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Linha de frente Global: vitórias e riscos contra fósseis

A resistência ao petróleo e ao carvão no Sul Global é uma luta contínua, onde vitórias judiciais históricas garantem o direito à consulta, mas a ameaça de exploração permanece. Essa foi a principal lição do evento “Frontline on Fossil Fuels”, realizado na quarta-feira, 19 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub.

Moderado por Kjell Kuhne (LINGO), o painel reuniu líderes da Amazônia equatoriana, Nigéria, Índia e Argentina, amplificando as experiências de comunidades que arriscam suas vidas para proteger ecossistemas vitais. O foco foi claro: o que funciona na linha de frente e o que a solidariedade global deve priorizar.

Vitórias históricas não são definitivas na Amazônia

Patricia Gualinga, líder do Povo Kichwa de Sarayaku e ativista de direitos humanos no Equador, compartilhou o caso de seu povo como um exemplo de resistência bem-sucedida que gerou jurisprudência internacional.

“Ganhamos um juízo contra o estado do Equador em 2012, e a questão principal foi se tínhamos sido consultados ou não. E claro que não fomos consultados. O estado do Equador foi condenado e isso foi uma vitória histórica.”

O caso Sarayaku, julgado pela Corte Interamericana, provou que é possível expulsar empresas extrativistas e inspirou outros povos a lutar “sem perder a dignidade.” No entanto, Patricia alertou para a fragilidade da vitória:

“Sabemos que nenhuma vitória é definitiva até que tenhamos garantia de que o petróleo fique de baixo da terra.”. Ela destacou que o governo atual equatoriano está anunciando mais exploração, exigindo que o povo permaneça atento.

Genocídio ecológico e a força da resistência popular

Nnimmo Bassey (Health of Mother Earth Foundation, Nigéria), uma das referências globais do ativismo ambiental, detalhou a catástrofe que se seguiu à exploração de petróleo em seu país desde 1956.

Bassey classificou a contaminação como um “genocídio ecológico”, onde vazamentos regulares de óleo envenenaram corpos d’água e o solo, afetando comunidades que ainda dependem desses recursos para pesca e consumo. Ele relembrou que a resistência, que remonta a 1993, inspirou a juventude a exigir que “o óleo permaneça no chão”, mesmo com a forte repressão militar, acrescentando que o que as empresas de petróleo fazem não é acidental. 

Para ele, a maior força diante de uma ameaça dessa magnitude é a “organização de um povo nas ruas.”

Da floresta ao gelo: lutas contra a expansão do carvão

A realidade na Índia, apresentada por Soumya Dutta (South Asian People’s Action on Climate Crisis), se concentra na luta contra o carvão, principal fóssil do país. Ele revelou que há 68 frentes em andamento contra a expansão carbonífera em províncias de densa floresta, habitadas por povos tradicionais e indígenas.

Embora as energias eólica e solar sejam mais baratas, o governo ainda favorece a aceleração de projetos fósseis.

Guillermo Tamburini (Observatorio Petrolero Sur, Argentina) trouxe a perspectiva da Patagônia contra o fracking no megaprojeto Vaca Muerta, onde a exploração “bate recordes a cada ano”. Ele alertou que “não há fracking verde” e que a atividade tem provocado sismicidade crescente, trazendo danos ambientais e econômicos à população.

Estruturando a luta: a fórmula do sucesso em campanhas

A identificação mútua entre os líderes de diferentes continentes foi um ponto de destaque, mostrando a similaridade dos desafios.

Para fortalecer essa luta global, Jim Dougherty (LINGO) apresentou uma metodologia para o ativismo de sucesso, com base em lições de movimentos históricos de direitos civis e ambientais. Ele explicou a “fórmula” para estruturar um plano de execução:

  1. Definir Objetivos e Metas: Nem sempre óbvios inicialmente.
  2. Identificar o Alvo: Quem tem o poder de dar o que você precisa (empresa, governo, corte).
  3. Desenvolver Estratégias: Táticas específicas para cada alvo.
  4. Criar a Mensagem: Adequada ao público que se deseja atingir.

O LINGO oferece financiamento, acompanhamento e orientação na elaboração desses planos de campanha para grupos da linha de frente, garantindo que o conhecimento de advocacy e litígio chegue aos territórios.

Foto: Odaraê Filmes

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