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“Já que vamos ter que remontar boa parte da economia mundial, vamos remontar direito”

“Já que vamos ter que remontar boa parte da economia mundial, vamos remontar direito”

O mundo não será mais o mesmo após a pandemia do novo coronavírus. Isso é fato, mesmo havendo quem negue essa realidade – aqueles que acham que a Terra é plana, por exemplo. A questão, agora, é: qual mundo vamos reconstruir? Como moldaremos a economia? Como se comportará a sociedade? Como as mudanças climáticas serão tratadas?

Certo é que precisamos construir um mundo novo tendo como base a ciência e as pesquisas. Elas nos apontam o caminho, pois nos mostram o alto preço que pagamos pelos erros cometidos no passado. O alto valor de subsídios aos combustíveis fósseis no Brasil, por exemplo, deve urgentemente ser revisto. Mais de R$ 85 bilhões foram concedidos à indústria fóssil brasileira em subsídios no ano de 2018.

É tempo de recomeçarmos. E não se pode recomeçar sem levar em conta que vivemos uma emergência climática e que os combustíveis fósseis são os principais responsáveis pelas mudanças climáticas e sua aceleração nos últimos tempos. Por que não pensamos, então, em uma sociedade carbono neutro? Por que não planejamos economias e cidades que caminhem em direção ao carbono zero?

Esse debate passará, necessariamente, pelo Congresso Nacional. E já tem parlamentar atento ao assunto. O deputado federal Felipe Rigoni (PSB/ES) está otimista com a possibilidade de iniciativas para transição energética avançarem no mundo pós-covid-19. Ele acredita que, por força do mercado, que busca investimentos em projetos sustentáveis, esse otimismo é justificável.

Rigoni é autor de um projeto de lei que obriga empresas de capital abertos a publicarem estimativas de emissão de gases do efeito estufa (GEE).

Além disso, o parlamentar afirma que está “conduzindo um estudo para entender quanto há de fato de isenção de impostos para combustíveis fósseis, mas já sabemos que é muito. E eu gostaria de inverter essa lógica. Se existe um mercado no qual o Brasil pode ser pioneiro e líder mundial é o mercado de energia limpa”.

A população precisa participar desse debate. Afinal, o futuro das próximas gerações dependerá de como vamos nos posicionar a partir de agora. Vamos aprender com os erros do passado? Vamos insistir nos erros e seguir incentivando a indústria fóssil?

“Neutralidade climática até 2050 é uma ilusão”

A prosperidade material de um país ainda está intimamente relacionada a seu consumo de energia. E, como cerca de 80% do fornecimento global de energia ainda se baseia em combustíveis fósseis, um alto nível de prosperidade, medido pelo Produto Interno Bruto (PIB), tende a ser associado ao alto consumo de energia per capita.

E essa situação continuará assim, explicou Eric Heymann, analista do Deutsche Bank para indústria, política climática e tráfego, em entrevista à DW. Ele é autor do estudo Reiches Land – hoher CO2-Ausstoss (País rico – alta emissão de CO2), que analisou os países do G20, em especial os Estados Unidos.

Ele frisa que, na situação atual, a neutralidade climática, como almeja a União Europeia até 2050, só poderá ser alcançada se houver uma mudança maciça nos hábitos de produção e consumo: “E isso seria difícil de alcançar politicamente nas democracias. Como podemos ver neste momento, estamos apenas no início do debate sobre os custos da proteção climática, e ele já está sendo explorado por certas forças políticas.”

DW: Por que a prosperidade ainda está tão intimamente ligada às emissões de dióxido de carbono de um país?

Eric Heymann: Via de regra, prosperidade implica consumirmos relativamente muita energia. E, em nível global, cerca de 80% do consumo de energia ainda é baseado em combustíveis fósseis. Nesse sentido, existe uma conexão direta entre o nível de prosperidade e as emissões de CO2.

Quais países foram focados em seu estudo?

Nós analisamos os países do G20 como um todo para determinar essa conexão e, nesse grupo, nós nos concentramos em alguns países como os Estados Unidos, a nação com o nível de bem-estar mais alto. Lá também as emissões estão acima da média. É verdade que os EUA fizeram progressos nos últimos anos, por exemplo, através de jazidas de gás não convencionais, como o gás de xisto, e a frota de veículos no país se tornou mais eficiente ao longo dos anos.

Ainda assim, os EUA ainda são uma economia com alta emissão CO2: os carros nas ruas ainda consomem mais combustível do que na Europa, e há uma atitude diferente em relação às viagens aéreas, já que voar lá é muito mais parte do dia a dia do que em outros países. Dessa forma, a participação relativamente pequena da indústria transformadora, de pouco mais de 10% no Produto Interno Bruto (PIB) dos EUA, não é tão significativa nas emissões de CO2. Porém, isso é mais do que compensado devido ao alto consumo diário.

O senhor acaba de mencionar a participação da indústria que ainda é muito alta num país como Alemanha. O que isso significa para as emissões de CO2?

