+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Linha de frente Global: vitórias e riscos contra fósseis

A resistência ao petróleo e ao carvão no Sul Global é uma luta contínua, onde vitórias judiciais históricas garantem o direito à consulta, mas a ameaça de exploração permanece. Essa foi a principal lição do evento “Frontline on Fossil Fuels”, realizado na quarta-feira, 19 de novembro, no ARAYARA Amazon Climate Hub.

Moderado por Kjell Kuhne (LINGO), o painel reuniu líderes da Amazônia equatoriana, Nigéria, Índia e Argentina, amplificando as experiências de comunidades que arriscam suas vidas para proteger ecossistemas vitais. O foco foi claro: o que funciona na linha de frente e o que a solidariedade global deve priorizar.

Vitórias históricas não são definitivas na Amazônia

Patricia Gualinga, líder do Povo Kichwa de Sarayaku e ativista de direitos humanos no Equador, compartilhou o caso de seu povo como um exemplo de resistência bem-sucedida que gerou jurisprudência internacional.

“Ganhamos um juízo contra o estado do Equador em 2012, e a questão principal foi se tínhamos sido consultados ou não. E claro que não fomos consultados. O estado do Equador foi condenado e isso foi uma vitória histórica.”

O caso Sarayaku, julgado pela Corte Interamericana, provou que é possível expulsar empresas extrativistas e inspirou outros povos a lutar “sem perder a dignidade.” No entanto, Patricia alertou para a fragilidade da vitória:

“Sabemos que nenhuma vitória é definitiva até que tenhamos garantia de que o petróleo fique de baixo da terra.”. Ela destacou que o governo atual equatoriano está anunciando mais exploração, exigindo que o povo permaneça atento.

Genocídio ecológico e a força da resistência popular

Nnimmo Bassey (Health of Mother Earth Foundation, Nigéria), uma das referências globais do ativismo ambiental, detalhou a catástrofe que se seguiu à exploração de petróleo em seu país desde 1956.

Bassey classificou a contaminação como um “genocídio ecológico”, onde vazamentos regulares de óleo envenenaram corpos d’água e o solo, afetando comunidades que ainda dependem desses recursos para pesca e consumo. Ele relembrou que a resistência, que remonta a 1993, inspirou a juventude a exigir que “o óleo permaneça no chão”, mesmo com a forte repressão militar, acrescentando que o que as empresas de petróleo fazem não é acidental. 

Para ele, a maior força diante de uma ameaça dessa magnitude é a “organização de um povo nas ruas.”

Da floresta ao gelo: lutas contra a expansão do carvão

A realidade na Índia, apresentada por Soumya Dutta (South Asian People’s Action on Climate Crisis), se concentra na luta contra o carvão, principal fóssil do país. Ele revelou que há 68 frentes em andamento contra a expansão carbonífera em províncias de densa floresta, habitadas por povos tradicionais e indígenas.

Embora as energias eólica e solar sejam mais baratas, o governo ainda favorece a aceleração de projetos fósseis.

Guillermo Tamburini (Observatorio Petrolero Sur, Argentina) trouxe a perspectiva da Patagônia contra o fracking no megaprojeto Vaca Muerta, onde a exploração “bate recordes a cada ano”. Ele alertou que “não há fracking verde” e que a atividade tem provocado sismicidade crescente, trazendo danos ambientais e econômicos à população.

Estruturando a luta: a fórmula do sucesso em campanhas

A identificação mútua entre os líderes de diferentes continentes foi um ponto de destaque, mostrando a similaridade dos desafios.

Para fortalecer essa luta global, Jim Dougherty (LINGO) apresentou uma metodologia para o ativismo de sucesso, com base em lições de movimentos históricos de direitos civis e ambientais. Ele explicou a “fórmula” para estruturar um plano de execução:

  1. Definir Objetivos e Metas: Nem sempre óbvios inicialmente.
  2. Identificar o Alvo: Quem tem o poder de dar o que você precisa (empresa, governo, corte).
  3. Desenvolver Estratégias: Táticas específicas para cada alvo.
  4. Criar a Mensagem: Adequada ao público que se deseja atingir.

O LINGO oferece financiamento, acompanhamento e orientação na elaboração desses planos de campanha para grupos da linha de frente, garantindo que o conhecimento de advocacy e litígio chegue aos territórios.

Foto: Odaraê Filmes

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: STJ:audiência pública discute fracking e impactos ambientais na exploração de gás de xisto

Por Gabriela da Cunha Rio, 8/12/2025 – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisará nesta quinta-feira, 11, a possibilidade de uso do fraturamento hidráulico (fracking) na exploração de óleo e gás de xisto, durante audiência pública convocada pela Primeira Seção sob relatoria do ministro Afrânio Vilela. No primeiro bloco, apresentarão argumentos o Ministério Público Federal, a Agência Nacional do Petróleo,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: After COP30, Brazilian oil continues its rush towards the global market

A decision to drill at the mouth of the Amazon drew criticism at the UN summit. But Brazil’s oil production still soars, as it hopes to consolidate its role as an exporter decision to approve oil exploration off the coast of Brazil weeks before the country hosted the COP30 climate conference signals the country’s intention to increasingly target the international market, despite

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Brasil escolhe trilhar o mapa do caminho do carvão mineral

Enquanto defende no plano internacional a transição para longe dos combustíveis, o Brasil segue aprovando medidas que dão sobrevida à indústria do carvão mineral Segunda-feira, 24 de novembro, primeiro dia útil após o fim da COP30, a conferência do clima das Nações Unidas. Dois dias depois de lançar ao mundo o mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis, o Brasil sancionou a Medida

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Leilão expõe contradição da política energética e afasta Petrobras da transição justa

Oferta de áreas do pré-sal pela PPSA ignora tendência global de queda do petróleo e compromete estratégia climática brasileira O Primeiro Leilão de Áreas Não Contratadas do pré-sal representa mais um passo na contramão da transição energética que o Brasil afirma liderar, ampliando a entrega de recursos estratégicos a empresas privadas nacionais e estrangeiras. Enquanto o mundo se prepara para

Leia Mais »