+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org
COP26: Arayara vai à justiça para garantir recuperação social e ambiental do desastre causado pelas usinas Jorge Lacerda em Santa Catarina

COP26: Arayara vai à justiça para garantir recuperação social e ambiental do desastre causado pelas usinas Jorge Lacerda em Santa Catarina

São necessários R$ 5 bilhões para treinar trabalhadores , recuperar o ambiente destruído e preparar a região para aproveitar a economia não poluente da economia verde; governador do RS participou de debate hoje na COP26 e se comprometeu a superar projeto da Mina Guaíba, que ameaça a água potável de 5 milhões de habitantes da região metropolitana de Porto Alegre

O Instituto Internacional Arayara vai à justiça para exigir que as empresas Engie, Fram Capital e Diamante Brasil assumam os passivos e treinem 20 mil trabalhadores para a transição energética da cadeia produtiva do carvão, que envolve o Complexo Termoelétrico de Jorge Lacerda, instalado em Santa Catarina (SC), e as minas de carvão que abastecem as usinas. As Ações Civis Públicas (ACP) instauradas até hoje pelo Ministério Público Federal (MPF) com finalidades semelhantes chegam a R$ 1,5 bilhão.

Segundo o Instituto Arayara  – que desde março vem realizando estudos com amostras do solo, do ar e coletando depoimentos de especialistas e de pessoas atingidas pelas atividades das usinas e das minas (uma população total de quase 1 milhão de pessoas) -, os custos globais da recuperação social, econômica e ambiental do assim denominada “território Jorge Lacerda”, que se estende por uma área 12 vezes maior do que a região metropolitana de Paris, podem atingir mais R$ 5 bilhões.

As informações foram dadas hoje (4 de novembro), de manhã, pela advogada Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora do Instituto Arayara e do Observatório do Carvão Mineral, no  debate “O carvão e os desafios da Transição Justa no Sul do Brasil”. O evento foi realizado  durante da COP26, a conferência da ONU que ocorre em Glasgow, na Escócia, para debater  as mudanças climáticas do planeta e a Convenção do Clima, assinada por centenas de países, inclusive o Brasil.

Em meados de 2021, a Engie vendeu por quase R$ 320 milhões as usinas às empresas Fram Capital e Diamante Energia, que não têm experiência na área de geração de termoeletricidade movida a carvão. 

Segundo a diretora do Instituto Arayara, a venda de Jorge Lacerda não isenta os antigos e os novos proprietários das usinas dos passivos gerados ao longo das décadas de funcionamento da cadeia produtiva do carvão no estado catarinense.

As informações completas a respeito do caso Jorge Lacerda e as alternativas que o Instituto Arayara vem propondo para treinar os trabalhadores e superar a dependência econômica do carvão mineral estão no relatório técnico “O legado tóxico da Engie-Diamante-Fram Capital no Brasil: Mapa da Contaminação e Destruição Geradas pelo Complexo Termelétrico Jorge Lacerda e pelas Minas de Carvão que o Abastecem”.

O documento pode ser baixado no endereço www.coalwatch.org.

Durante o debate, foi exibido um mini-documentário, produzido pelo Instituto Arayara, que resume o relatório, e que pode ser assistido aqui.

Ao fim do evento, o presidente do Instituto Internacional Arayara, Juliano Bueno, enviou através do Instagram a seguinte mensagem sobre a repercussão da denúncia.

Também participou do debate o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), que assumiu o compromisso de avançar nas discussões sobre a transição justa da economia do carvão em direção ao que ele chamou de “hidrogênio verde”.

A participação de Eduardo Leite pode ser acompanhada aqui. 

Leite se comprometeu a revisar o caso da Mina Guaíba, projeto da maior mina de carvão mineral a céu aberto na América Latina, que seria desenvolvido na região metropolitana da capital gaúcha Porto Alegre (RS), ameaçando o fornecimento de água potável da capital gaúcha, mas que foi suspenso pela ACP protocolada em 2020 pelo Instituto Arayara.

Outros participantes do evento realizado nesta manhã foram o físico Roberto Kishinami (diretor do Instituo Clima e Sociedade e um dos maiores especialistas em energia do Brasil); o engenheiro Ricardo Baitelo (do Instituto Energia e Meio Ambiente, que criticou a opção do governo brasileiro de aumentar nos próximos anos a geração de energia a partir de termelétricas movidas a carvão e a gás natural); e o professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Emílio La Róvere, que afirmou ser possível usar os subsídios concedidos à Jorge Lacerda para financiar a geração de energia não poluente, treinar os trabalhadores da termelétrica e recuperar as áreas destruídas em SC pela cadeia produtiva do carvão).

