+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
Bahia Avança na Defesa Ambiental com Projeto de Lei que Proíbe o Fracking

Bahia Avança na Defesa Ambiental com Projeto de Lei que Proíbe o Fracking

A Assembleia Legislativa da Bahia (ALBA) está discutindo um projeto de lei que visa proibir o fraturamento hidráulico (fracking) para a extração de gás de xisto em rochas subterrâneas onshore. A proposta, apresentada pelo deputado Robinson Almeida (PT), busca impedir a utilização desse método no estado.

 

O projeto de lei, atualmente na Comissão de Constituição e Justiça, é composto por dois artigos: o primeiro proíbe o fracking na Bahia, enquanto o segundo determina que a proibição entre em vigor imediatamente após a publicação da lei. O deputado Robinson Almeida justifica a medida citando os impactos ambientais e os riscos à qualidade da água e do ar.

“Nas operações de fracking, não é raro ocorrer a contaminação das águas subterrâneas, vazamentos de metano e atividade sísmica. Além disso, há preocupações com os grandes volumes de água necessários para o processo e o descarte de águas residuais, que podem conter produtos químicos nocivos”, explica o deputado estadual Robinson Almeida.

Ele também menciona que países como Alemanha, França, Holanda, Suécia, Bulgária, Polônia e Israel, além de estados e cidades nos EUA, Argentina e Espanha, já proibiram essa prática. No Brasil, a Bahia segue os passos do Paraná e de Santa Catarina, que já possuem leis estaduais sobre o tema.

Em 2016, o Paraná foi pioneiro ao aprovar uma lei que suspendeu por dez anos a exploração de gás de xisto por meio do fraturamento de rochas. Três anos depois, em julho de 2019, o estado decidiu pela proibição definitiva da atividade. Santa Catarina também aprovou uma lei que proíbe a exploração e a produção de óleo e gás de xisto pelos métodos de fracking e mineração convencional.

Mobilização Municipal e Nacional

Juliano Araújo, diretor técnico do Instituto Arayara e da Não Fracking Brasil, destaca a importância da mobilização municipal enquanto o Congresso Nacional não decide sobre o tema – na Câmara, o PL 1935/2019 aguarda parecer do relator na Comissão do Meio Ambiente. “As duas maiores reservas estão no Paraná e no Maranhão. No Paraná, 254 cidades já aprovaram leis municipais proibindo e restringindo qualquer atividade, sob a lei de licenciamento ambiental”, relata Araújo.

Segundo o diretor da Arayara, uma frente nacional de mais de 250 deputados estaduais e federais, 1,5 mil vereadores, e mais de 700 prefeitos já se posicionaram contra o fracking no Brasil. “São só 754 cidades do Brasil que têm reservas de xisto betuminoso. Dessas, 514 já têm legislação proibitiva. Nos próximos 12 meses, o objetivo da Arayara e dessa coalizão é que todas as outras cidades sejam visitadas e tenham projetos, leis municipais restritivas em relação ao seu licenciamento”, conta.

Os argumentos contra vão desde questões ambientais até a viabilidade econômica. A organização reúne estudos de experiências na Argentina, Inglaterra, Austrália e Estados Unidos comprovando que mais de 82% das reservas subterrâneas de água próximas a projetos foram contaminadas pela exploração via fracking.

“Proibir o fracking é uma questão de justiça ambiental e proteção à vida. Não podemos permitir que a ganância destrua nossos recursos naturais e coloque em risco a saúde das comunidades”, afirma Juliano Araújo.

A Bahia dá um passo significativo na defesa do meio ambiente e da saúde pública com este projeto de lei, reforçando a importância de políticas que priorizem a vida e a sustentabilidade.

 

Nota produzida com informações da EPBR.
Crédito da foto: Emiliano Ortiz / Poços de extração não convencional da YPF em Anelo, Argentina.

Entenda como é a exploração do gás de xisto e seus impactos; governo quer facilitar licenças

Entenda como é a exploração do gás de xisto e seus impactos; governo quer facilitar licenças

Recurso é encontrado em rochas de difícil extração.

Brasil tem potencial inexplorado, mas experiências internacionais levantam questões sobre impactos no meio ambiente.

A diretora do Instituto ARAYARA, Nicole Oliveira, afirma que a contaminação também traz riscos à saúde, como incidência de câncer e redução da taxa de natalidade.

“O fracking [fraturamento] já foi discutido. Faz 15 anos que a gente discute sobre o fracking no Brasil e a população não quer”, afirmou.

Ela defende que a discussão sobre o fraturamento seja feita em nível nacional, e não estadual.

 

Publicado originalmente no G1, em 25 de maio de 2024.

O Ministério de Minas e Energia quer aumentar a oferta de gás natural não convencional – popularmente chamado de gás de xisto – no país. O objetivo é baratear o custo do insumo para a indústria.

Algumas atividades industriais, como a fabricação de fertilizantes e vidros, por exemplo, demandam o uso de gás natural em grande quantidade.

O Executivo também vai criar um comitê de monitoramento dos projetos de gás em curso e ainda em fase de estudos no Brasil. E avalia a importação da produção do combustível de Vaca Muerta, na Argentina.

Contudo, a exploração desses recursos está associada a riscos ambientais e sociais, como abalos sísmicos, contaminação de lençóis freáticos e uso intensivo da água.

Entenda nesta reportagem:

-o que é o gás de xisto?

-o que é fraturamento hidráulico?

-quais os riscos associados?

-qual o potencial de produção nacional?

-quais os projetos em andamento?

https://g1.globo.com/globonews/cidades-e-solucoes/video/cidades-e-solucoes-exploracao-de-gas-xisto-traz-riscos-ao-brasil-e-argentina-6046832.ghtml

 

O que é o gás de xisto?

Gás de xisto é um termo que se popularizou no Brasil para tratar de gás não convencional – extraído de rochas de folhelho.

Esses recursos são extraídos de rochas com baixa permeabilidade e baixa porosidade. Tanto o gás quanto o petróleo encontrado nesse tipo de formação rochosa são chamados de recursos “não convencionais”.

A diferença entre a exploração “não convencional” e “convencional” é a facilidade de extração desses recursos.

Nos poços convencionaiso petróleo e o gás natural fluem com facilidade depois da perfuração devido à pressão atmosférica, já que as rochas são mais porosas e permeáveis, explica o professor da Universidade de São Paulo (USP), Edmilson Moutinho dos Santos.

“Antigamente, os recursos que se encontravam em rochas bem menos porosas e permeáveis, nós nem considerávamos como recursos economicamente viáveis. Era uma situação geológica não economicamente viável, que é um volume muito maior que o outro. A maior parte das rochas não são boas”, afirmou.

No entanto, com o desenvolvimento da técnica de fraturamento hidráulico, a exploração desse tipo de recurso se tornou viável do ponto de vista econômico e operacional.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), duas técnicas permitem a exploração desse tipo de recurso: a perfuração direcional e o fraturamento hidráulico.

O que é fraturamento hidráulico?

 

técnica de fraturamento hidráulico é uma forma de estimular o poço para aumentar a produtividade. O método consiste em fraturar as rochas para abrir “espaços” por onde o gás e o petróleo possam fluir.

“Você tem que fazer poços maiores, mais longos, normalmente são poços horizontais. A broca começa na vertical, vai desviando e entra na rocha de forma horizontal. E, depois, vai fraturando essa rocha por partes”, afirmou o professor da USP.

O fraturamento hidráulico é feito por meio da injeção de fluidos, chamados de “coquetéis” – que contêm água, areias finas e compostos químicos.

Segundo a EPE, na técnica, é utilizado este fluido de fraturamento para evitar o fechamento dos espaços abertos com a perfuração.

Quais os riscos associados?

 

técnica contém riscos ambientais associados, como possíveis tremores de terra, contaminação de lençóis freáticos e gasto de água em grandes quantidades.

Em parecer técnico de 2013, que subsidiou a concessão de blocos exploratórios pelo governo, o Ibama cita algumas preocupações em relação à produção de não convencionais. São:

-abertura de vias de acesso e instalação de canteiros, uma vez que é preciso perfurar mais poços para produzir recursos não convencionais;

-utilização de recursos hídricos. O Ibama cita estudo que estima a utilização de 9 mil a 29 mil metros cúbicos de água por poço perfurado –o suficiente para encher aproximadamente 4 a 12 piscinas olímpicas;

-contaminação de lençóis freáticos;

-descarte de rejeitos e da água utilizada na produção, cuja composição “pode apresentar metais pesados e ocorrência de elementos com índice de radioatividade natural que requerem especial manejo e disposição”;

-indução de abalos sísmicos, com a injeção da água de descarte em poços que já não produzem mais;

-utilização de fluidos e produtos químicos. Segundo o Ibama, alguns compostos utilizados não têm sua formulação divulgada e seu comportamento no ambiente não foi estudado para diversos casos.

 

“Você tem alguns elementos químicos usados nesse coquetel que, se não ficarem contidos no ambiente ali da rocha, podem ser nocivos se vierem a encontrar lençóis freáticos, subir à superfície e vazar”, afirmou o professor da USP.

Segundo o professor Edmilson Coutinho dos Santos, os coquetéis têm baixa quantidade de produtos químicos, mas podem ser contaminantes caso haja algum incidente.

A diretora do Instituto Arayara, Nicole Oliveira, afirma que a contaminação também traz riscos à saúde, como incidência de câncer e redução da taxa de natalidade. Ela defende que a discussão sobre o fraturamento seja feita em nível nacional, e não estadual.

“A Europa tem barreiras fitossanitárias de diversos químicos que, se forem utilizados em regiões de produção agrícola, essa produção não pode ser importada pela Europa. Vários desses químicos estão nos componentes usados pelo fracking.”

A diretora da Arayara também cita danos à paisagem, uma vez que a exploração de recursos não convencionais exige a perfuração de mais poços para extração de petróleo e gás natural.

Para o superintendente de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis da EPE, Marcos Frederico de Souza, os riscos são operacionais e dependem do tipo de produção no Brasil.

“A gente não conhece nossos reservatórios, os fluidos que se pode usar além da água e da areia variam de acordo com o que é encontrado [no reservatório]. Mas isso pode ser tratado e usamos uma série de outras possibilidades, que se pode testar. Mas o risco é operacional”, afirmou.

Segundo Souza, os riscos são comuns a esse tipo de atividade. Ele afirma que o Brasil já tem experiência com a técnica de fraturamento hidráulico para aumento da produção em áreas “convencionais”, com segurança ambiental.

“O risco na operação, primeiro que se usa muita água, coisa que não se precisa no convencional. E como ela é circulante, você tem que tratar essa água. Esse cuidado que tem que ser tomado, para que essa água contaminada com os resíduos que têm lá no reservatório, não invada o lençol [freático]. É um cuidado que a indústria está cansada de saber”, declarou.

O superintendente da Empresa de Pesquisa Energética explica que, por falta de conhecimento dos recursos não convencionais no Brasil, a estatal de pesquisa não estima o potencial de produção.

Contudo, com base em semelhanças geológicas com outros países, a Agência Internacional de Energia (EIA, na sigla em inglês) calculou um potencial de produção gás não convencional no Brasil 15 vezes superior às reservas atuais de gás.

De acordo com estudos preliminares, a EPE identificou que as reservas não convencionais são encontradas em terra, nas seguintes bacias:

-Amazonas, nos estados do Amazonas e Pará;

-Solimões, no estado do Amazonas;

-Parnaíba, no Maranhão, Piauí e Tocantins;

-Recôncavo, na Bahia;

-Parecis, no Mato Grosso e Rondônia;

-São Francisco, Minas Gerais e Bahia e em pequenas áreas de Goiás, Tocantins e Distrito Federal;

-Bacia do Paraná, no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

 

Segundo o professor Edmilson Coutinho, da USP, uma das dificuldades para a defesa dos recursos não convencionais é a necessidade de infraestrutura para levar a produção aos grandes centros de consumo, principalmente a partir da Bacia do Paraná.

Contudo, o professor ressalva que o gás não convencional pode servir à interiorização do recurso, apoiando a instalação de indústrias perto dos centros de produção.

Os defensores da exploração apontam para o aumento da produção nos Estados Unidos, que se tornou o maior produtor mundial de petróleo por causa dos recursos não convencionais. Esse produção também pode servir para baratear o preço do insumo, principalmente o gás natural –objetivo do grupo de trabalho do “Gás para Empregar”.

Já quem é contra a exploração de não convencionais cita os riscos associados e o fato de alguns estados e municípios brasileiros já terem publicado leis que proíbem a exploração de não convencionais por meio da técnica de fraturamento hidráulico. Esse é o caso do Paraná e de Santa Catarina.

“O fracking [fraturamento] já foi discutido. Faz 15 anos que a gente discute sobre o fracking no Brasil e a população não quer”, afirmou Oliveira.

https://globoplay.globo.com/v/7771058

Quais os projetos em andamento?

 

Atualmente, não há produção de não convencionais no Brasil. Em 2020, o governo criou um programa para fazer a perfuração de um poço, que seria monitorado, gerando dados sobre a técnica e seus impactos.

“É um poço de investigação. A proposta é que uma empresa entre com recurso e possa, junto com o processo ambiental, dar todo o check list do processo que a gente ainda não conhece no Brasil”, afirmou o superintendente da EPE, Marcos Frederico de Souza.

O programa ainda está ativo, mas o poço não foi perfurado. Chamado de “Poço Transparente”, o programa depende de que as empresas com blocos exploratórios em locais com reservatórios de não convencionais qualifiquem os seus projetos junto ao governo.

Arayara e município Baiano com uma das melhores águas do Brasil discutem Fracking em Audiência Pública na Câmara Municipal

Arayara e município Baiano com uma das melhores águas do Brasil discutem Fracking em Audiência Pública na Câmara Municipal

Cidade de Alagoinhas, na Bahia, sedia Audiência Pública para debater com população os riscos do Fracking, método de extração de gás via fraturamento de uma sedimentação rochosa chamada xisto, utilizado pela indústria de Petróleo e Gás (P&G).

Audiência acontece nesta segunda-feira, 15 de abril, às 9h, na Câmara Municipal de Vereadores.

Convocada pelo vereador Thor de Ninha (PT), a Audiência Pública em Alagoinhas contará com a participação do Instituto Internacional Arayara que, ao lado da Coalizão Não Fracking Brasil Pela Água e Vida (COESUS), apoia gestores públicos que desejam implementar Projetos de Lei a impedir que a técnica seja utilizada em suas cidades ou estados. Deputado Federal Jorge Solla (PT), também contrário ao Fracking, participa.

Localizada na região de Feira de Santana e a 128km de Salvador, cidade de Alagoinhas é conhecida por abrigar grande quantidade de água (nome da cidade faz referência a lagos, abundantes na região). A água de Alagoinhas já foi considerada a melhor do Brasil e a segunda melhor do mundo para a fabricação de bebidas por possuir um ph perto do neutro, o que seria uma “água pura”.

Por conta de seus recursos hídricos, provenientes do Aquífero de São Sebastião, cidade se consolidou como um importante polo de produção de bebidas. Somente em 2021, mais de 1 bilhão e meio de litros de cervejas, água mineral e refrigerantes foram produzidos pela cidade, que abriga três grandes fábricas de grupos de cerveja.

Além da produção de bebidas, Alagoinhas também é conhecida pela agricultura de frutas cítricas, sendo atualmente a 4a maior cidade produtora de laranjas do estado da Bahia. Toda essa expressiva indústria de alimentos e bebidas, juntamente com o turismo, estariam ameaçados se o fraturamento hidráulico, ou Fracking, for implementado pela indústria de Petróleo e Gás na região.

Fracking – um risco à saúde e ao meio ambiente

O Fracking é um método não convencional de liberar óleo e gás de formações rochosas. Nesse processo, milhões de litros de água potável e mais de 600 produtos químicos são injetados no subsolo, causando uma grande pressão nas rochas para provocar fraturas e permitir a extração do gás de xisto (sendo “xisto” o nome desse tipo poroso de rocha sedimentar).

Estudos sobre a técnica apontam que as substâncias utilizadas nesse processo, tais como o benzeno (substância cancerígena), tolueno, etilbenzeno, xileno, ozônio, hidrocarbonetos, dentre outros, são perigosas ao meio ambiente e à saúde humana. Locais onde a técnica foi implementada, como os Estados Unidos e a Argentina, demonstraram:

  • grave contaminação do solo e das águas subterrâneas, comprometendo as atividade do agronegócio e da pecuária;
  • maiores taxas de câncer, asma, complicações cardíacas, má-formação de fetos, abortos e mortes em comunidades próximas a poços de extração que utilizam a técnica;
  • além de maiores chances de submeter a região ao entorno do poço à falta d’água, devido à grande demanda por água para execução da técnica.

 

Campanha Anti-Fracking na Bahia

Além da Audiência Pública em Alagoinhas, Instituto Internacional Arayara, representando a Coalizão Não Fracking Brasil Pela Água e Vida (COESUS), passará por outras 58 cidades da Bahia, falando à população sobre os riscos da técnica e a importância de se construírem medidas de proteção contra a exploração de gás de xisto.

Momentos antes da Audiência Pública em Alagoinhas, diretor-presidente do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno de Araújo, falou aos ouvintes da Rádio Digital FM, de Alagoinhas, ao lado do vereador Thor de Ninha (PT), sobre o tema e convidou a população à participação na Audiência Pública na Câmara Municipal.

Ao longo de 10 anos de campanha, Arayara e COESUS conseguiram mobilizar centenas de cidades do Brasil a proibir ou coibir o Fracking. Atualmente, dois estados (Paraná e Santa Catarina) e 391 municípios possuem leis específicas anti-Fracking.

 

Câmara debate impacto do fracking para extração de gás de xisto no meio ambiente e na saúde humana

Câmara debate impacto do fracking para extração de gás de xisto no meio ambiente e na saúde humana

As comissões de Saúde e de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados realizam audiência pública nesta quinta-feira (30) para debater os impactos na saúde e no meio ambiente da prática do fracking (fraturamento hidráulico) na extração de gás de xisto.

Essa técnica consiste em realizar perfurações que superam os 3,2 mil metros de profundidade no solo para extrair gás de xisto ou folhelho. Por meio da tubulação instalada nessas perfurações, é injetada uma grande quantidade de água em conjunto com solventes químicos comprimidos, sendo alguns com potencial cancerígeno.

Contaminação
O autor do requerimento para a realização da audiência é o deputado Jorge Solla (PT-BA). Ele cita estudos que mostram que mais de 90% de fluidos resultantes do fracking podem permanecer no subsolo. Parte desse fluido, porém, retorna à superfície contaminando o solo, o ar e os lençóis de água subterrânea.

“A destruição dos recursos naturais afeta diretamente a agricultura, a pecuária, o turismo e o bem-estar das pessoas que vivem nas regiões de extração, além de impedir a exportação da produção”, alerta o deputado. “Por todos esses danos e riscos, vários países já proibiram esta prática, como Alemanha, França, Holanda, Suécia, Bulgária, Polônia e Israel”, acrescenta.

A audiência pode ser acompanhada online no link da Câmara Federal.

Os requerimentos foram feitos pelos Deputados Ivan Valente (PSOL/SP), Coronel Chrisóstomo (PL/RO), Marcelo Queiroz (PP/RJ), Nilto Tatto (PT/SP) e Deputado Jorge Solla (PT/BA).

