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Barragem corre risco em função de terremotos induzidos pelo fracking

Barragem corre risco em função de terremotos induzidos pelo fracking

Em artigo publicado recentemente, há riscos de rompimento da barragem de Peace Canyon, que fica no Canadá, a partir da prática do fraturamento hidráulico (fracking) em regiões próximas à barragem. Segundo o artigo, a BC Hydro sabia dos riscos.

“A BC Hydro sabe há mais de uma década que sua barragem de Peace Canyon foi construída sobre rochas instáveis ​​e fracas e que um terremoto provocado por uma indústria de gás natural de fraturamento ou operação de um poço de descarte nas proximidades pode causar a falha da barragem.”

Leia o artigo original aqui.

COP25: carta dos povos indígenas cobra proteção e justiça

Imagine todos os povos do mundo, de todos os continentes, reunidos através de representantes para buscar um objetivo comum. Imagine que todos saibam dialogar, conciliar interesses, ouvir, respeitar, ceder, avançar. Imagine que essa reunião de diferentes povos resulte uma carta de intenções, de pedidos, de exigências e de compromisso com o futuro e com o planeta. Parece impossível. Mas, para os povos indígenas, isso é realidade. E a COP25 foi o palco desse acontecimento inédito e inspirador.

A carta foi construída em processo plural e coletivo por mais de um ano, quando mais de 400 aldeias foram visitadas e ouvidas em ação liderada pelo Instituto Arayara em parceria com 350.org Indígena e COESUS. Do processo de escuta, resultou o primeiro rascunho da Carta Climática dos Povos Indígenas. O documento foi discutido e aprofundado por aproximadamente 150 indígenas de forma presencial em Madri, durante a Cúpula Indígena da COP-25 (MINGA), evento paralelo à Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças do Clima (COP-25) oficial, que começou no último dia 2 e termina no dia 13.

O documento histórico foi entregue em 10/12, em Madri, a Andres Landerretche, coordenador da Presidência da COP25, e a Gonzalo Muñoz, ‘champion` da COP25. O momento foi simbólico e emocionante, pois levou ao mundo um pouco dos rituais e da diversidade dos povos originários aos corredores da COP. A carta será entregue, ainda, a diversas autoridades de diversos países. O seu recado é forte, contundente e generoso: pede justiça e proteção aos povos originários, que fazem a defesa incansável do planeta em que brancos e não-brancos vivem, em que humanos e não-humanos vivem. A carta não é voltada apenas aos povos indígenas, mas a todos aqueles que vivem na Terra e dependem da Mãe Natureza para sobreviver.

“Foi um momento histórico tanto para o processo das negociações climáticas globais quanto ao processo indígena na COP. Foi a primeira vez que um grupo indígena de diferentes partes do mundo se reuniu de forma autônoma e independente. Uma das demandas da carta pede que este espaço seja reconhecido pela ONU como interlocutor desses povos. Para mim, o mais relevante é que houve um processo de reversão do centro de poder, que é influenciado por poluidores, pela indústria fóssil, por desmatadores e governos ditatoriais para um processo de empoderamento dos povos indígenas, com elevação dessas vozes. Esperamos que este processo seja fortalecido nos próximos anos”, afirma Nicole, diretora da 350.org América Latina.

Confira a íntegra da carta:

Nós, Autoridades Tradicionais de diferentes povos indígenas de todas as partes do mundo que compõem a Minga Indígena COP25, somos os protetores, protetoras, guardiões e guardiãs da vida, vivemos e convivemos nos territórios mais biodiversos do planeta, a água em todas as suas formas naturais, rios, ar, florestas, selvas, desertos, áreas úmidas, manguezais, montanhas, mares e oceanos.

Estes elementos da natureza estão diretamente ligados à nossa espiritualidade, bem como à nossa sobrevivência, aos nossos alimentos tradicionais e aos nossos medicamentos sagrados. Estamos aqui para fazer eco da nossa voz em todas as partes do mundo. Que saibam que existem povos indígenas trabalhando para bem viver e que estamos defendendo a vida, a natureza e a humanidade, indígenas ou não.