Contato em Glasgow

Nicole Figueiredo Oliveira (nicole@arayara.org)

Assessoria de imprensa no Brasil

Carlos Tautz (Celular e WhatsApp 21-99658-8835 e e-mail carlos.tautz@arayara.org)

#BrazilClimateHub #brazilclimateactionhub #COPCOLLAB26 #COP26= #Arayara #ObsdoCarvão #EmDefesadaVida #TransiçãoJusta #JustTransition #ToxicEngie #EngieToxicLegacy #coalwatch

English/Español – COP26: Arayara launches this Thursday (4) report on the toxic legacy of the Jorge Lacerda thermal power plant in Santa Catarina

English/Español – COP26: Arayara launches this Thursday (4) report on the toxic legacy of the Jorge Lacerda thermal power plant in Santa Catarina

In a debate at the Climate Conference, the map of contamination on one million people impacted by the coal industry in the state will be released; the governor of Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, will also participate

Arayara International Institute, the Coal Observatory and the Coal Watch organization launch on Thursday (4), during the COP26 in Glasgow (Scotland), the technical report “The Toxic Legacy of Engie-Fram Capital and Diamond in Brazil: Map of the Destruction Contamination Generated by the Jorge Lacerda Thermoelectric Complex and the suppliers Coal Mines”.

The debate, which will be broadcasted in Portuguese and English over the internet, will be attended by Eduardo Leite (Governor of Rio Grande do Sul), Nicole Oliveira (director of the Arayara International Institute and the Mineral Coal Observatory), Roberto Kishinami (Institute Climate and Society, iCS), Ricardo Baitelo, (Institute of Energy and Environment, IEMA) and Lucie Pinson (Reclaim Finance (TBC).

Governor Eduardo Leite will address the problems related to the Guaíba Mine project, the largest project of open coal mine in Latin America, located in Rio Grande do Sul.

The project has only not been implemented due to the Public Civil Action filed in the federal court in October 2019 by the Arayara International Institute. It is expected that during the event the gaucho governor will announce a new state policy for coal mining.

Engie’s toxic legacy in SC

In the debate, the performance of the company Engie in Brazil, owner until recently of the Jorge Lacerda Thermoelectric Complex, will be analyzed.

Since March 2021, technicians from the Arayara International Institute have been making recurring collections of sediment, water and soil samples from the surroundings of the Jorge Lacerda Thermoelectric Power Station and the mines that supply it.

The results of the analysis of these materials confirm that residential and agricultural areas are contaminated, exposing a population of more than one million people to severe health risks. It is estimated that the costs for environmental recovery and repair of the damage caused to the population’s health far exceed the R$1.5 billion that have already been contemplated in Public Civil Suits in progress or under execution.

Day: 11/04/2021

Local Time: 7am-8am Brazil time. 10am-11pm Glasgow time

The debate will be broadcasted in Portuguese and English on the Brazil Climate Hub website (https://www.brazilclimatehub.org/events/obsolescencia-do-carvao-descomissionando-um-legado-toxico-rumo-a-transicao-justa) and the chat will be open for questions.

Venue for the debate in Glasgow: Brazil Climate Action Hub – COP26, Blue Zone, Hall 4, entrance 4B – Pavilion 47

Organizers:

Arayara.org

Observatory of Mineral Coal

Climate and Society Institute

ClimaInfo

More information: 

At COP26: Nicole Figueiredo de Oliveira (nicole@arayara.org)

In Brazil: Carlos Tautz, Press Officer (carlos.tautz@arayara.org and 0055- 21-99658-8835)

COP26: Arayara launches this Thursday (4) report on the toxic legacy of the Jorge Lacerda thermal power plant in Santa Catarina

In a debate at the Climate Conference, the map of contamination on one million people impacted by the coal industry in the state will be released; the governor of Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, will also participate

Arayara International Institute, the Coal Observatory and the Coal Watch organization launch on Thursday (4), during the COP26 in Glasgow (Scotland), the technical report “The Toxic Legacy of Engie-Fram Capital and Diamond in Brazil: Map of the Destruction Contamination Generated by the Jorge Lacerda Thermoelectric Complex and the suppliers Coal Mines”.

The debate, which will be broadcasted in Portuguese and English over the internet, will be attended by Eduardo Leite (Governor of Rio Grande do Sul), Nicole Oliveira (director of the Arayara International Institute and the Mineral Coal Observatory), Roberto Kishinami (Institute Climate and Society, iCS), Ricardo Baitelo, (Institute of Energy and Environment, IEMA) and Lucie Pinson (Reclaim Finance (TBC).

