+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
desmatamento no brasil

Desmatamento: até as bases degradadoras de Bolsonaro e Salles precisam se preocupar

Foto: Jornal Brasil de Fato |

A diversidade e profundidade dos impactos ambientais e sociais causados pelo amplo desmatamento no Brasil, perpetrado pela Presidência de Jair Bolsonaro, em associação com o Ministro do meio Ambiente Ricardo Salles, têm impactos sequer imaginados pelos dois contumazes degradadores oficiais.

Até a viabilização projetos de infraestrutura em alguns dos seis biomas do País pode ser afetada pelo crescente desmatamento observado desde 2019, quando o governo federal passou a desmontar as suas agências de normatização e fiscalização ambiental. E o primeiro impacto do corte massivo de vegetação é a mudança no regime de chuvas, que altera a disponibilidade de água e impacta todo tipo de atividade econômica, além de poder travar os processos de licenciamento ambiental.

Ou seja, a base política de Bolsonaro e Salles – tanto as bases ilegais quanto as não republicanas – serão atingidas em cheio, se o rumo e a velocidade da destruição não forem detidos.

Segundo o Relatório do desmatamento no Brasil, lançado nesta segunda (14) por um grupo de organizações civis chamado Observatório do Clima, esse não é um cenário distante. Afinal, o País atingiu em 2020 a marca de 13.853 km2 desmatados (14% de crescimento em relação a 2019).

Segundo o coordenador do Relatório, o engenheiro florestal Tasso Azevedo, que estruturou no banco de desenvolvimento BNDES o extinto Fundo Amazônia de investimentos e dirigiu o Serviço Florestal Brasileiro, também desmobilizado pelo governo federal em 2019, “existe uma sensação de que nesse momento vale a pena desmatar”.

A seguir, ele descreve as circunstâncias do desmatamento no Brasil, vê saídas nos sistemas de fiscalização dos Estados e faz alguns alertas.

Além da desmobilização da fiscalização federal, o senhor consegue identificar outros fatores que tenham influenciado o aumento do desmatamento?

Em alguns biomas o desmatamento é muito pequeno. Então, de um ano para o outro, se houver uma pequena mudança, muda bastante. É o caso do pampa, por exemplo. No caso do Pantanal, Mata Atlântica, Cerrado e Amazônia houve o mesmo crescimento (em relação ao aumento já verificado em 2019, em relação a 2018) e no caso da Caatinga não é possível saber se houve o mesmo crescimento porque tivemos novas fontes de informação – os alertas, que sã os dados do site Caatinga. A questão fundamental é que estamos passando dificuldades na fiscalização de uma forma geral e existe uma sensação de que nesse momento vale a pena desmatar. O desmatamento subiu bastante, mas não dá para dizer que ele explodiu. A nossa série histórica é muito curta para fazermos qualquer afirmação sobre se teríamos chegado ao ponto de não retorno.

Em o governo federal tendo desmobilizado as suas agências de fiscalização ambiental, qual a medida imediata para enfrentar o desmatamento?

O próprio relatório mostra que as ações feitas pelos Estados podem ser mais importantes do aquelas feitas pelo Ibama (a agência federal de fiscalização ambiental no Brasil). O exemplo que temos lá é o Estado do Mato Grosso, em que tivemos ação do Ibama em 5% da área desmatada, mas tivemos ações do órgão estadual do meio ambiente em 25% da área desmatada. Ou seja, o órgão estadual atuou cinco vezes mais do que o Ibama. Esse é um exemplo que pode ser repetido em outros estados, como o Pará (o Estado brasileiro que no ano passado teve as maiores taxas de desmatamento e concentra 14 das 50 cidades que mais desmataram).

É possível traçar alguma tendência no desmatamento?

A principal razão para o Pantanal e o Cerrado alcançarem 92% do desflorestamento no ano passado é porque são os dois principais biomas, os maiores do Brasil, com a maior parte do território nacional (os 10 estados que mais desmataram – que concentram atividades como grandes projetos de mineração, ferrovias, rodovias – ficam nesses dois biomas). A Amazônia também tem um desmatamento bem alto e isso tem a ver com o seu tamanho, além de muita grilagem, ocupação de terra pública e desmatamento especulativo. No caso do Cerrado, isso se deve ao fato de ter a maior expansão agropecuária do Brasil. O desmatamento não é uma questão de tendência. Desmatamento é o que se observa em um momento e hoje observamos que o desmatamento está crescendo.

Qual o principal impacto do desmatamento sobre as atividades de infraestrutura econômica?

Existem vários estudos que mostram que o desmatamento especialmente na Amazônia já tem impacto sobre o regime de chuvas, especialmente no limite entre a Amazônia e o Cerrado, e pode ter também relação com a redução de chuvas na bacia do Pantanal, embora isso ainda necessite de mais tempo de estudo, por conta de outros efeitos climáticos globais, como El Niño, La Niña e outros, que podem afetar o Pantanal. No caso dos outros biomas, há outros impactos, relacionados à disponibilidade de água nas bacias, de acordo com o quão protegidas elas estão. Não afeta diretamente a chuva, mas a disponibilidade de água.

O relatório completo pode ser acessado aqui.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Geração de energia no Brasil vive encruzilhada decisiva entre vanguarda renovável e retrocesso fóssil

A eficiência na geração elétrica não é mais uma escolha técnica. É uma prioridade estratégica diante da crise climática global, das pressões econômicas e das demandas por justiça social. E o Brasil precisa se posicionar. Autor: Anton Schwyter, Doutorando no Instituto de Energia e Ambiente, Universidade de São Paulo (USP) A geração de energia no Brasil vive um momento decisivo.

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Termo Norte pede nova data para audiência pública sobre usina em Samambaia

Projeto será tema de audiência pública marcada para esta semana. Especialistas discutem impacto da instalação e custo final para os consumidores. A usina será instalada na Região Administrativa de Samambaia, passando pelo Recanto das Emas A empresa Termo Norte Energia Ltda. enviou ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), solicitação de nova data para a

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Brésil : « Le coût sera élevé pour nous » : les peuples autochtones dénoncent l’exploration énergétique sans consultation préalable

Le cacique Kretã Kaingang a mis en garde contre les risques liés à l’exploration énergétique sur les Terres Indigènes. – Photo : Caïna Castanha/BdF DF Publié le 17 Avril 2025 Au campement Terre Libre, les dirigeants ont alerté sur les impacts de la transition énergétique sur leurs territoires 14 avril 2025 à 7h25, Brasilia (DF) Caina Castanha Les impacts de l’exploration

Leia Mais »