Na contramão de tudo que vem prometendo para combater as mudanças climáticas e se adequar a uma agenda sustentável, o Reino Unido está considerando apoiar mais 17 projetos de combustíveis fósseis – incluindo um de petróleo offshore brasileiro que vai contribuir com nada menos do que as mesmas emissões de 800 mil carros por ano.
No ano passado, o governo decidiu encerrar o apoio a projetos de combustíveis fósseis no exterior antes de o Reino Unido sediar a 26ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP26) – que será realizada em Glasgow, em novembro.
Recentemente também havíamos publicado aqui que dentro de sua agenda verde, o Reino Unido resolveu proibir a venda de carros e vans movidos a diesel e gasolina a partir de 2030.
De acordo com o jornal britânico The Telegraph, este mês foi descoberto que a agência de crédito à exportação do país, a UK Export Finance, está considerando apoiar estes projetos, que podem ser concluídos até julho, antes que a proibição seja introduzida.
Entre eles está um projeto offshore de petróleo e gás no Brasil que deve produzir mais de 2 milhões de toneladas de CO2 por ano só para sua construção e operação.
Mais detalhes dos projetos potenciais foram revelados em uma investigação feita por jornalistas da SourceMaterial. A agência ainda não calculou as emissões da eventual queima dos combustíveis fósseis, que devem ser ainda maiores.
Isso ocorre no momento em que o governo enfrenta críticas no cenário mundial por sua política ambiental local, incluindo a primeira mina profunda de carvão em 30 anos planejada em Cumbria, na Inglaterra.
Ainda de acordo com o The Telegraph, o UKEF forneceu mais de £ 3,5 bilhões em apoio na forma de empréstimos e garantias para projetos de combustíveis fósseis desde que o Acordo de Paris foi assinado, com emissões associadas no valor de quase um sexto da produção doméstica de carbono do Reino Unido.
Enquanto desenvolvem uma política, executam o completo oposto. E essa, obviamente, não deveria ser a lógica.
Projeto de petróleo offshore no Brasil
A costa sudeste do Brasil é uma das partes mais ricas em petróleo do mundo.
As plataformas de perfuração, que contarnam essa costa, são servidas pelo que a indústria do petróleo chama de unidades Flutuantes de Produção, Armazenamento e Descarregamento (Floating Production Storage and Offloading – FPSO, em inglês), navios que processam e armazenam o óleo até que ele possa ser carregado em um navio-tanque ou transportado por um oleoduto.
O Ministro do Comércio do Reino Unido, Graham Stuart, disse ao parlamento que um dos projetos que estão sendo considerados é um FPSO. Ele também disse em outra ocasião que dois projetos estão sendo considerados no Brasil.
A Yinson, uma empresa da Malásia que é uma das maiores fabricantes mundiais de FPSO, está trabalhando na conversão de um navio projetado para transportar petróleo bruto em uma unidade de FPSO no Brasil. O UKEF organizou feiras de fornecedores em abril e outubro para as empresas explorarem oportunidades de entrar na cadeia de suprimentos deste projeto.
Explorar e poluir até o último minuto
A decisão do governo de encerrar o financiamento de combustíveis fósseis foi bem recebida e seguida por decisões semelhantes na União Europeia e nos Estados Unidos. Mas o que preocupa é que mais poluição seja incorporada antes que uma proibição seja introduzida.
Outros projetos em consideração para apoio do UKEF, que podem ser concluídos até julho deste ano, incluem um gasoduto no Turcomenistão e projetos no Azerbaijão, China e Omã.
Com essa inclinação, o Reino Unido prejudica sua credibilidade internacional sobre o clima no mesmo ano em que sedia a COP26, onde espera garantir compromissos climáticos importantes de outros governos.
O que não faz sentido é se promover em cima de uma pauta tão importante quanto a emergência climática e nos bastidores continuar incentivando o financiamento de novos projetos de combustíveis fósseis no exterior.
A chuva causou estragos em ao menos 17 municípios catarinenses. No Vale do Itajaí, 14 pessoas ficaram desabrigadas.
A chuva dos últimos dias em Santa Catarina continua provocando estragos em diversas cidades. Segundo a Defesa Civil estadual e prefeituras, desde domingo (17) ao menos 17 cidades registraram prejuízos após deslizamentos, quedas de árvores e bloqueios de vias.
Em Rio dos Cedros, uma família com três pessoas precisou deixar a residência momentaneamente por risco de deslizamento de terra na noite de quarta-feira (20).
