por Nicole Oliveira | 14, jan, 2020 | Mudanças Climáticas, Mundo |
As temperaturas nos oceanos do nosso planeta atingiram um novo recorde, mostrando sinais de um aquecimento “irrefutável e acelerador”. Os oceanos são a forma mais clara de medir a atual emergência climática, dado que absorvem mais de 90% do calor retido pelos gases de efeito estufa emitidos pela queima de combustíveis fósseis, destruição de florestas e outras atividades humanas.
As conclusões do estudo conduzido por 14 cientistas, publicado na revista “Advances In Atmospheric Sciences” e citado, esta terça-feira, pelo jornal britânico The Guardian, informam que os últimos dez anos foram os dez mais quentes para os oceanos registados até agora e revelam ainda que o aquecimento ocorreu principalmente entre a superfície e os 2 mil metros de profundidade.
Oceanos mais quentes levam a tempestades mais severas e a uma interrupção do ciclo da água, o que significa mais inundações, secas e incêndios florestais, além de um aumento inexorável do nível do mar. Temperaturas mais altas prejudicam, também, a vida nos mares, com o número de ondas de calor marinhas a aumentarem acentuadamente.
Para demostrar a brutalidade das conclusões, o líder deste estudo comparou a subida da temperatura no mar com a energia libertada pela bomba atómica de Hiroxima. Garante que a quantidade de calor que foi colocada nos oceanos nos últimos 25 anos é igual à explosão de 3,6 mil milhões bombas atómicas iguais às que explodiram na cidade japonesa em 1945.
“Os oceanos são quem dizem realmente a que velocidade a Terra está a aquecer”, disse o professor John Abraham, da Universidade de St Thomas, em Minnesota, EUA, e um dos membros da equipa por trás da nova análise. “Através dos oceanos, vemos uma taxa de aquecimento contínua, ininterrupta e acelerada do planeta Terra. Esta é uma notícia terrível”, lamentou.
“Descobrimos que 2019 não foi apenas o ano mais quente já registado, mas também demonstrou o maior aumento de um ano em toda a década, um lembrete preocupante de que o aquecimento causado pelo homem no nosso planeta continua inabalável”, argumentou Michael Mann, outro membro da investigação e professor na Universidade Estadual da Pensilvânia.
Ainda assim, os cientistas acreditam que a situação se pode reverter. Os investigadores garantem que a mudança é possível, mas que o oceano vai levar mais tempo a recuperar do que o ar ou a terra. Para isso as fontes de energia devem ser sustentáveis e diversificadas, e a forma como a usamos tem que ser mais inteligente.
Fonte: Jornal Economico
por Nicole Oliveira | 21, nov, 2019 | Mudanças Climáticas, Mundo, Notícias |
Calor na Europa, aumento dos gases do efeito estufa, produção de alimentos afetada e Grande Barreira de Corais em recuperação são alguns dos fatores apontados pelos cientistas.
A Terra vive uma “emergência climática”, expressão escolhida como a “Palavra do ano” nesta quarta-feira (20). Além de um esforço de milhares de cientistas em alertar que o planeta está em perigo, a Conferência do Clima em 2 de dezembro irá determinar ajustes nas metas para barrar o aquecimento do planeta.
Para ilustrar melhor a situação, o G1 traz 7 fatos que comprovam que já estamos numa fase mais aquecida do planeta Terra:
1. Calor na Europa
Pelo menos oito países quebraram suas temperaturas máximas histórica neste verão: Reino Unido (38,7ºC), Alemanha (41,7ºC), Bélgica (41,8ºC), França (45,9ºC), Luxemburgo (40,8ºC), Países Baixos (40,7ºC), Holanda (40,4ºC) e Escócia (31,6º). Portugal teve a temperatura mais alta registrada em 26 verões. Em Lisboa, foram 44ºC. Em Alvega, no distrito de Santarém, os termômetros chegaram a marcar 46,8ºC.
