“O carvão mineral é um lixão químico”, diz especialista
Em seminário realizado pela Câmara Municipal de Canoas, com apoio da Arayara, especialistas falaram sobre os riscos da possível instalação da Mina Guaíba. Um dos painelistas, o professor Dr. Rualdo Menegat, foi taxativo: “o carvão mineral é um lixão químico”, alertou aos presentes.
Durante cerca de duas horas, Menegat e a também professora e pesquisadora Dra. Marcia Käffer explicaram os efeitos que a instalação da maior mina de exploração de carvão a céu aberto do Brasil poderá causar.
“A Mina Guaíba é uma bomba com proporções enormes. Essa bomba estará ao lado de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Gravataí, Cachoeirinha e todas as cidades da região metropolitana. Mas, por algum motivo que não se sabe qual, essas cidades foram excluídas do estudo de impacto ambiental (EIA) do empreendimento. O EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são repletos de erros primários”, afirmou o geólogo e professor da UFRGS. Para ele, o EIA-RIMA foi feito com “desleixo e está repleto de omissões”.
Segundo o geólogo, Mestre em Geociências (UFRGS), Doutor em Ciências na área de Ecologia de Paisagem (UFRGS), Doutor Honoris Causa (Universidade Ada Byron, Peru), a possível instalação da Mina Guaíba vai potencializar os riscos de contaminação por Arsênio, Cadmio, Cloro, Cromo, Mercúrio, Cobalto, Chumbo, Tório, Uranio e outros metais cancerígenos. Além disso, serão jogadas na atmosfera 30 mil toneladas de pó. “Imaginem vocês, que o EIA-RIMA diz que essa quantidade toda de poeira não chegará a Porto Alegre, que fica a apenas 16 km da área da mineração! Isso é inaceitável”, destacou Menegat.
Käffer, que estuda há mais de 15 anos a poluição do ar, reforçou a afirmação de que haverá grandes impactos na saúde da população que vive na área de impacto da mina. “Os efeitos da poluição do ar geralmente se manifestam no homem sob a forma de doenças crônicas, principalmente nas faixas etárias mais suscetíveis que englobam crianças e idosos”, alertou.
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Márcia Käffer foi além: “Mesmo após o processo de desativação da extração de carvão, a recuperação do ambiente é demorada e a utilização desta área para outros usos estaria comprometida por um período extenso ou até mesmo definitivamente”.
Diante dessas informações, aqueles que participaram do seminário demonstraram enorme preocupação. A falta de informação foi o tópico mais falado após o painel. E o vereador Aloísio Bamberg questionou: “Como vamos parar esse monstro que é a Mina Guaíba?”.
Suelita Köcker, diretora da Arayara, respondeu ao legislador afirmando que Arayara, Observatório do Carvão, 350.org e COESUS trabalharão de forma incansável para levar informação à sociedade gaúcha. Assim, de posse de informações, a sociedade será capaz de freiar esse monstro. “Já paramos monstros grandes como a Mina Guaíba. Mas, para isso, é fundamental informar as pessoas sobre o que está acontecendo. E isso tem sido negligenciado pelos envolvidos e interessados na instalação do empreendimento. Isso é inaceitável! Quem sofrerá na pele os problemas advindos da exploração do carvão são as pessoas que estão sendo ignoradas nesse processo”, disse.
Alguns passos já foram dados na busca de parar o processo de licenciamento. A Arayara já protocolou duas Ações Civis Públicas (ACPs) questionando algumas das muitas falhas do EIA-RIMA.
Mudanças climáticas
O dicionário Oxford escolheu “mudanças climáticas” como a palavra do ano de 2019. A imprensa diz que, finalmente, a sociedade acordou para esse tema. Mas o Rio Grande do Sul parece caminhar na contramão, já que o principal vilão das mudanças climáticas e suas consequências é justamente o carvão mineral.
Caso a mina seja liberada e produza o que o EIA-RIMA promete, serão 4,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono jogados na atmosfera. Por isso, ao aceitar e autorizar a instalação desse empreendimento, as autoridades gaúchas estarão retrocedendo décadas e prejudicarão a vida de pelo menos 4,5 milhões de gaúchos e gaúchas que vivem na região metropolitana da capital sul-riograndense.