A terra e o território são essenciais para assegurar a continuidade dos seres humanos e das suas sociedades. É o sustento e o equilíbrio climático sem os quais os seres vivos, independentemente da sua origem, cor e cultura, deixariam de existir. Os seres humanos e não humanos dependem do equilíbrio entre o material e o espiritual. Desde os mais simples e humildes até aos que estão sob controlo político, todos, sem exceção, dependem deste sistema que agora está desequilibrado.

O sistema patriarcal, capitalista e colonialista nos trouxe para esta crise climática. Vemos muitos representantes de Estados considerando apenas o lucro mercantil e financeiro, sem levar em conta a importância da vida. Por esta razão, entendemos que eles são cúmplices de toda esta destruição. Se o petróleo, o gás, os minerais e o carvão estão nas profundezas da terra, é porque a Mãe Natureza os deixou lá enterrados, trazê-los para o nosso ambiente é contradizer a sua sabedoria.

A participação plena e efetiva para o consentimento livre, prévio e informado não deve ser entendida apenas como uma obrigação dos Estados, mas como um direito a ser implementado pelos próprios povos e nações indígenas, de acordo com seus costumes e tradições, respeitando sua organização política, social e territorial, de acordo com a Convenção 169 da OIT e a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Os protocolos de consulta comunitária devem ser vinculantes e respeitados pelos Estados para qualquer ação relacionada com os nossos territórios, o nosso modo de vida e os nossos povos.

Por isso, recomendamos:

  1. Por fim à criminalização, perseguição, prisão, desaparecimento e assassinato de nossos líderes e autoridades tradicionais por proteger e defender nosso território.
  2. Aos Estados e Organismos Internacionais de Direitos Humanos e/ou Ambientais, para que investiguem juntos e de forma transparente e responsável os assassinatos e responsabilizem os autores intelectuais e materiais desses assassinatos. Além disso, que os Estados garantam a segurança e a proteção das lideranças indígenas que se encontrem em situação de ameaça.
  3. Rejeitar a mercantilização da natureza uma vez que as terras e os territórios são inestimáveis. Soluções Baseadas na Natureza (NBS), Emissões Reduzidas do Desmatamento (REDD+) e outros programas de compensação não são soluções reais para crises climáticas. São apenas soluções neocolonialistas que trazem conflitos dentro dos nossos povos.
  4. Que a Mãe Terra seja reconhecida e declarada como um sujeito de direitos, porque para nós os efeitos da crise climática nada mais é do que o grito de socorro da Terra.
  5. Projetar e adotar medidas reais para proteger nossa Mãe Terra, deixando os combustíveis fósseis no chão, preservando nossas águas, não queimando nossas florestas, e não explorando nossos territórios através da mineração e atividades extrativistas. Todos os esforços para a geração de energias renováveis não convencionais devem ser orientados para a geração para consumo básico e na escala das comunidades e não priorizando o extrativismo colonialista das transnacionais.
  6. Que a participação efetiva seja um direito, reconhecendo as lideranças, autoridades guardiãs dos territórios indígenas que hoje representam os espaços mais biodiversos e reservas de água do mundo.
  7. Proteger os territórios dos povos não-contatados em isolamento voluntário e dos não reconhecidos, respeitando assim a liberdade de trânsito em seus territórios ancestrais.
  8. Oficializar a Minga Indígena nos espaços estabelecidos da COP como interlocutor válido dos povos indígenas. Observa-se uma folclorização e uma invisibilidade de nós mesmos e dos nossos conhecimentos nos espaços de diálogo existentes, sendo estes insuficientes para enfrentar os desafios que enfrentamos a nível planetários. É por isso que pedimos que a UNFCCC reconheça e apoie a Minga como um órgão de seguimento da voz indígena no mundo. Como espaço de participação complementar, livre e efetiva.
  9. Que os países da América Latina ratifiquem o Acordo de Escazú.

Finalmente, fazemos um apelo à consciência e à solidariedade, que é o momento de unir todos os esforços do mundo e pôr de lado todas as nossas diferenças, étnicas, religiosas, políticas, sociais, amorosas à vida que todos somos, nossas futuras gerações não podem herdar um planeta doente, devemos curá-la. Depende de nós.

