O projeto transfronteiriço Até a Última Gota investigou e mapeou, desde julho de 2024, os dados disponíveis sobre a exploração de petróleo e gás em toda a Amazônia, com foco especial na parcela do bioma que abrange Brasil, Colômbia, Equador, Guiana e Peru.
Para compreender o papel da região em relação às reservas de óleo no planeta, a análise também incorporou dados globais sobre descobertas recentes de petróleo e gás. Foi assim que identificamos que as reservas encontradas na Amazônia representam quase um quinto de todos os achados recentes — entre 2022 e 2024 — no mundo.
Também foi fundamental entender os impactos da atividade em terras indígenas e unidades de conservação, além de observar problemas ambientais como o desmatamento, as infrações e os registros de gas flaring — a queima de gás natural excedente da extração de petróleo.
Na maioria dos casos, reunimos dados até 2024, com ênfase nos últimos anos. Em algumas bases específicas, como de gas flaring e das reservas globais, a série vai até 2023. Os principais resultados incluem a identificação de áreas de maior sensibilidade ambiental e a sobreposição entre territórios indígenas e unidades de conservação com blocos de petróleo em diferentes fases, em terra (onshore) ou no mar (offshore):
- Estudo: áreas delimitadas para petróleo e gás natural que ainda estão em análise. Nessa fase, são feitos estudos geológicos, sísmicos e ambientais para avaliar o potencial das reservas antes de uma possível licitação ou exploração.
- Oferta: áreas delimitadas para empresas interessadas em obter concessões, com as quais adquirem o direito de realizar estudos para explorar o potencial de recursos.
- Exploração: é a etapa inicial após a concessão de um bloco de petróleo a uma empresa ou consórcio. Nessa fase, são realizados estudos para identificar reservas viáveis para extração, como levantamento sísmico e perfuração de poços exploratórios. Diferente da fase de produção, ainda não há extração contínua de petróleo ou gás para comercialização.
- Produção/extração: é o processo de retirada do óleo do subsolo para uso comercial.
Cada fase apresenta impactos específicos, desde a prospecção sísmica até os riscos de derramamentos e emissões de gases durante a produção — especialmente em regiões sensíveis.
Veja, abaixo, detalhes sobre as bases de dados utilizadas na nossa série especial.
1. Blocos de exploração de petróleo e gás
A principal base de dados do projeto Até a Última Gota é composta por informações georreferenciadas de blocos de exploração de petróleo e gás na Amazônia em suas diferentes fases, desde etapas de estudo até a de produção.
Os dados foram fornecidos pelo Instituto Internacional Arayara, mantenedor do Monitor Amazônia Livre de Petróleo, em novembro de 2024, que compila diferentes dados de exploração em todos os países da Amazônia, limpa, organiza e divide os blocos em três fases exploratórias: Exploração ou produção; estudo ou área reservada; e oferta ou solicitação. Os dados abrangem toda a Pan-Amazônia e têm informações compiladas pela Arayara até julho de 2024.

Algumas alterações foram feitas pela nossa equipe para refletir informações mais atuais obtidas de outras fontes, o que pode levar a pequenas diferenças em relação aos dados originais:
1.1. Mudança de operadores na Guiana e Suriname
No Suriname, o bloco 59 passou a ser operado 100% pela Hess, após saída da ExxonMobil em 2024. O bloco Pomeroon, na Guiana, foi adquirido pela CGX em 2004, mas em 2013 a empresa perdeu a concessão, que voltou para a administração do governo. Esses dois blocos tiveram as informações de operadores alteradas na base trabalhada pelo projeto para acomodar essas mudanças.
1.2. Alteração nos polígonos de blocos no Brasil
Em fevereiro de 2025, os dados da bacia de Parecis, no Brasil, foram atualizados para contemplar mudanças feitas pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nos limites de 15 blocos localizados na região.
Os seguintes blocos tiveram seus limites modificados, de forma a acomodar um buffer de 10 km ao redor de terras indígenas: PRC-T-54, PRC-T-100, PRC-T-101, PRC-T-103, PRC-T-104, PRC-T-105, PRC-T-117, PRC-T-118, PRC-T-120, PRC-T-121, PRC-T-122, PRC-T-133, PRC-T-134, PRC-T-135 e PRC-T-147.

Blocos alterados na bacia do Parecis: áreas cinzas representam os polígonos originais e, as vermelhas, a configuração atual. Áreas verdes são terras indígenas; azuis representam unidades de conservação.
1.3. Operadores de petróleo
Além das empresas operadoras de petróleo na região da Amazônia, que constam na base original da Arayara, também fizemoso trabalho de identificação das suas matrizes e respectivos países-sede.
Empresas operadoras de petróleo na Amazônia
Eneva S.A. | Brasil | Eneva | Brasil | |
---|---|---|---|---|
Petróleo Brasileiro S.A. | Brasil | Petrobrás | Brasil | |
Shell Brasil Petróleo Ltda. | Brasil | Shell | Brasil | Reino Unido |
BP Energy do Brasil Ltda. | Brasil | BP | Brasil | Reio Unido |
Rosneft Brasil E&P Ltda. | Brasil | Rosneft | Brasil | Rússia |
Enauta Energia S.A. | Brasil | Enauta Energia S.A. | Brasil | Brasil |
Petro Rio Coral Exploração Petrolífera Ltda. | Brasil | Petro Rio Coral Exploração Petrolífera Ltda. | Brasil | Brasil |
3R Petroleum Óleo e Gás S.A. | Brasil | 3R Petroleum | Brasil | Brasil |
Vipetro Petróleo S.A. | Brasil | Vipetro Petróleo | Brasil | Brasil |
Atem Participações S.A. | Brasil | Atem Participações S.A. | Brasil | Brasil |
GRAN TIERRA ENERGY COLOMBIA GMBH | Colômbia | Gran Tierra Energy | Colômbia | Canadá |
MOMPOS OIL COMPANY INC. | Colômbia | Frontera Energy | Canadá | |
AMERISUR EXPLORACION COLOMBIA LIMITED | Colômbia | Amerisur Exploracion | Colômbia | |
ECOPETROL S.A. | Colômbia | Ecopetrol | Colômbia | |
GRAN TIERRA COLOMBIA INC | Colômbia | Gran Tierra Energy | Canadá | |
MONTECZ S.A.S | Colômbia | Montecz | Colômbia | |
HUPECOL OPERATING CO LLC | Colômbia | Hupecol | Colômbia | |
FRONTERA ENERGY COLOMBIA CORP. | Colômbia | Frontera Energy | Colômbia | |
PETRO CARIBBEAN RESOURCES LTD | Colômbia | Petro Caribbean | Colômbia | |
CANACOL ENERGY COLOMBIA S.A.S. | Colômbia | Canacol Energy | Colômbia |
2. Dados sobre as reservas de petróleo e gás
Outra fonte de dados que foi utilizada para entender o que a Amazônia representa em termos de novas reservas de petróleo e gás é a Global Oil and Gas Extraction Tracker (GOGET), mantida pelo Global Energy Monitor, organização sem fins lucrativos que produz relatórios anuais com o cenário internacional da extração de petróleo e gás.
Foram consideradas apenas as reservas descobertas entre 2022 e 2024, e o tratamento de inconsistências dos dados foi realizado pela equipe do GOGET.
A base de dados prioriza dados governamentais em detrimento de comerciais e jornalísticos. O cálculo abrange apenas reservas convencionais e desconhecidas de petróleo e gás, excluindo ativos não convencionais, como petróleo e gás de xisto, que são mais difíceis de extrair e processar, exigindo investimentos maiores e tecnologias especializadas.
Além disso, a base considera apenas dados públicos, o que significa que campos não cobertos por informações públicas podem não estar incluídos. Os dados ainda podem mudar à medida que novas descobertas sejam estimadas ou mais informações se tornem públicas.
