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A mudança climática e crise da água afetam os mais pobres da África

Nesta quinta-feira, a maior reunião da África sobre água e setor de saúde em Uganda terminou com um apelo aos governos para investirem em sistemas de água e irrigação resistentes ao clima, para reduzir a vulnerabilidade às mudanças climáticas.

Simeon Kenfack, diretor de programa da Associação Africana da Água (AfWA), disse que, à medida que os governos implementam planos e estratégias nacionais ambiciosos de ação climática, devem mostrar ao mundo que a África pode trabalhar em conjunto para enfrentar os riscos dos impactos Clima usando conhecimento e soluções existentes.

“Já existe uma base de conhecimento crescente, embora fragmentada na África. 

Os jovens na África são bem educados sobre questões climáticas, estão comprometidos e procuram gerar desenvolvimento no continente ”, expressou Kenfack.

O diretor salientou que o AfriAlliance, um projeto climático da África e da Europa para apoiar os acionistas africanos, está criando as parcerias necessárias para acelerar o acesso universal aos sistemas de água e saúde no continente.

O ministro da Água de Uganda, Ronald Kibuule, salientou que, com a urbanização acelerada na África, há um alto consumo per capita e a demanda continua a aumentar, acrescentando que o risco de falta de água persiste porque a crise da água é parcialmente induzida pelo clima.

Fonte: TRT

Mudanças climáticas estão dificultando a decolagem de aviões; entenda

O avião é um dos meios de transporte mais poluentes do mundo, já que emite grandes quantidades de gases de efeito estufa, responsáveis pelo aquecimento global. E isso não faz mal apenas para o meio ambiente — as próprias aeronaves podem sofrer com um clima mais quente. Uma nova pesquisa realizada por cientistas de universidades na Grécia e na Grã-Bretanha indica que temperaturas mais altas e ventos mais fracos estão dificultando a decolagem de aviões.

Segundo os autores explicam em artigo no The Conversation, o clima local em aeroportos do mundo inteiro mudou nas últimas décadas, assm como as condições em que os pilotos se baseavam para fazer o avião voar. A longo prazo, isso significa que as companhias aéreas vão transportar menos passageiros e carga, usando a mesma quantidade de combustível.

As distâncias de decolagem ficarão mais longas à medida que o clima esquentar, aponta o artigo. Isso porque temperaturas mais altas reduzem a densidade do ar, o que dificulta a ação das asas e dos motores das aeronaves. Com ventos reduzidos, os aviões precisam gerar mais velocidade no solo. E uma vez lá em cima, as aeronaves estão sujeitas a mais turbulências, que, segundo os cientistas, estão piorando devido às mudanças climáticas.

Para a pesquisa, os cientistas analisaram registros de temperatura desde 1955 em dez aeroportos gregos. A cada ano, os experts analisaram temperaturas médias do vento de dia e de noite e as transofraram em gráficos. As mudanças de temperatura variaram muito entre os aeroportos estudados, com um aumento de 2°C a 5°C ao longo de 62 anos. Em um aeroporto, a velocidade média do vento que passa pela pista em direção ao avião em decolagem (conhecida como ventos contrários) aumentou cerca de 25%. Já outro aeroporto viu ventos médios na pista do aeroporto caírem 90% em 43 anos.

Os pesquisadores explicam que, graças a essas mudanças, aeronaves que decolam em aeroportos com pistas mais curtas precisam reduzir o peso transportado (carga, número de passageiros e combustível). Em média, os aviões estão decolando com um passageiro a menos ou com menos combustível. “Esse é outro lembrete do quão rápido as ações humanas estão transformando o mundo, e quão mal preparados estamos para lidar com as consequências”, finalizam os estudiosos.

Fonte: Revista Galileu

Mudanças climáticas impactarão produção de peixes e podem afetar economias

Com o aquecimento dos oceanos, os cardumes migram para águas mais frias, com objetivo de manter o ambiente térmico adequado e, em consequência disso, muitas nações que dependem de espécies comerciais de peixes na economia podem sofrer. É o que alerta um estudo publicado na revista Nature Sustainability, por pesquisadores das universidades de Delaware; da Califórnia, em Santa Bárbara, e Hokkaido. De acordo com o artigo, países localizados nos trópicos — especialmente os do noroeste da África — são especialmente vulneráveis a essa perda potencial de espécimes devido às mudanças climáticas. O estudo constatou que, atualmente, não existem intervenções políticas adequadas para ajudar a mitigar as possíveis perdas dos países afetados.

Kimberly Oremus, professora-assistente da Escola de Ciências e Políticas Marinhas da Faculdade de Terra, Oceano e Meio Ambiente da Universidade de Delaware, explica que, quando os pesquisadores analisaram acordos internacionais, incluindo a Convenção das Nações Unidas sobre o Direito do Mar, não encontraram texto específico sobre o que acontece quando os peixes migram da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) de um país, estabelecida para dar jurisdição nacional sobre um recurso pesqueiro. Isso significa que as nações podem estar vulneráveis a perdas econômicas.

Os pesquisadores usaram mudanças projetadas anteriormente na faixa de distribuição de 779 espécies comerciais de peixes para estimar o número das que saem da jurisdição nacional em cenários de emissões contrastantes até 2100. As nações tropicais, em particular, perdem a maior  quantidade, porque há poucos ou nenhum estoque para substituir as que partem. Em um cenário de emissões moderadas, a pesquisa mostrou que, até 2100, países dos trópicos poderão perder, em média, 7% das espécies que existiam em 2012.Continua depois da publicidade

“Prevê-se que os trópicos percam mais espécies do que outras regiões, porque os peixes geralmente têm uma faixa de temperatura na qual se sentem confortáveis. Se ficar muito quente, e não houver mais para onde ir, vão migrar para outros lugares”, diz Oremus. As ZEE do noroeste da África podem perder a maior percentagem de espécies, com uma redução de 6% a 25% prevista para 2050 e uma redução de 30% a 58% estimada para 2100 nos cenários moderado e mais grave, respectivamente.

Impacto

Embora a migração de cardumes seja inevitável, a cooperação internacional poderia aliviar o impacto em cada nação afetada, sustentam os pesquisadores. Além de examinar a perda de espécies, eles examinaram 127 acordos internacionais de pesca, analisando os grandes tratados regionais e também os bilaterais. Os cientistas descobriram que nenhum deles prepara os países para saídas de estoque, mudanças climáticas ou de faixa. “Descobrimos que não há um acordo de pesca explicitamente focado nessa questão”, afirma o coautor James Salzman, professor de direito ambiental da Escola Bren de Ciências e Gestão Ambiental da Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. “Existe uma lacuna no direito internacional.”

A gestão tradicional da pesca pressupõe que os peixes são um recurso natural renovável e que, enquanto a sua área geográfica for estática, eles permanecerão abundantes na ausência de sobrepesca. Mas a migração a longo prazo de uma espécie para fora de um país devido à mudança climática significa que os estoques nem sempre serão renovados  no nível de uma determinada jurisdição, mesmo que permaneçam abundantes em escala internacional. Para o país que perde o estoque, isso cria um incentivo para adotarem medidas que garantam um estoque, antes de as espécies migrarem.

Oremus diz que os formuladores de políticas precisam pensar em como esses países poderiam ser compensados pela perda de estoques de peixes devido às mudanças climáticas, o que ajudará a impedir que as nações pratiquem a sobrepesca antes de os estoques saírem de suas ZEE. Os acordos internacionais sobre aquecimento global têm mecanismos para considerar a compensação por perdas, e essa via política pode funcionar melhor do que os tratados pontuais de pesca que a equipe de Oremus constatou não mencionarem a questão.

Fonte: Correio Braziliense

Dados comprovam aumento de eventos climáticos extremos em São Paulo

Dados de duas estações meteorológicas confirmam o que muitos paulistanos já vêm sentindo na pele há alguns anos: a ocorrência de eventos climáticos extremos na Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) aumentou muito nas últimas duas décadas. 

O fenômeno mais impactante é o aumento da intensidade das chuvas. O número de eventos de precipitação extrema, com chuva acima de 100 milímetros/dia, já é maior nos últimos 20 anos do que no acumulado das seis décadas anteriores — e olha que 2020 está só começando. O evento mais recente desse tipo foi a tempestade de 114 milímetros que paralisou São Paulo em 11 de fevereiro, causando deslizamentos e inundações em várias regiões da metrópole. Isso equivale a metade da quantidade de chuva esperada para todo o mês (cerca de 220 mm, em média), despencando sobre a cidade num único dia.

Os dados são da estação meteorológica que o Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas (IAG) da USP mantém em operação desde 1932 no Parque de Ciência e Tecnologia (CienTec), em frente ao Zoológico de São Paulo, no bairro da Água Funda — compilados por um grupo de pesquisadores para um estudo que acaba de ser publicado na revista Annals of the New York Academy of Sciences.  

Os números não deixam dúvida sobre o aumento da ocorrência de tempestades na metrópole paulistana: foram 11 acima de 100 mm nos últimos 20 anos (período 2001-2020), comparados a 10 na somatória dos 60 anos anteriores (período 1941-2000). No caso das chuvas acima de 80 mm (também consideradas extremas), o aumento é ainda mais chocante: foram 25 eventos nos últimas duas décadas, comparados a 19 nas seis décadas anteriores. 

Dados de uma outra estação meteorológica, operada pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), no Mirante de Santana, contam uma história semelhante, ainda que com números distintos — o que é normal, visto que uma estação está na zona norte e outra, na zona sul da cidade, sujeitas a condições ambientais e meteorológicas distintas. Nesse caso, as mudanças começam a se destacar um pouco mais cedo ainda, com um aumento expressivo da ocorrência de tempestades com mais de 80 mm de chuva a partir da década de 1990.

O volume total de chuvas que caem sobre a RMSP também vem aumentando gradualmente nos últimos 80 anos: da faixa de 1.000 a 1.500 mm/ano nas décadas de 1940 e 1950 para 1.500 a 2.000 mm/ano, nos últimos 20 anos. Este mês, por exemplo, é o fevereiro mais chuvoso dos últimos 77 anos em São Paulo, segundo o Inmet. Mas isso não é o pior. Mais preocupante do que o aumento da precipitação acumulada é como essas chuvas se distribuem no tempo e no espaço ao longo de cada mês.  

Se chove um pouco todo dia, tudo bem. Era o que acontecia antigamente, quando São Paulo ainda fazia jus ao apelido de “terra da garoa” — por causa da tradicional chuvinha que caía nos fins de tarde. O problema maior é quando a chuva desaba concentrada, em grandes volumes, na forma de tempestades. Em vez de 200 milímetros distribuídos em várias parcelas ao longo de 30 dias, por exemplo, agora chove 100 milímetros num dia, 80 milímetros em outro, e 20 milímetros no restante do mês — resultando num cenário de poucos dias com muita chuva, intercalados por muitos dias com pouca ou nenhuma chuva. É aí que mora o perigo, pois é nesses dias de muita chuva que acontecem as enchentes e os deslizamentos que matam pessoas, desabrigam famílias e destroem a infraestrutura da cidade.

Vários estudos realizados nos últimos anos vêm apontando para um aumento de precipitação sobre grandes centros urbanos do Sudeste brasileiro — incluindo São Paulo, Campinas, Santos e Rio de Janeiro —, assim como um aumento do número de dias secos consecutivos, “sugerindo que os eventos de chuva intensa estão concentrados em menos dias, com períodos mais longos de tempo seco entre eles”, escrevem os pesquisadores. O novo estudo é uma iniciativa do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden), coordenado pelo meteorologista José Marengo, com apoio do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Inmet e IAG-USP. 

“A temperatura média da Terra está aumentando, isso é um fato incontestável; e a atmosfera está reagindo a esse aquecimento por meio de extremos”, diz o pesquisador Tércio Ambrizzi, professor titular do IAG e coautor do trabalho. Quando um sistema é tirado do seu equilíbrio natural, diz ele, isso gera oscilações para cima e para baixo. No caso do sistema climático, essas oscilações resultam em extremos de temperatura (tanto de calor quanto de frio) e de precipitação (muita ou pouca chuva). A grande estiagem de 2013-2014, que quase secou todos os reservatórios de água da RMSP, também faz parte desse cenário, segundo o pesquisador.

