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Expansão fóssil na Amazônia é debatida por organizações de diversos países latino-americanos

Nos dias 1 e 2 de abril, o Instituto Internacional ARAYARA participou, em Bogotá (Colômbia), do workshop internacional “Avanzando en la mitigación del metano en el sector de petróleo y gas en Latinoamérica”, promovido pela Clean Air Task Force (CATF).

O encontro reuniu organizações da sociedade civil de diversos países latino-americanos com um objetivo comum: construir uma rede regional de enfrentamento às emissões de metano no setor de petróleo e gás, fortalecendo a atuação coletiva por políticas públicas mais ambiciosas e eficazes de mitigação.

O gerente de operações da ARAYARA, Vinicius Nora, apresentou o trabalho estratégico que a instituição vem realizando no Brasil para rastrear, denunciar e barrar o avanço das novas fronteiras fósseis — especialmente na Amazônia Legal. A apresentação destacou a conexão direta entre a expansão da infraestrutura de gás natural liquefeito (GNL) e o aumento de emissões de metano, um gás de efeito estufa mais potente que o CO₂ no curto prazo.

A ameaça invisível: metano e gás fóssil na Amazônia

Durante sua fala no painel “Activismo, abogacía y comunicación”, Nora compartilhou dados alarmantes: atualmente, existem 871 blocos de petróleo e gás na Amazônia brasileira, dos quais 78% ainda estão em fase de estudo ou oferta — o que significa que o pior ainda pode estar por vir. Por exemplo, no Brasil, o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do governo brasileiro, por exemplo, prevê que 64% dos investimentos em infraestrutura energética continuarão sendo destinados a fontes fósseis.

Entre os destaques, o biólogo apresentou a Campanha Amazônia Livre de Petróleo, que realiza o mapeamento em tempo real da expansão da indústria de combustíveis fósseis na região. A iniciativa articula comunidades locais, cientistas, ativistas e parlamentares na luta contra projetos de alto impacto, como terminais de GNL, gasodutos e termelétricas. O trabalho é fortalecido por plataformas autorais como Amazônia Livre de Petróleo, Leilão Fóssil e o Monitor Oceano, que disponibilizam dados abertos, notas técnicas e mapas interativos para informar e engajar a sociedade.

Vitórias concretas e caminhos para o futuro

“Graças ao trabalho de monitoramento, litigância e pressão política, a ARAYARA alcançou um feito inédito: impedir a venda de 94% dos blocos contestados juridicamente no leilão da 4ª Oferta Permanente de Concessão (4OPC), realizado pela ANP em áreas de alto risco socioambiental”, destacou Nora. Ele ressaltou que um dos maiores trunfos da instituição foi demonstrar, com base em 13 cadernos técnicos, a total ausência de cumprimento e respeito às salvaguardas socioambientais previstas pela própria ANP para os empreendimentos incluídos no leilão, o que elevou significativamente o risco jurídico das ofertas.

“Durante o  painel, debatemos como transformar a urgência científica sobre o metano em narrativas acessíveis, capazes de sensibilizar a sociedade e pressionar os tomadores de decisão”, completou. Ele relatou que as ONGs presentes entraram no consenso de que só a crise climática só será vencida se o metano estiver no centro da agenda pública, ao lado de temas como descarbonização, justiça climática e saúde pública.

O diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno de Araújo, destaca que cada poço de petróleo evitado representa não apenas a proteção de um território sensível, mas também a redução direta de emissões significativas de gases de efeito estufa. 

Segundo Araújo, a exploração e produção de petróleo e gás estão entre as principais fontes de emissões de metano — um gás até 86 vezes mais potente que o CO₂ no aquecimento global em um período de 20 anos — em razão de vazamentos, queimas e liberações intencionais durante o processo de extração. Além disso, todo o ciclo de vida do petróleo, do poço ao consumo, libera milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera.

“Quando impedimos a abertura de novos poços e projetos fósseis, cortamos essas emissões na origem, atuando de forma preventiva e altamente eficaz no enfrentamento da crise climática”, afirma.

Para ampliar o entendimento sobre o metano e seus impactos, a ARAYARA lançou uma série de vídeos ilustrados em parceria com a campanha Say No To LNG. Os episódios abordam temas como O Metano, o transporte marítimo e suas emissões e os riscos do Fracking.

Araújo celebrou o evento realizado em Bogotá, que marcou o início de uma nova fase de colaboração entre organizações da América Latina. “Assumimos o compromisso de compartilhar nossas metodologias de Advocacy, Comunicação Estratégica e Litígio Climático, fortalecendo a luta de nossos parceiros em países como México, Colômbia, Peru, Argentina e Equador. Em troca, recebemos a valiosa reciprocidade de histórias, experiências e estratégias de resistência desenvolvidas nessas nações.”

 

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