+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Workshop no Amazon Climate Hub debate impactos do fracking e pressiona setor de petróleo e gás por responsabilidade ambiental

Oito países entre Europa e América Latina já aboliram a técnica de extração por fracking. Na Colômbia, ambientalista e sociedade civil  tentam extinguir a prática, mas País continua vulnerável e sob pressão do governo que defende o fracking como ferramenta de soberania energética. 

O Arayara Amazon Climate Hub sediou, na manhã desta sexta-feira (14/11), o workshop “Making Polluters Pay: How to use oil and gas cleanup obligations as a tool to accelerate the energy transition” (“Fazendo os Poluidores Pagarem”), que discutiu como as obrigações de descomissionamento da indústria de petróleo e gás podem acelerar a transição energética. O encontro reuniu especialistas, lideranças comunitárias e representantes de organizações latino-americanas que enfrentam os efeitos do fracking em seus territórios.

Representantes da Aliança Colômbia Livre de Fracking (ACLF) apresentaram a mobilização que, desde 2018, articula entidades ambientalistas, setores acadêmicos, sindicatos e movimentos sociais em defesa do território. A estratégia central da aliança tem sido influenciar decisões legislativas para aprovar leis que proíbam a técnica no país.

A ACLF destacou que oito países já baniram o fracking — Alemanha, Bélgica, Bulgária, Escócia, Espanha, França, Irlanda e Uruguai — após comprovarem seus graves impactos. Entre eles: uso intensivo e contaminação de água, danos ao ar e ao solo, abalos sísmicos, radioatividade e riscos à saúde, além de contribuir para a crise climática.

A colombiana Amarilys Llanos, da Aliança Colombiana contra o Fracking, expressou preocupação com o avanço da técnica em seu país. Ela denunciou que o governo tem defendido o fracking como ferramenta de soberania energética, apesar de estudos que apontam impactos graves sobre a água, a saúde pública e as emissões de metano. “Não podemos aceitar projetos cujo custo para os direitos humanos é tão alto. Não queremos repetir o que aconteceu na Argentina. Queremos uma Colômbia livre de fracking”, afirmou.

Na região colombiana de Madalena, a situação é ainda mais delicada. A ativista Youvelis Morales relatou que o território, rico em recursos hídricos e biodiversidade, enfrenta a expansão do fracking em meio a um contexto de conflito armado.
“O fracking impacta o ambiente, a saúde e as relações sociais. Muitas pessoas não conseguem lutar por medo de represálias”, explicou.

Ela alertou que o discurso de “transição energética” tem sido distorcido para justificar a ampliação da exploração fóssil, aprofundando vulnerabilidades.

Vaca Muerta: contaminação, conflitos e resistência dos povos Mapuche

O documentarista Maxi Goldschmidt, diretor de La Vida Fracturada, relatou mais de 17 anos de trabalho com comunidades Mapuche na Argentina. Segundo ele, a expansão do fracking em Vaca Muerta resultou em um cenário “de enorme contaminação”, acumulada ao longo dos anos.
“Os impactos são vastos e seguem crescendo. Falta um plano real para conter essa técnica destrutiva, enquanto novos projetos seguem avançando”, disse.

O workshop exibiu o documentário La Vida Fracturada, que retrata os efeitos socioambientais do fracking e a resistência das comunidades Mapuche em Neuquén. O fotógrafo Pablo Ernesto Piovano reforçou a importância de espaços como a COP para articular lutas locais em uma agenda global:
“Os desafios são internacionais. Precisamos desses espaços para fortalecer nossa resistência coletiva.”

Uma luta global pela vida

O diretor técnico da ARAYARA e da COESUS, Juliano Bueno, reforçou o caráter global da mobilização contra o fracking.
“É uma só luta, em defesa da vida e da Mãe Terra fraturada. O progresso prometido pelas indústrias fósseis chega mascarado — entrega devastação e rouba nossos bens mais preciosos”, afirmou.

Bueno destacou que a trajetória brasileira mostra que a resistência pode gerar vitórias concretas. Segundo ele, a mobilização de 13 anos no país demonstra que é possível impedir o avanço da técnica. Ele encerrou com um poema de sua autoria, em homenagem às comunidades que seguem resistindo.

Impactos sobre a saúde agravam urgência do debate

A pesquisadora Patrícia Rodriguez, da Earthworks, chamou atenção para os efeitos do fracking sobre a saúde das populações expostas.
“Em nossas comunidades, começamos a ver casos de leucemia infantil — algo que antes não existia. Esse não é um debate apenas técnico. A participação das comunidades é essencial”, afirmou.
Ela destacou que iniciativas de educação e formação têm sido desenvolvidas para apoiar uma transição justa e fortalecer a defesa dos direitos das populações afetadas.

COESUS: uma década de mobilização e conquistas no Brasil

A ARAYARA, por meio da Coalizão Não Fracking Brasil (COESUS), lidera desde 2014 a campanha nacional contra o fraturamento hidráulico. O movimento já realizou mais de 1.800 atividades públicas — entre palestras, oficinas, seminários e audiências — em 17 estados e no Distrito Federal, mobilizando milhões de pessoas.

Essa atuação contribuiu para uma moratória técnica de mais de dez anos e para diversas ações judiciais do Ministério Público Federal e da própria ARAYARA. Atualmente, 524 municípios brasileiros possuem leis que restringem o fracking, e outros 100 estão em processo de atualização de suas legislações para também proibir a técnica.

A iniciativa busca proteger a saúde pública, o meio ambiente e setores essenciais como agricultura e pecuária — todos vulneráveis aos impactos do fraturamento hidráulico.

O workshop reforçou que, em toda a América Latina, a resistência ao fracking cresce como resposta aos danos ambientais, sociais e de saúde pública, e como estratégia central para uma transição energética verdadeiramente justa.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Lobby compromete negociações sobre fim dos combustíveis fósseis

Posições nacionais contrárias ao mapa do caminho para o fim dos combustíveis fósseis têm forte atuação de lobistas, avaliam especialistas. Uma questão se arrasta desde conferências do clima anteriores à COP30: a presença massiva de lobistas da indústria dos combustíveis fósseis. Belém recebeu mais de 1.600 deles, mostrou uma uma análise da coalizão Kick Big Polluters Out (KBPO), um número maior que

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ‘Chance de crescer’ e ‘atrapalhava quem produz’: o que pensa a bancada do agro sobre o novo licenciamento ambiental

Medida Provisória que restabelece dispositivos vetados por Lula e amplia flexibilizações foi aprovada na Câmara na terça Os deputados Zé Vitor e Capitão Alberto Neto defendem o texto  Câmara Aprova MP que Flexibiliza Licenciamento Ambiental; Críticos Alertam para Riscos A Câmara aprovou a Medida Provisória que flexibiliza o licenciamento ambiental, restaurando trechos vetados por Lula. O Senado deve votar em

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ‘O canto da sereia do lobby dos fósseis e os interesses políticos superaram a razão e a ciência climática’

Entrevista com Nicole Figueiredo Oliveira e Juliano Bueno | BRASIL A CIVICUS discute a cúpula climática COP30 com Juliano Bueno e Nicole Figueiredo Oliveira, diretor técnico e diretora executiva do Instituto Internacional Arayara, uma organização brasileira que trabalha pela distribuição justa e sustentável de recursos. Entre 10 e 22 de novembro, Belém sediou a COP30 no coração da Amazônia brasileira,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Licença Ambiental Especial passa no Senado e segue para sanção

O plenário do Senado Federal aprovou, em votação simbólica, a Medida Provisória 1.308/2025, que cria a licença ambiental especial (LAE) para empreendimentos considerados estratégicos pelos governos federal e estadual. A matéria segue para a sanção da Presidência da República. Em agosto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva vetou 63 trechos do Projeto de Lei nº 2.159/2021, que institui a Lei Geral

Leia Mais »