Governor Eduardo Leite will address the problems related to the Guaíba Mine project, the largest project of open coal mine in Latin America, located in Rio Grande do Sul.

The project has only not been implemented due to the Public Civil Action filed in the federal court in October 2019 by the Arayara International Institute. It is expected that during the event the gaucho governor will announce a new state policy for coal mining.

Engie’s toxic legacy in SC

In the debate, the performance of the company Engie in Brazil, owner until recently of the Jorge Lacerda Thermoelectric Complex, will be analyzed.

Since March 2021, technicians from the Arayara International Institute have been making recurring collections of sediment, water and soil samples from the surroundings of the Jorge Lacerda Thermoelectric Power Station and the mines that supply it.

The results of the analysis of these materials confirm that residential and agricultural areas are contaminated, exposing a population of more than one million people to severe health risks. It is estimated that the costs for environmental recovery and repair of the damage caused to the population’s health far exceed the R$1.5 billion that have already been contemplated in Public Civil Suits in progress or under execution.

Day: 11/04/2021

Local Time: 7am-8am Brazil time. 10am-11pm Glasgow time

The debate will be broadcasted in Portuguese and English on the Brazil Climate Hub website (https://www.brazilclimatehub.org/events/obsolescencia-do-carvao-descomissionando-um-legado-toxico-rumo-a-transicao-justa) and the chat will be open for questions.

Venue for the debate in Glasgow: Brazil Climate Action Hub – COP26, Blue Zone, Hall 4, entrance 4B – Pavilion 47

Organizers:

Arayara.org

Observatory of Mineral Coal

Climate and Society Institute

ClimaInfo

More information: 

At COP26: Nicole Figueiredo de Oliveira (nicole@arayara.org)

In Brazil: Carlos Tautz, Press Officer (carlos.tautz@arayara.org and 0055- 21-99658-8835)

COP26: Arayara lanza este jueves (4) un informe sobre el legado tóxico de la Central Termoeléctrica Jorge Lacerda en El Estado de  Santa Catarina

En un debate en la Conferencia sobre el Clima, se dará a conocer el mapa de la contaminación sobre un millón de personas afectadas por la industria del carbón en el Estado; el Gobernador de Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, también participará en el debate

El Instituto Internacional Arayara, el Observatorio del Carbón y la organización Coal Watch lanzan este jueves (4), durante la COP26 en Glasgow (Escocia), el informe técnico “El legado tóxico de Engie-Fram Capital y Diamante en Brasil: Mapa de la contaminación destructiva generada por el Complejo Termoeléctrico Jorge Lacerda y las minas de carbón que lo abastecen”. 

El debate, que se transmitirá en portugués e inglés por Internet, contará con la participación de Eduardo Leite (Gobernador de Rio Grande do Sul), Nicole Oliveira (Directora del Instituto Arayara y del Observatorio del Carbón Mineral), Roberto Kishinami (Instituto Clima y Sociedad, iCS), Ricardo Baitelo, (Instituto de Energía y Medio Ambiente, IEMA) y Lucie Pinson (Reclaim Finance (TBC).

El gobernador Eduardo Leite abordará los problemas relacionados con el proyecto de la Mina Guaíba, la mayor mina de carbón a cielo abierto de América Latina, situada en RS. El proyecto sólo no se ha ejecutado debido a la Acción Civil Pública presentada en el tribunal federal en octubre de 2019 por el Instituto Internacional Arayara. Se espera que durante el evento el gobernador gaucho anuncie una nueva política estatal gaucha para el carbón.

El legado tóxico de Engie en el Estado de Santa Catarina

En el debate se analizará la actuación de la empresa Engie en Brasil, propietaria hasta hace poco del Complejo Termoeléctrico Jorge Lacerda.

Desde marzo de 2021, los técnicos del Instituto Internacional Arayara vienen realizando recogidas recurrentes de muestras de sedimentos, agua y suelo en el entorno del Complejo Termoeléctrico Jorge Lacerda y las minas que lo abastecen.

Los resultados del análisis de estos materiales confirman que las zonas residenciales y agrícolas están contaminadas, exponiendo a una población de más de un millón de personas a graves riesgos sanitarios.

Se estima que los costos de recuperación ambiental y de reparación de los daños causados a la salud de la población superan con creces los 1.500 millones de reales que ya han sido contemplados en las Demandas Civiles Públicas en curso o en ejecución.

Día: 04/11/2021

Hora de Glasgow: de 10:00 a 23:00 horas y 7 – 10 horas (hora de Brasil)

El debate se retransmitirá en portugués e inglés en la página web de Brazil Climate Hub (https://www.brazilclimatehub.org/events/obsolescencia-do-carvao-descomissionando-um-legado-toxico-rumo-a-transicao-justa) y el chat estará abierto a preguntas.

Lugar del debate en Glasgow: Brazil Climate Action Hub – COP26, Zona Azul, Pabellón 4, entrada 4B – Pabellón 47

Organizadores:

Arayara.org

Observatorio del carbón mineral

Instituto Clima y Sociedad

ClimaInfo

Más información:

En la COP26: Nicole Figueiredo de Oliveira (nicole@arayara.org)

En Brasil: Oficina de Prensa de Carlos Tautz (carlos.tautz@arayara.org y 21-99658-8835)

Temporal no Paraná prova que há um novo normal no clima

Temporal no Paraná prova que há um novo normal no clima

Companhia estadual de energia diz que foi o pior evento da história no interior do Estado, mas o Sistema de Monitoramento Ambiental já havia registrado em setembro ventos com velocidades até 50% superiores ao verificado neste final de semana

Carlos Tautz

O fortíssimo temporal que atingiu o meio rural do Paraná neste sábado (23) mostrou a gravidade das mudanças no clima e seus eventos meteorológicos extremos. Os ventos de até 100 km por hora atingiram 19 municípios das regiões noroeste e oeste do Estado, provocaram o desligamento de mais de um milhão de domicílios atendidos pela Copel, a companhia estadual de energia, e danificaram perto de mil casas – 600 delas em Foz do Iguaçu.

No pior momento das chuvas, informou a Copel, 552 mil unidades consumidoras chegaram simultaneamente a ter o fornecimento de energia interrompido devido à ocorrência de raios, queda de árvores e rajadas de vento que variaram entre 80 e 90 km por hora em diversas localidades, chegando aos 100 km/h em Cianorte.

Até a megausina binacional de Itaipu foi atingida e, por precaução, desligou cinco de suas 20 turbinas, depois que sistemas de proteção desconectaram linhas de transmissão de 750 quilovolts que ligam Itaipu ao Sistema Interligado Nacional (SIN). A hidrelétrica, sediada em Foz do Iguaçu, no Rio Paraná, entre o Brasil e o Paraguai, fornece 10,8% da energia consumida no nosso País e 88,5% no país vizinho. 

Os serviços de saneamento e distribuição de água potável também foram duramente atingidos, de acordo com a Sanepar (Companhia de Saneamento do Paraná). A falta de energia obrigou a suspensão do abastecimento de água a 85 localidades atendidas pela companhia.

A intensidade dos ventos diminuiu sensivelmente ao longo do final de semana, e o Simepar (Sistema de Tecnologia e Monitoramento Ambiental do Paraná) informou que a estabilidade no clima voltou à grande parte do Estado ainda nesta segunda.

“Desmatamento e incêndios florestais sem controle, aposta nos combustíveis fósseis no lugar na transição energética, uma ode à insensatez. Enquanto isso, eventos extremos passam a ser a regra: seca e chuvas intensas, ondas de frio e principalmente de calor, tempestades de areia e outras ocorrências. O temporal na região sul neste final de semana provavelmente se insere nesse quadro. Estamos ultrapassando vários limites e o planeta está nos dando a resposta”, explica Suely Araújo, especialista sênior do Observatório do Clima e ex-presidente do Ibama.

O léxico do novo normal climático

Ainda que preocupantes, eventos climáticos extremos como esses que ocorreram no Paraná vão se tornando cada vez mais uma espécie de novo normal. Segundo o Simepar, o mês de setembro registrou várias tempestades. 

Em 8 de setembro, os ventos alcançaram 150 km por hora no aeroporto de Maringá – uma velocidade 50% maior do que o nível máximo observado neste final de semana – e no dia 19 houve tempestade de granizo na Região Metropolitana de Curitiba.

O novo normal climático já nos impôs um novo léxico, em que a expressão “fenômenos climáticos extremos” talvez seja o de maior frequência e importância, principalmente por conta de seu particular impacto sobre a saúde humana.

Segundo o programa Clima e Saúde, da Fundação Instituto Oswaldo Cruz (Fiocruz, pertencente ao Ministério da Saúde), uma das maiores referências mundiais em saúde pública, “os eventos climáticos e meteorológicos extremos, geralmente, são classificados como de origem hidrológica (inundações bruscas e graduais, alagamentos, enchentes, deslizamentos); geológicos ou geofísicos (processos erosivos, de movimentação de massa e deslizamentos resultantes de processos geológicos ou fenômenos geofísicos); meteorológicos (raios, ciclones tropicais e extra-tropicais, tornados e vendavais); e climatológicos (estiagem e seca, queimadas e incêndios florestais, chuvas de granizo, geadas e ondas de frio e de calor)”.

Essa variação radical das condições meteorológicas provoca impactos imediatos em várias áreas, simultaneamente.

A Fiocruz explica que “as mudanças ambientais e climáticas globais podem produzir impactos sobre a saúde humana com diferentes vias e intensidades. (…) um evento climático ou meteorológico extremo resulta de uma séria interrupção do funcionamento normal de uma comunidade ou sociedade, afetando seu cotidiano. Essa paralisação abrupta envolve, simultaneamente, perdas materiais e econômicas, assim como danos ao ambiente e à saúde das populações por meio de agravos e doenças que podem causar mortes imediatas e posteriores. Uma ocorrência do gênero torna o grupo afetado incapaz de lidar com a situação utilizando os próprios recursos, o que pode ampliar os prejuízos para além do lugar de sua eclosão”.

Uma forma de enfrentar e de evitar esses fenômenos é diminuir ou até suspender a emissão de gases que estão entre as principais causas das mudanças climáticas – mas, nesse quesito, o Brasil vai muito mal, devido à decisão do governo federal de contrariar as orientações da ciência.,

Por exemplo, vários dos países que mais contribuem para a emissão de gases causadores do Efeito Estufa, que aumenta a temperatura da Terra e provoca mudanças no clima, já anunciou a intenção de reduzir a carga de poluentes descarregados na atmosfera.

Mas, o Brasil, cujo governo nacional sistematicamente destrói o seu próprio sistema de regulação e fiscalização ambiental, ao mesmo tempo em que continua a leiloar o direito a grupos econômicos explorarem petróleo e gás natural, vai na contramão da história. Quem aponta essa tendência é o Observatório do Clima, uma rede de organizações das sociedade civil brasileira que monitora as políticas públicas que contribuem para a emissão de gases estufa.

O Observatório produziu em 2020 o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG) do Brasil, que faz o balanço de emissões anualmente.

“O Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa do mundo, com uma característica particular: 44% de nossas emissões estão inclusas no setor de mudança de uso da terra, desmatamento primordialmente. Se somarmos com os 28% de emissões da agropecuária, tem-se que 72% das emissões são originadas na área rural. Energia responde por 19%. As emissões per capita do Brasil são maiores que a média mundial. Novos números são esperados para os próximos dias, com a divulgação dos dados do sistema SEEG do Observatório do Clima, mas a realidade provavelmente permanecerá próxima a esse quadro. O Brasil não tem cumprido suas tarefas no campo da política ambiental e climática, longe disso”, completa Suely Araújo.

Isso não quer dizer, entretanto, que o Brasil seja o único vilão climático da Terra.

Segundo o relatório The 2021 Production Gap Report, publicado recentemente pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP), “apesar do aumento das ambições climáticas e compromissos net-zero, os governos ainda planejam produzir mais do que o dobro da quantidade de combustíveis fósseis em 2030 do que o que seria consistente com a limitação do aquecimento global a 1,5 ° C”.

Foram pesquisados 15 grandes produtores de gases estufa: Austrália, Brasil, Canadá, China, Alemanha, Índia, Indonésia, México, Noruega, Rússia, Arábia Saudita, África do Sul, Emirados Árabes Unidos, Reino Unido e os Estados Unidos. A maioria desses governos continua a fornecer apoio político significativo para a produção de combustíveis fósseis.

“Os impactos devastadores das mudanças climáticas estão aqui para que todos possam ver. Ainda há tempo para limitar o aquecimento de longo prazo a 1,5 ° C, mas essa janela de oportunidade está se fechando rapidamente ”, disse Inger Andersen, Diretor Executivo do UNEP. 

Entre 31 de outubro e 12 de novembro acontecerá a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, a COP26 ou, ainda, como Conferência de Glasgow. Será a 26ª Conferência ONU sobre o tema.

Projeto de Lei permitirá Governo Bolsonaro mudar metas do acordo do clima

Projeto de Lei permitirá Governo Bolsonaro mudar metas do acordo do clima

Alerta de Jabuti: Ambientalistas apontam problemas em projeto de lei aprovado no Senado no dia 20 de outubro, a qual pode permitir nova “pedalada climática” por mudar a base de cálculos de redução das emissões de CO2 e as metas de desmatamento, gerando ambiguidades com antigos acordos já previstos em lei mas ainda não regulamentados. O PL ainda precisa ir para a Câmara dos Deputados.

Por: Rafael Garcia – O Globo

O projeto de lei sobre as metas de cortes de emissão de CO2 do Brasil aprovado na última quarta-feira pelo Senado tem embutido um artigo que pode sabotar o compromisso do país de reduzir emissões. O alerta sobre “jabutis” inseridos na proposta foi dado na sexta-feira por ambientalistas que criticaram o PL.

Segundo o Observatório do Clima, coalizão que reúne as maiores ONGs do setor, o texto aprovado deixa na mão da Presidência da República o poder de decidir quanto o país vai reduzir em gases de efeito estufa até 2030. Isso ocorre porque em vez de estabelecer uma meta em termos absolutos, o projeto prevê que o corte será feito em relação a uma projeção futura de emissões, que ficará a cargo de um decreto presidencial.

Pelo novo PL, o Congresso determina que as emissões devem cair 43% em 2025 e 50% em 2030, mas o presidente define “em relação a o que” será essa queda. Se aprovado também pela Câmara e sancionado, o projeto na prática elimina a atual NDC (contribuição nacionalmente determinada) do país, o compromisso oficial do país diante do Acordo de Paris para combate à crise do clima.

A atual proposta do país, revisada no ano passado, já vinha sendo alvo de críticas por alterar a base de cálculo das emissões abrir margem para retrocesso na promessa, numa manobra apelidada de “pedalada climática” pelos ambientalistas. O que o novo PL faz, na prática, é jogar ainda mais incerteza sobre os compromissos internacionais do país.

— Esse projeto de lei entra na categoria do “se não quer ajudar, por favor não atrapalhe”. Ele só serve para bagunçar mais aquilo que já está ruim — diz Márcio Astrini, secretário-geral do Observatório do Clima.

Atualmente, o compromisso do Brasil no âmbito do Acordo de Paris é reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 37% em 2025 e em 43% em 2030. Essas porcentagens são calculadas em relação ao que o país emitia em 2005, o ano da base de cálculo. O que abriu margem para a “pedalada” é que o país alterou seu inventário de emissões retroativamente, e mudou de 2,1 bilhões para 2,8 bilhões de toneladas de CO2 a estimativa de 2005. Isso permitiria ao país emitir 400 milhões de toneladas de CO2 a mais em 2030.

O novo PL, apesar de ampliar os percentuais de corte, transforma a base de cálculo em uma grande incógnita.

“A lei cria uma situação paradoxal: a partir do momento em que ela for promulgada, o país passa a ter duas NDCs, e, ao mesmo tempo, nenhuma. Ficaremos com a meta atual, internacional, depositada junto à Convenção do Clima da ONU, (37% em 2025 e 43% em 2030), e a nova, nacional (43% em 2025 e 50% em 2030), ainda sem regulamentação e sequer sem uma base de cálculo, à espera da canetada de Bolsonaro” escreveu o Observatório do Clima em comunicado público. Entre as ONGs representadas na coalizão estão Greenpeace, WWF, Conservation International e outras.

Outro problema apontado pelos ambientalistas é que a versão original do projeto previa antecipar de 2030 para 2025 as metas de atingir taxa zero de desmatamento, mas no texto aprovado esse item não está contemplado. Além da versão original do PL protocolada pela senadora Kátia Abreu, havia uma outra relatada por Marcelo Castro (MDB-PI) que estava tramitando paralelamente, e foi esta aquela posta em votação, com o “jabuti” da base de cálculo ancorada em projeções futuras.

A mudança não foi mencionada por Abreu na quarta-feira, porém. A senadora deu a entender que o texto da proposta aprovada foi positivo. O PL ainda precisa ir para a Câmara dos Deputados.

Para os ambientalistas, o momento de fazer alterações é grave, pois dentro de uma semana começa a COP-26, a conferência do clima de Glasgow, onde os países se reúnem para discutir a implementação do Acordo de Paris. Para Natalie Unterstell, presidente do Instituto Talanoa, think-tank da área socioambiental, o Executivo e o Legislativo Brasileiro caminham contra a comunidade internacional, que pressiona por mais ambição nas NDCs dentro do Acordo de Paris, pois os compromissos atuais não são capazes de frear o aquecimento de 2,0°C do planeta neste século, considerado um limite perigoso.

“O PL está desalinhado com o Acordo de Paris, na forma e no conteúdo. Não amplia a ambição climática do Brasil e confunde as mensagens para a COP-26”, escreveu a pesquisadora. “O Brasil pode reduzir entre 66% e 82% as emissões até 2030, e ainda crescer e se desenvolver, conforme estudos recentes.”


FONTE: https://oglobo.globo.com/mundo/projeto-de-lei-da-bolsonaro-poder-de-mudar-meta-brasileira-no-acordo-do-clima-dizem-ongs-25249122

Ministério da Energia diz que “bandeira Escassez Hídrica não será suficiente” para cobrir custos

Ministério da Energia diz que “bandeira Escassez Hídrica não será suficiente” para cobrir custos

“A culpa é claramente da falta de planejamento e da incompetência do governo”, disse o senador Jean Paul (PT), membro da Comissão da Crise Energética do Senado

O Ministério de Minas e Energia anunciou nesta quarta-feira (13) que nem a bandeira tarifária de escassez hídrica que fez o preço da conta de luz explodir está sendo capaz de cobrir os custos para a manutenção da segurança energética do país.

Segundo Marisete Dadald, secretária-executiva da pasta, os gastos estão sendo muito maiores do que o previsto pelo governo Jair Bolsonaro. As distribuidoras de energia pressionam por um novo aumento alegando déficit financeiro.

“A bandeira ‘Escassez Hídrica’… não será suficiente para a cobertura de todos os recursos que nós utilizamos para a segurança energética”, disse a secretária-executiva durante evento.

Mesmo assim, Dadald tentou passar tom otimista, em certa negação da realidade. “Estamos ainda em um momento de atenção, mas com as medidas que a gente vem implementando desde outubro de 2020 temos obtido resultados satisfatórios”, disse.

À Fórum, o senador Jean Paul Prates (PT-RN), membro da Comissão da Crise Energética montada no Senado e líder da Minoria, criticou a postura do governo.

“O governo insiste em negar a crise ou atribuí-la a São Pedro, quando a culpa é claramente da falta de planejamento e da incompetência. Quando entramos nesta crise hídrica já eram claros os sinais de um problema energético global”, disse o senador à Fórum.

“O acionamento das térmicas foi o primeiro e mais necessário impulso das autoridades que estão gerenciando o problema. Mas ao estabelecerem as novas bandeiras, mais uma vez o governo errou e faltou planejamento quando não considerou os aumentos do dólar e do petróleo além dessa política de preços suicida da Petrobras. Em breve vamos instalar a Comissão do Senado encarregada de acompanhar a gestão da crise e teremos instrumentos para tentar corrigir esses erros de trajetória que sempre penalizam uma única pessoa: o consumidor final”, completou Jean Paul.

Com informações da CNN Brasil

Fonte: https://revistaforum.com.br/politica/bandeira-escassez-hidrica-nao-sera-suficiente-para-cobrir-custos/

Times Square inundada e avenida Paulista em chamas, assim a crise climática afetará a sua rua

Times Square inundada e avenida Paulista em chamas, assim a crise climática afetará a sua rua

Laboratório de inteligência artificial canadense desenvolve uma ferramenta que simula os efeitos de inundações e outros fenômenos meteorológicos extremos em diversos lugares do mundo

Por Manuel G Pascoal – El País

A maioria de consequências físicas decorrentes do aquecimento global parece distante de nós. E, por não sofrê-las diretamente, custamos a interiorizar a extrema gravidade da crise climática que o planeta atravessa. O Mila – Instituto de Inteligência Artificial do Québec quis pôr seu grão de areia para conscientizar a humanidade sobre o mundo para o qual nos encaminhamos. Uma equipe de pesquisadores do prestigioso centro dirigido por Yoshua Bengio, considerado um dos pais das redes neuronais, desenvolveu uma ferramenta que permite visualizar os efeitos de inundações, incêndios e nuvens poluentes em diferentes lugares do mundo. A simulação fica por conta de uma rede adversária generativa (GAN), um tipo de algoritmo de aprendizagem automática (machine learning) que serve, por exemplo, para gerar imagens realistas a partir do nada, como as dos rostos de pessoas inexistentes no site thispersondoesnotexist.com ou nos vídeos deep fake.

O projeto, que envolveu 30 cientistas durante dois anos, tem de fato um nome inspirado no famoso site de pessoas falsas: This Climate Does Not Exist (“este clima não existe”). Ele foi aberto ao público nesta quinta-feira, e para usá-lo basta teclar um endereço ou selecionar um ponto recolhido pelo Google Street View. Em seguida, indica-se o tipo de catástrofe a visualizar: inundação, incêndio descontrolado ou nuvem de poluição. O algoritmo faz sua magia e devolve a imagem com o efeito solicitado. Claro que essas imagens não pretendem ser um retrato exato do que aconteceria em cada lugar concreto se medidas não forem tomadas, e sim uma ilustração dos piores efeitos possíveis no cenário que o usuário escolher.

