O Brasil está ignorando as consequências potencialmente terríveis das mudanças climáticas, avançando com seu maior leilão de blocos de exploração de petróleo que poderia liberar milhões de toneladas de emissões de carbono, segundo ativistas ambientais.
A agência reguladora de petróleo do país, ANP, estima que os blocos à venda na quarta-feira na área offshore de petróleo do pré-sal possam conter até 15 bilhões de barris de petróleo.
O consumo desse petróleo liberaria até 8,6 bilhões de toneladas de equivalente dióxido de carbono, a medida padrão de gases de efeito estufa, de acordo com um cálculo da organização não governamental ambiental 350.org.
Isso é cerca de 1,5 vezes as emissões anuais nos Estados Unidos, o segundo maior emissor de gases de efeito estufa do mundo.
“É imoral explorar e disponibilizar essa quantidade de óleo para queimar”, disse Nicole Figueiredo Oliveira, diretora administrativa da 350.org na América Latina.
“O governo nos ignora, assumindo a posição de gerar lucros sem pensar no impacto que esses blocos terão na vida das pessoas em todo o mundo”.
As autoridades brasileiras dizem que o leilão pode arrecadar 106,5 bilhões de reais (US $ 26,67 bilhões) em bônus de assinatura no momento em que o país enfrenta um déficit orçamentário.
A ANP se recusou a comentar imediatamente o impacto climático do leilão de petróleo.
Especialistas dizem que se o mundo continuar bombeando gases de efeito estufa para a atmosfera a taxas atuais, os níveis de água submergirão as cidades costeiras e haverá um aumento no clima extremo, como furacões e secas.
Quase todos os países do mundo concordaram no Acordo de Paris de 2015 com a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius (2,7 graus Fahrenheit) para evitar esses efeitos.
Atingir essa meta exigiria que o mundo reduzisse as emissões anuais pela metade até 2030, disse Kelly Levin, associado sênior de emissões e clima do World Resources Institute, uma organização sem fins lucrativos.
No entanto, o mundo só pode adicionar 420 bilhões de toneladas adicionais de dióxido de carbono para ter “confiança média” em atingir esse objetivo, disse Levin.
O carbono potencialmente liberado no leilão brasileiro seria de cerca de 2% dessa meta, uma quantidade significativa, disse ela.
“Quaisquer grandes projetos que resultem em aumento de emissões estão indo na direção oposta de onde precisamos ir”, disse Levin.
Mas os líderes do Brasil querem acelerar a exploração de petróleo em vez de desacelerá-la.
Em uma conferência sobre petróleo no ano passado, o diretor-geral da ANP, Decio Oddone, reconheceu que “o petróleo está indo para a obsolescência” à medida que o mundo muda para uma economia de baixo carbono. Ele disse que o Brasil precisa debater rapidamente se deseja aproveitar suas reservas de petróleo antes que isso aconteça, argumentando que deve aproveitar a chance de desenvolver sua economia.
“Espero que seja fechado com a decisão de explorar nossas reservas o mais rápido possível”, disse ele.
Roberto Castello Branco, diretor executivo da estatal Petroleo Brasileiro SA, disse que a empresa deve tirar proveito de seus recursos de petróleo no curto prazo, pois permanecerá comercialmente atraente apenas por um período finito de tempo.
A produção de petróleo pode não ter um grande impacto nos compromissos climáticos nacionais do Brasil, pois grande parte do petróleo é exportada e consumida internacionalmente.
As empresas de petróleo precisam dar conta dos riscos climáticos porque a demanda e os preços dos combustíveis fósseis provavelmente cairão à medida que as preocupações globais com o aumento das emissões, disse Mike Coffin, analista do think tank Carbon Tracker e ex-geólogo da BP.
“A aceleração da produção no curto prazo levaria potencialmente a um excesso de oferta e à destruição de valor em um mundo de baixa demanda”, disse Coffin.
Fonte: Reuters