APOIE A CARTA INDÍGENA, ASSINE NOSSA PETIÇÃO: https://act.350.org/act/carta-indigena-cop-25/

Assista ao documentário que mostra um pouco do processo de construção da carta. VOZES INDÍGENAS: NÓS SOMOS O DOCUMENTO DA TERRA

Oil Toys: chegaram os brinquedos que já vem afetados pelo maior vazamento de óleo do Brasil

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A INNOCEAN Worldwide Brazil fez uma parceria inédita com a Arayara, o Observatório do Petróleo e a 350.org Brasil! Essa parceria recorreu ao humor para fazer um alerta muito importante: quanto menos o governo se esforça para conter o vazamento, mais animais morrem.

O primeiro vídeo da recente parceria foi exibido hoje, na COP-25, em Madri, durante a exposição #MarSemPetróleo. O recado é claro: NÃO DEIXE O MAIOR VAZAMENTO DE OLEO DO BRASIL VIRAR BRINCADEIRA!

Confira o vídeo:

 

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Arayara e 350 iniciam participação na COP-25

A delegação da Arayara, do Observatório do Petróleo e Gás e a 350.org está em Madri para a participação da COP-25. A partir de hoje (5), eles iniciam as atividades que promoverão na Espanha. Como demanda principal, as instituições pedem que as vozes das pessoas mais impactadas pelas mudanças climáticas estejam no centro da tomada de decisão de como a sociedade conterá o aquecimento global. 

“Os mais impactados são comunidades indígenas, ribeirinhas e pescadores artesanais. Todas estas pessoas têm uma relação de defensores climáticos e ao mesmo tempo dependem mais diretamente do meio ambiente para sua sobrevivência; e não os poluidores, que integram a indústria fóssil. Por isso, estamos levando como convidadas algumas vozes indígenas da região para serem ouvidas. Esta é a nossa prioridade”, destaca Nicole Oliveira, diretora da 350.org.

Entre as atividades promovidas pela Arayara, estão o lançamento do documentário que conta um pouco da construção da Carta Climática dos Povos Indígenas que será finalizada e apresentada na COP; a exposição #MarSemPetróleo, com fotos do vazamento de óleo que acontece na costa brasileira e sobre as ações da Arayara e 350.org para combater a exploração dos combustíveis fósseis.

Confira, a seguir, a programação:

Exposição #MarSemPetróleo
Quando: dias 5, 10 e 11/12
Onde: Brazil Action Hub
O que: Vamos escancarar para o mundo as imagens do maior vazamento de petróleo do Brasil
Realização: 350.org, Observatório do Petróleo e Gás, e Instituto Internacional Arayara

Expo Carta Indígena
Quando: Dias 6 e 7/12
Onde: Estande 14 – Green Zone
O que: Conheça a visão indígena sobre as mudanças climáticas e suas demandas como centro da discussão
Realização: 350.org e Instituto Internacional Arayara

Diálogos Climáticos com Indígenas
Quando: Dia 7/12
Onde: Booth 14 Green Zone
O que: Conversa aberta com indígenas sobre as mudanças climáticas
Realização: 350.org e Instituto Internacional Arayara

Vozes indígenas – Carta climática e clamor dos povos tradicionais da América Latina
Quando: Dia 11/12 – Das 12:00 às 13:45h
Onde: Carpa Escenario / Cumbre de los pueblos (PORT/ESP)
Realização: 350.org e Instituto Internacional Arayara

Energias renováveis devem suprir 80% da demanda mundial até 2050

Até 2050, as fontes de energias renováveis como a solar, a eólica, a geotérmica e a marítima, poderão abastecer em 80% a demanda mundial, segundo informações da Organização das Nações Unidas (ONU). O setor de energia limpa tem alto potencial de expansão com a gradual substituição dos mecanismos de emissão de energias poluentes, como carvão, petróleo e gás.

Além disso, o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) realizou um estudo sobre pesquisa e inovação que mapeia as empresas nacionais que estão na fronteira tecnológica, em um trabalho com biocombustíveis e ‘química verde’.

Segundo recente relatório da agência de risco Moody’s Investors Service, nas próximas décadas, boa parte da energia elétrica da América Latina será suprida pelas fontes eólica e solar, em lugar de combustíveis fósseis como o carvão e o óleo, que ainda têm participação relevante em alguns dos mercados do continente.

