Uma reportagem recente revela fatos preocupantes sobre a expansão do gás fóssil no Brasil e sua ligação com o fracking — uma técnica altamente poluente e banida em diversas regiões do país.
No centro da polêmica, estão a construção de duas usinas termelétricas em Barcarena (PA) e o leilão de um bloco para exploração de gás em Mato Grosso.
Segundo levantamento do Instituto Arayara, a empresa norte-americana New Fortress Energy, responsável pelas usinas em Barcarena, importou 233 mil toneladas de gás natural líquido apenas em 2024.
A maior parte desse combustível teve como destino a Amazônia, vindo principalmente dos Estados Unidos e da Jamaica.
O problema? Grande parte desse gás é proveniente de fracking, ou fraturamento hidráulico — um método extremamente agressivo para o meio ambiente.
Empresas fornecedoras como Cheniere e Total Energies, que exportam o gás para o Brasil, reconhecem em seus relatórios o uso da técnica.
O fracking consiste em injetar milhões de litros de água com produtos químicos no subsolo para fraturar rochas e liberar o gás.
Essa prática está associada à contaminação de aquíferos, risco de terremotos, consumo excessivo de água, degradação de ecossistemas e emissões elevadas de metano, um dos gases mais potentes do efeito estufa.
Barcarena: Amazônia ameaçada
As termelétricas que estão sendo construídas em Barcarena, com financiamento de R$ 5,6 bilhões do BNDES, receberão gás importado em um terminal no Porto de Vila do Conde.
O destino do combustível inclui, por exemplo, a refinaria Alunorte, da empresa norueguesa Hydro, que já o utiliza para substituir óleo combustível.
Embora haja promessas de redução de CO₂, não se pode ignorar que o gás natural continua sendo um combustível fóssil.
E, neste caso, a origem do gás é ainda mais polêmica: ele vem de uma técnica proibida em estados como Paraná e Santa Catarina por seus riscos ambientais.
Fracking no Brasil? Mato Grosso é alvo
Outro ponto de alerta é o leilão de blocos para exploração de gás natural na bacia Parecis, em Mato Grosso — estado que é o maior produtor de soja do Brasil.
Um dos blocos foi arrematado por uma empresa ligada ao agronegócio, e segundo o próprio Ministério de Minas e Energia, o gás existente na região só é viável por meio do fracking.
Apesar de a Assembleia Legislativa do estado ter aprovado uma lei para proibir essa técnica, o projeto foi vetado pelo governador Mauro Mendes (União Brasil), sob a justificativa de que o tema é de competência da União.
O Instituto Arayara aponta que esses blocos estão sobre aquíferos, terras indígenas, assentamentos rurais e áreas de produção agrícola, colocando em risco a segurança hídrica e alimentar do país.
E a COP30?
A cidade de Belém (PA), próxima a Barcarena, será sede da COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, em novembro deste ano.
Uma das metas acordadas na COP28 foi a transição energética e o fim gradual dos combustíveis fósseis.
Diante disso, é no mínimo contraditório o Brasil estimular a importação e a exploração nacional de gás natural por meio do fracking — especialmente na Amazônia e em regiões de extrema importância para a produção de alimentos e preservação de aquíferos.
A posição da FUNVERDE
A FUNVERDE alerta que não há nada de “sustentável” em expandir o uso de combustíveis fósseis, sobretudo com técnicas danosas como o fracking.
É fundamental que a sociedade civil, os parlamentares, as comunidades tradicionais e o setor científico se unam para impedir retrocessos ambientais travestidos de desenvolvimento econômico.
Precisamos de transparência, responsabilidade ambiental e compromisso real com as metas climáticas.
O futuro da Amazônia — e do planeta — não pode ser sacrificado por interesses imediatistas.
Fonte: Funverde