+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Conferência Livre debate Justiça Climática e os impactos do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP)

A Conferência Livre “Construindo Soluções para a Justiça Climática frente aos Impactos do Complexo Industrial e Portuário do Pecém – CIPP” foi realizada ontem (23), de forma online, com a participação de 56 pessoas. O evento, promovido pelo Instituto Internacional ARAYARA, em parceria com a Organização dos Velhos Troncos do Povo Anacé da Japuara – Japiman, debateu os impactos socioambientais e sanitários causados pela expansão do CIPP em Caucaia, Ceará, e as estratégias de resistência do Povo Anacé frente às mudanças climáticas.

 

Durante a conferência, Mariano Mota Marques, representante da juventude indígena do Povo Anacé, foi eleito delegado para a Conferência Nacional de Meio Ambiente, acompanhado pela suplente Maria do Carmo Silva. Mariano reforçou a importância da luta coletiva: “Acredito que podemos lutar juntos, porque essa é uma causa de todos, é uma causa pela vida”. 

 

Maria do Carmo destacou a necessidade de capacitação da comunidade para enfrentar os desafios: “Quando esses empresários chegam, vêm com falas prontas, tudo parece bonito e perfeito. Precisamos estudar, formar grupos de liderança nas aldeias para estarmos preparados e defender nossa terra”.

 

A pesquisadora Heloisa Simão, da ARAYARA, ressalta a importância da conferência como espaço de mobilização: “Essa Conferência Livre demarcou um espaço importante de expressão da luta histórica do Povo Anacé. Ela fortaleceu a reflexão coletiva e a construção de propostas efetivas e adequadas para mitigação, adaptação e justiça climática para a Conferência Nacional de Meio Ambiente, representando a resistência e cotidiano desse povo .

 

Propostas aprovadas

Entre as propostas aprovadas no evento, destacam-se:

  • Mitigação: Garantir segurança hídrica frente à exploração do hidrogênio verde e do CIPP, além de elaborar diagnósticos sobre emissões de gases e impactos socioambientais, com reflorestamento de plantas nativas;
  • Adaptação: Criar programas de recuperação ambiental com valorização do conhecimento indígena e fiscalizar a retirada de recursos naturais do Lagamar do Cauípe;
  • Justiça Climática: Assegurar o direito à consulta prévia, livre e informada do Povo Anacé, respeitando o Protocolo de Consulta, e criar planos de compensação para famílias impactadas pelo CIPP;
  • Transformação Ecológica: Incentivar a substituição do carvão mineral no CIPP e implementar sistemas agroflorestais nas aldeias Anacé;
  • Governança e Educação Ambiental: Desenvolver programas educativos sobre mudanças climáticas e monitorar de forma eficiente a qualidade da água e do ar nos territórios afetados.

 

Denúncias de lideranças Anacé

 

A conferência também foi marcada por denúncias de lideranças indígenas sobre os graves impactos do CIPP. A liderança Aurea Anacé destacou o aumento de doenças, como câncer e doenças de pele, e criticou a exploração de recursos naturais sem consulta ao povo Anacé. “O CIPP para nosso povo é uma doença. Está trazendo doenças, ganância e destruindo nosso território”, afirmou.

 

O Cacique Roberto Anacé denunciou a estratégia de dividir indígenas e criticou a falta de respeito pela organização tradicional do povo: “Empresas e governo promovem a desinformação e uma política de indígena contra indígena. Nossa luta é pela preservação da natureza e da nossa mãe-terra, luta iniciada com nosso saudoso e lendário Cacique Antônio”.

 

Já Yasmin Anacé chamou atenção para a ausência de fiscalização e a prioridade dada às empresas em detrimento das comunidades: “Se faço um piquenique no rio, recebo uma multa, mas o CIPP pode retirar água e perfurar dunas sem problemas. Enquanto isso, nas aldeias, enfrentamos a falta de água e precisamos de carro-pipa para sobreviver”.

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Exploração de Petróleo e Gás no Mato Grosso do Sul ameaça povos indígenas, ecossistemas e o setor do agronegócio

Técnica do fraturamento hidráulico (fracking) pode gerar bilhões em prejuízos e comprometer exportações agrícolas Quase quatro meses após o 5º Ciclo da Oferta Permanente de Concessão (OPC), promovido pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), os impactos da expansão da fronteira de petróleo e gás seguem provocando preocupação em regiões de alta sensibilidade ambiental e social. Além

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Blick auf COP30: Studie benennt Geldgeber für Extraktivismus in Lateinamerika

Urgewald nennt Banken und Investoren hinter neuen Öl- und Gasprojekten. 138,5 Milliarden Dollar Kredite seit 2022. 92 Prozent aus dem Ausland. Banco Santander vorn, Deutsche Bank mit 3,4 Milliarden Das Titelbild der neuen Studie der Umweltorganisation Urgewald vor der COP30 Berlin/Belém. Fünf Wochen vor dem UN-Klimagipfel in Belém (COP30) zeigt eine neue Studie der deutschen NGO Urgewald das Ausmaß der Öl-

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Pemex y Petrobras encabezan la expansión petrolera en América Latina

América Latina y el Caribe atraviesan una etapa de acelerada expansión en proyectos de petróleo y gas, liderada tanto por compañías internacionales como por empresas estatales emblemáticas de la región, como Pemex en México y Petrobras en Brasil. Sin embargo, esta tendencia avanza en dirección contraria a los compromisos climáticos internacionales y representa serios costos ambientales y sociales, de acuerdo con el informe “El rastro

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: ¿Qué bancos financian la expansión petrolera en ecosistemas clave de América Latina y el Caribe?

Un informe de Amazon Watch y aliados detalla cómo los grandes bancos internacionales financian empresas que realizan obras gasíferas y petroleras en la Amazonía y sitios centrales de los océanos Atlántico y Pacífico. El estudio explica que los bancos contradicen sus propias políticas para proteger la Amazonía. Fuente: Mongabay, 1 de octubre de 2025. Entre 2022 y 2024, 298 bancos

Leia Mais »