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Carta Aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil

Carta Aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil

A Abradee e diversas associações e entidades do setor elétrico, que representam os segmentos de geração, transmissão, distribuição, comercialização e consumo, assinaram carta aberta ao Presidente da República, manifestando preocupação com as emendas incluídas no PL 576/2021, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional.

Os artigos 19, 22 e 23, incluídos no texto do PL, divergem do objetivo original do projeto, que é estabelecer um marco regulatório para a geração de energia eólica offshore, e acarretam impactos substanciais para o setor elétrico e para os consumidores de energia, através do comprometimento da estabilidade econômica e operacional do sistema elétrico e do aumento tarifário.

Estima-se que essas emendas impactem, no mínimo, R$ 545 bilhões até 2050 e um aumento de cerca de 9% no custo da energia elétrica.

Leia a carta aberta na íntegra

Carta Aberta ao Presidente da República Federativa do Brasil Brasília, 02 de janeiro de 2025.

Ao Excelentíssimo Senhor Luiz Inácio Lula da Silva Presidente da República do Brasil Senhor Presidente, As associações e entidades do setor elétrico, signatárias desta Carta, que representam os segmentos do setor: geração, transmissão, distribuição, comercialização e consumo, vêm a Vossa Excelência manifestar extrema preocupação com as emendas incluídas no PL 576/2021, recentemente aprovado pelo Congresso Nacional.

Os artigos 19, 22 e 23, incluídos no texto do PL, divergem significativamente do objetivo original do projeto, que é estabelecer um marco regulatório para a geração de energia eólica offshore, acarretando impactos substanciais para o setor elétrico e para os consumidores de energia, através do comprometimento da estabilidade econômica e operacional do sistema elétrico e do aumento tarifário.

São emendas que contrariam diretrizes previamente estabelecidas por Vossa Excelência na reunião com especialistas, realizada em 10 de abril de 2024, no Palácio do Planalto, na qual ficou determinado que medidas fossem tomadas para reduzir o custo da energia elétrica, em especial pela redução dos subsídios.

Entretanto, as emendas inseridas no PL geram um custo de, no mínimo, R$ 545 bilhões até 2050, o que corresponde a um custo anual de cerca de R$ 22 bilhões e aumento de 9% na energia elétrica. Esses custos adicionais agravarão a situação dos consumidores brasileiros, que já enfrentam uma das contas de energia mais elevadas do mundo. Além disso, essas emendas amplificam as pressões inflacionárias, uma vez que a energia elétrica é um insumo essencial para a indústria, o comércio e os serviços. Desta forma, o aumento das tarifas pode desacelerar o crescimento econômico e reduzir a geração de empregos, aprofundando os desafios enfrentados pelo Brasil em sua recuperação econômica.

As emendas, também, comprometem o compromisso brasileiro com a neutralidade climática até 2050, pois aumentam em 25% as emissões de gases de efeito estufa do setor elétrico, conduzindo o um passivo ambiental de 252 milhões de toneladas de CO₂ até 2050, justamente quando o Brasil busca a liderança climática global como anfitrião da COP 30, em Belém em 2025.

As emendas ao PL também interferem diretamente no planejamento do setor elétrico, que deve ser coordenado pelo Poder Executivo e suas entidades especializadas, ou seja, o Ministério de Minas e Energia (MME), a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), pois nenhuma delas decorre de recomendação ou determinação dessas instituições. Além disso, as emendas promovem mais benefícios para uma minoria privilegiada às custas da maioria dos consumidores, certamente aumentando ainda mais os encargos setoriais, que já alcançaram R$ 40,3 bilhões em 2023, o que representa 13,5% das tarifas residenciais.

Reforçamos que a geração eólica offshore necessita de um marco regulatório que traga segurança jurídica e previsibilidade para investidores, mas que o PL que estabelece esse marco não contenha emendas que prejudiquem o equilíbrio do setor elétrico e sobrecarreguem a sociedade brasileira. O planejamento do setor elétrico exige visão de longo prazo e decisões baseadas em critérios técnicos, e não pode privilegiar interesses de segmentos específicos.

Por todo o exposto, solicitamos respeitosamente a Vossa Excelência que vete os artigos 19, 22 e 23 do PL 576/2021 que extrapolam o escopo original do PL, conforme posições externadas por vários Ministérios, como: Ministério do Desenvolvimento, da Indústria e Comércio (MDIC), Ministério de Minas e Energia (MME) e Ministério da Fazenda (MF).

Respeitosamente,

Frente Nacional dos Consumidores de Energia
Associação Brasileira de Concessionárias de Energia Elétrica
ABRACE Energia
ABRACEEL – Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia
ABRAGE – Associação das Empresas Geradoras de Energia Elétrica
ANACE
UNIÃO PELA ENERGIA
ABRADEE
ABIAPE
ABRATE – Associação Brasileira das Empresas de Transmissão de Energia Elétrica
ABEEÓLICA
APINE

 

 

Uma cúpula contra o gás: Críticas ao gás natural liquefeito (GNL) e suas consequências

Uma cúpula contra o gás: Críticas ao gás natural liquefeito (GNL) e suas consequências

Uma cúpula anti-gás teve lugar na Rosa-Luxemburg-Stiftung, em Berlim, nos dias 8 e 9 de Dezembro, em resposta à Cúpula Mundial de GNL. Nesta cúpula, os participantes internacionais destacaram a falta de informação sobre os perigos associados ao transporte, armazenamento e processamento, bem como os efeitos prejudiciais para o ambiente do gás natural liquefeito (GNL).

– Por Roland Herzig –

Outro tema foram as violações dos direitos humanos e ambientais e os riscos de acidentes que ocorrem quando o gás natural é extraído e transportado através de gasodutos até à costa, onde é convertido em gás natural liquefeito (GNL) e depois transportado através de portos em todo o mundo. A organização ambientalista Urgewald criou uma extensa base de dados que mostra que os fundos supostamente declarados amigos do ambiente não podem ser vistos como investimentos sustentáveis ​​devido ao impacto ambiental associado ao GNL. Um olhar mais atento mostra que o GNL não contribui para a desejada transição energética justa.

O apelo à proibição do GNL russo pode ser visto de forma crítica – vale fundamentalmente a pena apoiá-lo, mas sanções semelhantes, como a proibição do carvão russo, não conduziram necessariamente a melhorias nas regiões afectadas no passado. Exemplo disso são os Wayuu na Colômbia, cujo território ancestral continua a ser atravessado por transportes de carvão. A exploração dos seus recursos continua sem melhorar as suas condições de vida. Num outro evento, “Transição energética para quem e à custa de quem?” na Rosa-Luxemburg-Stiftung, tornou-se claro que as transacções planeadas com a energia produzida na sua área também envolveriam violações dos direitos humanos e da legislação ambiental – uma continuação das queixas que já eram visíveis na extracção de carvão.

O apelo da delegação ucraniana (Razom We Stand) à aplicação de sanções contra o gás russo, incluindo o gás natural liquefeito (GNL), é compreensível e deve ser apoiado em princípio. Mas nesta “cúpula contra o gás” tornou-se claro à custa de quem estas sanções poderiam ocorrer e quem beneficiaria delas. Uma questão fundamental que deve ser colocada é se a Ucrânia tem realmente interesse em reprimir aqueles que lucram com o boom do GNL como um todo, ou se se trata apenas de sancionar o GNL russo para capacitar os seus apoiantes. Esta abordagem reflete uma política que é defendida pelos chamados valores ocidentais, mas é percebida como neocolonialista em partes do chamado sul global.

Uma delegação do Canadá apresentou um documentário que destaca a luta das Primeiras Nações contra a exploração de suas terras. O filme mostra os seus esforços para proteger as suas terras da destruição e deixa claro os meios pelos quais as empresas – apoiadas pelo governo canadiano – minam os direitos destes povos indígenas. Até a década de 1970, o governo canadense nem sequer reconhecia o direito de existência dos povos das Primeiras Nações. Visto à distância, tem-se a impressão de que a sua existência até hoje não é realmente desejada.

Uma transição energética justa que evite violações dos direitos humanos e dos direitos ambientais exigirá muito de todos nós – especialmente das pessoas do chamado norte global. Acima de tudo, nós, brancos privilegiados, devemos enfrentar os desafios reais e estar preparados para renunciar aos privilégios que continuamos a permitir-nos por razões históricas.

As organizações participantes incluíram o Conselho de Defesa dos Recursos Naturais (NRDC), Deutsche Umwelthilfe, Campaign for the Environment, For a Better Bayou, o Freeport Haven Project, Block Gas, Ende Gelände, Urgewald, Arayara, Don’t Gas Africa, Powershift, Razom Westand , NABU, BUND, Esquerda Intervencionista, CIEL, Greenpeace, Conexiones Climáticas e médico internacional. Estes grupos realizaram numerosos workshops sobre o tema do GNL e destacaram vários aspectos do problema.

O que resta são percepções impressionantes sobre o facto de que a política do chamado Ocidente de valor continua a basear-se na exploração do nosso planeta. Parece ter menos a ver com direitos humanos universais e mais com direitos que beneficiam predominantemente populações brancas privilegiadas. A protecção dos direitos humanos e da diversidade cultural só parece ser uma prioridade se for compatível com os interesses do capitalismo.

Para mais informações e uma visão mais aprofundada dos tópicos e organizações em torno da cúpula contra o gás, existem alguns links interessantes aqui: