+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Licenciamento especial vai à sanção e ONGs prometem judicializar

Organizações ambientais prometem judicialização de alterações no licenciamento de grandes projetos no Brasil

Por Nayara Machado – Eixos

NESTA EDIÇÃO. Senado aprova MP do licenciamento especial em votação simbólica. Texto vai à sanção.

ONGs classificam mudanças na lei como retrocesso ambiental e prometem levar à Justiça.

Em uma votação simbólica na tarde desta quarta (3/12), o Senado aprovou a conversão em lei da medida provisória 1308/2025, que garante licenciamento ambiental acelerado para projetos considerados “estratégicos” pelo governo.

A aprovação da MP ocorreu em segundos, após acordo costurado com o Executivo e a Câmara dos Deputados — e sob uma chuva de críticas de organizações da sociedade civil que apontam riscos ambientais e climáticos com a nova modalidade e se preparam para acionar a Justiça.

“O movimento socioambiental e partidos políticos irão aos tribunais contra este que é o mais grave retrocesso legislativo ambiental da história do Brasil desde a aprovação da Política Nacional de Meio Ambiente, em 1981”, comunicou o Observatório do Clima após a aprovação.

A medida provisória foi uma das estratégias do governo Lula (PT) para tentar manter seus vetos à nova lei do licenciamento, apelidada por ambientalistas como “PL da devastação”.

Não funcionou muito: mais de 50 dos 63 vetos foram derrubados pelo Congresso Nacional na última semana, com exceção dos que tratam da Licença Ambiental Especial (LAE) objeto da MP enviada para sanção nesta quarta.

Proposta pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União/AP), como emenda ao PL 2159/2021 (convertido na lei 15.190/2025), a LAE prevê que projetos de interesse estratégico passem por um rito de licenciamento simplificado, com prazo máximo de 12 meses para resposta do órgão ambiental após entrega dos documentos.

Essa definição de “interesse estratégico” dependerá do Conselho de Governo, um colegiado de ministros no qual a área ambiental tem um único voto.

Uma das preocupações dos críticos às reformas no licenciamento é que se abra a porteira para autorizações de grandes empreendimentos sem o devido cuidado ambiental.

“O Congresso Nacional abriu caminho para um modelo de licenças ambientais ‘especiais’, guiadas mais por pressão política do que por critérios técnicos e científicos”, critica o Instituto Arayara em nota.

Vale dizer que a MP foi iniciativa do governo Lula (PT) após acordo com Alcolumbre e de olho nas eleições de 2026. O relator da MP na Câmara preservou o texto do governo, mas também acrescentou alguns artigos para ampliar o escopo da LAE.

Para a Arayara, ONG que atua contra projetos termoelétricos e o fracking, na prática, a LAE permite que decisões sensíveis como exploração de petróleo na Foz do Amazonas, mineração de grande porte e implantação de UTEs sejam julgadas “menos pelo mérito técnico e mais por acordos políticos”.

As mudanças para flexibilizar e acelerar os ritos do licenciamento também causam inquietação porque é nesta fase que a sociedade consegue fazer pressão contra empreendimentos que afetam suas vidas.

Foi na fase de licenciamento, por exemplo, que a ONG conseguiu barrar o avanço do projeto da Usina Termelétrica Brasília (UTE Brasília), da Termo Norte.

No estado de Alcolumbre, o Ibama protagonizou uma novela que se arrastou por anos sobre o aval para a exploração de petróleo na Foz do Amazonas.

“Daqui para a frente, grandes obras com alto potencial de impacto social e degradação ambiental poderão driblar o rito rigoroso do licenciamento, que inclui consultas a comunidades afetadas”, aponta o Observatório do Clima.

“Grandes hidrelétricas, ferrovias, hidrovias, blocos de petróleo, portos e estradas, inclusive em áreas ambientalmente sensíveis da Amazônia, poderão ser licenciadas em um ano, bastando para isso uma decisão política que as qualifique como ‘estratégicas’”, exemplifica.

Fonte: Eixos

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: Sob críticas de ambientalistas, Lula pede que ministérios elaborem ‘mapa do caminho’ nacional para transição energética

Medida que fala em ‘redução gradativa dos combustíveis fósseis’ vem em meio às repercussões sobre exploração na Margem Equatorial e três semanas após o fim da COP30, quando elaboração de documento semelhante para o mundo foi prometida pela presidência brasileira Por Lucas Altino e Luis Felipe Azevedo — Rio e Belém 08/12/2025 12h57 O presidente Lula determinou que ministérios elaborem,

Leia Mais »

POSICIONAMENTO: Não se financia solução ampliando o problema

O Instituto Internacional ARAYARA vê com profunda preocupação o fato de o despacho presidencial propor que a transição energética brasileira seja financiada justamente pelas receitas provenientes da exploração continuada de petróleo e gás. Trata-se de uma contradição estrutural: não é coerente — nem sustentável — financiar a superação dos combustíveis fósseis com a ampliação da sua própria extração. Essa lógica

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Congresso inclui em MP brecha para asfaltamento da BR-319, via na Amazônia que gerou bate-boca de senadores com Marina

A Licença Ambiental Especial (LAE), aprovada pelo Senado anteontem, contém uma brecha para a liberação da pavimentação da rodovia BR-319 em até 90 dias. A obra, que corta o coração da Amazônia, é apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e está no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), ao mesmo tempo em que é criticada por ambientalistas,

Leia Mais »

URGENTE | Leilão do Pré-Sal: ARAYARA cobra governança pública e popular e defesa da soberania energética e climática

O Instituto Internacional ARAYARA vem a público manifestar profunda preocupação com a atual estratégia da Petrobras e a Pré-Sal Petróleo S.A. (PPSA), que insiste na entrega de seus ativos para acionistas privados e estrangeiros, em flagrante contradição com a emergência climática e a própria abundância de reservas nacionais já conhecidas. Esse contra senso é agravado diante da necessidade de que

Leia Mais »