A escola precisa ser mais do que um local de ensino: deve se tornar um ponto central de adaptação e resiliência diante da crise climática. Este foi o foco do painel “Educação, Parlamento e Cidades: Construindo Adaptação Climática no Brasil”, realizado nesta quinta-feira (13), no ARAYARA Amazon Climate Hub durante a COP30.
O encontro reuniu vereadores e deputados de grandes centros urbanos, como São Paulo, Salvador e Fortaleza, para discutir como o Legislativo pode impulsionar políticas que transformem escolas e cidades, priorizando as comunidades mais vulneráveis.
Crianças e Injustiça Climática no Centro do Debate
A vereadora de São Paulo e idealizadora da Bancada do Clima, Marina Bragante (REDE-SP), destacou que o projeto de escolas adaptadas foi a primeira grande iniciativa da frente.
“Muitas vezes as crianças não são vistas quando falamos de clima, e elas são as mais afetadas pelo que vemos das mudanças climáticas, e passam grande parte de seu tempo nas escolas,” afirmou.
A proposta de escolas adaptadas vai além da infraestrutura básica, buscando garantir o “direito do acesso à natureza” e a instalação de espaços verdes e hortas, além de sistemas de comunicação de alertas para toda a comunidade.
O vereador André Fraga (PV-Salvador) concordou que a adaptação deveria ser inerente à construção, e não uma lei. Ele lamentou que o foco atual das escolas se limite a mais salas e grades, enquanto ignora a importância da biofilia e da arquitetura adequada. “A energia que o cérebro usa para regular a temperatura do corpo também prejudica a criança em seu desenvolvimento,” explicou, citando o trabalho com o Instituto Alana para levar espaços verdes às escolas de Salvador.
O CEP da Injustiça: Classe e Raça
A vereadora Keit Lima (PSOL-SP) deu o tom mais crítico ao debate, alertando que a injustiça climática tem cor, gênero e CEP.
“A injustiça climática, o racismo ambiental, afeta um corpo específico, tem cor, tem gênero, tem território,” disse. “Estamos no mesmo barco, mas alguns estão numa canoa furada.”
Ela ilustrou a disparidade em São Paulo, onde bairros nobres chegam a registrar uma diferença de até 9 graus Celsius em relação a comunidades como Paraisópolis.
“Na minha periferia as pessoas se preparam para perder tudo em janeiro. Isso não é normal. Então precisamos falar abertamente que estamos discutindo racismo ambiental,” enfatizou Keit.
O vereador Gabriel Biologia (PSOL-Fortaleza) reforçou a necessidade de uma educação contextualizada. A maior parte da população vive em 0,6% do território, nos centros urbanos, onde há menos ambiente preservado. Para ele, o processo educativo tem que partir da realidade da criança, permitindo que ela desenhe e identifique o que considera bom ou ruim em seu território.
Vontade Política e Desafio da Implementação
A falta de ação não é por ausência de recursos ou necessidade, mas de vontade política, segundo a vereadora Bia Bogossian (PSD-Três Rios/RJ). Sua cidade, com um delta de três rios, sofre com enchentes anuais.
“O que falta para realizar não é recurso, gente, necessidade, mas sim vontade política,” declarou.
Bia citou o exemplo de uma escola que foi forçada a operar em um clube após ser inundada e contrastou com a “escola de maior qualidade” da cidade, que é rural, com horta e floresta. Ela defendeu que a bancada do clima é essencial para cobrar essa vontade política de gestores de todas as orientações, pois o meio ambiente é uma pauta de todos.
O deputado estadual Marcelino Galo (PT-Bahia) correlacionou as pautas climática e social.
“Não vamos resolver a injustiça climática se não resolvermos a injustiça social, sem mexer na concentração de renda.”
Galo também alertou para o “número alarmante de escolas que vêm sendo fechadas” e o avanço das escolas cívico-militares, fatores que ameaçam a educação da juventude. Ele defendeu que acelerar a qualificação das escolas como espaços de acolhimento e de tempo integral, com profissionais qualificados, é crucial.
Foto: Odaraê FIlmes











