Maioria dos líderes mundiais apresentam poucas ações efetivas e cresce o lobby do petróleo e gás na conferência. Estande oficial do Governo brasileiro tem menor frequentação enquanto a sociedade civil brasileira brilha no Brazil Hub
“A humanidade está em uma estrada para o inferno, com o pé no acelerador”. A mensagem do secretário-geral da ONU para mais de 110 líderes mundiais na cúpula climática Cop27 da ONU no Egito não poderia ter sido mais clara: mude o curso agora ou enfrente o “suicídio coletivo”.
As emissões de gases de efeito estufa continuaram aumentando este ano, mostraram pesquisas publicadas na última semana, apesar das duras advertências dos cientistas climáticos. As perspectivas de manter o limite de aquecimento do planeta 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, limite importante para conter grandes perdas, tem se mostrado cada vez piores, a janela possível está se fechando.
Muitos dos chefes de Estado e de governo se reuniram no Egito para os primeiros dias da cúpula climática da ONU COP27, onde cerca de 45.000 pessoas de 196 países estão na metade das duas semanas de negociações e eventos sobre a crise climática, não é o caso do atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que não compareceu à essa e nenhuma outra COP durante seu mandato e continua a restringir dados ambientais importantes para serem publicados apenas após o evento.
Entre os destaques da semana está a ausência do Brasil na parceria por florestas assinado por 26 países mais a União Europeia, o que demonstrou o grande desinteresse do governo Bolsonaro de avançar na proteção da floresta.
Em contrapartida, o discurso do presidente da Colômbia Gustavo Petro foi contundente,“A Colômbia concederá 200 milhões de dólares anuais por 20 anos para salvar a Floresta Amazônica”, apresentando também um decálogo para o destino da humanidade. Ele destacou que “a política de reflorestamento não substitui o que deveria ser a política para superar a crise climática: nada mais é do que parar de consumir petróleo e carvão”. Demais citações importantes do discurso incluem “Os tempos de extinção em que vivemos devem nos levar a agir agora e globalmente como seres humanos, com ou sem permissão do governo. É hora da mobilização de toda a humanidade (…) Foi o mercado e a acumulação de capital que a produziram (crise) e nunca serão seu remédio (…) Os bancos privados e multilaterais do mundo devem parar de financiar a economia dos hidrocarbonetos (…) As negociações de paz devem começar imediatamente. A guerra tira o tempo, vital para a humanidade evitar sua extinção”, disse ele na conclusão de seu discurso sobre os 10 pontos.
O primeiro-ministro do Paquistão, Shehbaz Sharif, falou sobre os insuficientes avanços para o financiamento de perdas e danos. “Nós nos tornamos vítimas de algo com o qual não tínhamos nada a ver e, claro, foi um desastre causado pelo homem”, disse ele. “Imagine que, por um lado, temos que cuidar da segurança alimentar gastando bilhões de dólares e, por outro, temos que gastar bilhões de dólares para proteger as pessoas afetadas pelas enchentes de mais misérias e dificuldades. Como se pode esperar de nós que empreendamos esta gigantesca tarefa por conta própria? (…) As inundações catastróficas impactaram 33 milhões de pessoas, mais da metade de nossas mulheres e crianças, [cobrindo] o tamanho de três países europeus.”
Aconteceram protestos por justiça climática, direitos humanos e contra a exploração de combustíveis fósseis no continente africano, mesmo com restrições por parte do policiamento egípcio. O New York Times publicou artigo de opinião dizendo que a voz mais eloquente da COP27 é a do preso político Alaa Abd El-Fattah, pelo avanço de sua greve de fome e denuncias sobre violações de direitos humanos no Egito.
As empresas de petróleo e gás estão desfrutando de uma bonança sem precedentes em meio aos preços recordes dos combustíveis fósseis, disparados pela invasão da Ucrânia pela Rússia. Eles enviaram lobistas para a Cop27 – são mais de 600 deles com acesso às negociações, número 25% maior que a última COP, segundo análise da Global Witness publicada na quinta-feira. Isso é mais do que as delegações de muitos dos países mais vulneráveis juntas. A África está particularmente na mira deles.
O Banco Mundial está sofrendo críticas de países que acreditam que ele está falhando no financiamento climático. Muitos argumentam que o gasto geral é muito baixo, e na forma de empréstimos em vez de doações, e muito disso é direcionado para países de renda média e não para os mais pobres. Porta-vozes do Banco Mundial apontam que ele forneceu US$ 31,7 bilhões em financiamento de projetos para o clima em 2022. Mas o mundo mudou, como apontou Mia Mottley, a primeira-ministra de Barbados. “Instituições criadas em meados do século 20 não podem ser efetivas na terceira década do século 21”, disse ela. “Eles não descrevem questões do século 21. A justiça climática não era um problema na época.” Mia Mottley fez um potente discurso em que diz acreditar na transformação coletiva, de um mundo que está vencendo a escravidão.
Foram divulgados pela OPEP em conjunto com o IsDB, IRENA e ETAF Energy Transition Aceleration Financing pacotes multibilionários para o aceleramento da transição energética, que somados passam da casa de USD 500 bilhões.
Segundo análise do site Carbon Brief, na última sexta-feira existiam 300 trechos sem consenso no rascunho sendo produzido para essa COP, isso em apenas 9 páginas, o que demonstra um difícil caminho à chamada “COP da implementação”.