A partir do cálculo dos volumes de novas reservas descobertas, a InfoAmazonia cruzou a localização com os limites da Amazônia definidos pela Rede Amazônica de Informação Socioambiental Georreferenciada (RAISG) para identificar o volume encontrado por região.
Para o cálculo do volume total de reservas, foram consideradas dois cenários de recuperação da quantidade existente de petróleo e gás, o volume que de fato pode ser extraído e comercializado:
- Fator de recuperação baixo (15% para petróleo e 65% para gás natural)
- Fator de recuperação alto (30% para petróleo e 80% para gás natural)
A depender do fator utilizado, o montante de petróleo e gás descoberto na Amazônia nos últimos 3 anos pode representar de 16% a 18% do total mundial. Para simplificar o texto e a visualização dos dados, quando o volume de reservas é mencionado, utilizou-se a média dos volumes calculados a partir desses dois fatores.
3. Territórios indígenas, áreas naturais protegidas e limites da Amazônia
Os dados geolocalizados de territórios indígenas, áreas naturais protegidas e limites da Amazônia utilizados são da RAISG.
Esses limites foram a base para a análise espacial, que envolve a sobreposição de camadas de dados para identificar interseções com blocos de petróleo e gás. Foram realizadas análises de proximidade e interseção geoespacial para avaliar a incidência de blocos de exploração dentro dessas áreas e em seus arredores. Para considerar possíveis impactos além dos limites oficiais, foi aplicado um buffer (zona de influência) de 10 km ao redor dos territórios indígenas e áreas protegidas.
O limite da Amazônia segundo a RAISG considera mais do que apenas o bioma amazônico, incluindo também regiões administrativas (no Equador e Brasil) e bacias hidrográficas (além da grande bacia do rio Amazonas, estão incluídas as bacias do Araguaia-Tocantins e do Marajó).
4. Dados sobre impacto ambiental
4.1. Desmatamento
As informações de desmatamento analisadas (especialmente no bloco 10, no Equador) são do Global Land Analysis and Discovery, da Universidade de Maryland, que monitora perda de cobertura florestal a partir de imagens de satélite.
Para esta análise, foram utilizados dados raster de cobertura florestal ao longo do tempo para identificar a perda de vegetação dentro do bloco 10. A detecção de desmatamento foi feita por meio da análise temporal dessas imagens, com os dados disponíveis de 2000 a 2023. As cicatrizes de desmatamento foram comparadas visualmente com a rede de vias que levam a campos de produção dentro do bloco, o que permitiu correlacionar a expansão da infraestrutura petrolífera com a perda de cobertura florestal.
4.2. Gas Flaring
Os dados de gas flaring de cada país foram extraídos da plataforma SkyTruth, que monitora a queima de gás excedente da atividade petrolífera através de imagens de satélite. Os dados foram baixados em janeiro de 2025, com informações disponíveis de 2017 até 2023).
No Brasil, Equador e Peru, as coordenadas geográficas dos pontos de ocorrência de gas flaring foram comparadas com a localização de refinarias para excluir possíveis casos em que a queima de gás é proveniente dessas instalações, que podem ser administradas por outras empresas que não os operadores dos blocos de exploração.
Os dados de refinarias de cada país foram extraídos das seguintes fontes:
- Brasil – Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP)
- Equador – Infraestructura Ecuatoriana de Datos Geoespaciales – IEDG
- Peru – Mapa Energético Minero | Organismo Supervisor de la Inversión en Energía y Minería
4.3. Densidade populacional
Os pontos de gas flaring foram combinados com os dados de densidade populacional para entender quantas pessoas são afetadas em um raio de 5 km da queima.
Para essa análise, utilizamos dados raster de densidade populacional da Kontur, disponibilizados pelo Humanitarian Data Exchange (HDX), com resolução de 400 metros. Os pontos georreferenciados de gas flaring foram sobrepostos a essa grade populacional, e um buffer de 5 km foi aplicado ao redor de cada ponto de queima. Em seguida, realizamos uma análise espacial para calcular o número de pessoas dentro dessas áreas de influência, permitindo uma estimativa mais precisa do impacto da poluição gerada pela queima de gás.
