+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Justiça suspende leilão de termelétricas e exige consulta pública sobre impacto na energia

A Justiça Federal do Distrito Federal suspendeu o Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP 2025), que previa a contratação de termelétricas a gás fóssil, e determinou a realização de uma nova consulta pública. A decisão atendeu a uma ação movida pela Associação Brasileira de Defesa do Consumidor (Proteste), que questionou critérios do certame que poderiam elevar as tarifas de energia para os consumidores.

O leilão, marcado para 27 de junho, objetiva contratar potência elétrica, assegurando segurança se suprimento ao Sistema Interligado Nacional (SIN). No entanto, a mudança de parâmetros, como o “Fator A” — que influencia os preços ofertados — gerou questionamentos no setor. A Eneva obteve liminar no Superior Tribunal de Justiça (STJ) suspendendo a aplicação desse fator, e a Abrace, associação que representa grandes consumidores de energia, solicitou o adiamento do leilão, alegando riscos financeiros e impactos na transição energética.

Com a suspensão, o governo terá que reavaliar as regras do certame, garantindo maior participação social e transparência no processo.

Entenda o caso

O Leilão de Reserva de Capacidade foi proposto pelo Ministério de Minas e Energia (MME) como uma medida para garantir o suprimento elétrico em momentos de alta demanda ou escassez hídrica. No entanto, especialistas alertam para a necessidade de repensar sua estruturação e a real necessidade dessa contratação.

Uma das principais críticas ao modelo adotado é que ele incentiva a contratação de termelétricas movidas a gás natural, um combustível fóssil. Apesar da previsão de participação de hidrelétricas, as regras favorecem usinas a gás, incluindo aquelas já em operação e novos projetos previstos até 2030. 

Essa ampliação da capacidade baseada em fontes fósseis pode comprometer a diversificação da matriz elétrica brasileira, que historicamente tem um alto percentual de fontes renováveis, além de prejudicar o desenvolvimento de tecnologias mais limpas, como o armazenamento de energia.

Outro ponto de preocupação é o impacto econômico para os consumidores. O leilão adiciona custos às contas de energia ao garantir a disponibilidade de geração, independentemente do uso efetivo dessa capacidade. Isso penaliza especialmente os consumidores do mercado regulado, aumentando o desequilíbrio financeiro entre esse mercado e o mercado livre.

Especialistas apontam que o leilão é uma solução paliativa para os desequilíbrios do setor elétrico, que sofre com subsídios excessivos e distorções regulatórias. Anton Schwyter, gerente de Energia, Clima e Geociências do Instituto Internacional ARAYARA, alerta para a necessidade de uma reforma estrutural no setor: “O sistema elétrico atual não conseguirá se adaptar às novas demandas de sustentabilidade, eficiência e inovação sem uma reforma profunda. Para evitar medidas paliativas e onerosas para os consumidores, é essencial corrigir as distorções no modelo de subsídios e adotar políticas que incentivem a eficiência e a sustentabilidade.”

Para o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno de Araújo, a decisão da Justiça de suspender o leilão reforça a importância de discutir amplamente os impactos dessa medida e garantir que a política energética brasileira esteja alinhada com os desafios climáticos e econômicos do futuro.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Projeto de lei visa proibir expansão de petróleo e gás na Amazônia

O deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP) protocolou na manhã desta quarta-feira (16) um projeto de lei (PL) na Câmara dos Deputados que visa proibir a criação de novos projetos de exploração de petróleo e gás na Amazônia. A proposta surge como reação direta aos recentes esforços do governo federal para liberar a exploração na chamada Margem Equatorial, região conhecida como

Leia Mais »

Usina nuclear indesejada

O setor nuclear brasileiro tem em sua trajetória um passado nebuloso, repleto de episódios controversos. Desde o contrabando e exportação de areias monazíticas do litoral capixaba/baiano/fluminense, a cabulosa venda de urânio para o Iraque, o legado de morte e contaminação provocado pela Nuclemon (antiga estatal) na extração de minerais radioativos e de terras raras, o secretismo do Programa Nuclear Paralelo/Clandestino,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ANP inclui Foz da Amazônia em novo leilão

Cinco meses antes da COP 30 no Brasil, a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) divulgou que o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (5OPC) de petróleo, que está agendado para o dia 17 de junho, prevê a oferta de 172 blocos exploratórios, abrangendo uma área de 145.597 km², o equivalente a 1,71% do território nacional.

Leia Mais »