“Um dos desafios mais importantes foi conseguir que o algoritmo fosse capaz de simular inundações em uma grande variedade de imagens”, diz Alex Hernandez-Garcia, um dos pesquisadores principais do projeto. “Simplificando muito, um módulo do algoritmo se encarrega de detectar quais partes da imagem devem ser cobertas de água e outro módulo se encarrega de gerar a textura da água incorporando o contexto da imagem —por exemplo, o reflexo dos edifícios. Finalmente, o resultado destes dois módulos é combinado para gerar a imagem final.”

Para detectar onde cobrir com água ou não, Hernandez-Garcia e seus colegas combinaram várias técnicas de visão artificial e aprendizagem automática. “Por um lado, geramos uma cidade virtual por computador que nos permitiu ter uma série de imagens com e sem água. Também ajustamos um algoritmo que fosse capaz de fazer boas interpretações nesse mundo virtual, detectando as diferentes partes de uma cena: chão, carros, edifícios, árvores, gente etc.”, exemplifica. “Por outro lado, o algoritmo deve ser capaz de fazer boas interpretações em imagens reais (as do Google Street View).” Para isto, usaram as redes adversárias generativas (GANs).

O processo se completa em poucos segundos e, antes de mostrar o resultado ao usuário, são fornecidas informações sobre as causas e consequências do fenômeno meteorológico selecionado e sua relação com a mudança climática. Por exemplo, se o usuário optar por uma inundação, fica sabendo que as enchentes inundações repentinas matam 5.000 pessoas por ano, que se espera que o nível do mar suba dois metros até o final do século, e que essa importante alteração do planeta alterará para sempre a vida de pelo menos um bilhão de pessoas até o final de 2050. “Se não fizermos nada, logo enfrentaremos grandes catástrofes climáticas”, afirma o professor Bengio, diretor científico do Mila. “Este site torna os riscos da mudança climática muito mais reais e pessoais para os indivíduos.”

Redes adversárias generativas

inteligência artificial deu um salto de qualidade há cerca de uma década com o surgimento e consolidação da aprendizagem automática e a aprendizagem profunda (deep learning). Estas técnicas se baseiam treinar a máquina para que, depois de chegar sozinha a certas conclusões, seja capaz de realizar tarefas complexas. Por exemplo, se você desejar que o algoritmo distinga entre muffins e chihuahuas, o programador insere uma série de exemplos de cada categoria e depois entrega milhares de imagens sem classificar. A máquina estabelecerá suas associações e, quando se equivocar e for avisada do erro, refinará seus critérios de distinção.

Bengio ganhou em 2018 o Prêmio Turing, considerado o Nobel da informática, junto com Geoffrey Hinton e Yann LeCun por sua contribuição para o desenvolvimento das redes neuronais. Elas são um passo a mais na aprendizagem automática e tentam imitar o funcionamento do cérebro humano: aplicam várias camadas simultâneas de processamento, o que aumenta seu rendimento. Estão por trás dos sistemas de classificação mais complexos, como os assistentes de voz e os modelos de predição avançados.

As redes adversárias generativas (do inglês “generative adversarial networks”, GAN) vão um pouco mais longe. Foram inventadas também no Mila em 2014 e são capazes de gerar conteúdo novo que, aos olhos humanos, parece totalmente real. Estão por trás dos cada vez mais sofisticados vídeos falsos hiper-realistas (deep fake) gerados por computador, em que personagens conhecidos podem dizer ou fazer o que seu programador quiser. Funcionam graças à competição entre duas redes neuronais: uma delas trata de elaborar imagens as mais realistas possíveis, e a outra tenta detectar se são reais ou uma invenção. Isso acontece milhares ou milhões de vezes e, durante o processo, a rede geradora aprende a criar imagens cada vez mais aperfeiçoadas. Quando a primeira consegue enganar a segunda, temos a imagem ganhadora. Por exemplo, a da avenida Paulista inundada ou o Capitólio de Washington mergulhado numa nuvem tóxica.

“Estamos usando um novo tipo de GAN desenvolvido por nós mesmos para gerar as imagens de mudança climática que podem ser vistas no nosso site”, diz o Mila. “Em geral, a disponibilidade limitada de imagens e a necessidade de adaptar o algoritmo a um grande número de situações foram os desafios técnicos principais que enfrentamos”, explica Hernandez-Garcia.

Inscreva-se aqui para receber a newsletter diária do EL PAÍS Brasil: reportagens, análises, entrevistas exclusivas e as principais informações do dia no seu e-mail, de segunda a sexta. Inscreva-se também para receber nossa newsletter semanal aos sábados, com os destaques da cobertura na semana.

Simulação de inundação na Avenida Paulista-SP.

Fonte: https://brasil.elpais.com/tecnologia/2021-10-14/times-square-inundada-e-avenida-paulista-em-chamas-assim-a-mudanca-climatica-afetara-sua-rua.html