“À medida que a temperatura aumenta, aumenta também o gradiente dos extremos”, alerta Ambrizzi. A tendência, portanto, é que a situação piore ainda mais nos próximos anos e décadas — considerando que a tendência de aquecimento do planeta não deve ser revertida tão cedo.  

O aquecimento global, causado pelo aumento das emissões de gases do efeito-estufa para a atmosfera, está em curso desde meados do século 19, deflagrado pela Revolução Industrial, mas se acelerou principalmente a partir da década de 1980, por conta do aumento no uso de combustíveis fósseis e na derrubada de florestas tropicais. Os últimos cinco anos (2015 a 2019) foram os mais quentes do Planeta já registrados pelo homem. 

Péssima notícia para quem vive nas cidades — mais de 80% da população brasileira —, em especial para as populações mais pobres e vulneráveis, que vivem nas regiões de maior risco para enchentes e deslizamentos. Afinal, as chuvas não matam por conta própria. “Um evento de precipitação extrema não é um desastre natural por si só”, dizem os pesquisadores. Os chamados “desastres naturais”, na verdade, resultam de uma combinação de fatores climáticos, meteorológicos, urbanos, econômicos e sociais. Ou seja, são também “desastres antrópicos”, resultantes de ações humanas, e não apenas do clima. Os deslizamentos de terra só matam pessoas porque essas pessoas são forçadas a viver em áreas de risco, onde não deveriam. As ruas só enchem de água porque os rios foram canalizados e as cidades, impermeabilizadas, cobertas de asfalto e concreto.

É verdade que tempestades, enchentes e deslizamentos sempre existiram e continuarão a existir, como sempre fazem questão de ressaltar os céticos das mudanças climáticas. O que mudou foram a frequência e a intensidade com que esses eventos estão ocorrendo, com um poder cada vez maior de destruição. E isso, garante Ambrizzi, é uma anomalia gerada pelo homem. 

Os efeitos climáticos globais, segundo ele, são exacerbados por fatores urbanos locais, como o efeito “ilha de calor”, gerado pelo excesso de concreto e pelo déficit de áreas verdes nas cidades. O aumento da temperatura média da Terra no último século foi de 1 grau Celsius — o que já é muito grave —, mas na cidade de São Paulo esse aumento chega a 4 graus Celsius, por causa dessa “ilha de calor”. O concreto absorve calor durante o dia e libera essa energia térmica durante a noite, aumentando tanto a temperatura diurna quanto a noturna. Isso favorece a formação de nuvens mais profundas, que produzem chuvas mais fortes e mais concentradas sobre a cidade.  

É por isso, também, que São Paulo não é mais a terra da garoa: “A brisa que trazia a garoa no fim de tarde continua entrando, mas a umidade que vem junto com ela agora evapora antes de cair na cidade”, explica Ambrizzi. “A própria cidade contribui para aumentar sua vulnerabilidade climática”, resume o professor.

“O Estado de São Paulo e a Região Metropolitana de São Paulo estão diante de um grande desafio”, escrevem os pesquisadores. “O grande objetivo, efetivamente, é proteger a população”, concluem eles, ressaltando a necessidade de mais pesquisas, mais responsabilidade e melhor planejamento por parte dos gestores públicos frente às mudanças climáticas que já estão em curso — e que só devem piorar nos próximos anos.

“É fundamental entender a dinâmica subjacente da variabilidade climática em suas várias escalas espaço-temporais na RMSP. Com isso, a vulnerabilidade climática pode ser avaliada e estratégias de adaptação propostas”, alertam os pesquisadores. E para que isso possa ser feito, por fim, é preciso fortalecer as instituições de pesquisa – como Inpe e Cemaden – que são responsáveis por esse trabalho, mas que tiveram seus orçamentos severamente reduzidos nos últimos anos, apesar do aumento na ocorrência de eventos extremos, ressalta Marengo, do Cemaden.

Criado em 2011, em resposta aos eventos de chuva extrema que mataram quase mil pessoas na região serrana do Rio de Janeiro no início daquele ano, o Cemaden combina  informações meteorológicas com dados ambientais para emitir alertas de risco de desastres geo-hidrológicos (como enchentes, enxurradas e deslizamentos de terra) para a Defesa Civil do Ministério de Desenvolvimento Regional. “As Defesas Civis emitem os alertas para as populações, que poderão ser evacuadas caso elas morem em áreas de risco”, explica Marengo. Além disso, diz ele, o centro atua nas escolas, para educar a população, e treina equipes da Defesa Civil “para minimizar a perda de vidas humanas e de propriedades em todo o Brasil”.

