacional ARAYARA repudia decisão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) de aprovar que a Petrobras coloque em curso o plano de resgate de animais em caso de vazamento de óleo na Margem equatorial, no Amapá. Por: Agência Avenida A ARAYARA referência internacional em estudos climáticos, lidera campanha contra o Leilão para a

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Carvão não é transição, ministro Alexandre Silveira

Tem raposa no galinheiro: enquanto maior parte do governo age para manter vetos a benefícios para combustíveis fósseis na lei das eólicas offshore, MME avalia benesses para carvão. A reportagem é de Alexandre Gaspari, publicada por ClimaInfo, 20-05-2025. A articulação política do governo federal corre contra o tempo para manter os vetos do presidente Lula na lei 15.097/2025, que regulamenta

Leia Mais »