Confira a lista de convidados para a reunião, que está marcada para as 10 horas, no plenário 2:

EDMILSON COMPARINI MATURANA (presença confirmada – remota)
Coordenador-geral de Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Fluviais e Pontuais Terrestres (CGTef)

THAIS ARAÚJO (presença confirmada – remota)
Assessora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador, da Secretaria de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde (SVSA-MS)
FLÁVIO TORRES (presença confirmada – remota)
Gerente-executivo de SMS e Operações do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP)

BETO LUNITTI (presença confirmada – remota)
Prefeito de Toledo (PR)

MARCIO FELIX (presença confirmada – remota)
Presidente da Associação Brasileira de Produtores Independentes de Petróleo e Gás (ABPIP)

TELMO GHIORZI (presença confirmada – remota)
Secretário-Executivo da Associação Brasileira das Empresas de Serviços de Petróleo (ABESPetro)

JULIANO BUENO DE ARAÚJO (presença confirmada – remota)
Diretor técnico do Observatório do Petróleo e Gás

LUIZ FERNANDO SCHEIBE (presença confirmada – remota)
Professor da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

NICOLE FIGUEIREDO DE OLIVEIRA (presença confirmada – remota)
Coordenadora Nacional da Coalizão Não Fracking Brasil

 

Saiba mais sobre o tema em naofrackingbrasil.com.br

A problemática da extração de óleo e gás através do método de Fracking: Impactos no agronegócio e na exportação de produtos

A problemática da extração de óleo e gás através do método de Fracking: Impactos no agronegócio e na exportação de produtos

A extração de petróleo e gás por meio do método de Fracking tem se tornado uma prática cada vez mais comum na indústria de energia, porém, muito problemática. No entanto, é importante ressaltar que essa técnica ainda carece de regulamentação no Brasil, embora existam vários projetos em andamento para sua exploração em diversos estados do país, tais como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Maranhão, Bahia, Piauí, entre outros. A expansão desse método poderá acarretar impactos significativos no setor do agronegócio e nas exportações de produtos, devido à contaminação do solo, água e ar e consequentemente os produtos produzidos pelo agronegócio na região. 

Neste artigo, abordaremos os princípios do Fracking, seus efeitos sobre o agronegócio e a exportação de produtos-chave, como soja, milho, carne e seus derivados. Além disso, examinaremos os conflitos que surgem entre a indústria do petróleo e o agronegócio e, por fim, discutiremos possíveis soluções para evitar a expansão do Fracking no Brasil e na América Latina.

  1. Fundamentos do Fracking:

O Fracking, também conhecido como fraturamento hidráulico, é um método utilizado para liberar óleo e gás não convencional  de formações rochosas. Esse processo envolve a injeção de milhões de litros de água potável e mais de 600 produtos, causando uma grande  pressão nas rochas para fraturas, permitindo assim a extração do gás. O Fracking ganhou relevância ao longo dos anos devido à disponibilidade de reservatórios não convencionais, como o xisto pirobetuminoso causando um grande prejuízo  para o agronegócio e pecuária caso seja explorado no Brasil. 

  1. Impactos no agronegócio:

A extração de óleo e gás através do Fracking tem impactos significativos no agronegócio. Um dos principais problemas é a contaminação do solo e das águas subterrâneas devido à injeção e liberação de produtos químicos prejudiciais, como o benzeno, que é um conhecido agente cancerígeno, tolueno, etilbenzeno, xileno, ozônio, hidrocarbonetos e outras substâncias tóxicas. Além disso, as empresas de extração não revelam quais substâncias são utilizadas, alegando segredo industrial. Autoridades da Pensilvânia documentaram pelo menos 260 contaminações de água pelo fraturamento hidráulico desde 2005.

Em outro estudo de longo prazo em bovinos, foram relatadas associações entre a queima de gás ácido e o aumento do risco de nado-morto em três dos quatro anos estudados, bem como um aumento do risco de mortalidade de bezerros em um dos anos estudados. Num estudo de seleção de habitat. Descobriram que cervos-mula evitavam áreas de desenvolvimento de gás. Em um relatório recente do mesmo autor, a população de cervos diminuiu 45% em um ano, e a taxa de sobrevivência também diminuiu.

É evidente que a contaminação pode afetar significativamente a qualidade e segurança das pecuária e do agronegócio nas áreas afetadas. Além disso, a infraestrutura criada para a extração, como estradas e tubulações, podem restringir  e/ou fragmentar  as propriedades rurais, resultando  na perda parcial ou completa de propriedades rural agrícolas.

Implicações na exportação de produtos:

Os impactos do Fracking na exportação de produtos agrícolas e pecuários também são significativos. Com as preocupações crescentes em relação à segurança alimentar e ao controle de resíduos químicos, muitos países têm requisitos e regulamentações rígidas para a importação de  alimentos advindos de territórios que exploram gás e petróleo através do método do fracking. A contaminação causada pelo Fracking pode levar a restrições comerciais e à perda de mercado, afetando a economia do país.

  1. Conflitos entre a indústria do petróleo e o agronegócio:

Em regiões onde a indústria do petróleo e o agronegócio coexistem, surgem conflitos. Os interesses da indústria do petróleo em explorar reservas de óleo e gás entram em conflito com as  áreas agrícolas. Além disso, a contaminação do Fracking  prejudica significativamente  a produtividade e a rentabilidade das atividades agrícolas.

  1. Alternativas e soluções:

Para que o agronegócio e a pecuária brasileira não tenham perdas de seus produtos, que é a economia deste país,  temos que proibir este método de extração a nível nacional.  O Brasil é rico em alternativas e soluções sustentáveis. Investir em fontes de energia renovável e em tecnologias mais sustentáveis é a alternativa mais viável. Por isso, estamos informando, mobilizando através de audiências públicas no Congresso Nacional, os setores do agronegócio e pecuária para que se mobilizem e exijam a  aprovação PL 1935/2019 de  autoria do Deputado Schiavinato, hoje o relator é o deputado Ivan Valente garantindo assim  a segurança das atividades do agronegócio e  da pecuária brasileira. 

Conclusão:

A extração de óleo e gás através do Fracking tem o potencial de causar impactos irreversíveis no setor do agronegócio e na pecuária, especialmente em relação às exportações de produtos. Podemos tomar como exemplo o caso da Argentina, nosso vizinho, que, devido à contaminação da água e do solo, teve perdas significativas na exportação de produtos como maçãs e peras.

É de extrema importância abordar essa problemática do fracking aqui no Brasil e buscar soluções sustentáveis. Investir em fontes de energia renovável, aprovar o PL 1935/2019 e promover o diálogo e a colaboração entre os diversos setores para proibir o fracking. Isso garantirá que a economia do agronegócio e da pecuária continue se desenvolvendo, ao mesmo tempo em que possibilitará a construção de uma indústria de energia mais sustentável. Além disso, assegurará um futuro mais seguro tanto para o agronegócio quanto para as exportações de seus diversos produtos. Ainda destaco a importância de proibir o fracking através do  PROJETO DE LEI N.º 1.935, DE 2019 Acrescenta o inciso III, no art. 37 do Decreto-Lei nº 227, de 28 de fevereiro de 1967, para proibir a outorga de concessão de lavra para exploração de gás mediante processo de fraturação hidráulica ou fracking.

O PL se encontra em tramitação na Camara dos Deputados e pode ser acompanhado no seguinte link: https://www.camara.leg.br/propostas-legislativas/2196375 

Por Suelita Röcker | Instituto Internacional ARAYARA | COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil

A ilusão da segurança: A captura de carbono não elimina os riscos do fracking

A ilusão da segurança: A captura de carbono não elimina os riscos do fracking

A técnica de Captura e Armazenamento de Carbono (CCS) é frequentemente considerada como uma estratégia da indústria fóssil para minimizar seus impactos, porém a técnica prolonga a utilização dos combustíveis fósseis, atrasando a transição justa e sustentável. Além disso, esta abordagem tem recebido incentivos, principalmente nos Estados Unidos, em estados como o Texas e a Louisiana, graças ao apoio do governo.

O processo de CCS envolve uma série de etapas complexas. Geralmente, inicia-se com uma operação de maquinaria complexa, muitas vezes alimentada por uma turbina de gás natural, que é um combustível fóssil. Essa maquinaria está conectada a uma fonte específica de dióxido de carbono, como a chaminé de uma usina de energia. Seu objetivo principal é a captura de uma parte do dióxido de carbono que, de outra forma, seria liberada na atmosfera durante a queima de combustíveis fósseis. Após a captura, o dióxido de carbono é separado de outras emissões, pressurizado para se tornar um líquido e, em seguida, é transportado por meio de dutos para um repositório fragmentado ou, em alguns casos, para campos de petróleo, onde é utilizado em operações de extração de petróleo.

O processo de CCS é dependente de diversas tecnologias. Por exemplo, as emissões de dióxido de carbono podem ser capturadas por meio de membranas ou, mais comumente, absorvidas por um solvente.

Além de servir como uma abordagem paliativa para enfrentar a crise climática, o CCS é notoriamente caro, com o custo da captura de carbono de uma usina elétrica a gás variando entre 49 e 150 dólares por tonelada de carbono retido. Dado que não existe um mercado previsto para a gestão de resíduos de dióxido de carbono, o CCS depende, em grande parte, de subsídios públicos, como créditos fiscais, para se manter viável. Um exemplo é o Estados Unidos, que na legislação atual do Código da Receita Federal apoia o CCS, oferecendo um crédito fiscal por cada tonelada de carbono capturada e armazenada. Em 2022, como a Lei de Redução de Inflação, estes créditos fiscais foram aumentados e os limites de elegibilidades foram reduzidos, incentivando ainda mais os projetos de CCS.