Também assinam o estudo os pesquisadores Lincoln Alves (CCST/Inpe), Andrea Young (Cemaden), Naurinete Barreto (CCST/Inpe) e Andrea Ramos (Inmet).

Texto: Herton Escobar/Jornal da USP | Foto: Dário Oliveira/Folhapress

Rio Grande do Sul poderá ter lei anti-fracking

Depois de dois dos três estados da região Sul do Brasil garantirem por legislação estadual a proibição do fracking (fraturamento hidráulico), uma técnica utilizada para a extração de gás de xisto ou folhelho que ficam a mais de 800 metros de profundidade, chegou a vez do Rio Grande do Sul. O fracking é uma técnica considerada não-convencional e, por seus riscos e consequências, foi proibido no Paraná, em Santa Catarina e em mais de 400 cidades de todo o país. O país vizinho dos gaúchos, Uruguai, está discutindo uma lei nacional para proibir a técnica.

De acordo com a minuta do projeto de lei que deve tramitar na Assembleia Legislativa gaúcha no mês de março, fica proibido, no território do Estado do Rio Grande do Sul, a exploração e a produção de óleo e gás de xisto (óleo e gás de folhelho) pelos métodos de fratura hidráulica (fracking) e de mineração convencional com retortagem e pirólise, ou outros métodos que possuam riscos efetivos ou potenciais de danos a tais métodos atributos. A iniciativa é da deputada Luciana Genro, que espera ter mais colegas como co-autores.

De acordo com o geógrafo e pesquisador do Instituto Internacional ARAYARA, Luciano Henning, atualmente pós-doutorando da UFRGS, no Rio Grande do Sul existem pelo menos 190 municípios com potencial de exploração de gás de xisto por fracking. As cidades ficam nas regiões noroeste, centro-ocidental e sudoeste.

Como funciona

Através de perfurações no solo, são injetadas grandes quantidades de água com solventes químicos comprimidos. Alguns possuem, inclusive, potencial cancerígeno. A enorme pressão gerada pela água provoca explosões que fragmentam a rocha.

Fraturada a rocha, é preciso garantir que o buraco não se feche novamente. Para isso, é inserida uma quantia elevada de areia que, supostamente, evita que o terreno ceda e, ao mesmo tempo, por sua porosidade, permite a migração do gás a ser extraído. Esse processo pode criar novos caminhos para a liberação do gás ou pode ser usado para ampliar os canais já existentes.

Os resultados são desastrosos: estudos mostram que mais de 90% de fluidos resultantes do fracking podem permanecer no subsolo. Já o flowback, ou seja, o fluído do fraturamento que retorna à superfície e que normalmente é armazenado em lagoas abertas ou tanques no local do poço, também causa impactos como a contaminação do solo, ar e lençóis de água subterrânea.

Renan Andrade, gestor ambiental e representante da 350.org no Rio Grande do Sul alerta que a prática do fracking gera danos irreparável ao meio ambiente e à produção agrícola. “Na Argentina, país que faz fronteira com o Rio Grande do Sul, o faturamento hidráulico comprometeu a cultura da maçã, por exemplo. Onde é praticado o fracking no mundo, dá errado. Por isso o trabalho da Coalizão Não Fracking Brasil pelo Clima, Água e Vida (COESUS) é tão importante: é preciso alertar a sociedade antes que os danos aconteçam”, afirmou.

Para Andrade, o RS precisa aprovar a legislação sob pena de ter penas econômicas significativas. “Os gaúchos vivem uma crise financeira muito grave. Em poucos anos, se nada for feito pelos parlamentares gaúchos, a crise pode piorar porque Paraná, Santa Catarina, Chile e outros locais terão preferência na exportação de produtos agrícolas com o selo ‘fracking free’. Ainda é tempo de os gaúchos agirem”, alertou.

