+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Empate com gosto amargo de petróleo

Leilão da ANP termina com venda de 34 dos 172 blocos de petróleo – 19 deles na Foz do Amazonas

Primeiro a vitória: dos 172 blocos de petróleo levados a leilão, ontem, pela ANP, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis, apenas 34 foram arrematados – menos de 20%. Agora a derrota: dos 34 blocos arrematados, mais de metade – 19, para ser preciso – estão localizados na região da Foz do Amazonas, considerada uma das mais sensíveis do ponto de vista ecológico e social. Ou seja: ficou uma espécie de empate com sabor amargo de petróleo.

Essa foi a primeira vez, desde 2003, que a União incluiu blocos da foz do rio Amazonas em um leilão – cuja área concedida para exploração saltou de 5,7 mil km² para 21,9 mil km², provocando protestos da sociedade civil durante o leilão, em frente ao hotel na zona oeste do Rio de Janeiro, onde o evento acontecia. No fim das contas, o governo amealhou R$ 989,26 milhões em bônus de assinatura. A previsão de investimento mínimo ficou em R$ 1,45 bilhão. A eventual exploração ainda depende de licenças do Ibama.

Um bloco na Bacia do Parecis, na Amazônia, foi comprado por irrisórios R$ 55 mil. O bloco fica a 11km da Terra Indígena Santana

Das 31 empresas de petróleo habilitadas para o certame, nove apresentaram propostas e levaram os blocos: Chevron, Karoon, ExxonMobil, Shell, Dillianz, Equinor, CNPC, Petrogal e Petrobras, que liderou os lances, levando um terço do total (vários deles em consórcio com a americana ExxonMobil). Um dos blocos, na Bacia do Parecis, foi comprado por irrisórios R$ 55 mil. O bloco fica em terra, na parte sudeste da floresta amazônica. Está a 11 quilômetros da Terra Indígena Santana.

Lideranças indígenas e entidades ambientais como o Instituto Internacional Arayara realizaram uma manifestação pacífica para denunciar os impactos potenciais da exploração em áreas de alta sensibilidade ecológica, como manguezais e zonas pesqueiras da costa amazônica. Segundo a diretora do Arayara, Nicole Oliveira, a ANP ignorou repetidas tentativas de diálogo sobre os riscos envolvidos com o leilão.

“Lamentamos a postura da ANP e reforçamos que foram realizadas diversas tentativas de diálogo, por meio de ofícios, contatos telefônicos e abordagens no local do leilão – todas ignoradas, evidenciando a falta de transparência e disposição para ouvir as comunidades diretamente atingidas”, pontuou Oliveira.

Além das manifestações locais, a Arayara também protocolou denúncias na ONU e na Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) em nome do povo Manoki, que alega não ter sido consultado sobre a inclusão de blocos de petróleo sobre sua terra. Os blocos PRC-T-100 e PRC-T-101, ofertados na bacia do Parecis, se sobrepõem à área de influência direta da Terra Indígena Manoki, em processo de regularização no Mato Grosso.

A pressão social não foi suficiente para barrar a realização do leilão, mas pôde celebrar alguns avanços. Grande parte dos blocos sobrepostos às Áreas de Influência Direta (AID) de Terras Indígenas não foi arrematado, e também não houve arremates na Bacia Potiguar – que inclui áreas sensíveis como Fernando de Noronha. Dos 118 blocos considerados litigiosos, apenas 23 foram efetivamente vendidos, o que representa um índice de sucesso de 80,5% para os movimentos socioambientais.

Para Suely Araújo, coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, todo o processo demonstra na prática negacionismo climático. “O Brasil não precisa abrir novas fronteiras de exploração de petróleo e muito menos em áreas ambientalmente sensíveis como a bacia sedimentar da Foz do Amazonas e outras áreas da Margem Equatorial. Temos de explorar as áreas já abertas de forma estratégica, olhando nossa demanda, e ter um plano de descarbonização transparente. Temos também de debater claramente a redução dos gigantescos subsídios que o Brasil concede aos fósseis.”

Juliano Bueno, diretor técnico do Arayara, aponta ainda o paradoxo entre o discurso do governo Lula na agenda climática internacional e a aposta na expansão da exploração petrolífera. “Infelizmente, teremos uma COP30 do petróleo”, afirma Bueno. (NÍVIA CERQUEIRA)

 

Fonte: Observatório do Clima/ Central da COP

Imagem: reprodução/ Central da COP

 

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: La Cop 30 tra delusioni e iniziative dal basso

Si è conclusa la Cop 30 (Conferenza Onu sul Clima) svoltasi a Belém, una delle città simbolo dell’Amazzonia, che avrebbe dovuto dare sistematicità ai temi di mitigazione, adattamento e investimenti ma che, ancora una volta, per l’influenza dei lobbisti (https://volerelaluna.it/ambiente/2025/11/21/cop-30-la-carica-de-lobbisti-delle-multinazionali-del-petrolio/) e dei paesi produttori di petrolio, arabi in testa, ha dato frutti deludenti, malgrado la forte spinta del Presidente Lula che, da metà Conferenza

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Após COP30, sanção da MP do carvão provoca críticas e expõe contradições na agenda climática brasileira

ARAYARA repudia manutenção de subsídios bilionários a térmicas a carvão até 2040 e alerta para impacto climático, econômico e regulatório A sanção integral da Medida Provisória 1.304, convertida na Lei nº 15.269/2025, reacendeu o debate sobre coerência climática e políticas públicas para o setor elétrico no Brasil. Publicada em 24 de novembro, no primeiro dia útil após o encerramento da COP30,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Governo veta ressarcimento a eólica e solar para não afetar tarifa, mas mantém incentivos ao carvão

Para setor, vetos não resolveram questões importantes incoerentes com o cenário atual de transição energética O governo federal vetou, pelo menos, 10 trechos da Medida Provisória nº 1304, de 11 de julho de 2025, que tem o objetivo de modernizar o marco regulatório do setor elétrico. Entre os pontos derrubados estão o dispositivo que previa ressarcimento, via encargos na conta

Leia Mais »