O CCS é uma tecnologia altamente experimental e não comprovada que não conseguiu atingir as taxas de captura prometidas. As metas de redução de emissões de dióxido de carbono em 90% ou mais não se concretizaram comercialmente, com projetos-piloto capturando apenas cerca de 30%. Atualmente, existem apenas 27 instalações comerciais de CCS em operação no mundo, sendo doze nos Estados Unidos. Dessas instalações nos EUA, apenas uma, o Projeto Industrial de Captura e Armazenamento de Carbono de Illinois, realmente armazena o carbono que captura, mas tem consistentemente falhado em atingir suas metas prometidas a cada ano.

Uma análise realizada em setembro de 2022 em 13 projetos globais da CCS revelou desempenho insatisfatório, destacando riscos financeiros e técnicos consideráveis ​​quando se trata de ampliar a vida útil das usinas de combustíveis fósseis. Da mesma forma, uma revisão de setembro de 2023 de 12 grandes projetos de captura de carbono, incluindo seis nos Estados Unidos, concluiu que nenhum na verdade, reduziu as emissões de dióxido de carbono, a maioria utilizou o carbono capturado para extrair mais petróleo e os excessos de custos foram típicos.

No oeste da Austrália, o ambicioso projeto de demonstração de CCS da Chevron na fábrica de Gorgon LNG, avaliado em 54 milhões de dólares, enfrentou dificuldades técnicas significativas. Em 2021, a instalação operava com apenas metade de sua capacidade e havia armazenado apenas 30% do dióxido de carbono que gerou desde 2016.

Esse desempenho abaixo das expectativas levou a Chevron a não cumprir sua meta de cinco anos para taxas de injeção de dióxido de carbono. Como resultado, a empresa foi obrigada a tomar medidas drásticas, adquirindo créditos de compensação de carbono como uma deliberação pela não conformidade com seus objetivos de armazenamento de carbono.

A tecnologia de CCS tem sido um tópico de preocupação crescente, uma vez que as centrais elétricas e outras indústrias pesadas alvo do processo estão frequentemente situadas em bairros de baixa renda e comunidades marginalizadas. Essa questão coloca o CCS no centro de um debate sobre justiça ambiental.

Essencialmente, o CCS é visto como uma ferramenta que prolonga a vida de importantes fontes de poluição, proporcionando apenas reduções modestas nas emissões de dióxido de carbono. Além disso, há um aumento dos níveis de outras substâncias nocivas, que têm sido associadas a condições críticas de saúde, incluindo asma, acidente vascular cerebral, risco de ataque cardíaco e parto prematuro.

O impacto desproporcional da CCS em comunidades de baixa renda e marginalizadas levanta sérias preocupações sobre a justiça ambiental. Enquanto o debate sobre as previsões e os resultados reais da CCS continua, a discussão sobre a justiça ambiental permanece no centro das atenções, destacando a necessidade de abordar as implicações sociais dessa tecnologia em um esforço para proteger todas as comunidades afetadas.

Uma investigação realizada em 2023 pelo Instituto de Economia Energética e Análise Financeira (IEEFA) trouxe à tona preocupações sérias em relação aos projetos de armazenamento de CO2, ressaltando que esses projetos podem, surpreendentemente, apresentar mais incertezas e riscos do que a extração de petróleo ou gás. A causa subjacente a esta preocupação reside na falta de conhecimento sobre a capacidade das formações geológicas subterrâneas de manter o CO2 armazenado de maneira permanente.

O relatório do IEEFA aponta para casos emblemáticos na Noruega, onde dois projetos de CCS de longa duração, anteriormente elogiados como histórias de sucesso, estão enfrentando desafios inesperados. Na instalação do Sliepner, que está em operação desde 1996, o CO2 proveniente da área de armazenamento está apresentando uma migração ascendente, criando sérias preocupações. Além disso, na instalação do Snøhvit, operacional desde 2008, foi constatado que a capacidade de armazenamento é nove vezes menor do que o inicialmente previsto, e o esgotamento do espaço de armazenamento ocorrerá muito antes do previsto.

Essas descobertas levantam questões cruciais sobre a previsão e a eficácia dos projetos de CCS e destacam a necessidade premente de uma compreensão mais profunda das implicações geológicas envolvidas na manutenção de CO2 de forma segura e permanente no subsolo. À medida que a busca por soluções de mitigação das mudanças climáticas continua, uma pesquisa do IEEFA destaca a complexidade da tecnologia de armazenamento de CO2 e a importância de abordar suas incertezas.

O fracking, conhecido por seu papel na remoção de gás para turbinas de captura de dióxido de carbono (CCS), apresenta redes complexas com o CCS em três outros aspectos cruciais. Primeiramente, o uso predominante do CCS nos dias de hoje é aprimorar a remoção de petróleo de poços antigos. Surpreendentemente, todos, exceto um, dos 12 projetos de CCS nos Estados Unidos utilizam o dióxido de carbono capturado para uma prática denominada “recuperação melhorada de petróleo”. Nesse processo, o dióxido de carbono capturado é injetado em poços de petróleo parcialmente exauridos para tornar a remoção de petróleo mais eficiente, específica para as concentrações de petróleo remanescentes. O que é notável é que a recuperação melhorada do petróleo é atualmente o único mercado comercialmente disponível para milhões de toneladas de dióxido de carbono capturadas, mas as emissões resultantes da queima desse petróleo, que de outra forma permaneceram no subsolo, não são contabilizadas nos modelos “líquido zero” da CCS.

O uso do carbono capturado para a remoção de mais petróleo de poços exauridos deu origem a uma série de inconsistências e brechas legais nos regulamentos que regem o sequestro de CO2, minando a suposição de armazenamento permanente. Conforme documentado em um white paper de 2023, as Licenças de Controle de Injeção Subterrânea Classe VI, criadas para operações regulamentares de sequestro de carbono, têm uma origem diferente. Eles foram inicialmente concebidos para proteger fontes subterrâneas de água potável, sem prever o armazenamento permanente de dióxido de carbono para fins de mitigação das mudanças climáticas.

Além disso, essas disposições permitem que os operadores cumpram os requisitos detalhados dos poços de Classe VI, optando pelo armazenamento de CO2 em poços de Classe II, que são menos regulamentados e recebem pouca supervisão governamental. Os Poços de Classe II são tradicionalmente utilizados para a injeção de fluidos resultantes das atividades de remoção de petróleo e gás, incluindo resíduos de fracking, em formações geológicas. No entanto, a Lei de Redução da Inflação inclui incentivos fiscais destinados à promoção do armazenamento de CO2 em poços de Classe II, seja por meio da injeção para recuperação aprimorada de petróleo ou gás, seja para o armazenamento a longo prazo. Essa interação complexa entre o fracking, o CCS e os regulamentos existentes está gerando debates acalorados sobre os rumores da mitigação das emissões de dióxido de carbono e as implicações legais e ambientais decorrentes dessas atividades interconectadas.

Em segundo lugar, o dióxido de carbono na sua forma supercrítica pode ser utilizado como substituto da água como agente do próprio fracking. 

A tecnologia de CCS desempenha um papel significativo na produção do chamado “hidrogênio azul” a partir do gás fraturado. A produção de combustível de hidrogênio assume diversas formas, sendo uma delas a eletrólise da água alimentada por energia renovável, resultando no “hidrogênio verde”. No entanto, outros dois métodos comuns utilizam o gás natural como ponto de partida.

Os primeiros métodos envolvem a produção de “hidrogênio cinza” através do calor e da pressão, que converte o metano do gás natural em hidrogênio, gerando, ao mesmo tempo, quantidades substanciais de dióxido de carbono que são liberadas na atmosfera. O segundo método, denominado “hidrogênio azul”, segue o mesmo processo do hidrogênio cinza, mas com a captura e armazenamento de algumas de suas emissões de dióxido de carbono.

No entanto, em 2021, apenas quatro instalações em todo o mundo adotaram o uso do gás natural com CCS para a produção de hidrogênio azul. Essas instalações localizadas estão em Alberta, no Canadá, no Texas e em Oklahoma, nos Estados Unidos. Em todos esses casos, a estimativa da proporção de dióxido de carbono capturado é inferior a 50%.

Essa prática revela a complexidade da produção de hidrogênio azul e as questões relacionadas à eficácia da captura de carbono nesse contexto. À medida que a demanda por fontes de energia mais limpas e sustentáveis ​​continua a crescer, a produção de hidrogênio azul pode desempenhar um papel importante na transição para um futuro com menores emissões de carbono, mas o debate sobre a eficácia e os impactos ambientais desses métodos está longe de ser concluído.

Em uma análise profunda, a tecnologia de CCS revela uma série de complexidades que desafiam a narrativa tradicional. A CCS, que busca reduzir as emissões de dióxido de carbono, é frequentemente vista como um apoio aos combustíveis fósseis, consolidando a demanda por essas fontes de energia. Além disso, ela levanta preocupações sobre a eliminação progressiva do fracking, exigindo investimentos maciços do setor público, enquanto captura uma quantidade significativamente menor de dióxido de carbono do que o anunciado.

Um dos problemas cruciais reside na contabilização incompleta das emissões. A CCS também prejudica o meio ambiente e coloca em risco ainda mais a saúde pública, devido às emissões de poluentes e à necessidade de construir extensas redes de gasodutos. Outra preocupação importante é que as estratégias de CCS não abordem as emissões fugitivas de metano relacionadas à extração de petróleo e gás.

Em essência, a CCS, longe de ser uma solução abrangente, visa prolongar a profundidade e o fracking, o petróleo e gás natural, sem abordar as questões relacionadas à saúde pública, às mudanças climáticas e à justiça ambiental que essas práticas suscitam. Isso levanta a questão de se o CCS, ao permitir o fracking, representa um desvio dispendioso e perigoso dos investimentos que poderiam ser direcionados para fontes de energia renováveis, que podem oferecer soluções mais eficazes na luta contra as mudanças climáticas.

8 de novembro de 2023.

Por Dálcio Costa – Instituto Internacional ARAYARA | COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil