+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
Poço de Fracking nos EUA. Crédito: Wikimedia Commons.

Artigo de opinião | Fracking no Brasil: Uma política de riscos inaceitáveis

Na sua coluna de opinião no portal de notícias ambientais “O Eco”, Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora-executiva do Instituto Internacional Arayara, comenta recentes declarações do Ministro de Minas e Energia do Brasil em que se demonstrou favorável ao estudo de viabilização do Fracking no país.

Leia abaixo o texto na íntegra, publicado originalmente no portal O Eco:

Por Nicole Oliveira

A recente declaração do ministro Alexandre Silveira sobre expandir a exploração de petróleo e gás no Brasil, incluindo o controverso método de fracking (fraturamento hidráulico), acendeu um alarme entre ambientalistas, cientistas e a sociedade civil. A defesa dessa tecnologia ignora um debate profundo que já ocorre no Brasil há mais de uma década, onde os riscos ambientais, sociais e produtivos associados ao fracking foram extensivamente analisados e rejeitados.

Há 12 anos, a oposição ao fracking se solidificou no Brasil, unindo vozes de cientistas, parlamentares, setores produtivos e a sociedade civil. Eles alertam sobre as consequências devastadoras dessa prática, como a perda da produção agropecuária, contaminação de aquíferos vitais, poluição atmosférica e proliferação de doenças. A experiência da Argentina[1], onde o fracking prejudicou a fruticultura na Patagônia e contaminou rios, é um exemplo concreto dos perigos que o Brasil poderia enfrentar.

Contrariamente à argumentação do ministro, que vincula a exploração de gás ao combate à fome, a realidade mostra que o fracking ameaça diretamente os recursos que sustentam a produção de alimentos. Das mais de 700 cidades brasileiras ameaçadas pela exploração não convencional, 478 já proibiram o fracking, reconhecendo os perigos potenciais para seus territórios e recursos hídricos. Esse consenso local reflete-se nas proibições estaduais no Paraná e Santa Catarina e nas deliberações da Assembleia Legislativa de São Paulo.

O apelo à expansão exploratória do ministro é um contrassenso diante das evidências científicas. Estudos nos Estados Unidos e Argentina, onde o fracking é comercialmente explorado, detalham os danos ambientais, sociais e produtivos causados. As operações de perfuração podem levar à contaminação das fontes de água potável, com mais de 80% dos poços apresentando vazamentos em até três anos após a perfuração.

Além disso, o fracking está associado à produção e emissão de mais de mil compostos químicos, muitos dos quais são tóxicos ou potencialmente cancerígenos. Nas regiões de exploração[2], observou-se um aumento nos casos de leucemia em crianças, nascimentos prematuros, bebês com baixo peso e más formações congênitas. A contaminação não se limita à água, estendendo-se ao ar, afetando a saúde de comunidades e animais, e reduzindo o valor das propriedades rurais.

A defesa do setor de petróleo e gás realizada pelo ministro contradiz os compromissos climáticos do Brasil, fragiliza os investimentos em energias renováveis e freia a premente necessidade de uma transição energética para fontes mais limpas e sustentáveis. O gás natural, longe de ser uma ponte para essa transição, representa uma escolha que desafia tanto a lógica econômica quanto a ambiental.

É imperativo que o Brasil reconsidere a trajetória de sua política energética, afastando-se de fontes fósseis poluentes como o fracking. Devemos priorizar investimentos em energias renováveis, que não apenas cumprem nossos compromissos climáticos, mas também promovem desenvolvimento sustentável, saúde pública e geração de empregos. A aventura pelo fracking é um risco que o Brasil não pode e não deve assumir.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Colaboradora da Arayara lança livro sobre mudanças climáticas e direitos humanos em evento internacional

A pesquisadora e PhD em energia Hirdan Costa, colaboradora da ARAYARA, lançou nesta segunda-feira (21) o livro “Mudanças climáticas e direitos humanos: aspectos de litigância estratégica”, durante o Congresso Internacional DILLAPS (Diálogos Latino-Americanos para Pesquisas e Práticas Sustentáveis). A obra apresenta três eixos principais. O primeiro discute os conceitos de justiça climática e socioambiental, destacando as conexões entre as mudanças

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Projeto que afrouxa licenciamento ambiental pode acelerar exploração de petróleo perto da Amazonas

Nesta quinta-feira (17), a Câmara dos Deputados aprovou o projeto que enfraquece as regras para o licenciamento ambiental. Um dos pontos destacados é que a proposta permite que o governo licencie, por decreto, empreendimentos que considerar “estratégicos”. Especialistas apontam que, entre outros problemas, a flexibilização pode acelerar a exploração de petróleo perto da Foz do Amazonas. O projeto tramitava na

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Petroleiras estrangeiras na Foz do Amazonas podem ser favorecidas com PL do Licenciamento

Por Fábio Bispo 19 julho 2025 at 7:00 Projeto que fragiliza licenciamento ambiental, aprovado pelos deputados esta semana, facilita exploração de petróleo na costa do Amapá; 19 blocos foram concedidos a empresas dos EUA e da China, o que contradiz discurso do governo de ‘soberania nacional’ O Projeto de Lei (PL) 2159/2021 que fragiliza as regras do licenciamento ambiental, aprovado na

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Ambientalistas pressionam pelo veto de Lula ao PL do licenciamento

Organizações ligadas à sustentabilidade consideram retrocesso projeto de lei que flexibiliza as normas ambientais. Eles apontam graves riscos para os biomas brasileiros e criticam os novos processos para obtenção de licenças Aprovado na madrugada de quinta-feira (17/7) pela Câmara dos Deputados, o PL 2159/21, que estabelece a Lei Geral do Licenciamento Ambiental, gerou forte reação de especialistas, ambientalistas e juristas.

Leia Mais »