4.4. Cartas SAO (Brasil)
As Cartas de Sensibilidade Ambiental a Derramamento de Óleo (SAO) incluem três tipos de informações principais:
- Sensibilidade dos ecossistemas costeiros e marinhos;
- Sensibilidade dos recursos biológicos e
- Sensibilidade para usos humanos dos espaços e recursos (atividades econômicas).
No projeto Até a Última Gota, analisamos áreas de alta sensibilidade dos ecossistemas em regiões próximas a blocos exploratórios de petróleo na Bacia da Foz do Amazonas.
Nossa análise, realizada por meio de Sistemas de Informação Geográfica (SIG), cruzou essas áreas de alta sensibilidade mapeadas pelas Cartas SAO da bacia com dados geoespaciais de territórios protegidos, incluindo terras indígenas, quilombolas e unidades de conservação. Com isso, foi possível quantificar quantas dessas áreas protegidas se encontram dentro das zonas de influência direta de um possível vazamento de petróleo na região, fornecendo uma estimativa do impacto potencial sobre esses territórios.
5. Incidentes e infrações ambientais
Para compreender a dimensão dos impactos ambientais associados à extração de petróleo e gás, que vão desde pequenos incidentes operacionais até infrações graves com danos ao meio ambiente e às populações afetadas, analisamos registros oficiais de incidentes e infrações ambientais relacionadas à indústria petrolífera no Brasil, Peru e Colômbia.
A metodologia adotada envolveu a coleta e análise de bases de dados públicas e solicitadas a órgãos reguladores, considerando diferentes critérios, como a classificação dos incidentes, as áreas afetadas e as empresas envolvidas. Além disso, realizamos cruzamentos espaciais dessas ocorrências com blocos de exploração e áreas sensíveis, permitindo uma visão mais precisa sobre a recorrência e distribuição dos impactos ambientais nos três países analisados.
5.1. Brasil
Foram utilizados os dados de Incidentes de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural registrados na ANP entre 2013 e 2022.
Além dos anos de ocorrência, foram analisados os tipos de incidentes (dano ao meio ambiente, dano à saúde humana, entre outros) e as localizações onde ocorreram, cruzando essas informações com os blocos de exploração e as respectivas empresas responsáveis.
5.2. Peru e Colômbia
Os dados de infrações ambientais no Peru e na Colômbia foram solicitados aos órgãos correspondentes de cada país pelos veículos locais membros da aliança.
No caso do Peru, foram obtidas informações mais detalhadas, como valores de multas e nomes dos lotes onde ocorreram. Foi feito o tratamento dos dados para padronizar os nomes e cruzar com a base de dados geral do Instituto Arayara.
Na Colômbia, o Ministério da Defesa disponibilizou as datas e os locais de ocorrência de crimes ambientais, a partir dos quais comparamos com a localização de blocos de exploração de petróleo e gás no país.
Dados gerais da Amazônia
- Blocos de exploração de petróleo e gás – Monitor Amazônia Livre de Petróleo, Instituto Arayara
- Volume de reservas de petróleo descobertas – Global Oil and Gas Extraction Tracker
- Territórios indígenas – RAISG
- Áreas naturais protegidas – RAISG
- Limites da Amazônia na América do Sul – RAISG
- Mudança de cobertura florestal – Global Land Analysis and Discovery (Glad)
- Gas flaring – SkyTruth
- Densidade populacional – Humanitarian Data Exchange / Kontur
Dados específicos
Brasil
- Dados de Incidentes de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural – ANP
- 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão – ANP (blocos em oferta com limites alterados)
- Cartas de Sensibilidade ao Óleo (SAO) – Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima
Equador
- Estradas (Bloco 10) – Infraestructura Ecuatoriana de Datos Geoespaciales – IEDG.