O Brasil apresenta-se na COP27 com três estandes, o oficial do governo federal, ficou visivelmente com baixa frequentação durante a primeira semana. Já o estande referente ao consórcio dos governadores dos estados da Amazônia legal reuniu palestrantes importantes, com destaque para painéis protagonizados por mulheres indígenas e lideranças quilombolas. Assim como o Brazil Climate Action Hub, espaço que reúne várias organizações da sociedade civil, ficou pequeno para o tamanho do público interessado em seus importantes temas, divulgados no site https://www.brazilclimatehub.org/agenda/. Como resistência, o Hub surgiu durante o pior governo ambiental da história do Brasil, como forma de denunciar a devastação e falta de compromisso climático em que a boiada passou solta.
O primeiro evento promovido pela Coalizão Energia Limpa, da qual a Arayara.org é uma das coordenadoras, foi a mesa “Racismo Energético e Ambiental – Soluções a partir da Transição Energética Justa, Popular e Inclusiva”, que destacou os problemas relacionados às decisões de planejamento energético brasileiro, sem considerar as consequências ao meio ambiente e pessoas diretamente prejudicadas, pessoas essas que já se encontram em alguma situação de vulnerabilidade e não são ouvidas. Aconteceu no Brazil Climate Action Hub, dia 9, com a participação de Paulo Tupiniquim, da Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), parte da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib); Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora executiva do Instituto Internacional Arayara; Joilson Costa, da Frente Por uma Nova Política Energética; Kátia Penha e Célia Pinto, ambas da Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (Conaq); Ricardo Baitelo, do Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA); mediados por Amanda Ohara, do Instituto Clima e Sociedade (iCS).
Ficou evidente em praticamente todos os discursos que tomaram lugar no espaço Brazil Climate Action Hub, que há uma esperança forte na mudança de rumo do Brasil em relação às suas políticas ambientais e climáticas. Com a chegada de um novo líder do executivo, espera-se maior participação dos povos tradicionais e sociedade civil organizada nas decisões, o que foi citado também por Marina Silva em um de seus discursos na primeira semana.
O Brasil tem uma oportunidade de ouro com o novo governo, haja visto os riscos de mantermos um modelo energético refém dos combustíveis fósseis ao qual o Pais, deve buscar intensivamente e com uma nova politica energética, a oportunidade do Brasil se tornar um super produtor de energias renováveis, especialmente a produção e estoque de hidrogênio verde, com geração energética baseada em biometano, solar e eólica. Precisamos implantar um programa robusto de infraestrutura de recarga de veículos elétricos nas cidades e estradas. Com isso, o Brasil poderá gerar até 12 milhões de novos empregos, produzindo assim oportunidades para todos. Já que há a potencialidade de atrairmos maciços recursos e investimentos internacionais. O Instituto Internacional Arayara, a Coalizão Energia Limpa, o OPG Observatório do Petroleo e Gas e o OC Observatório do Clima tem apresentado essa necessidade e oportunidade da qual o país deve abraçar e acelerar.
Na segunda semana da COP27, desembarcam no Egito 13 Senadores federais, que estarão participando de diversas conversas com a sociedade civil, além do presidente eleito Luís Inácio Lula da Silva e comitiva, que já recebeu inúmeros convites para encontros bilaterais, mas segundo a Folha não os incluiu em sua agenda. Ele participará de encontro com governadores do Amapá, Acre, Mato Grosso, Pará e Rondônia onde será apresentada a Carta pela Amazônia, às 6h (horário de Brasília) da quarta-feira, 16, já às 17h Lula fará pronunciamento na área da ONU. Na quinta-feira, 17, o presidente eleito visitará o Brazil Climate Action Hub pela manhã e depois participará, às 10h (horário de Brasília) do Fórum Internacional dos Povos Indígenas para a Mudança do Clima. O representante atual do Brasil, ministro do meio ambiente, Joaquim Leite, discursará na plenária da COP na terça-feira, 15.
A Arayara.org estará promovendo dois eventos na segunda semana da COP27 dentro do Brazil Climate Action hub
(Atualização: ambos os eventos programados foram atualizados para funcionar mais cedo e em conjunto, devido a visita do presidente eleito Lula no Brazil Hub e, em seguida no estande dos governadores da Amazônia. O lançamento da cartilha “Transição Energética Justa do Petróleo” elaborada em conjunto entre a Arayara.org, Sindipetro-RJ, Luppa-RJ e IEA-USP, será apresentada e em seguida haverá o lançamento oficial da Coalizão Energia Limpa.)
EVENTO:
“Transição Energética Justa no Brasil – Caminhos para o setor de petróleo e gás”
Data: 16/11
Horário: 9h30 às 10h30 (Egito) / 4h30 às 5h30 (horário de Brasília)
Participantes:
Jean Paul Prattes (Senador)
Pedro Campos (Deputado Federal eleito)
Rodrigo Yamim Esteves (Diretor do Sindipetro-RJ)
Gerson Luiz Castellano (Diretor da Secretaria de Relações Internacionais da FUP)
Cloviomar Cararine Pereira (Técnico do DIEESE na subseção da FUP)
Luiz Ormay Jr (Coordenador de Litigância da ARAYARA.org)
Ricardo Baitelo (IEMA)
Cássio Carvalho (Inesc)
Amanda Ohara (Instituto Clima e Sociedade)