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Texto de posicionamento | Arayara se manifesta sobre enchentes e o agravamento da crise climática no Brasil

Texto de posicionamento | Arayara se manifesta sobre enchentes e o agravamento da crise climática no Brasil

A realidade é clara e incontestável: as mudanças climáticas não são uma ameaça distante, mas uma emergência presente. A degradação ambiental, impulsionada por décadas de exploração insustentável e políticas negligentes, exige uma resposta imediata e assertiva.

Para enfrentar esta crise, uma abordagem integrada e holística, que reconhece a interconexão entre o meio ambiente, a sociedade e a economia se faz mais que necessária, defende o Instituto Internacional Arayara em um documento de posicionamento acerca dos recentes eventos climáticos extremos no Brasil, especialmente as enchentes no Rio Grande do Sul.

 

Os eventos climáticos que estão ocorrendo no País, atingindo os estados do Maranhão, Paraná, Santa Catarina e especialmente o Rio Grande do Sul, estão acometendo  diretamente a população, com perdas de vidas e famílias inteiras desabrigadas. As atividades econômicas estão paralisadas e um enorme prejuízo material foi constatado em suas infraestruturas.

É necessário que o país possa efetivamente se preparar cada vez mais para a ocorrência de eventos climáticos dessa natureza. Há alguns anos estamos assistindo, praticamente impotentes, às secas destruidoras de lavouras e da criação pecuária, como também à diminuição da oferta de água e a consequente redução da geração elétrica hidrelétrica, cuja fonte renovável é característica fundamental do nosso setor elétrico. É preciso de imediato que nossas autoridades finalmente se atentem para a necessidade de levar a sério as advertências da Ciência de que as mudanças climáticas não são fenômenos do futuro, mas já fazem parte do presente. 

Assim, medidas relacionadas à melhor capacidade de enfrentamento das dificuldades é imperioso. Recentemente assistimos à conferência de imprensa do presidente da República onde esse ponto foi abordado. No entanto, vemos o Congresso atuar na criação de projetos de lei que ampliam o uso de combustíveis fósseis como o gás natural e o carvão para a produção de energia elétrica, assim como setores do próprio governo federal fazendo a defesa do aumento da fronteira de exploração e da produção de combustíveis fósseis.

Temos assistido planos de pastas importantes do governo, como o Ministério de Minas e Energia (MME) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), defendendo ardentemente o aumento da produção de petróleo e gás. Tivemos no ano passado o maior leilão de áreas para exploração de petróleo já ocorrido no País, onde, inclusive, constavam áreas de proteção ambiental, em áreas de impacto de terras  indígenas e territórios quilombolas. 

Não só esses grandes projetos atentam contra os territórios tradicionais. As enchentes no Rio Grande do Sul afetaram milhares de famílias indígenas, especialmente dos povos Guarani, Charrua, Xokleng e Kaingang, cujas moradias foram arrasadas, levando-os a deixarem suas aldeias, estando agora em abrigos. 

Dados do Ministério dos Povos Indígenas (MPI) e da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) apontam que 70% dos Territórios Indígenas foram afetados; mais de 8 mil famílias, cerca de 30 mil pessoas, diagnosticadas em situação de calamidade, necessitando principalmente de água, kits de higiene e cestas básicas.

Acerca dos territórios quilombolas, segundo o último comunicado do Ministério da Igualdade Racial (MIR), mais de 7 mil famílias foram diretamente atingidas pelos danos das enchentes – o que representaria praticamente a totalidade de pessoas quilombolas da região, que são 17 mil segundo o último censo. O MIR também contabiliza 344 famílias ciganas e 1.300 famílias de comunidades tradicionais de matriz africana e terreiros impactadas. São mais de 8 mil famílias; Muitas estão ilhadas, sem acesso a alimentos, água e energia.

Desta forma, é preciso mencionar que as consequências da degradação do meio ambiente historicamente são suportadas pelas populações periféricas, em especial pela população negra, em razão do racismo estrutural que permeia as sociedades.

O racismo ambiental, que advém da devastação ambiental imposta pela lógica mercadológica e capitalista de exploração e a consequente exposição ao risco de desastre, incide com mais frequência nesses espaços, onde estão as pessoas mais vulneráveis, seja por menor renda, escolaridade, cor, gênero e raça. 

 

São sempre elas as mais atingidas e sujeitas aos efeitos devastadores da crise climática, desproporcionalmente afetadas pela degradação ambiental e sobre quem as estratégias de desenvolvimento governamental frequentemente falham em abordar essas questões de forma eficiente.

Aqui importa lembrar ainda que 62% do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) anunciado no ano passado é destinado a investimentos relacionados à produção de combustíveis fósseis. E no momento, encontra-se aberto pelo MME uma consulta pública em que justifica o porquê da necessidade da continuidade desse tipo de exploração. 

Estados como o Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná vêm defendendo com firmeza a continuação da produção de carvão, responsável por parte significativa das emissões de gases de efeito estufa. O próprio governo do estado do RS anunciou, no dia 09 de abril de 2024, contrato de investimento milionário para a instalação de um polo Carboquímico  na cidade de Candiota, no sentido de incrementar o uso do carvão, seguindo na contramão da Política Nacional de Mudança do Clima.

Ao mesmo tempo em que o governador Eduardo Leite projeta e promove a exploração de carvão, no que tange ao enfrentamento da crise climática, seu governo tem optado, exclusivamente, por ações de resposta aos danos, sem antes promover ações preventivas que são mais necessárias e efetivas na construção de cidades mais resilientes às mudanças do clima. Impulsionar a indústria carbonífera definitivamente não é uma delas. 

É reconhecidamente ambiental a causa da devastação no RS, ainda assim, o setor é sistematicamente sucateado pela gestão do estado. A exemplo do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), cuja função é embasar a gestão territorial considerando fatores ambientais e socioeconômicos para aliar desenvolvimento econômico e sustentação ambiental. No Rio Grande do Sul, o desenvolvimento do ZEE iniciou em 2012, após uma série de estudos e atividades, e totalizou US$ 8,7 milhões em gastos públicos. Após a sua finalização, em 2019, o instrumento foi engavetado.

Outras políticas para lidar com desastres naturais foram elaboradas por outras gestões de governo, mas também não avançaram. O estado não possui Plano de Bacias Hidrográficas, tampouco Plano de Prevenção de Desastres, que chegou a ser trabalhado em 2017, mas nunca saiu do papel.

Ao mesmo tempo que deixa de promover políticas voltadas ao meio ambiente e adaptação climática, o governo destrói órgãos com essa responsabilidade. É o caso da Fundação Zoobotânica do RS, oficialmente extinta em 2020, a pretexto da redução de gastos e em desacordo com a opinião pública. A Fundação, que demandava R$ 30 milhões para seu funcionamento (0,5% do orçamento estadual), era o principal órgão de pesquisa e assessoramento técnico na área ambiental do estado.

Sem planejamento e sem organizações ambientais técnicas, o Rio Grande do Sul foi jogado para a catástrofe. No entanto, mesmo que existissem políticas emergenciais para eventos climáticos extremos, de nada adiantam esses planos se ao mesmo tempo continuamos com incremento em investimentos em produção de combustíveis fósseis. Por conta disso, e com a justificativa de manutenção de empregos e da atividade econômica, estão ocorrendo enormes prejuízos para toda a economia, em benefício de poucos.

Portanto, é necessário que as autoridades se conscientizem que, para reduzir a velocidade do processo de mudanças climáticas, é necessário preservar os recursos ambientais, zerar o desmatamento e reduzir o uso de combustíveis fósseis, e não o contrário. Mais do que decidir quais poços de petróleo o país quer explorar, a questão que paira sobre o Brasil é: O que estamos dispostos a sacrificar pela exploração de petróleo? Estamos dispostos a sacrificar estados, como o Rio Grande do Sul? Estamos dispostos a sacrificar a agricultura? A saúde da população? Nossas moradias? A cultura de nossos povos ancestrais, cujos saberes e fazeres são intrínsecos à nossa própria identidade enquanto nação?

