+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

As mudanças climáticas, a pior seca do século e a crise energética

Milhões de brasileiros enfrentam a escassez de água e o risco de apagões de energia nesta que é considerada a pior seca em quase um século no Brasil, prejudicando ainda mais nossa recuperação dos impactos devastadores da pandemia.

O volume de chuva registrado desde outubro é o menor dos últimos 91 anos. O nível das águas nos reservatórios do sistema Cantareira, que atende mais de 7 milhões de pessoas na cidade de São Paulo, caiu para menos de um décimo de sua capacidade este ano.

Também é preocupante a situação dos reservatórios de hidrelétricas do Sudeste e Centro-Oeste, que respondem por mais da metade da capacidade de geração do país. A previsão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) é de que os reservatórios devem chegar a novembro com 10,3% da capacidade – o menor nível mensal em 20 anos.

Como a energia hidrelétrica responde por cerca de 70% da matriz elétrica do Brasil, a seca também reduziu a produção de eletricidade. Isso forçou uma mudança para a geração de energia por termelétricas, mais cara, aumentando os preços da eletricidade para empresas e consumidores.

Em abril, as contas de luz foram fechadas com bandeira amarela, que representa R$ 1,34 a mais a cada 100 kWh. Já em maio, passou para bandeira vermelha 1, onde é cobrada uma taxa adicional mais alta, de R$ 4,169 para cada 100 kWh. Em junho, as faturas terão a bandeira mais cara do sistema, chamada “vermelha 2”, que representa uma cobrança adicional de R$ 6,24 para cada 100 kWh, mas que deve aumentar esse valor para R$ 10, a partir de julho, pelos cálculos da Aneel.

Um ciclo vicioso de impactos negativos

Não é nenhuma novidade que nosso modelo atual baseado em energia hidrelétrica e térmica não é sustentável. O aumento das secas pressiona os reservatórios das hidrelétricas e a resposta que temos é o acionamento das termelétricas – que, além de custar caro, aumenta as emissões de gases de efeito estufa e agrava o problema.

Hoje, a mudança climática, impulsionada pelo aumento das emissões de gases que retêm o calor, está desempenhando um papel decisivo no aumento da gravidade da seca por meio de suas influências na chuva e na evaporação.

Assim como as mudanças climáticas agravaram muitos eventos climáticos extremos, o excesso de calor agora preso no sistema climático retira mais umidade do solo, piorando as condições de seca.

Uma pesquisa da Michigan State University, nos Estados Unidos, aponta que o número de pessoas que enfrentam secas extremas pode dobrar até o final do século. Eles preveem que uma grande redução no armazenamento natural de água em dois terços do mundo, causada pela mudança climática, vai piorar o problema.

Os pesquisadores basearam o estudo em um conjunto de 27 simulações de modelos climáticos hidrológicos globais abrangendo 125 anos.

Preocupação global

Volumes reduzidos de neve acumulada, derretimento precoce da neve e mudanças nos padrões de precipitação – também ligados às mudanças climáticas – agravam o estresse hídrico induzido por secas. E para vários eventos individuais em todo o mundo, os cientistas atribuíram o aumento da probabilidade e gravidade das secas às mudanças climáticas causadas por nós mesmos.

Nos Estados Unidos, a seca intensa e o calor recorde atingem a região oeste. Os impactos do clima extremo são claros – concessionárias de eletricidade estão pedindo aos consumidores que racionem energia e água, agricultores estão lutando para vender ou economizar seus produtos e as autoridades estão fazendo planos para manter as comunidades seguras. Tudo antes de chegar o verão (que, nos EUA, inicia no final de junho).

Na Europa, a Alemanha enfrenta uma potencial escassez de água potável. Desde 2018, chove muito pouco no país e os períodos persistentes de seca estão tendo consequências de longo alcance.

Somente em agosto do ano passado, várias cidades alemãs foram parar nas manchetes, depois que a água potável tornou-se tão escassa que as autoridades locais tiveram que emitir diretrizes rígidas de economia de água.

Todas as evidências apontam em uma direção: os países devem acelerar urgentemente suas transições para a energia limpa. Isso é fundamental para evitar os piores efeitos das mudanças climáticas – e para construir um futuro mais saudável, no qual todos tenham acesso a fontes de energia sustentáveis ​​e acessíveis.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Juventude debate transição energética justa e impactos do carvão no LCOY Brasília

No último sábado (16), o Instituto Internacional ARAYARA participou do Local Conference of Youth (LCOY), evento organizado pelos coletivos Jovens Pelo Clima Brasília e ONG A Vida no Cerrado, que reuniu jovens de diferentes regiões para discutir ações climáticas e justiça socioambiental. A LCOY, etapa preparatória da Conferência Global da Juventude (COY), busca dar visibilidade a perspectivas plurais e horizontais

Leia Mais »

Sociedade civil participa de audiência da Câmara sobre racismo ambiental e justiça climática

A Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados promoveu, ontem (19), uma audiência pública para debater racismo ambiental e justiça climática. O encontro, solicitado pelo deputado Nilto Tatto (PT-SP), contou com a presença de representantes do governo, especialistas e movimentos sociais, além do Instituto Internacional ARAYARA. Nilto Tatto destacou a criminalização da população negra e indígena

Leia Mais »

COP30 em Belém terá 30% da alimentação vinda da agricultura familiar

Regra inédita pode movimentar R$ 3,3 milhões na economia rural e promover modelo alimentar sustentável Pela primeira vez na história, a Conferência das Partes da ONU sobre Mudanças Climáticas (COP) terá uma regra específica para a alimentação dos participantes. A COP30, que acontecerá em Belém, no Pará, em novembro de 2025, exigirá que pelo menos 30% dos ingredientes utilizados na

Leia Mais »

Crise climática ameaça pesca e comunidades costeiras, aponta a 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil

A Oceana Brasil lançou, na última quarta-feira (13), a 5ª edição da Auditoria da Pesca Brasil, publicação reconhecida como a mais completa avaliação sobre a gestão das pescarias costeiro-marinhas no país. O evento reuniu pescadores, cientistas, gestores e representantes da sociedade civil para debater os desafios e prioridades da pesca sustentável em um cenário de emergência climática. O Instituto Internacional

Leia Mais »