+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Solução circular na fronteira: Boa Vista lidera a primeira compostagem em escala da Amazônia legal

A gestão sustentável de resíduos urbanos emergiu como um modelo concreto de bioeconomia circular e inclusão social na Amazônia. O painel “Experiência concreta e bem-sucedida do primeiro centro de coleta e tratamento de resíduos orgânicos na Amazônia Legal”, realizado na quinta-feira, 20 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub, apresentou o Centro de Compostagem de Resíduos Orgânicos de Boa Vista (CETRO-BV). A iniciativa, que integra refugiados venezuelanos, indígenas e agricultores, prova que é possível aliar mitigação climática com desenvolvimento local, servindo de inspiração para toda a região.

O projeto é liderado pela AVSI Brasil e pela Associação Amazônia Ecologia Integral (AAEI), com financiamento da União Europeia e apoio da Fundação Banco do Brasil (FBB), e reuniu representantes dessas instituições e da Prefeitura de Boa Vista.

O modelo de Boa Vista: inclusão e produtividade

Fabrizio Pellicelli, Diretor-Presidente da AVSI Brasil, ressaltou o caráter pioneiro do CETRO-BV nos nove estados da Amazônia Legal, classificando-o como uma resposta aos desafios urbanos da região. Ele contextualizou Boa Vista, uma capital de mais de 400 mil habitantes, com PIB per capita abaixo da média nacional e um crescimento populacional acentuado pelo fluxo migratório venezuelano. Nesse cenário, onde o custo dos alimentos é alto devido ao isolamento geográfico, o projeto foi gestado.

Os resultados apresentados por Juliana Leitão, Presidente da Associação Amazônia Ecologia Integral, são robustos. O centro, ligado a planos municipais e atuando em uma área de 4 hectares, já processou 3.500 toneladas de resíduo orgânico.

“Até agora já recebemos 3500 toneladas de resíduo orgânico, evitando emissão de mais ou menos 2695 toneladas de CO₂ equivalente,” afirmou.

Em termos de impacto social e produtivo, mais de 300 agricultores familiares receberam os insumos gerados, consolidando-o como um modelo de economia circular e regenerativa.

A agricultura familiar como foco

Cézar Riba, da Prefeitura de Boa Vista, explicou que a cidade concentra mais da metade da população de Roraima, incluindo 17 comunidades indígenas. Por isso, o foco do município é o fomento à agricultura familiar para diminuir a dependência da importação de alimentos de outros estados. A compostagem se encaixou nesse objetivo.

Houve desconfiança inicial, mas o resultado mudou a percepção local.

“Hoje em dia já temos uma fila de espera para usar o serviço,” revelou Cézar Riba.

O projeto garante que uma quantidade imensa de dejetos orgânicos, que antes iriam para um aterro sanitário, agora é transformada em material entregue à agricultura familiar e às comunidades indígenas.

“Entendemos que não há mais como voltar atrás, temos que seguir investindo em energias limpas, seguir investindo para a redução de importação de alimentos, provando que é possível, sim, plantar na região, e dar a alternativa à gestão de resíduos.”

Reduzindo metano e cortando custos na Amazônia

Victor Argentino, Coordenador de Projetos de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis, destacou que a mitigação e a adaptação climática só fazem sentido se vierem com proposta de justiça social. Ele notou que, enquanto o Brasil costuma focar na reciclagem de resíduos sólidos secos, ignorando que metade do lixo é orgânico, o modelo de Boa Vista é replicável e necessário. A alternativa é especialmente interessante para a Amazônia, onde a logística é difícil e a maioria dos municípios ainda depende de lixões sem controle ou regulação.

Victor alertou que o metano, um gás emitido por aterros sanitários e “mais forte que o CO₂ para o aquecimento global”, é significativamente reduzido por meio da compostagem. Fazer a compostagem no próprio território amazônico não apenas resolve a questão da logística deficitária, onde muitas coletas são feitas de barco e a grandes intervalos, mas também gera um corte de custos. Ele citou a inauguração de uma iniciativa em Belém, onde os resíduos orgânicos da própria COP30 (do restaurante sociobio da Blue Zone) foram encaminhados para tratamento, demonstrando o potencial de expansão do modelo.

O mediador encerrou o painel projetando as ambiciosas metas do CETRO-BV para os próximos quatro anos: aumentar a capacidade de transformação para 400 toneladas/mês de adubo orgânico, gerar 40 empregos diretos, captar 100% dos resíduos dos grandes geradores e buscar inserção no mercado certificado de carbono. A iniciativa ainda pretende entrar na lei de incentivo de reciclagem fiscal recentemente lançada pelo governo federal.

 

Foto: Odaraê Filmes

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: STJ:audiência pública discute fracking e impactos ambientais na exploração de gás de xisto

Por Gabriela da Cunha Rio, 8/12/2025 – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisará nesta quinta-feira, 11, a possibilidade de uso do fraturamento hidráulico (fracking) na exploração de óleo e gás de xisto, durante audiência pública convocada pela Primeira Seção sob relatoria do ministro Afrânio Vilela. No primeiro bloco, apresentarão argumentos o Ministério Público Federal, a Agência Nacional do Petróleo,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: After COP30, Brazilian oil continues its rush towards the global market

A decision to drill at the mouth of the Amazon drew criticism at the UN summit. But Brazil’s oil production still soars, as it hopes to consolidate its role as an exporter decision to approve oil exploration off the coast of Brazil weeks before the country hosted the COP30 climate conference signals the country’s intention to increasingly target the international market, despite

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Brasil escolhe trilhar o mapa do caminho do carvão mineral

Enquanto defende no plano internacional a transição para longe dos combustíveis, o Brasil segue aprovando medidas que dão sobrevida à indústria do carvão mineral Segunda-feira, 24 de novembro, primeiro dia útil após o fim da COP30, a conferência do clima das Nações Unidas. Dois dias depois de lançar ao mundo o mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis, o Brasil sancionou a Medida

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Leilão expõe contradição da política energética e afasta Petrobras da transição justa

Oferta de áreas do pré-sal pela PPSA ignora tendência global de queda do petróleo e compromete estratégia climática brasileira O Primeiro Leilão de Áreas Não Contratadas do pré-sal representa mais um passo na contramão da transição energética que o Brasil afirma liderar, ampliando a entrega de recursos estratégicos a empresas privadas nacionais e estrangeiras. Enquanto o mundo se prepara para

Leia Mais »