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Hora de salvar os doentes e resgatar o planeta

Hora de salvar os doentes e resgatar o planeta

Com uma cooperação mais estreita entre as nações, argumenta o chefe das Nações Unidas, poderíamos impedir uma pandemia de mudanças climáticas mais rápidas e lentas.

A pandemia de Covid-19 é o maior teste que o mundo enfrentou desde a Segunda Guerra Mundial. Existe uma tendência natural, diante da crise, de cuidar primeiro da própria pessoa. Mas a verdadeira liderança entende que há momentos para pensar grande e com mais generosidade. Esse pensamento estava por trás do Plano Marshall e da formação das Nações Unidas após a Segunda Guerra Mundial. Este também é um momento. Devemos trabalhar juntos como sociedades e como comunidade internacional para salvar vidas, aliviar o sofrimento e diminuir as consequências econômicas e sociais devastadoras do Covid-19.

O impacto do coronavírus é imediato e terrível. Devemos agir agora e devemos agir juntos. Assim como devemos agir juntos para enfrentar outra emergência global urgente da qual não devemos perder de vista – as mudanças climáticas. Na semana passada, a Organização Meteorológica Mundial divulgou dados mostrando que as temperaturas já aumentaram 1,1 graus centígrados acima dos níveis pré-industriais. O mundo está a caminho de uma perturbação climática devastadora da qual ninguém pode se auto-isolar.

Agora, em todos os continentes e em todos os mares, as perturbações climáticas estão se tornando o novo normal. A conduta humana também está levando a severas perdas de biodiversidade, alterando a interação animal-humano e distorcendo os processos do ecossistema que regulam nossa saúde planetária e controlam muitos serviços dos quais os humanos dependem. A ciência está gritando para nós que estamos perto de ficar sem tempo – chegando a um ponto sem retorno para a saúde humana, que depende da saúde planetária.

Abordar a mudança climática e o Covid-19 simultaneamente e em escala suficiente exige uma resposta mais forte do que qualquer outra vista antes para salvaguardar vidas e meios de subsistência. Uma recuperação da crise do coronavírus não deve nos levar de volta a onde estávamos no verão passado. É uma oportunidade para construir economias e sociedades mais sustentáveis ​​e inclusivas – um mundo mais resiliente e próspero. Recentemente, a Agência Internacional de Energia Renovável divulgou dados que mostram que a transformação de sistemas de energia poderia impulsionar a G.D.P. global. US $ 98 trilhões em 2050, gerando 2,4% a mais de G.D.P. crescimento do que os planos atuais. Aumentar os investimentos em energia renovável por si só adicionaria 42 milhões de empregos em todo o mundo, geraria economia em saúde oito vezes o custo do investimento e impediria uma crise futura.

Estou propondo seis ações positivas em termos climáticos para os governos considerarem quando construírem de volta suas economias, sociedades e comunidades.

Primeiro: como gastamos trilhões para nos recuperar do Covid-19, precisamos entregar novos empregos e negócios por meio de uma transição limpa e verde. Os investimentos devem acelerar a descarbonização de todos os aspectos de nossa economia.

Segundo: onde o dinheiro dos contribuintes resgata empresas, ele deve criar empregos verdes e crescimento sustentável e inclusivo. Não deve estar salvando indústrias poluentes e intensivas em carbono ultrapassadas.

Terceiro: o poder de fogo fiscal deve mudar as economias de cinza para verde, tornando as sociedades e as pessoas mais resilientes por meio de uma transição justa para todos e que não deixa ninguém para trás.

Quarto: no futuro, os fundos públicos devem investir no futuro, fluindo para setores e projetos sustentáveis ​​que ajudam o meio ambiente e o clima. Os subsídios aos combustíveis fósseis devem terminar e os poluidores devem pagar por sua poluição.

Quinto: O sistema financeiro global, quando molda políticas e infraestrutura, deve levar em consideração os riscos e oportunidades relacionados ao clima. Os investidores não podem continuar ignorando o preço que nosso planeta paga por um crescimento insustentável.

