Durante a COP30, o ARAYARA Amazon Climate Hub sediou um dos debates mais práticos e estratégicos da agenda socioambiental: o workshop da Conservation Strategy Fund (CSF), que apresentou o Calculators Hub — um conjunto de três calculadoras online que vem revolucionando a forma como governos, organizações e comunidades amazônicas medem impactos ambientais e planejam políticas públicas.
As ferramentas — voltadas para calcular custos da mineração de ouro, impactos do desmatamento e necessidades financeiras para gestão de terras indígenas — traduzem análises que antes levavam meses em resultados instantâneos. Gratuitas e disponíveis em português, inglês e espanhol, elas já têm sido usadas para formulação de políticas, responsabilização de empresas, captação de recursos e planejamento territorial.
O evento que aconteceu na manhã do dia 20/11, foi moderado por Natalia Sanín-Acevedo, Diretora Global de Treinamento da CSF, que ressaltou o caráter democratizador das ferramentas apresentadas. Ao longo de 20 anos, a CSF tem trabalhado com governos, comunidades e conservacionistas, oferecendo análises econômicas, capacitação e assistência técnica para orientar decisões e implementar estratégias locais replicáveis. Com equipes na Bolívia, Brasil, Indonésia e EUA, a organização já alcançou mais de 5.000 pessoas em 131 países, influenciou mais de US$ 21 bilhões em investimentos e contribuiu para a conservação de 50 milhões de acres em todo o mundo.
O economista Leonardo Bakke, coordenador Técnico da CSF Brasil, conduziu a apresentação com exercícios práticos, explicando como os cálculos ajudam a transformar dados em ação concreta.
Ferramentas já geram resultados expressivos
Segundo Leonardo, a Mining Impacts Calculator já foi utilizada pelo Ministério Público Federal (MPF) para cobrar mais de US$ 1,5 milhão em reparações por danos da mineração ilegal de ouro. A calculadora também está em processo de adoção em outros países amazônicos — com convênios em andamento no Peru.
“No início, a ferramenta era usada apenas para quantificar multas. Com o tempo, percebemos que podia servir para planejamento orçamentário e para incentivar tecnologias livres de mercúrio, já que os impactos são enormes”, explicou.
Ele acrescentou que, em média, o impacto socioambiental da mineração chega a duas vezes o valor do ouro extraído, variando conforme a realidade local e o preço internacional do metal.
Toda a metodologia está disponível de forma pública no site da CSF.
As três calculadoras apresentadas
- Impactos da mineração de ouro na Amazônia
🔗 Mining Impacts Calculator
https://miningcalculator.conservation-strategy.org/calculator
A ferramenta analisa:
-contaminação por mercúrio (solo, água e saúde humana);
-desmatamento e erosão;
-emissões de carbono;
-custos de reflorestamento;
-impactos sociais e de saúde (como, hipertensão e infarto, calculados em parceria com a Fiocruz).
Segundo Leonardo, é possível inserir dados como quantidade de ouro extraído, área degradada ou valores médios nacionais. Para áreas públicas, o sistema também indica quanto o garimpeiro deveria pagar à União.
- Custos de gestão de terras indígenas no Xingu
🔗 Calculadora de Terras Indígenas
https://calculadoraindigena.com.br/calculadora_terra_indigena
Desenvolvida com o Instituto Socioambiental (ISA) e Rede Xingu+, estima quanto custa manter uma terra indígena protegida.
A análise inclui eixos como:
- governança
- monitoramento
- geração de renda
- saúde
- segurança alimentar
- proteção territorial
A ferramenta identifica variáveis que influenciam os custos, como: nível de ameaça, tamanho do território, localização da sede, tamanho da população, e a partir delas, modela valores mesmo para terras que não possuem dados completos. No caso desta ferramenta, é necessário inserir a inflação para atualizar os valores anuais.
- Impactos do desmatamento na Amazônia
🔗 Deforestation Impacts Calculator
https://deforestationcalculator.conservation-strategy.org/
Voltada para impactos irreversíveis, monetiza:
-perda de biodiversidade
-erosão
-redução de serviços ecossistêmicos
-perdas recreativas
-emissões de carbono
-custos de restauração florestal
Nos casos de desmatamento ilegal, não calcula a reparação jurídica, mas sim o risco ecossistêmico — ferramenta usada para subsidiar perícias, decisões administrativas e projetos de restauração.
Ferramentas democráticas e úteis para diferentes setores
Participantes elogiaram a aplicabilidade das calculadoras para estudantes, pesquisadores, peritos judiciais, técnicos de governo e comunidades indígenas. Os downloads automáticos de relatórios facilitam o uso em processos legais e diagnósticos rápidos.
Leonardo afirmou que há demanda para novas ferramentas:
“Ainda não existe uma calculadora para impactos do petróleo em águas, mas há espaço para desenvolver isso. O objetivo é apoiar decisões e ampliar a educação socioambiental com plataformas abertas.”
Ele anunciou que a CSF lançará, no início do próximo ano, uma nova calculadora, ampliando ainda mais o alcance do Hub.
Para o diretor técnico da ARAYARA, Juliano Bueno, doutor em Urgências e Emergências Ambientais e conselheiro do CONAMA e do FONTE, o workshop reforçou a importância da ciência no enfrentamento aos crimes ambientais e no planejamento de uma Amazônia viva e protegida.
“Precisamos munir a sociedade, cada vez mais, com informação, transparência e ferramentas confiáveis. O Calculators Hub, assim como o “Monitor de Expansão de Combustíveis Fósseis nova ferramenta da ARAYARA em parceria com a Urgewald, tornam-se grandes aliados tanto para órgãos oficiais quanto para as comunidades amazônicas, contribuindo para decisões informadas — baseadas em ciência, transparência e participação social.”
Foto: Oruê Brasileiro/ ARAYARA