O aumento da temperatura é real. Os dados do gráfico acima apontam uma alta de 0,91°C a 0,96ºC na Terra entre 2009 e 2018, uma comparação entre o monitoramento da agência espacial americana (Nasa) e da Administração Oceânica e Atmosférica Nacional dos Estados Unidos (NOAA). Os valores são uma média. Por isso, eventos de frio isolados não podem ser usados como argumento para negar o aquecimento do planeta. Já eventos extremos e mais frequentes, sim, de acordo com os especialistas ouvidos pelo G1.
No caso do continente europeu, a Agência Europeia do Ambiente (EEA, em inglês) revela uma alta de 1,6ºC a 1,7ºC acima dos registros do período pré-industrial no mesmo período. A Europa experimentou ondas de calor em 2003, 2006, 2010, 2014, 2015, 2017, 2018 e neste ano.
“Podemos esperar impactos extremos crescentes no clima durante o verão e em níveis mais altos de aquecimento. Nossa pesquisa mostra que limitar a 1,5ºC, como o que foi decidido entre os países no Acordo de Paris, reduziria esses impactos. O que temos em mente, no entanto, é que no atual ritmo de emissões temos um mundo a caminho de 3ºC”, disse Carl-Friedrich, um dos autores de um estudo publicado neste ano, que mostra que os dias quentes serão cada vez mais frequentes e intensos.
2. Aumento dos gases efeito estufa
Um relatório da Sociedade Americana de Meteorologia em parceria com a Agência Climática do governo americano apontou que a emissão de gases causadores do efeito estufa na atmosfera atingiu um recorde histórico em 2018.
O estudo foi feito a partir do trabalho de 475 cientistas em 57 países, incluindo o Brasil. Derek Arndt é chefe de Monitoramento Global do Clima da Agência Climática Americana, e um dos autores. Ele explica que fenômenos registrados no Brasil, como chuvas intensas e alta do calor, estão ocorrendo no mundo todo.
Segundo o texto, o aquecimento da Terra ajuda a evaporar a água mais rápido e causa seca e chuva extremos. Os cientistas estão certos de que isso acontece porque a gente nunca lançou tantos gases na atmosfera.
3. Grande Barreira de Corais
O governo da Austrália precisou investir mais de 500 milhões no ano passado para restaurar e proteger a Grande Barreira de Corais, patrimônio da humanidade ameaçado pelo aquecimento global.
A barreira na costa australiana, com uma superfície de 348 mil quilômetros quadrados, constitui o maior conjunto de corais do mundo, e registrou graves episódios de branqueamento provocado pelo aumento da temperatura da água.
Os recifes também estão ameaçados pelas atividades industriais e agrícolas, assim como pela acanthaster púrpura, uma estrela-do-mar invasiva que devora o coral.
“É o maior investimento de uma fonte única destinada a proteger o recife, assegurar sua viabilidade e os 64 mil empregos que dependem da barreira”, disse o primeiro-ministro australiano, Malcolm Turnbull.
4. Produção de alimentos
Um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) publicado em agosto deste ano fez um alerta: a produção mundial de alimentos está ameaçada. A escolha do que nós comemos no nosso dia a dia é parte do problema. E também da solução.
Mais de cem cientistas de 57 países concluíram que estamos usando recursos essenciais, como terra e água, de forma exagerada.
O relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU afirma que as atividades humanas já ocupam mais de 70% de todo o solo livre de gelo do mundo e que um quarto dessa área já está degradada.
“Uma terra assim reduz a capacidade do solo de absorver carbono. Meio bilhão de pessoas já vivem em áreas que estão se tornando desertos”, afirma uma das autoras do relatório.
Os cientistas afirmam que a produção de carne é um dos métodos de produção que mais usam água e terra. A pecuária está aumentando o desmatamento, principal causa de emissões no Brasil, e o gás metano emitido pelo gado é poluente.
5. Maior evento em 2 mil anos
O aquecimento global registrado atualmente supera em velocidade e extensão qualquer evento climático registrado nos últimos 2 mil anos.
Em artigo publicado na revista “Nature”, cinco pesquisadores afirmam que nem mesmo episódios históricos como a “Pequena Era do Gelo” – resfriamento acentuado registrado entre os anos 1300-1850 – se comparam com o que está acontecendo no momento no mundo.
