O Instituto Internacional ARAYARA está participando da 10ª edição da Semana da Energia, que ocorre entre os dias 30 de setembro e 3 de outubro em Santiago, no Chile. O evento é organizado pela Organização Latino-Americana de Energia (OLADE), em parceria com o governo chileno, e reúne representantes de 27 países da América Latina e Caribe, além de lideranças do setor público e privado, especialistas internacionais e organismos multilaterais.
Com foco na transição energética e no enfrentamento da emergência climática, a Semana da Energia é considerada um dos fóruns mais relevantes do continente para debater o futuro da energia limpa, a descarbonização, o hidrogênio verde, e a integração elétrica regional.
Representando a ARAYARA na missão “Transição Energética Justa e Sustentável Chile-Brasil 2025”, o gerente de Transição Energética, John Wurdig, e o analista técnico e climático Joubert Marques, têm como objetivo trazer experiências e aprendizados do Chile – país referência em políticas de descarbonização – para o Brasil, onde a realidade ainda é marcada por investimentos bilionários em fontes fósseis altamente poluentes, como o carvão mineral.

O analista técnico e climático, Joubert Marques, e o gerente de Transição Energética, John Wurdig, participam da 10ª edição da Semana da Energia, no Chile.
Contrastes entre Chile e Brasil
Durante o evento, John Wurdig conversou com o Ministro de Energia do Chile, Diego Pardow, sobre os desafios da transição energética nas usinas térmicas a carvão. Segundo Wurdig, o ministro demonstrou preocupação com os impactos sobre os territórios e a saúde pública, e reforçou que o país tem feito avanços concretos rumo à descarbonização. Pardow também destacou que não há novos projetos de usinas a carvão previstas no país.
Já o secretário-executivo da OLADE, Andrés Rebolledo, afirmou que os ministros de energia da região assinaram um compromisso em 2024 para barrar novos empreendimentos a carvão na América Latina.
Enquanto isso, no Brasil, o governo aprovou recentemente a minuta de contrato que estende o funcionamento do Complexo Termelétrico Jorge Lacerda até 2040, com custo estimado em R$ 1,8 bilhão, e publicou consulta pública para o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP 2026), que inclui usinas a carvão, como a UTE Candiota III — cujo licenciamento foi suspenso em agosto por decisão da Justiça Federal, após ação da própria ARAYARA e outras organizações.
Wurdig destaca que a Ação Civil Pública movida pela ARAYARA, que pede à Justiça Federal a suspensão da licença da UTE Candiota III, representa um marco dentro da campanha global pelo fim da exploração do carvão mineral no Brasil. A iniciativa tem como base estudos técnicos elaborados pelo Observatório do Carvão Mineral, projeto desenvolvido pela própria ARAYARA, e evidencia a necessidade urgente de acelerar uma transição energética justa, sustentável e inclusiva na região.
Ele ressalta ainda que essa transição deve considerar, de forma prioritária, a inclusão dos trabalhadores da mineração e da usina de Candiota no Plano Estadual de Transição Energética Justa, atualmente em elaboração pelo Governo do Rio Grande do Sul para a região carbonífera da Campanha e do Baixo Jacuí.
“Estamos financiando um modelo ultrapassado e sujo, enquanto outras nações avançam em energia limpa, justa e acessível. É preciso mudar esse cenário antes que o Brasil fique para trás — e à custa de sua população mais vulnerável”, destaca Wurdig.
O estudo “UTE Candiota 2050 – O Futuro Insustentável da Produção de Energia Elétrica a partir do Carvão Mineral Subsidiado”, publicado pela ARAYARA, aponta caminhos viáveis para substituição progressiva das térmicas a carvão por fontes renováveis e mais econômicas. O material está disponível em: https://monitordocarvao.org
América Latina avança
Segundo dados recentes da OLADE, a América Latina e o Caribe já alcançaram cerca de 70% de geração elétrica a partir de fontes renováveis — muito acima da média global. O Chile, por exemplo, ultrapassou os 60% de energia limpa em sua matriz elétrica e mantém a meta de neutralidade de carbono até 2050, mas já ousa atingir esta meta em 2030.
Durante a programação da Semana da Energia, estão sendo realizados mais de 60 painéis e sessões técnicas sobre temas como mobilidade elétrica, modernização de redes, mineração estratégica, bioenergia, emprego e equidade de gênero. A ARAYARA também tem promovido diálogos com organizações ambientais locais, com o objetivo de fortalecer alianças e ampliar o intercâmbio de soluções sustentáveis.
Sobre a ARAYARA
O Instituto Internacional ARAYARA é uma organização da sociedade civil com atuação global nas áreas de transição energética, justiça climática, combate a combustíveis fósseis e proteção dos biomas. Com presença ativa em negociações internacionais e campanhas ambientais, a ARAYARA desenvolve estudos técnicos, estratégias jurídicas e advocacy para acelerar a transição energética no Brasil e na América Latina.