Sexto: Para resolver ambas as emergências, precisamos trabalhar juntos como uma comunidade internacional. Como o coronavírus, os gases de efeito estufa não respeitam limites. O isolamento é uma armadilha. Nenhum país pode ter sucesso sozinho.

O Acordo de Paris sobre mudança climática e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pelas Nações Unidas em 2015 fornecem o modelo e as ferramentas para uma melhor recuperação. Embora a Grã-Bretanha e a Itália tenham decidido adiar a conferência internacional anual do clima deste ano até 2021, não podemos nos dar ao luxo de hesitar na ação climática ou diminuir a ambição. Os governos devem honrar seus compromissos de apresentar novos planos nacionais de clima e estratégias de longo prazo para alcançar zero emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050.

Exorto a União Europeia a colocar o Acordo Verde apresentado no ano passado no centro de sua resposta econômica à pandemia e a manter seu compromisso de apresentar um novo e mais ambicioso plano climático e uma estratégia de longo prazo consistente com a neutralidade climática até 2050 Faço um apelo semelhante a todos os países do G20, que coletivamente representam mais de 80% das emissões globais e mais de 85% da economia global. Não podemos resolver a crise climática sem a liderança coordenada do G20.

Congratulo-me com a liderança demonstrada por países como a Coréia do Sul, que administrou a pandemia de maneira exemplar e apoiou outros países a fazê-lo, e agora está procurando liderar o caminho com seu próprio Green New Deal. Também é encorajador ver o Mizuho Financial Group do Japão anunciando que interromperá novos financiamentos para usinas a carvão e outras organizações como o Simitomo Misui Financial Group se movendo nessa direção.

E na semana passada, os membros menores e mais vulneráveis ​​de nossa família das Nações Unidas, as pequenas nações insulares, voltaram à ambição climática, mesmo em meio ao desastre de Covid. Sua liderança deve servir de inspiração para todos.

Os jovens de todo o mundo têm exigido ações climáticas mais fortes, rápidas e ambiciosas, porque entendem que é a única maneira de garantir seu futuro. Da mesma forma, muitos líderes empresariais influentes nos dizem que a ação climática e o desenvolvimento sustentável são as únicas maneiras de proteger e fortalecer seus resultados.

Durante anos, fracassamos nossos jovens, danificando o planeta e deixando de proteger as pessoas mais vulneráveis ​​às crises. Temos uma rara e curta janela de oportunidade para corrigir isso – reconstruindo um mundo melhor, não voltando a um mundo que é bom apenas para uma minoria de seus cidadãos.

Devemos agir agora para combater o coronavírus globalmente por todo o bem – e, ao mesmo tempo, buscar ações climáticas ambiciosas imediatas para um mundo mais limpo, mais verde, mais próspero e equitativo.

Por António Guterres
Secretário Geral das Nações Unidas

A jovem indígena brasileira que levou sua luta pelo clima a ONU

A jovem indígena brasileira que levou sua luta pelo clima a ONU

Artemisa Xakriabá é hoje uma das mais importantes lideranças indígenas jovens. Cansada de esperar as autoridades tomarem atitudes diante do genocídio dos povos originários e da emergência climática, ela usa sua música e as redes sociais para expor ameaças que eles sofrem e se unir a outros jovens na luta pelo futuro do planeta.

Aos 7 anos, Artemisa Xakriabá caminhava pela mata quando se deparou com uma cena decisiva em sua trajetória. Familiares dela e outros moradores de sua aldeia, na Terra Xakriabá, no norte de Minas Gerais, se reuniam para fazer o reflorestamento da nascente de um rio devastada pela seca. Acompanhar a movimentação a fez entender que a defesa do meio ambiente se confunde com a luta pela sobrevivência do seu povo.

Outras memórias de infância e as origens da líder indígena de 19 anos alimentam sua força para seguir em sua missão. Na aldeia, em dias de sol, o fundo do quintal era palco para brincadeiras de casinha dos pequenos. O céu nublado anunciava a chegada da chuva, que faria o córrego encher. Era a promessa de um dia inteiro no rio ao lado dos irmãos e primos. No final da tarde, as crianças corriam para casa para ouvir as histórias e os ensinamentos do avô Darío.

O apreço pelas tradições também era fomentado na escola. Nas aulas de arte e cultura, Artemisa aprendia sobre plantio, colheita e preservação da mata. Em geografia, estudava raízes nativas com propriedades medicinais. Ao lado de outras crianças, compreendeu que a natureza é o sustento do seu povo e que todos têm a responsabilidade de preservá-la para as gerações futuras.

Engajada em movimentos de reflorestamento e proteção cultural da aldeia, ela não sabe exatamente quando se tornou ativista. “Em reuniões, os líderes mais velhos debatiam problemas e situações da aldeia. E nós, os mais novos, escutávamos. Então, com 17 anos, comecei a denunciar os retrocessos do Brasil pela música. Compunha as letras e depois cantava, acompanhada do violão. E, quando as pessoas ouviam as canções, diziam que ali estava o meu ativismo”, relembra.

Mesmo tímido, o protesto da jovem já tinha razão de ser. Nos últimos anos, a Amazônia vem sofrendo um verdadeiro ataque. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostram que, entre agosto de 2018 e julho de 2019, 9 762 quilômetros quadrados foram desmatados, o que representa um aumento de 29,5% em relação ao mesmo período do ano anterior. Atrelada a isso emerge a preocupação com a cultura indígena, que está em risco em meio a muitos conflitos sociais. Essa não é uma história nova a ser contada. No final do século 17, bandeirantes chegaram à Terra Xakriabá, dizimaram a população e dominaram o território. Destruíram boa parte da floresta para a exploração de pedras preciosas. Anos mais tarde, foi a vez dos missionários, que queriam ensinar aos indígenas sua religião. Já se passaram três séculos, mas a ameaça aos povos originários continua.

O relatório Violência contra os Povos Indígenas do Brasil, do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), aponta um aumento de 22,7% no número de assassinatos de indígenas no país em 2018. “Temos medo de andar na rua. O que eu mais gostaria de ver é o fim desse genocídio do nosso povo. Somos os principais defensores da natureza, damos a nossa vida para protegê-la. E o governo não se preocupa com a nossa luta. Estão colocando garimpeiros e pessoas a favor da destruição das nossas terras em cargos políticos e de poder. Estamos nas mãos de quem não quer nos dar acolhimento”, explica Artemisa. Segundo ela, não há políticas públicas que visem proteger seu povo.

9762 km² foram desmatados na Amazônia entre agosto de 2018 e julho de 2019 Dados: Inpe

Com uma população indígena de pouco mais de 800 mil pessoas, o Brasil tem apenas 462 terras indígenas regularizadas. Mesmo assim, recentemente, durante a cerimônia que marcou a transferência do Conselho Nacional da Amazônia Legal do Ministério do Meio Ambiente para a Vice-Presidência da República, o presidente Jair Bolsonaro declarou que o tamanho das terras demarcadas era abusivo, pois correspondia a 14% do território nacional. Criado por um decreto em junho de 1995, o Conselho da Amazônia Legal deveria auxiliar o presidente da República na formulação de políticas públicas na região. Entretanto, não tinha saído do papel até este ano. A ativação do órgão foi anunciada após duras críticas de ambientalistas e líderes mundiais à política ambiental brasileira. Embora nove estados façam parte do conselho, nenhum governador ou representante da sociedade civil integrará a instituição, que será formada apenas por representantes do governo federal.

Cansada de esperar uma atitude dos governantes diante da iminente emergência climática, Artemisa decidiu expandir as preocupações para além de sua comunidade. Encontrou nas redes sociais uma plataforma para retratar seu povo e dar amplitude às necessidades dele. Fala de apropriação cultural, faz denúncias de ataques a indígenas, abrindo o diálogo sobre a importância dos povos originários, e debate temas da causa LGBT+. Em seu perfil no Instagram (@hta_fernandes1001), discute, por exemplo, o projeto de lei que visa regulamentar a mineração, a exploração de petróleo e a geração de energia elétrica em terras protegidas – e que, no momento, tramita no Congresso Nacional. “Se for aprovado, será uma nova destruição. O desmatamento vai aumentar muito, animais vão morrer e os povos indígenas, que não são a favor da mineração em suas terras, provavelmente vão ter que lutar por seus direitos”, ressalta Artemisa.

Guardiões do Amanhã

Aos 16 anos, Artemisa, seguindo os passos de outros jovens locais, saiu da aldeia para estudar. Foi para Ribeirão Preto, interior de São Paulo, terminar o ensino médio. Enfrentou muitas barreiras para se adaptar ao novo estilo de vida. “Nós temos essa visão de um pé na aldeia e outro no mundo. Fazemos essa preparação para sair, estudar fora e depois voltar para o território. Só que, como moramos em um mundo muito nosso, é difícil. Quando vamos para a cidade, bate aquele sentimento de querer ir embora. No começo, eu chorava, não conseguia me acostumar com o clima e acabei ficando doente psicologicamente. Eu sei que era o meu espírito me pedindo para retornar para casa”, explica. Ela precisou de ajuda médica para superar as dificuldades, mas também encontrou outra forma de se reconectar com sua essência. O que melhorou seu ânimo foi criar um projeto de preservação da natureza em Ribeirão Preto.

No início deste ano, lançou o Reflores Verde, para reflorestar e arborizar áreas devastadas da cidade. “Eu sempre passava por lugares sem árvores, e aquilo me preocupava, me entristecia. Tinha que fazer alguma coisa. Conversei com amigos e pessoas que eu sabia que tinham interesse pela causa e bolamos a iniciativa. Hoje, são cerca de 150 participantes no grupo do WhatsApp”, conta.

Quem não consegue participar do plantio colabora fazendo doações para a compra de mudas e equipamentos. “É um pouco burocrático porque precisamos de autorização da prefeitura e da Secretaria do Meio Ambiente, mas é um trabalho necessário. Quando falamos em ativismo, não estamos nos referindo só à atuação no reflorestamento, mas também ao engajamento nas ações políticas.” Hoje Artemisa estuda para prestar vestibular para psicologia. Seu desejo é voltar para a aldeia quando terminar a faculdade e ajudar seu povo. De longe e em visitas esporádicas, ela ainda participa dos grupos de mulheres que discutem a preservação das terras de seu território.

Da Terra Xakriabá para o mundo

Durante uma reunião do grupo de mulheres da aldeia, Célia Xakriabá, uma das representantes da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), convidou Artemisa para participar da Primeira Marcha das Mulheres Indígenas, que aconteceria em agosto de 2019, em Brasília, e fez um pedido especial: “Tezinha, você poderia fazer uma música para a Marcha?”.

Artemisa se uniu a mais de 2 mil participantes para discutir o empoderamento feminino nas tribos. “Algumas pessoas pensam que não, mas é claro que existe machismo nas aldeias. É uma questão de gênero, não de raça. Lá no território já vi vários casos de mulheres que precisam cuidar da casa para o homem sair para trabalhar. Foi importante falarmos sobre isso”, lembra.

“É claro que existe machismo dentro das aldeias. É uma questão de gênero, não de raça”Artemisa Xakriabá

Nos quatro dias em que ficou na capital federal, a jovem apresentou a canção diversas vezes sem saber que ela seria capaz de mudar a amplitude do seu trabalho. Dias depois do encontro, coordenadores da Apib e representantes da ONU convidaram Artemisa para participar da Cúpula do Clima como liderança da juventude indígena pela Aliança Global dos Guardiões da Floresta, coalizão informal de indígenas e comunidades da Ásia, África e América Latina que luta por respeito aos seus direitos e pela inclusão dos povos das florestas em negociações globais sobre as mudanças climáticas.

Encorajada por Célia, Artemisa viajou para Nova York. Acompanhou discursos de líderes mundiais, participou de protestos e conheceu outros jovens ativistas, como Greta Thunberg, que começou fazendo um protesto solitário pela defesa do clima em frente ao Parlamento sueco e é criadora do movimento Sextas pelo Futuro. “Foi uma experiência única. Encontrei jovens e crianças que acreditam que suas atitudes podem mudar o mundo. Então, por que eu deveria parar? Conversei pouco com a Greta, mas dei um colar de presente a ela e agradeci por estar nessa luta pelo clima com a gente”, comenta.

Antes de participar dos eventos na sede da ONU, Artemisa esteve em Washington. Ao lado de jovens de diversas nacionalidades, ela se reuniu com membros do Congresso americano para pedir atenção à proteção do meio ambiente e à sobrevivência de sua comunidade. Uma carta foi entregue aos políticos descrevendo a seriedade da situação. “Já que não temos esse respaldo do governo brasileiro, precisamos de ajuda dos governantes de fora. É urgente falar do que está acontecendo no Brasil. A extração ilegal de madeira, por exemplo, que destrói nossas terras, tem como um dos principais destinos os Estados Unidos”, ressalta.

Segundo Artemisa, as autoridades americanas mostraram interesse nas reivindicações levadas por ela e a trataram com respeito e dignidade. “Aqui, quando participamos dos movimentos, fazemos as pinturas, usamos os trajes, e as pessoas riem, criticam. Eu já ouvi comentários de que os indígenas deveriam morrer. Lá isso não aconteceu, ninguém questionou minha origem nem me ameaçou.”

Para Artemisa, há um processo de identificação entre os mais novos e uma vontade de fazer parte da mudança, de chamar a responsabilidade para si. “A juventude se mobiliza porque é nosso futuro que está em jogo. Se estamos aqui hoje, é porque alguém se esforçou por nós. Agora devemos isso às próximas gerações. E este é o futuro: transformar batalhas individuais em coletivas”, explica a jovem líder, que leva para o mundo os aprendizados que recebeu na aldeia lá atrás, ainda criança, quando nem imaginava que sua luta cresceria tanto.

Fonte: Revista Cláudia

Futuro das crianças do mundo está ameaçado pelas mudanças climáticas, diz ONU

Países de todo o mundo estão fracassando em proteger as crianças das ameaças à saúde causadas pelas mudanças climáticas, e em criar um ambiente saudável essencial para seu bem-estar, diz um relatório conjunto da Organização das Nações Unidas, Fundo da ONU para a Infância (Unicef) e a revista médica The Lancet, que publicou o estudo nesta quarta-feira (19/02).

“As mudanças climáticas, a degradação ecológica, populações migrantes, conflitos, desigualdades persistentes e práticas comerciais predatórias ameaçam a saúde e o futuro de crianças em todos os países do mundo”, diz a publicação, que destaca os impactos de emissões de gases poluentes, a destruição da natureza e alimentos altamente calóricos e ultraprocessados.

“Os governos precisam formar coalizões através de vários setores para superar as pressões ecológicas e comerciais, a fim de garantir que as crianças recebam seus direitos agora e um planeta habitável nos próximos anos.”

Enquanto crianças de países ricos têm maiores chances de sobrevivência e bem-estar, esses mesmos países contribuem de forma desproporcional com emissões de CO2 que ameaçam o futuro de todas as crianças no mundo, consta do texto da autoria de 40 dos maiores especialistas em saúde infantil e juvenil do mundo.

Os pesquisadores desenvolveram um índice de “desenvolvimento infantil” que inclui fatores como mortalidade, saúde, educação e nutrição, e outro de “sustentabilidade”, que se concentra nas emissões per capita de gases de efeito estufa de cada país. O estudo frisa que nenhum dos países do mundo teve bom desempenho nas três categorias avaliadas: desenvolvimento infantil, sustentabilidade e igualdade.

“Construímos um novo perfil nacional com o fim de medir as condições fundamentais para menores entre 0 e 18 anos sobreviverem e se desenvolverem hoje em dia, além de medir ameaças ambientais futuras para crianças, baseando-nos nos excessos das emissões de gases de efeito estufa projetados para 2030. Essas duas medidas […] são combinadas para gerar nosso perfil de desenvolvimento e futuro infantil”, explica o documento.

Segundo os critérios do primeiro índice, nações menos desenvolvidas como a República Centro-Africana e o Chade têm desempenho bastante ruim, comparado a países ricos como Noruega, Coreia do Sul, Holanda, França e Irlanda, que ocupam os cinco primeiros postos em bem-estar infantil.

O ranking, no entanto, aparece praticamente inverso no segundo índice, que detalha as emissões de poluentes por habitante. Países onde as crianças contam com um melhor ponto de partida na vida, com destaque para os europeus, falham em assegurar um ambiente climático adequado para o futuro infantil.

Estados Unidos, Austrália e Arábia Saudita, por exemplo, estão entre os dez últimos países no ranking de sustentabilidade. Holanda, Islândia e Alemanha também constam no fim dessa lista. A Alemanha ocupa o 14º lugar em bem-estar infantil, mas o 161º em sustentabilidade.

Já o Brasil não altera muito sua posição: em bem-estar infantil, ocupa o 90º lugar, ficando em 89º no critério de sustentabilidade.

“Os tomadores de decisão estão falhando com nossas crianças e nossa juventude, fracassando em proteger sua saúde, seus direitos e seu planeta”, comentou o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus.

O relatório também destacou ameaças que o setor comercial representa para a infância. A exposição a publicidades de junk food (comida de baixa qualidade) e alimentos ricos em gordura e açúcares é relacionada à obesidade infantil. O número de crianças e adolescentes obesos mais que decuplicou entre 1975 (11 milhões) e 2016 (124 milhões), de acordo com os autores.

Crianças também são expostas a publicidade de produtos destinados a adultos, como álcool, tabaco e jogos de azar, aumentando suas chances de consumi-los no futuro. “Crianças em países de baixa e média renda também tem alta exposição”, constata o estudo. “Numa amostra de 2.423 crianças entre 5 e 6 anos do Brasil, China, Índia, Nigéria e Paquistão, 68% conseguiam identificar pelo menos uma marca de cigarros, com índices que variam de 50% na Rússia até 86% na China.”

No Brasil, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública lançou no início do ano uma consulta pública para regulamentar a publicidade infantil no Brasil por meio de portaria. Porém especialistas destacam que a publicidade infantil dirigida a menores de 12 anos já é considerada abusiva no país.

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e o Código de Defesa do Consumidor (CDC) não proíbem a publicidade infantil expressamente, mas permitem concluir que a prática é proibida no país. O Artigo 39 do CDC, por exemplo, proíbe que um fornecedor de produtos e serviços se aproveite “da fraqueza ou ignorância do consumidor, tendo em vista sua idade, saúde, conhecimento ou condição social, para impingir-lhe seus produtos ou serviços”.

Em 2014, a Resolução 163 do Conanda (Conselho Nacional da Criança e do Adolescente) classifica como abusiva a “a prática do direcionamento de publicidade e de comunicação mercadológica à criança, com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço”.

Fonte: Deutsche Welle

ONU avisa: prazo para salvar a terra termina em 2030

A Organização das Nações Unidas (ONU) está desenvolvendo um plano de ação que visa o cumprimento de metas ambiciosas até 2030 para evitar a sexta extinção em massa, revela o The Guardian.

De acordo com o relatório preliminar da ONU, a humanidade comprometeu os recursos naturais de que depende para sobreviver. Além de exigir um compromisso pela proteção de pelo menos 30% do planeta, o plano de 20 pontos visa, por exemplo, a redução de 50% da poluição por resíduos plásticos.

A versão final do documento, elaborado pela Convenção Sobre Diversidade Biológica, deverá ser adotado pelos governos em outubro, durante a próxima cimeira das Nações Unidas sobre o clima em Kunming, na China. Este acordo faz parte de uma estratégia internacional a longo prazo que visa garantir que a conservação e sustentabilidade da biodiversidade até 2050.

«Se quisermos ficar abaixo de 1,5 graus, evitar a extinção de um milhão de espécies e o colapso do nosso sistema de suporte de vida, precisamos de proteger a nossa natureza e assegurar que pelo menos 30% das nossas terras e oceanos estejam protegidos até 2030», alerta Enric Sala, explorador-residente da National Geographic e co-autor do Acordo Global pela Natureza.

Ataque de gafanhotos na África é situação sem precedentes, avalia a FAO

A Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) reforçou nos últimos dias o alerta sobre a proliferação de gafanhotos que atinge áreas rurais em países do leste africano, como Etiópia, Quênia e Somália. Em comunicado recente, a instituição manifesta preocupação com a possibilidade de a praga se espalhar por outros países, se não for feito um controle eficiente.

“Tornou-se uma situação de dimensões internacionais que ameaça a segurança alimentar de toda essa sub-região”, afirmou o diretor-geral da FAO, Qu Dongyu, no comunicado, acrescentando que a instituição tem adotado mecanismos de ação coletiva para lidar com o que chama de crise.

Na avaliação da FAO, a situação atual é sem precedentes. Segundo a agência das Nações Unidas, as nuvens de gafanhotos podem ter milhões de insetos e conseguem se mover por cerca de 150 quilômetros em um dia. A avaliação é de que o clima na região leste da África favorece a reprodução dos insetos, cuja infestação está maior e mais rápida que a capacidade das autoridades de lidar com o problema.

Ainda conforme a agência, considerando o tamanho das nuvens, o controle aéreo é a única maneira efetiva de se reduzir a população de gafanhotos. Essas operações precisam aumentar rapidamente na Etiópia e no Quênia. Nas estimativas mais conservadoras da FAO, são necessários cerca de US$ 70 milhões para controlar a praga e garantir a subsistência nos países mais afetados.

“As comunidades da África Oriental já têm sido afetadas por longas secas, que comprometeram sua capacidade de produzir alimentos e viver. Precisamos ajudá-las a se reerguer assim que os gafanhotos irem embora”, diz Dongyu.

Em um vídeo postado nas redes sociais da FAO, o diretor de emergências da instituição, Dominique Burgeon, reforça o alerta e a necessidade de ação. “Estamos em uma região onde 11 milhões de pessoas estão sob a ameaça de insegurança alimentar. Portanto, temos que fazer todos os esforços possíveis”, diz ele, em Lengusaka, no Quênia.

Fonte: Globo Rural

Bósnia: exploração carvão gera poluição, doenças e mortes

Bósnia: exploração carvão gera poluição, doenças e mortes

No Rio Grande do Sul, a proposta de instalação da maior mina de exploração de carvão a céu aberto do Brasil – Mina Guaíba – coloca em risco a vida de mais de 4,3 milhões de moradores da região metropolitana de Porto Alegre. O carvão é um combustível fóssil e, assim, um dos mais graves influenciadores das mudanças climáticas. As consequências de sua exploração são devastadoras. Abaixo, compartilhamos uma reportagem que fala sobre a exploração do carvão na Bósnia. Serve como alerta urgente à sociedade gaúcha e brasileira.

Confira:

Na Europa, ainda existe um lugar onde o carvão é transportado por uma locomotiva a vapor: a mina de Banovići, na Bósnia-Herzegovina.

Esta não é a única tecnologia obsoleta usada no setor de energia dos países dos Balcãs: a Bósnia abriga três das dez usinas termelétricas a carvão mais poluentes da Europa.

Apesar de seu impacto negativo no meio ambiente e na saúde, associações e especialistas apontam que a Bósnia não está tentando reduzir sua dependência de combustíveis fósseis, um dos tópicos mais importantes da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP25), em Madri. O motivo? Dinheiro.

As abundantes reservas subterrâneas de carvão da Bósnia e a lucratividade do modelo de negócios – exportando eletricidade produzida em usinas antigas – tornam praticamente impossível para o país cumprir qualquer uma das metas de emissão estabelecidas pelo acordo de Paris.

O negócio de carvão é cada vez mais lucrativo para alguns – mas prejudicial para muitos.

Lucro comercial para saúde

Todas as cinco usinas de energia localizadas na Bósnia são movidas a carvão. Isso faz do país o único exportador de energia nos Balcãs.

Tuzla, a terceira cidade da Bósnia, abriga uma das maiores usinas de carvão da região. A fábrica Termoelektrana, em combinação com o tráfego intenso de carros, as indústrias e o uso doméstico de carvão para aquecimento, faz de Tuzla a cidade com a pior qualidade do ar nos Balcãs Ocidentais.

A poluição de Tuzla é 6,5 vezes acima do nível recomendado pelos padrões da Organização Mundial da Saúde.

De acordo com os dados fornecidos pela Aliança Global para o Clima e a Saúde, a usina de carvão de Tuzla emite 896 toneladas de PM2,5 anualmente e é a maior fonte de PM2,5 do país. PM10 e PM2.5 são partículas poluentes presentes no ar que respiramos. As partículas podem absorver substâncias tóxicas como sulfatos, nitratos, metais e compostos voláteis.

“Os poluentes aumentaram a incidência de câncer nas áreas próximas”, diz Denis Zisko, gerente de projetos do Centro Nacional Bósnio de Ecologia e Energia.

Um relatório do Bankwatch divulgado em junho de 2019 aponta que 8 das 41 mortes por câncer de pulmão e 29% das mortes por acidente vascular cerebral são causadas pela poluição por PM2,5. A mesma pesquisa destacou que 136 mortes prematuras foram causadas por PM2,5, 17% de todas as mortes de adultos acima de 30 anos.

O ativista local Goran Stojak explica que as crianças nascidas em Tuzla e seus arredores sofrem de problemas respiratórios desde que nascem. O relatório do Bankwatch afirma que a poluição por PM2,5 é responsável por 23% da bronquite infantil – 160 em 695.

“As cinzas são armazenadas em um lago artificial ao ar livre, sem proteção para evitar a poluição do ar e do solo. Durante a estação seca, a água evapora e a poeira, cheia de metais pesados, é transportada pelo vento diretamente para a cidade ”, explica Stojak.

Um estudo do Center for Ecology and Energy Tuzla estima que a queima de carvão pode ter um forte impacto na população de Tuzla: 4.900 anos a menos de expectativa de vida, 131.000 dias úteis perdidos e mais de 170 internações por problemas cardíacos e respiratórios.

De acordo com um estudo de 2016 realizado pela ONG ambientalista local Heal, o impacto na saúde das usinas a carvão da Bósnia tem um custo entre 390 milhões e 1,134 milhão de euros para o estado.

No entanto, como os poluentes do ar se movem através das fronteiras, Heal calcula que eles contribuem para uma conta total entre 1,1 bilhão e 3,1 bilhões de euros na Europa.

Política piora a situação

A Bósnia de hoje luta para lidar com o complexo sistema que herdou dos chamados “acordos de Dayton”, encerrando a guerra que devastou o país nos anos 1990.

As decisões dificilmente são tomadas, pois a política local está em constante busca de um equilíbrio entre as três principais etnias (croata, sérvia e bósnia). Em um país liderado por três presidentes rotativos, apresentar uma estratégia ambiental viável parece impossível, argumenta o professor Samir Lemeš, da universidade de Zenica.

O sistema de carvão

Embora improdutivas, as usinas de energia e as minas de carvão não estão fechadas porque incorporam o pilar do “sistema de carvão” da Bósnia.

“O setor de energia se beneficia de grandes subsídios governamentais que compensam as perdas das minas e mantêm os preços da eletricidade artificialmente baixos”, acrescenta Lemeš. “Os partidos políticos controlam a indústria e apontam seus capangas para os cargos executivos, além de conceder oportunidades de emprego a seus membros comuns”.

Como as receitas das exportações de energia são compartilhadas por poucos, a população suporta o preço desse sistema de lubrificação em termos de impostos e doenças.

“Paradoxalmente”, Žisko afirma, “o estado da Bósnia está atualmente endividando-se com empréstimos consideráveis ​​para construir novas usinas termelétricas a carvão. Espera-se que esses investimentos sejam devolvidos apenas em um futuro distante, possivelmente quando a Bósnia já for membro da UE ”.

O país será forçado a fechar suas fábricas nesse período, já que a Bósnia terá que descarbonizar sua economia para ingressar na UE.

Essa falta de visão de longo alcance contrasta com a presença de várias fontes alternativas de energia em todo o país. Segundo o ex-representante da ONU na Bósnia-Herzegovina: “Seus rios poderiam ser facilmente explorados para a construção de usinas hidrelétricas, por exemplo. É necessária uma mudança radical de mentalidade para desistir do carvão ”.

Fonte: EuroNews