Se realmente acreditamos que não temos disposição para tantos sacrifícios, então já passa da hora de, primeiramente, rejeitarmos lideranças políticas negacionistas, inclusive, pensando nas eleições de novembro deste ano. Também devemos reivindicar políticas ambientais sérias e que o setor energético invista nas energias limpas, implementadas de modo social, econômica e culturalmente corretas, e que são a verdadeira vocação do setor no Brasil.

Considerando os desafios sem precedentes impostos pelas mudanças climáticas, reafirmamos nosso compromisso e convocamos a sociedade a se unir em prol de um futuro sustentável.

Os eventos climáticos extremos que assolam o país não são meros acasos da natureza, mas sim sinais alarmantes de um planeta em crise. As consequências desses eventos são trágicas: perdas de vidas humanas, famílias desabrigadas, paralisação de atividades econômicas e danos irreparáveis à infraestrutura.

A realidade é clara e incontestável: as mudanças climáticas não são uma ameaça distante, mas uma emergência presente. A degradação ambiental, impulsionada por décadas de exploração insustentável e políticas negligentes, exige uma resposta imediata e assertiva.

Para enfrentar esta crise, uma abordagem integrada e holística, que reconhece a interconexão entre o meio ambiente, a sociedade e a economia se faz mais que necessário. 

A crise climática é também uma crise de valores, que exige uma profunda reflexão sobre nosso papel no mundo e nossa responsabilidade com as gerações futuras. Tudo isso é mais do que um apelo à ação; é um compromisso com a vida, com a justiça ambiental e com a construção de um futuro onde humanos e natureza coexistem em harmonia. 

Acesse aqui o Position Paper

Foto de cabeçalho: Ricardo Stuckert / PR.

 

 

Tribunal de Cuentas del Estado de Maranhão participa en la campaña No al Fracking Brasil

Tribunal de Cuentas del Estado de Maranhão participa en la campaña No al Fracking Brasil

La reunión contó con la participación del consejero presidente del TCE-MA

O que é o fracking?

El fracking, también conocido como fracturamiento hidráulico, es un proceso que implica la inyección de grandes volúmenes de agua, productos químicos y arena a alta presión en capas de roca subterránea para liberar el gas natural atrapado. Aunque es una técnica utilizada en varios países, es controvertida debido a los daños ambientales y ecológicos que causa, como la contaminación de las aguas subterráneas, la liberación de gases de efecto invernadero, los terremotos inducidos, entre otros.

El equipo de la campaña No al Fracking Brasil (ARAYARA.org y COESUS – Coalición No al Fracking Brasil por el Agua y la Vida) participó en una reunión con el Tribunal de Cuentas del Estado de Maranhão (TCE-MA) el 2 de septiembre de 2022. La visita a la sede del TCE tenía como objetivo explicar los impactos del fracking en la economía y los gastos públicos del estado.

Washington Luiz de Oliveira, consejero presidente del TCE-MA, asistió a la capacitación realizada por la campaña No al Fracking Brasil y mostró preocupación por las cuestiones relacionadas con las actividades económicas que serán altamente impactadas por el método de extracción no convencional de gas de esquisto, conocido como fracking. En la reunión, Oliveira se comprometió a realizar, junto con COESUS, un seminario técnico sobre los impactos del fracking en la economía de los municipios y del estado de Maranhão.

“Es un asunto que merece la máxima atención de los poderes y organismos públicos y, en el ámbito del control externo, será objeto de estudio y seguimiento a partir de ahora”, dijo el consejero.

El fracking tiene efectos negativos en la economía de los municipios, como el aumento de enfermedades causadas por esta técnica y la escasez de recursos hídricos. El sector agrícola es el más afectado, ya que los alimentos se contaminan y se vuelven inadecuados para el consumo. Por tanto, es de gran importancia el interés y el compromiso del TCE-MA en este asunto, así como su proactividad en la protección de la población.