Otimista com a aprovação da pauta, Juliano Bueno, diretor da COESUS, lembra que o tema é suprapartidário. “No Paraná, o texto foi proposto por parlamentares do PSC, do PDT e do Cidadania; e foi sancionado pelo Governador Carlos Massa Ratinho Júnior (PSB). No PR, foram quase seis anos de campanhas de mobilização com o apoio de cooperativas, autoridades, ONGs e sociedade; realizamos pesquisas científicas, trabalhos com legisladores e especialistas. Já o projeto catarinense foi proposto por um parlamentar do MDB, e sancionado pelo Governador Carlos Moisés da Silva (PSL)”, explicou. “Tenho plena convicção que os deputados gaúchos legislarão para garantir aos milhões de cidadão que vivem em solo gaúcho saúde, produção agrícola sustentável e disponibilidade de águas limpas”, acrescentou.

Mas afinal, quais são os danos gerados pelo fracking

Mudanças Climáticas
Além de distrair a indústria geradora de energia e o governo da necessidade do investimento em fontes renováveis de energia, o processo de exploração por meio do fracking emite metano — gás 25 vezes mais potente que o dióxido de carbono (CO2), contribuindo cada vez mais para o agravamento das mudanças climáticas.

Consumo de água
Cada poço de fracking utiliza aproximadamente de 7,8 a 15,1 milhões de litros de água. Geralmente, essa grande quantia é transportada para o local do fraturamento por vias terrestres, em caminhões movidos à diesel, representando um custo ambiental significativo – visto que vivemos em meio a uma crise hídrica. Em West Virginia (EUA), são injetados aproximadamente 19 milhões de litros de fluido em cada poço fraturado e, de toda a água utilizada, apenas 8% retorna à superfície.

Contaminação
A água utilizada no procedimento é misturada com areia e cerca de 150 mil litros de até 600 produtos químicos, incluindo substâncias cancerígenas e toxinas conhecidas, tais como urânio, mercúrio, metanol, rádio, ácido hidroclorídrico, formaldeído, entre outras. Esses produtos podem escapar e contaminar as águas subterrâneas em torno do local. Para se defender, a indústria sugere que os incidentes de poluição são resultados de má prática, em vez de se tratar de uma técnica inerentemente arriscada.

Terremotos
O fracking provoca, habitualmente, microssismos que podem desencadear em tremores maiores, sentidos pelas populações locais. Por vezes, estes eventos são aproveitados para obter um registro vertical e horizontal da extensão da fratura. Embora esses terremotos sejam crônicos, a injeção de água proveniente das operações de fracking pode causar tremores maiores, tendo-se registrado magnitudes de até 5,7 (Mw).

Além disso, os sismos têm se tornado cada vez mais frequentes. Em 2018, por exemplo, a cidade de Lancashire (UK) apresentou 17 terremotos em apenas nove dias – fato ocorrido após a cidade ter retomado as atividades de fraturamento hidráulico. Entre janeiro de 2010 e maio de 2017, o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS) mediu 8.908 terremotos ocorridos no estado de Oklahoma, com uma média de 218 sismos por mês.

OCUPAÇÃO DE TERRAS
Outra consequência causada pelo fracking é o alto índice de ocupação de terras devido às plataformas de perfuração, áreas de estacionamento e manobra de caminhões, equipes, instalações de processamento e transporte de gás, bem como estradas de acesso, que em casos de poços na Amazônia, podem ser vetores do desmatamento.

Por esses e muitos outros motivos, a Coalizão Não Fracking Brasil está nesta luta ampliada contra o gás da morte, dedicando-se no desinvestimento do hidrocarboneto garantindo, portanto, que as mudanças climáticas não sejam ainda mais solidificadas.

93% dos brasileiros acreditam nas mudanças climáticas

A pesquisa “Realismo climático no Brasil” idealizada e desenvolvida pelo instituto Market Analysis revela que há quase unanimidade na opinião pública dos brasileiros: 93% acredita que o aquecimento é um problema, não uma ficção; que ele deriva das atividades humanas e não de ciclos naturais (90%); e que está vinculado às mudanças climáticas em vigor (84%).

Essas leituras indicam um grau de realismo climático bastante alto entre os brasileiros, apenas moderado pela convicção de que ainda há tempo e espaço para ajustes que permitam evitar uma tragédia global.

Veja mais dados da pesquisa aqui.