Talvez possamos fazer uma comparação direta com França ou Reino Unido. Na Alemanha, a participação da indústria transformadora no valor agregado bruto total ainda é superior a 21%. Na França e Reino Unido, ela é de apenas 10%, e essa é uma das razões por que temos emissões per capita significativamente mais altas na Alemanha do que no Reino Unido ou França. Mas essa é apenas uma razão.

Devido à alta participação da indústria na economia alemã, temos também um volume relativamente alto de tráfego de mercadorias. Ao contrário de França ou Reino Unido, temos uma estrutura econômica muito policêntrica: as indústrias não estão concentradas numa região, como Paris ou Londres, mas espalhadas por todo o país. Por causa da nossa própria fragmentação da indústria, temos um volume de tráfego muito grande. E – parece relativamente banal – uma necessidade de calefação maior do que nos países do sul da Europa.

Esses são fatores que implicam termos emissões de CO2 per capita elevadas. Além disso, o lignito, uma fonte de eletricidade com grande emissão de CO2, desempenha ainda um papel importante no setor elétrico alemão.

A Alemanha não é o único país com uma participação industrial elevada: isso também se aplica à China. Qual é a situação nesse país asiático?

A China registrou um forte crescimento das emissões per capita nos últimos anos. Isso se deve ao fato de o país ter se industrializado fortemente. Uma guinada importante foi a adesão da China à Organização Mundial do Comércio (OMC), no fim de 2001. Desde então, aumentou acentuadamente o consumo de energia, e portanto das emissões de CO2, mas também a integração do país na cadeia de valor global.

Na China o carvão ainda tem uma participação elevada no consumo primário de energia. As energias renováveis também cresceram fortemente na China nos últimos anos, mas o carvão ainda domina. E devido a suas elevadas exportações, a China, em certo sentido, também exporta CO2 para outros países onde seus produtos são consumidos. As emissões per capita chinesas estão aproximadamente entre as da Alemanha e do Reino Unido. O país alcançou as emissões per capita dos países industrializados ocidentais, portanto a previsão é relativamente clara: ele continuará crescendo e, com isso, o consumo de energia.

Por mais negativa que essa mensagem seja para o clima, a China terá provavelmente que continuar dependendo do carvão. Pois somente com a expansão das energias renováveis, que progride fortemente no país, não será possível satisfazer a demanda energética.

Até que ponto é realista esperar que países mais desenvolvidos, como Alemanha ou EUA, possam compensar as emissões adicionais de CO2 da China e Índia, decorrentes da prosperidade crescente?

No Acordo de Paris, a China prometeu que suas emissões de CO2 iam atingir o pico por volta de 2030. Parece que ela conseguirá, pois ainda há um potencial relativamente grande de eficiência energética com a substituição de centrais ineficientes por outras melhores, mais eficientes.

Nesse aspecto a China já está relativamente avançada e atingiu um nível em que se pode argumentar que as emissões não precisarão aumentar por muito mais tempo, enquanto muitos outros países – onde a população é, em média, mais pobre – ainda têm que recuperar seu atraso. E onde grande parte do fornecimento de energia ainda provém de combustíveis fósseis, isso resulta em as emissões de CO2 seguirem crescendo, em nível global. É o que dizem as previsões da Agência Internacional de Energia (AIE).

As emissões de CO2, porém, não aumentarão mais tão acentuadamente quanto nos anos 2000 ou nos últimos 30 a 40 anos. O aumento é desacelerado devido ao avanço técnico, por uma maior eficiência e também por energias renováveis. Mas teremos que estar preparados para as emissões de CO2 continuarem aumentando, por enquanto.

A dependência mundial de combustíveis fósseis, de 80%, ainda é imensa. Mesmo na Alemanha, onde trabalhamos há 20 anos na transição energética, temos ainda uma dependência de combustíveis fósseis de quase 80% quando se trata de consumo primário de energia.

A respeito de neutralidade climática: quão realista é o objetivo da nova Comissão Europeia, sob a presidência de Ursula von der Leyen, de que a Europa atinja a neutralidade climática até 2050?

Na situação atual, a neutralidade climática não é possível sem uma mudança maciça nos hábitos de produção e consumo. E isso seria difícil de alcançar politicamente nas democracias. Como podemos ver neste momento, estamos apenas no início do debate sobre os custos da proteção climática, e ele já está sendo instrumentalizado por certas forças políticas. Nesse sentido, com as tecnologias disponíveis hoje e o atual nível de consumo, a neutralidade climática é uma ilusão.

Fonte: Deutsche Welle

Energia da Escócia deve ser 100% renovável até o final deste ano

A organização ambiental Scottish Renewables elaborou um relatório para acompanhar o progresso das energias renováveis na Escócia. Com base em dados reportados em 2018, o país utilizou energia renovável em 76% de todo o seu consumo de eletricidade. A porcentagem deverá continuar aumentando e chegará a 100% em breve.

A Escócia está abandonando rapidamente o uso de combustíveis fósseis em função das mudanças climáticas. A última usina de carvão escocesa foi fechada em 2016. Resta apenas uma fonte de energia a partir de combustíveis fósseis no país, uma usina a combustão de gás em Aberdeenshire (embora mais duas usinas de turbinas a gás tenham construção prevista).