Tribunal de Cuentas del Estado de Maranhão participa en la campaña No al Fracking Brasil

Court of Auditors of the State of Maranhão participates in the No Fracking Brazil campaign

Meeting attended by the President Councilor of TCE-MA

What is fracking?

Fracking – also known as hydraulic fracturing – is a process that involves injecting large volumes of water, chemicals, and sand at high pressure into underground rock layers to release trapped natural gas. Although this technique is already used in several countries, it is controversial due to its environmental and ecological damage, including groundwater contamination, greenhouse gas emissions, induced earthquakes, etc.

 

The anti-fracking campaign team (ARAYARA.org and COESUS – Coalition No Fracking Brazil for Water and Life) participated in a meeting with the Court of Auditors of the State of Maranhão – TCE-MA – on September 2, 2022. The visit to the TCE headquarters aimed to explain the impacts of fracking on the economy and public expenditure of the state.

Washington Luiz de Oliveira, the President Councilor of TCE-MA, attended the training conducted by the No Fracking Brazil campaign and expressed concern about the issues surrounding economic activities that will be highly impacted by the unconventional shale gas extraction method, known as hydraulic fracturing or “fracking”. During the meeting, Oliveira committed to organizing a technical seminar in collaboration with COESUS on the impacts of fracking on the economy of municipalities and the state of Maranhão.

“This is an issue that deserves the utmost attention from the government and public institutions and will be the subject of study and monitoring within the scope of external control from now on” said the councilor.

Fracking has negative effects on the economy of municipalities, such as the increase in diseases caused by the technique and the lack of water resources. The agriculture sector is the most affected, as the food becomes contaminated and unfit for consumption. Therefore, the interest and engagement of TCE-MA in this matter and their proactivity in protecting the population are of great importance

Tribunal de Cuentas del Estado de Maranhão participa en la campaña No al Fracking Brasil

Tribunal de Contas do Estado do Maranhão participa da campanha Não Fracking Brasil

Reunião contou com participação do conselheiro presidente do TCE-MA

 

O que é o fracking?

O fracking – também chamado de fraturamento hidráulico – é um processo que envolve a injeção de  grandes volumes de água, produtos químicos e areia, a alta pressão, em camadas de rocha do subsolo para liberar o gás natural que está preso. Apesar de ser uma técnica já utilizada em vários países, ela é controversa por causar danos ambientais e ecológicos, incluindo contaminação da água subterrânea, liberação de gases de efeito estufa, terremotos induzidos etc.

 

A equipe de campanha contra o fracking (ARAYARA.org e COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil pela Água e Vida) participou de uma reunião com o Tribunal de Contas do Estado do Maranhão – TCE-MA – no dia 02 de setembro de 2022. A visita à sede do TCE tinha o objetivo de explicar sobre os impactos do fracking na economia e nos gastos públicos do estado.

Washington Luiz de Oliveira, conselheiro presidente do TCE-MA, assistiu à capacitação realizada pela campanha Não Fracking Brasil e demonstrou preocupação com as questões que envolvem as atividades econômicas que serão altamente impactadas pelo método de extração não convencional de gás de xisto, o chamado fraturamento hidráulico, ou “fracking”. Na reunião, Oliveira firmou um compromisso de realizar, em conjunto com a COESUS, um seminário técnico sobre os impactos do fracking na economia dos municípios e do estado maranhense.

“Trata-se de uma questão que merece a máxima atenção dos poderes e órgãos públicos e que, no âmbito da esfera do controle externo, será objeto de estudo e acompanhamento a partir de agora”, disse o conselheiro.

O fracking tem efeitos negativos na economia dos municípios, como o aumento de doenças causadas por conta da técnica e a falta de recursos hídricos. O mais impactado é o setor da agricultura, em que os alimentos ficam contaminados e impróprios para o consumo. Por isso, é de grande importância o interesse e engajamento do TCE-MA no assunto e a proatividade em prevenir a população.