+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

“O carvão mineral é um lixão químico”, diz especialista

Em seminário realizado pela Câmara Municipal de Canoas, com apoio da Arayara, especialistas falaram sobre os riscos da possível instalação da Mina Guaíba. Um dos painelistas, o professor Dr. Rualdo Menegat, foi taxativo: “o carvão mineral é um lixão químico”, alertou aos presentes.

Durante cerca de duas horas, Menegat e a também professora e pesquisadora Dra. Marcia Käffer explicaram os efeitos que a instalação da maior mina de exploração de carvão a céu aberto do Brasil poderá causar.

“A Mina Guaíba é uma bomba com proporções enormes. Essa bomba estará ao lado de Porto Alegre, Canoas, São Leopoldo, Gravataí, Cachoeirinha e todas as cidades da região metropolitana. Mas, por algum motivo que não se sabe qual, essas cidades foram excluídas do estudo de impacto ambiental (EIA) do empreendimento. O EIA e seu respectivo Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) são repletos de erros primários”, afirmou o geólogo e professor da UFRGS. Para ele, o EIA-RIMA foi feito com “desleixo e está repleto de omissões”.

Segundo o geólogo, Mestre em Geociências (UFRGS), Doutor em Ciências na área de Ecologia de Paisagem (UFRGS), Doutor Honoris Causa (Universidade Ada Byron, Peru), a possível instalação da Mina Guaíba vai potencializar os riscos de contaminação por Arsênio, Cadmio, Cloro, Cromo, Mercúrio, Cobalto, Chumbo, Tório, Uranio e outros metais cancerígenos. Além disso, serão jogadas na atmosfera 30 mil toneladas de pó. “Imaginem vocês, que o EIA-RIMA diz que essa quantidade toda de poeira não chegará a Porto Alegre, que fica a apenas 16 km da área da mineração! Isso é inaceitável”, destacou Menegat.

Käffer, que estuda há mais de 15 anos a poluição do ar, reforçou a afirmação de que haverá grandes impactos na saúde da população que vive na área de impacto da mina. “Os efeitos da poluição do ar geralmente se manifestam no homem sob a forma de doenças crônicas, principalmente nas faixas etárias mais suscetíveis que englobam crianças e idosos”, alertou.

Leia: Como a mineração do carvão afeta a tua saúde

Márcia Käffer foi além: “Mesmo após o processo de desativação da extração de carvão, a recuperação do ambiente é demorada e a utilização desta área para outros usos estaria comprometida por um período extenso ou até mesmo definitivamente”.

Diante dessas informações, aqueles que participaram do seminário demonstraram enorme preocupação. A falta de informação foi o tópico mais falado após o painel. E o vereador Aloísio Bamberg questionou: “Como vamos parar esse monstro que é a Mina Guaíba?”.

Suelita Köcker, diretora da Arayara, respondeu ao legislador afirmando que Arayara, Observatório do Carvão, 350.org e COESUS trabalharão de forma incansável para levar informação à sociedade gaúcha. Assim, de posse de informações, a sociedade será capaz de freiar esse monstro. “Já paramos monstros grandes como a Mina Guaíba. Mas, para isso, é fundamental informar as pessoas sobre o que está acontecendo. E isso tem sido negligenciado pelos envolvidos e interessados na instalação do empreendimento. Isso é inaceitável! Quem sofrerá na pele os problemas advindos da exploração do carvão são as pessoas que estão sendo ignoradas nesse processo”, disse.

Alguns passos já foram dados na busca de parar o processo de licenciamento. A Arayara já protocolou duas Ações Civis Públicas (ACPs) questionando algumas das muitas falhas do EIA-RIMA.

Mudanças climáticas

O dicionário Oxford escolheu “mudanças climáticas” como a palavra do ano de 2019. A imprensa diz que, finalmente, a sociedade acordou para esse tema. Mas o Rio Grande do Sul parece caminhar na contramão, já que o principal vilão das mudanças climáticas e suas consequências é justamente o carvão mineral.

Caso a mina seja liberada e produza o que o EIA-RIMA promete, serão 4,5 bilhões de toneladas de dióxido de carbono jogados na atmosfera. Por isso, ao aceitar e autorizar a instalação desse empreendimento, as autoridades gaúchas estarão retrocedendo décadas e prejudicarão a vida de pelo menos 4,5 milhões de gaúchos e gaúchas que vivem na região metropolitana da capital sul-riograndense.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

“O nosso mangue tem valor com gente”

Grito de  povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico ecoa na COP30   Comunidades da costa amazônica lançaram neste sábado (15/11) o  documento “O GRITO DO MANGUE PELO CLIMA”. Elaborado por organizações e redes representativas de povos extrativistas e comunidades costeiras do litoral amazônico, o material reúne análises e reivindicações de populações que vivem na linha de frente da

Leia Mais »

Territórios indígenas sob pressão: impactos de petróleo, mineração e agronegócio são debatidos durante a COP30

No dia 14 de novembro, o Arayara Amazon Climate Hub sediou a mesa-redonda “Territórios indígenas na mira de grandes empreendimentos: do petróleo à mineração”, organizada por organizações de base indígena de diversas regiões e biomas do Brasil. O encontro reuniu lideranças de diferentes regiões do país para debater os impactos de empreendimentos de desenvolvimento — como mineração, petróleo, gás, hidrelétricas

Leia Mais »

Risco de Sacrifício: Amazônia Debate a Mineração Estratégica e a Corrida por Minerais na Transição Energética

A crescente demanda global por minerais essenciais à descarbonização coloca a Amazônia diante de uma encruzilhada perigosa. O painel “Amazonía y Transición Energética Justa: Propuestas para Abordar la Minería y los Derechos de Pueblos Indígenas y Comunidades Locales”, realizado no ARAYARA Amazon Climate Hub, reuniu lideranças pan-amazônicas e especialistas para debater como garantir que a busca por cobre e lítio

Leia Mais »

Workshop no Amazon Climate Hub debate impactos do fracking e pressiona setor de petróleo e gás por responsabilidade ambiental

Oito países entre Europa e América Latina já aboliram a técnica de extração por fracking. Na Colômbia, ambientalista e sociedade civil  tentam extinguir a prática, mas País continua vulnerável e sob pressão do governo que defende o fracking como ferramenta de soberania energética.  O Arayara Amazon Climate Hub sediou, na manhã desta sexta-feira (14/11), o workshop “Making Polluters Pay: How

Leia Mais »