A Escócia vem substituindo toda essa energia poluente por renováveis. Na primeira metade do ano passado, as turbinas eólicas da Escócia forneceram energia o bastante para abastecer todas as residências do país, além de milhões de casas no norte da Inglaterra, de acordo com o WWF escocês.

O Reino Unido estabeleceu a meta de zerar suas emissões líquidas de gases de efeito estufa até 2050, mas a Escócia quer ser mais rápida. A meta do país é de chegar a zero até 2045, com uma redução de 75% dos níveis de 1990 já em 2030. O objetivo é zerar as emissões de todos os gases do efeito estufa, não apenas o dióxido de carbono.

Na contramão

Enquanto isso, no sul do Brasil, investidores querem construir a maior mina de exploração de carvão da América Latina. É a Mina Guaíba.

Com informações do Olhar Digital

CARVÃO AQUI NÃO
Diga não ao carvão! Assine nossa petição:
https://campanhas.arayara.org/carvaoaquinao

ENERGIA SOLAR SEM TAXAÇÃO
Assine a petição e defenda a energia solar sem taxação: 
https://campanhas.arayara.org/energiasolarsemtaxacao

Subsídios de combustíveis fósseis estão destruindo o mundo, diz ONU

Subsídios de combustíveis fósseis estão destruindo o mundo, diz ONU

A polêmica sobre a possível taxação da energia solar no Brasil reacendeu um importante debate: os subsídios. Em meio à mais grave emergência climática do mundo, os subsídios que fomentam o uso de combustíveis fósseis estão ajudando a “destruir o mundo”.

No Brasil e no mundo, bilhões de dólares de recursos públicos têm sido usados para fomentar um setor que deveria ter, ao invés de subsídios, um fim. Para o secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), António Guterres, esses bilhões são uma maneira ruim de aplicar o dinheiro dos contribuintes.

Guterres defende que a poluição deveria ser taxada e que os subsídios para petróleo, gás e carvão deveriam acabar: “Muitas pessoas ainda pensam que dar subsídios a combustíveis fósseis é uma maneira de melhorar as condições de vida das pessoas. Não há nada mais errado do que isso. O que estamos fazendo é usar o dinheiro dos contribuintes – o que significa nosso dinheiro – para fortalecer furacões, para espalhar inundações, para derreter geleiras, para descolorir corais. Em uma palavra: para destruir o mundo”.

Segundo a Agência Internacional de Energia, os subsídios globais para o consumo de combustíveis fósseis foram de mais de 300 bilhões de dólares em 2017. Em 2016 foram 270 bilhões.

No Brasil, em 2018 o governo federal concedeu R$ 85,1 bilhões em subsídios à produção e ao consumo de combustíveis fósseis, segundo estudo do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc). O levantamento considera petróleo, carvão mineral e gás natural.

A cifra abrange recursos que saíram diretamente do Orçamento da União para incentivar o setor (R$ 11,8 bilhões, ou 14%) e também quantias que o governo deixou de arrecadar em impostos, devido a regimes de tributação especiais e programas de isenção.

Segundo reportagem do portal G1, o valor equivale a mais de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do país em 2018 (de R$ 6,8 bilhões), a 2,8 vezes o orçamento do Bolsa Família (R$ 30 bilhões) e 2 vezes o total de recursos disponíveis para o seguro-desemprego (R$ 40,6 bilhões).

Dos R$ 85 bilhões em subsídios:

  • R$ 62,24 bilhões foram para incentivar o consumo
  • R$ 22,89 bilhões foram para a produção

Um relatório produzido por centenas de cientistas alertou que até 1 milhão de espécies estão em risco de extinção devido à busca humana incansável por crescimento econômico.

É preciso dar um fim à exploração dos combustíveis fósseis e iniciar urgentemente uma transição energética.

Produção de combustíveis fósseis excederá 120% do limite seguro

Apesar dos frequentes (e intensos) efeitos das mudanças climáticas, a humanidade segue investindo na principal causa dessa ameaça para a vida no planeta: a exploração dos combustíveis fósseis. A queima deles em usinas, fábricas e carros é responsável por 90% das emissões de dióxido de carbono – e sua produção segue crescendo em ritmo alarmante.

É o que mostra um relatório inédito feito pelo Programa da ONU para o Meio Ambiente, o UNEP, em parceria com cinco centros de pesquisa, publicado nesta quarta (20). Segundo o estudo, em 2030, a humanidade estará produzindo 120% mais combustíveis fósseis do que deveria.

O relatório mostra uma grande discrepância entre expectativa e realidade – o que os especialistas chamam de “lacuna de produção”. Vamos por partes. A expectativa são as metas de redução de emissões que cada país submeteu por meio do Acordo de Paris, em 2015, com o objetivo de impedir que o aquecimento global ultrapasse 2ºC acima dos níveis pré-industriais – e, se possível, manter o aumento em 1,5ºC.

Esses são os níveis considerados seguros pela comunidade científica para evitar grandes catástrofes. Mas mesmo dentro desses limites, centenas de milhões de pessoas vão sofrer graves consequências.

Fonte: Revista Superinteressante