Fonte: Portal Solar

Em busca de cura para o luto climático

Em busca de cura para o luto climático

Em um dia no início do terceiro trimestre, 19 pessoas se reuniram em um pequeno espaço para eventos no Brooklyn e formaram um círculo. Entre eles havia um advogado da área de imigração, um terapeuta, um manifestante da Rebelião contra a Extinção, um artista e eu. Fazia calor do lado de fora, uma temperatura que antes descreveríamos como fora de época, mas, atualmente, já consideramos normal para meados de setembro.

Estávamos ali para uma oficina chamada C​ultivating Active Hope: Living With Joy Amidst the Climate Crisis [Cultivo da esperança ativa: vivendo com alegria em meio à crise climática], um título que parecia absurdamente otimista. Eu estava lá porque me sentia incapaz de entender como alguém poderia lidar com a crise climática sem enlouquecer. Você conhece alguém que cita o antropoceno no perfil do aplicativo de namoro? Que entregou certificados de captura de carbono como presente de natal? Que olha para um bebê e pensa imediatamente nas cerca de 14 toneladas de carbono que o americano médios emite por ano? Que passa pelas lojas pensando em onde vão parar todas aquelas embalagens? Agora, você conhece.

Talvez uma nova abordagem sobre o aquecimento global possa ajudar.
Talvez uma nova abordagem sobre o aquecimento global possa ajudar. Foto: Hokyoung Kim / The New York Times

Diferentemente de milhões de pessoas, não fui afetada diretamente pela crise climática — não de maneira significativa… ainda. Mas o bombardeio de notícias climáticas cataclísmicas a respeito do planeta, os incêndios florestais e os dias de outono de 32˚C em Nova York pareciam tão distantes do ritmo natural da vida humana que, muitas vezes, senti que estava enlouquecendo. Minha mera existência parecia admissão de cumplicidade. Afinal, eu pertencia à espécie que estava acabando com a maioria das demais.

Por mais que eu queira me acorrentar a uma árvore centenária, meu trabalho no Times me impede de assumir integralmente a causa de ativista. Assim, faço doações a causas ambientais, sigo uma dieta vegana, contribuo para a composteira, uso o transporte público, carrego talheres de bambu na bolsa e compro artigos de segunda mão — decisões que eu tenho o luxo de poder tomar. Mas nada disso trouxe alívio.

Não ajudou quando perguntei às pessoas ao meu redor como elas estavam lidando com a situação. Me disseram que já é tarde demais. Que eu não deveria me importar, pois não tenho filhos. Que o planeta vai ficar bem, em um futuro distante. Uma amiga deu a entender que a angústia que sinto em relação ao clima seria uma extensão das minhas tendências melancólicas, coisa que me pareceu plausível, mas não era bem isso. Sabemos que o futuro parece ruim, que o presente é ruim, e que a inação, principalmente nos Estados Unidos, está piorando ainda mais as coisas. Mas como devemos viver com nossos corações e mentes tomados por uma ameaça existencial que, enquanto vemos o desaparecimento das aves e das abelhas e acompanhamos a morte e queda das árvores, traz também um impacto tão íntimo?

Finalmente, no terceiro semestre do ano, depois de uma viagem de caiaque pelo Alasca motivada pelo desejo de ver as geleiras enquanto elas ainda existem — fui recebida com incêndios florestais —, decidi buscar respostas. E o que aprendi, na oficina e durante longas conversas com psicólogos, ecólogos, um ativista indígena e budistas ocidentais, foi mais ou menos uma receita para lidar com o luto climático.

Funciona mais ou menos assim: viva como se a crise fosse urgente. Aceite a dor, mas não pare por aí. Busque um caminho espiritual que proporcione gratidão, compaixão e aceitação, porque viver com base na negação, na raiva ou no medo só acaba nos prejudicando.

Mudanças individuais

Nossas escolhas individuais de consumo e transporte parecem menos importantes: por que cancelar a viagem à Europa se já é tarde demais e todos continuam viciados em combustíveis fósseis? Mas Lou Leonard, um dos fundadores do grupo budista One Earth Sangha, dedicado aos problemas da crise climática, disse-me que viver como se a mudança climática fosse real e nós pudéssemos fazer algo a respeito dela são sinais para os demais — algo que pode mudar a cultura. Optar por mudanças aparentemente inconvenientes agora também pode ajudar a nos preparar para o que o futuro pode trazer.

O eco-psicólogo Zhiwa Woodbury acredita que estamos vivendo um trauma coletivo, no qual somos ao mesmo tempo vítima e algoz — nosso ataque contra a biosfera é um ataque a nós mesmos. Alterar hábitos como nossa alimentação também pode fazer com que as pessoas se sintam menos sobrecarregadas e mais poderosas, disse ele, mudando nossa relação com o mundo natural. “Temos a sensação positiva de estar agindo, e é algo que remete à ideia de uma responsabilidade partilhada”, disse Woodbury. “A ideia segundo a qual os indivíduos não têm poder para mudar isso só existe porque fizemos com que se sentissem assim.”

Aceitar a dor foi mais difícil para mim. Não merecemos esse sofrimento? Talvez. Mas sentir desespero é em si uma forma de evitar o problema. “O desespero é uma forma de mostrar que ainda não processamos as emoções”, disse Woodbury.

Na oficina realizada no Brooklyn, que usou o trabalho pioneiro da ativista do luto ambiental Joanna Macy, a facilitadora, Jess Serrante, disse algo que me atingiu como um raio. “A dor que sentimos diante do que está acontecendo é o outro lado da moeda do nosso amor pelo mundo”, afirmou. “Sentimos um desespero tão profundo porque amamos o planeta profundamente.”

Canalizar a dor

Vários psicólogos me disseram que estão dizendo o mesmo aos pacientes que apresentam dificuldade para lidar com o desespero diante da ecologia: a depressão diante da crise é na verdade uma resposta saudável e razoável. Mas, enquanto cultura, tratamos a depressão como a patologia do fracasso pessoal e, enquanto indivíduos, nós a evitamos. Mas isso faz com que nos fechemos para o problema. Jess nos disse que, ao mergulhar na dor, podemos transformá-la em algo maior e restabelecer o elo com nosso eu mais profundo.

A chave é canalizá-la, por meio de atitudes cotidianas ou participando de movimentos mais amplos, e também descobrir uma maneira de enfrentá-la sem sermos controlados por ela. É aí que entra o componente espiritual — encontrar uma forma de alcançar um ponto não de aceitação tácita, mas de feroz compaixão. “Não há nada mais poderoso do que um coração partido, desde que tenhamos um recipiente espiritual para contê-lo”, reforçou Woodbury.

Comecei a tentar aprender a ter mais leveza espiritual, e recuperar a fé nas pessoas. Sentir um elo — com os outros, com nós mesmos — é um antídoto para os sentimentos difíceis que tentamos manter sob controle com distrações e a busca pelo esquecimento. Também valorizo outra coisa que Woodbury me disse: a crise pode nos obrigar a cicatrizar nosso relacionamento com o mundo natural, e não há como se desesperar com essa perspectiva.

Ainda assim, o pessimismo ecológico é duro de matar. No Brooklyn, Jess sugeriu que formássemos pares para dizer um ao outro quais razões nós tínhamos para agradecer por estarmos vivendo nesse período. “Sou grata por viver nesse período porque…”, eu disse ao meu parceiro, um homem que trabalhava no segmento corporativo de preparativos para desastres, “…as pessoas são mais conscientes do que nunca do estrago que causamos? Porque essa é a conclusão lógica daquilo que a Revolução Industrial colocou em movimento?”

“Uau”, respondeu ele. O colega respondeu que era grato por viver em uma época em que era possível ver lindos animais, plantas e toda uma vida selvagem que talvez não resista por muito mais tempo. Fiquei sem ar. Não tinha pensado naquilo. Algo mudou dentro de mim.

Depois, ao caminhar pela calçada escaldante, senti uma gratidão visceral por tudo aquilo que ainda existe, por aquilo que temos que defender, enquanto ainda podemos contemplar essas maravilhas.

Cara Buckley é repórter de cultura e cobre questões de preconceito e igualdade em Hollywood, participando da equipe que ganhou o prêmio Pulitzer em 2018 por reportagens a respeito do assédio sexual no ambiente de trabalho.

TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Fonte: Estão