Em Timbó, no Vale do Itajaí, 14 pessoas ficaram desabrigadas na quinta-feira (21). A prefeitura enviou os desabrigados para uma escola na cidade e abriu dois abrigos para as famílias guardarem móveis e objetos. Outras pessoas atingidas foram para casa de amigos ou parentes.
Apesar da chuva dos últimos dias, foi na manhã de quinta que a diarista Meire Silva viu a água do Rio Benedito, que corta Timbó, entrar rapidamente na residência onde mora. Sem conseguir tirar todos os móveis, ela precisou deixar o local e recebeu ajuda de amigos.
“Perdi um monte de coisa, tem um monte de coisas dentro de casa. O que eu pude tirar estou tirando e estou indo embora. Estou indo na casa de amigos meus, que estão me abrigando, estão me dando um lugar pra colocar as minhas coisas. Aí não sei … Se daqui uma semana ou alguns dias eu puder voltar…. Porque eu não tenho para onde ir”, contou.
Ruas e casas atingidas pela chuva em Timbó na tarde de quinta-feira — Foto: Luiz Sousa/ NSC TV
Cidades atingidas de 17 a 21 de janeiro
Pescaria Brava: deslizamento de pequena encosta, derrubando muro no entorno de residência;
Bom Retiro: quedas de barreiras e danificando bueiro;
“O Brasil está fora do compasso dos países que levam a sério o aquecimento global”, afirma o ex-Secretário (com status de Ministro) do Meio Ambiente, o físico paulista José Goldemberg.Dois fatos recentes, segundo ele, provam que o Brasil é o vilão do clima global. O primeiro foi a ausência do presidente Jair Bolsonaro da lista de 80 chefes Estado convidados para a celebração virtual dos cinco anos do Acordo de Paris sobre mudanças climáticas (a Cúpula de Ambição Climática 2020, realizada em 12 de dezembro passado). O segundo foram as críticas generalizadas às metas de emissões de gases causadores da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), documento atualizado periodicamente conforme o Acordo de Paris e divulgado em dezembro passado pelo Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.
“A Comunidade Europeia, que está negociando o ingresso do Brasil na Organização Para Cooperação e Desenvolvimento Econômico, está adiando as medidas necessárias. Se o Brasil fosse membro da OCDE, teria vantagens comerciais”, observa Goldemberg. A OCDE é um clube fechado de grandes e médias economias que recomenda políticas neoliberais a seus membros, e é atualmente a única grande aposta da política externa do governo Bolsonaro.
“E esta situação só vai se agravar”, prevê Goldemberg. “A eleição de Joe Biden e o retorno dos EUA ao Acordo de Paris reforçarão o Acordo e os países que estiverem à margem, ou não cumprirem corretamente os compromissos que assumiram, vão acabar sendo penalizados, sobretudo pelo que acontece na floresta amazônica”, alerta o ex-Ministro, que gravou uma entrevista exclusiva para Arayara.org. A posse do Democrata na Presidência dos EUA, prevista para esta quarta feira, 20 de janeiro.
“Biden tem uma visão muito mais positiva em relação a tomar medidas contra o aquecimento global do que o presidente (Donald) Trump, e isso vai ter consequências para o Brasil”, diz ex-Ministro, que já ocupou vários cargos nos primeiros escalões do meio Ambiente, Educação e Ciência e Tecnologia. Em São Paulo, Goldemberg foi reitor da USP, presidente da Fundação de Amparo à Pesquisa e da Companhia Energética e Secretário do Meio Ambiente. No governo federal, foi Secretário (equivalente a Ministro) de Ciência e Tecnologia e Ministro das pastas do Meio Ambiente e também da Educação.
“Perdemos os recursos da Noruega e da Alemanha, que já estavam no caixa do BNDES. Não estavam prometidos, estavam no caixa!”, lamenta Goldemberg. Ele se refere à suspensão, anunciada em agosto de 2019, das contribuições de quase 220 milhões de dólares que os dois países europeus faziam voluntariamente ao Fundo Amazônia, uma linha de investimentos em projetos locais que desestimulam a emissão de gases causadores das mudanças no clima. As declarações de Goldemberg foram dadas no contexto na entrevista à Arayara.org, sobre a antecipação do fechamento das minas de carvão no Brasil. Goldemberg e outros/as pesquisadores/as defendem a antecipação no relatório elaborado pelo Instituto Clima e Sociedade e pelo Instituto de Defesa do Consumidor.
A primeira parte da entrevista com Goldemberg pode ser ouvida aqui.
A seguir, mais dois blocos da entrevista, em que Goldemberg fala do fechamento de usinas termelétricas alimentadas a carvão mineral e de sua substituição no Brasil por energias renováveis.
“Térmicas a carvão são obsoletas e seu fechamento deve ser antecipado”
José Goldemberg atribui a lobby de mineradoras a manutenção das usinas e prevê que após fechamento previsto em lei novos empregos serão criados para recuperar áreas degradadas
“Há um hábito profundamente enraizado em Brasília que continua a manter essas atividades que são obsoletas e que já tem até lei para desativação. Isso é o que todos os países estão fazendo. O carvão é o principal vilão” entre os combustíveis fósseis, afirma o físico José Goldemberg, ex-Ministro do meio Ambiente, nesta entrevista à Arayara.org.
Nesta segunda parte da conversa, Goldemberg defende a antecipação do fechamento das 23 usinas termelétricas movidas a carvão mineral em operação no Brasil. A desativação está prevista na Lei
“Mas, todo ano o lobby que se formou naquela região, sobretudo com a mineração do carvão, elas são mantidas. A desculpa é que, se parar de retirar carvão daquela maneira que está sendo retirada, vai gerar desemprego”, lamenta Goldemberg. Segundo relatório elaborado pelo físico para o Instituto Clima e Sociedade e para o Instituto de Defesa do Consumidor, “a queima do carvão nacional receber um subsídio, estabelecido em lei, que até 2028 representa uma transferência anual de R$710 milhões (2019)”.
“O governo poderia acelerar o fechamento das térmicas e incentivar a produção de energias renováveis. Sobretudo na região de Santa Catarina e Paraná, onde o litoral é muito bom para produção de energia eólica”, sugere.
As mineradoras, segundo Goldemberg, apelam ao argumento de que o fechamento das minas e das usinas vai gerar desemprego – o que seria particularmente grave numa época em que a crise na economia se mistura às medidas de isolamento social necessárias para enfrentar a pandemia de COVID-19. Mas, o professor aposentado da Universidade de São Paulo observa que a situação, em verdade, será outra.
“Haverá uma relocação dos empregos. As pessoas que faziam um certo tipo de atividades farão outras. Precisarão de retreinamento. Isso ocorreu no passado no Brasil com sucesso no caso do etanol. Os empregos vão mudar, serão outros tipos de emprego. Mas, não será mais a mineração a céu aberto e que é extremamente agressiva”, diz.
“No começo tem uma certa preocupação porque as pessoas perdem o emprego e parece ser uma desgraça sem fim. Mas, desativar usinas de carvão é uma das atividades que mais ocorrem em vários países – sem falar na Alemanha, que desativou praticamente todas. Mesmo a China, que ainda depende muito do carvão, assumiu compromissos novos com o Acordo de Paris em que ela se compromete a eliminar o uso do carvão de maneira gradual entre 2030 e 50”. (CT).
Ouça a segunda parte da entrevista aqui:
“As próprias usinas estão descobrindo que é um mau negócio”, diz Goldemberg sobre antecipação do fechamento das térmicas a carvão
Ex-Ministro rejeita a tese de que opção seria a energia atômica: “só se for na Europa. Aqui fontes de energia renováveis já caíram muito de preço”
“As próprias usinas estão descobrindo que não é um negócio tão bom para elas continuar desse jeito. Essa é uma boa oportunidade para a desativação”, chama a atenção o ex-Ministro do meio Ambiente José Goldemberg, nesta terceira e última parte da entrevista que deu à Arayara.org. “Mesmo na Inglaterra, que era extremamente dependente de carvão, o uso desse combustível foi completamente eliminado. Há amplas outras oportunidades”, indica.
Goldemberg observa que as característica do Brasil facilitam a opção por outras fontes de energia que não o uso do poluente e degradante carvão mineral. “(O Brasil) tem solo abundante – portanto, a (fonte) fotovoltaica é uma fonte importante. Tem vento e tem bioenergia que podemos utilizar – e muito melhor do que na Alemanha e na Inglaterra”.
Ele também chama a atenção para o fato de que fechar agora as termelétricas a carvão dará vantagens á economia brasileira quanto o ritmo de crescimento for retomado – provavelmente, após a pandemia de Covid-19. “Na medida em que se começa a desativar essas térmicas, quando houver uma retomada do aumento do consumo de eletricidade, que deve ocorrer quando a pandemia começar ma desaparecer, podemos começar a estimular essas outras fontes. O que a Aneel (a agência reguladora do setor elétrico brasileiro) está fazendo com a energia dos ventos e energia fotovoltaica é na direção correta e poderia fazer mais. A energia eólica no Brasil tá ficando muito barata, e o mesmo está ocorrendo com energia fotovoltaica”.
O professor lembra que até grandes consumidores de energia estão optando por investir em fontes renováveis, devido ao custo ser mais baixo do que as fontes convencionais. “O grupo Pão de Açúcar, que tem centenas de estabelecimentos espalhados pelo Brasil e usa muita eletricidade, está produzindo a própria energia. Eles estão produzindo energia em “fazendas” fotovoltaicas que ficam longe da loja. Antigamente se colocavam painéis fotovoltaicos nos telhados das lojas. Mas, a lei permite que se produza energia a quilômetros de distância e jogue na rede, o que é considerado auto-produção, que não tem impostos federais nem estaduais e fica de 30 a 40% mais barata” (CT).
A terceira parte da entrevista pode ser ouvida aqui:
Em meio a um momento caótico e conturbado nos Estados Unidos, algumas boas notícias vêm crescendo, com implicações importantes para a ciência e a política climática.
Os democratas estão prestes a retomar o Senado americano. E isso quer dizer que a emergência climática volta a ter um papel importante dentro das prioridades do governo americano.
Com a reviravolta nos resultados da semana passada, os democratas agora têm o controle da Câmara, do Senado e da Casa Branca. Esse novo cenário abre caminhos para que Joe Biden consiga revogar regras polêmicas implantadas pelo governo de Donald Trump e, ainda, aprovar uma nova legislação destinada a conter as mudanças climáticas e impulsionar os investimentos federais em pesquisa.
Se os resultados permanecerem, republicanos e democratas controlariam cada um 50 assentos no Senado que se reunirá no final deste mês. A vice-presidente eleita Kamala Harris seria o voto de desempate, dando o controle aos democratas.
A expectativa é que, se as frentes progressistas e moderadas da Câmara e do Senado puderem trabalhar juntas, Biden pode ser capaz de cumprir partes de seu plano destinado à infraestrutura e ao clima.
“A eleição de um presidente democrata e uma maioria no Senado significa que as grandes decisões podem ficar nas mãos de quem entende a gravidade da crise climática. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas essa vitória deve fortalecer a tomada de medidas climáticas mais concretas – e extremamente necessárias – no país que é o segundo maior emissor global de gases de efeito estufa”.
Nicole Oliveira, diretora do Instituto Internacional Arayara.
A importância deste novo cenário no Governo americano
O vitória do democrata Raphael Warnock na eleição da última semana foi um passo importante não só por ter se tornado o primeiro democrata negro eleito para o Senado pelo sul, mas também por defender a transição de energia limpa, justiça ambiental e administração dos recursos naturais, apoiando o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris.
Outro democrata que conquistou uma cadeira no Senado, contribuindo ainda mais com o melhor desenvolvimento da política climática, Jon Ossoff apoiou uma plataforma que incluía um plano de financiamento para energia limpa, eficiência energética e empregos no setor de energia renovável.
Neste novo contexto, o senador Chuck Schumer deve assumir como líder do Senado, dando aos democratas amplo poder para decidir as prioridades legislativas e quais projetos avançariam para os votos finais.
Para quem não sabe, Schumer não só tem demonstrado um grande interesse em aumentar os gastos federais em pesquisa, mas também já ressaltou que trabalharia com o governo Biden para fazer avançar a legislação climática e aumentar os gastos federais em pesquisa de energia limpa.
Biden agiu rapidamente para construir sua administração. Várias de suas escolhas fariam história se confirmadas pelo Senado dos Estados Unidos, como Deb Haaland para Secretária do Interior. Se confirmado pelo Senado, Haaland seria a primeira nativa americana a assumir como secretária do gabinete.
Vale lembrar, também, que Biden nomeou, há alguns dias, Juan Gonzalez como diretor-sênior do Hemisfério Ocidental do Conselho de Segurança Nacional.
Como ele agora será o responsável pelas negociações e assuntos ligados à América Latina — já tendo criticado a maneira com o que o governo Bolsonaro lida com a questão ambiental — a tendência é que haja um endurecimento das políticas norte-americanas com o Brasil.
Os planos de Biden para o clima e as energias renováveis
Mesmo que o foco inicial provavelmente seja um pacote de ajuda referente à pandemia, os democratas podem em breve tentar aprovar o plano de Biden que visa fortalecer a política climática local, impulsionar as energias renováveis e criar incentivos para uma maior eficiência energética de carros, casas e edifícios comerciais.
O presidente anunciou um plano de US$ 2 trilhões para criar empregos e alcançar eletricidade 100% limpa até 2035, além de defender o Green New Deal e sinalizar o retorno dos Estados Unidos ao Acordo de Paris, dentro do planejamento de tornar a economia do país neutra em carbono até 2050.
Apesar de ressaltar que não pretende combater o fracking — uma das formas mais agressivas de emissões de gases –, Biden vem mostrando preocupação com o tema em sua agenda.
Muitos se perguntam se Biden irá conseguir implementar uma legislação climática significativa a tempo. Ainda não temos essa resposta, mas os recentes resultados das eleições certamente aumentam as possibilidades.
A notícia boa é que a previsão é sombria para as emissões de carbono e o consumo de carvão e petróleo no mundo. A ruim é que ainda caminhamos para um aquecimento global de mais de 3 graus em menos de 100 anos, e devemos fazer o que for preciso para mudar esse cenário.
É o que aponta a New Energy Outlook 2020 – análise anual da BloombergNEF sobre o futuro da economia de energia.
De acordo com o estudo, as emissões globais de carbono relacionadas ao consumo de energia caíram 8% em 2020.
Apesar de subirem novamente com a recuperação da economia, nunca mais irão atingir os níveis de 2019.
A queda na demanda de energia durante a pandemia removerá cerca de 2,5 anos de emissões do setor até 2050.
A demanda de carvão também está em queda livre em toda a Europa e nos Estados Unidos, tendo atingido seu pico em 2018. A de petróleo vai atingir o pico em 2035 e tecnologias de energia limpa só tendem a avançar.
Novas alternativas de energia
O crescimento dos veículos elétricos compensa o crescimento da demanda na aviação, navegação e petroquímica, e molda o futuro do petróleo. A eficiência energética em outros setores só aumenta.
As energias eólica e fotovoltaica crescerão para atender 56% da demanda mundial de eletricidade em 2050. Os países líderes podem chegar a 80%.
Essas formas de energia limpa – junto às baterias – vão levar 80% dos 15,1 trilhões de dólares investidos em nova capacidade de energia nos próximos 30 anos, de acordo com a análise.
Fonte: BloombergNEF New Energy Outlook 2020
Altas temperaturas e mudanças climáticas
O mundo ainda caminha para um aumento de temperatura.
Apesar da recente queda, as emissões de carbono aumentam novamente com a recuperação econômica em 2027. Depois diminuem 0,7% ano a ano até 2050, levando o mundo a caminho de um aquecimento de 3,3 graus até 2100.
Segundo o relatório, para conter as mudanças climáticas e manter o aquecimento global abaixo de dois graus, as emissões precisam cair 10 vezes mais rápido, em 6% ano a ano até 2050. Para 1,5 grau, a taxa exigida é 10%.
Um dos principais componentes da NEO 2020 é buscar direções para reduzir as emissões de gases de efeito estufa. Este ano, a energia limpa e o hidrogênio verde foram os pontos de abordagem para encontrar direções que levem à descarbonização profunda.
Temos um longo caminho pela frente para pular de 0,7% para 10% na queda das emissões. Por isso, a sociedade precisa agir e cobrar agora.
O Instituto Arayara vem buscando todas as formas de mudar essa previsão, através de ações públicas, petições, elaborando iniciativas com a população e organizações, e participando de movimentos mundiais de combate às mudanças climáticas, como o Acordo de Glasgow.
O plano estratégico do governo para a década 2020-2030, que está em discussão pelo Conselho Nacional da Amazônia Legal (CNAL), é um híbrido. Se de um lado apresenta visão ideológica e arcaica da região, traz também propostas técnicas e avança em questões centrais para conter o desmatamento e promover o desenvolvimento sustentável. Em alguns trechos soa como uma lista de desejos, como no que menciona a “reativação” do Fundo Amazônia, sem sinalização dos doadores. Em outros, como uma lista de intenções. O tom de militarização da região é inconteste.
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