“Descobrimos que o período mais quente dos últimos dois milênios ocorreu durante o século 20 em mais de 98% do globo. Isso fornece fortes evidências de que o aquecimento global antropogênico não é apenas incomparável em termos de temperaturas absolutas, mas também sem precedentes na consistência espacial dentro do contexto dos últimos 2 mil anos”, escreveram no artigo.
Os pesquisadores observaram que, antes da era industrial moderna, a influência mais significativa no clima eram os vulcões. Eles não encontraram nenhuma indicação de que variações na radiação do Sol tenham impactado as temperaturas globais médias.
O período atual, dizem os autores da pesquisa, excede significativamente a variabilidade natural.
“Vimos a partir dos dados instrumentais e também de nossa reconstrução que, no passado recente, a taxa de aquecimento claramente excede as taxas de aquecimento natural – esse é outro ponto para observar a natureza extraordinária do aquecimento atual”, contou Raphael Neukom, da Universidade de Berna, na Suíça, um dos autores do estudo.
6. Geleira desaparece
Ela se chamava Okjökull, mas em 2014 foi declarada ‘morta’. Desde então, passou a ser conhecida apenas como Ok, a primeira geleira da Islândia a perder esse status, porque derreteu. O local onde ela ficava ganhou uma placa para relembrar o que em 1901 era uma massa compacta de gelo ocupando cerca de 38 km², mas, em 1º de agosto de 2019, tinha menos de 1 km².
Além de relembrar o passado, a placa contém ainda um alerta para o futuro e uma explicação às próximas gerações:
“Okjökull é a primeira geleira islandesa a perder seu status de geleira. ‘Nos próximos 200 anos todas as nossas geleiras devem seguir o mesmo caminho. Esse monumento atesta que nós sabemos o que está acontecendo e o que deve ser feito. Só vocês sabem se fizemos o que deveria ter sido feito”, diz a placa.
Abaixo, consta ainda a data de agosto de 2019 e o termo “415 ppm CO²”, uma referência a uma marca histórica de emissão de 415 partes por milhão de dióxido de carbono emitidas na atmosfera, que a humanidade atingiu pela primeira em maio deste ano.
7. Aquecimento dos oceanos
Pesquisadores chineses e americanos constataram que a temperatura dos oceanos em 2018 foi a mais quente já registrada nos últimos 60 anos. O estudo, com base nos dados mais recentes do Instituto de Física Atmosférica, na China, foi publicado na revista científica “Advances in Atmospheric Sciences”.
A conclusão está de acordo com a tendência de aquecimento dos oceanos registrada nos últimos cinco anos — que já eram os cinco mais quentes desde a década de 1950, dizem os cientistas. O aumento na temperatura oceânica acontece desde então e se acelerou a partir da década de 1990.
“A tendência de longo prazo de aquecimento do oceano é uma grande preocupação tanto para a comunidade científica quanto para o público em geral. As temperaturas mais altas causam a expansão térmica da água e um aumento do nível do mar — o que expõe a água doce costeira à intrusão de água salgada e torna comunidades mais suscetíveis ao aparecimento de tempestades”, dizem os pesquisadores no estudo.
O aquecimento visto nos oceanos em 2018 resultou em um aumento médio de 1,4 mm no nível do mar ao redor do globo em comparação à média de nível registrada em 2017. Os padrões associados ao nível do mar atual devem continuar no futuro, segundo a pesquisa.
O aumento de calor no oceano também eleva as temperaturas e a umidade do ar — o que, por sua vez, intensifica as tempestades e as chuvas fortes. Em 2018, foram registradas várias tempestades tropicais no mundo, como os furacões Florence e Michael e os tufões Jebi, Maria, Mangkhut e Trami.
Entre outras consequências listadas pelos cientistas como decorrentes do aquecimento dos oceanos, estão a diminuição no nível de oxigênio presente neles e o derretimento de geleiras. Há também efeitos indiretos, como a intensidade de secas, ondas de calor, e risco de incêndios.
Fonte: G1