Projetos que unem agroecologia, alimentação saudável e fortalecimento da agricultura familiar foram apontados como algumas das soluções climáticas mais concretas apresentadas na COP30.
Em uma mesa-redonda no Arayara Climate Hub, especialistas, gestores públicos e agricultores mostraram que colocar comida de verdade — limpa, local e justa — no centro das políticas climáticas pode ser decisivo para conter a crise ambiental e garantir justiça social nos territórios.
O encontro reuniu iniciativas como o LUPPA — Laboratório Urbano de Políticas Públicas Alimentares, Instituto Comida do Amanhã , CLEI América do Su, o Projeto Terra Nutre, do Instituto Centro de Vida (ICV), e a Iniciativa Mesa da COP30, do Instituto Regenera em parceria com o Comida do Amanhã.
Para Nicole Figueiredo, diretora executiva do Instituto Internacional ARAYARA, o debate confirmou que “políticas públicas integradas, apoio à agricultura familiar e protagonismo comunitário são caminhos reais para enfrentar a crise climática garantindo produção local, comida de qualidade e justiça social”.
Agricultura familiar pede mais espaço nas decisões climáticas
A primeira mesa foi moderada por Fabricio Muriana, diretor e cofundador do Instituto Regenera. Ele celebrou o avanço de iniciativas que já incorporam alimentos agroecológicos amazônicos à COP, mas cobrou mais espaço para os agricultores:
“Queremos que os agricultores estejam no centro do debate e sejam mais ouvidos quando falamos em soluções climáticas.” Ele defendeu a ampliação da participação da agricultura familiar em eventos como a COP, que pela primeira vez em uma Conferência, teve estabelecido em 30% o percentual de ingredientes locais e biodiversos fornecidos para os cardápios de bares e restaurantes credenciados.
Muriana destacou novas oportunidades de financiamento e citou o programa Amazônia na Escola, previsto para o próximo ano, que ampliará a participação direta de agricultores na transição agroecológica dos territórios.
Produtores da região Norte reforçaram a urgência de políticas que considerem a realidade da agricultura familiar e a voz do campo foi forte.
José Cunha, do SPG Tapajós, enfatizou o potencial da Amazônia e a urgência de agir: “A ganância humana está destruindo vidas e ecossistemas, e a agroecologia é uma alternativa real para mitigar essas crises. “Temos tecnologia para produzir respeitando a vida humana, o meio ambiente e os recursos hídricos.” Já Maria Jeanira, diretora da Pará Orgânicos,que celebrou a visibilidade trazida pela COP30, fez um apelo. Para Jeanira, a COP30 deve deixar como legado que bares, restaurantes e instituições continuem a comprar da agricultura familiar.
Alciete Mendes dos Santos (SPG Tapajós) e Ana Cristina, agrônoma da COPABEM, relataram dificuldades estruturais, como a falta de documentação das familias o que impossibilita acesso a financiamentos e participação em licitações. Para elas, a COP surgiu como uma chance para recomeçar.
Lucia Reis, da Rede Bragantina, defendeu o protagonismo feminino na agroecologia:
“Queremos que, em cinco anos, o nosso grupo esteja ainda mais fortalecido e respeitado.”
Soluções urbanas e políticas públicas: quando as cidades impulsionam a transformação
Na segunda mesa, Francine Xavier, diretora e cofundadora do Instituto Comida do Amanhã, reforçou que os municípios são chave para transformar sistemas alimentares:
“A monocultura aumenta doenças e agrava a crise climática. A LUPPA dá visão sistêmica aos gestores e aproxima políticas públicas das comunidades.” Rodrigo, diretor do ICLEI América do Sul, lembrou que municípios são essenciais, mas enfrentam “mais exigências e menos recursos”, o que dificulta a execução de políticas sustentáveis.
Kassia Ripardo, gestora da Prefeitura de Benevides e coordenadora do LUPPA, apresentou avanços locais. “O produtor precisa ser reconhecido e valorizado. O PNAE Ecológico foi uma grande conquista, garantindo alimentos agroecológicos nas escolas e fortalecendo a produção local.”
Encerrando a mesa, Camila Horiye Rodrigues, do Instituto Centro de Vida, apresentou o projeto Amazônia nas Escolas em Mato Grosso, destacando o aumento de fornecedores locais e a criação de chamadas públicas para produtores indígenas:
“O objetivo é expandir essas chamadas para todos os povos indígenas em 2026.”
Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA














