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Fracking e a Agricultura: Como a Prática Ameaça a Segurança Alimentar

Fracking e a Agricultura: Como a Prática Ameaça a Segurança Alimentar

Brasília – O fracking, uma técnica de extração de gás de xisto que tem se espalhado rapidamente em várias partes do mundo, trouxe uma série de preocupações ambientais e de saúde pública. Além dos riscos conhecidos, uma questão crítica vem à tona: como essa prática impacta a agricultura e a segurança alimentar? 

O fraturamento hidráulico, conhecido como fracking, é um método de extração de gás de xisto (Shale Gas) que envolve injeção de água potável, areia e produtos químicos a alta pressão no subsolo para liberar o gás aprisionado nas rochas. O processo deixa o subsolo destroçado, como explica a Coordenadora Nacional da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil, Nicole Oliveira na audiência pública “Efeitos do fracking para extração de gás xisto – 24/10/2023”

A contaminação de recursos hídricos e solos representa uma ameaça séria para a agricultura e a segurança alimentar. Os produtos químicos tóxicos no processo de fracking têm o potencial de infiltrar-se nos aquíferos, que desempenham um papel crucial na irrigação e no abastecimento de água potável para comunidades agrícolas. Esse comprometimento da qualidade da água não apenas coloca em risco a saúde dos agricultores e dos consumidores, mas também prejudica a produtividade das colheitas, afetando a oferta de alimentos e aumentando a dependência de recursos hídricos alternativos, muitas vezes escassos.  Um exemplo é a produção de maçãs na região de Neuquén, na Argentina, onde a produção está cercada de poços de fracking, o que fez o Chile vender “Maçãs Livre de Fracking”.

Contaminação por fracking faz produtores da Argentina perderem mercado -  FUNVERDE

Foto: COESUS

O consumo intensivo de água associado ao fracking é um fator crítico que gera preocupações substanciais. Em regiões já propícias à escassez de água, o uso significativo de recursos hídricos pela indústria de extração de gás pode agravar ainda mais a situação, deixando as comunidades locais vulneráveis ​​à falta desse recurso vital. A competição crescente entre a indústria de fracking e a agricultura pelo acesso à água exacerba os desafios enfrentados pelos agricultores, pois as operações agrícolas dependentes da água para a segurança e a produção de alimentos. 

O uso significativo de água na prática do fracking é evidenciado pelo fato de que a quantidade de água necessária para o poço pode variar consideravelmente, oscilando entre cerca de 1,5 milhão de galões e surpreendentes 16 milhões de galões, como aponta o United States Geological Survey. Essa ampla gama de consumo de água é um reflexo da complexidade da extração de gás natural por fraturamento hidráulico, uma vez que varia de acordo com a localização geográfica, a profundidade do poço e as condições locais.

Impactos nas Cadeias Alimentares Locais

A agricultura representa o sustento de inúmeras comunidades rurais em todo o mundo, gerando empregos, fornecendo alimentos e sustentando a economia local. À medida que as terras agrícolas são convertidas em locais de exploração de gás, as comunidades rurais perdem uma parte significativa das suas áreas cultiváveis. Esse processo de conversão coloca em risco a colocação de cadeias de fornecimento de alimentos locais, afetando as qualidades na produção agrícola. A redução na produção de alimentos locais pode levar a uma maior dependência de alimentos importados, muitas vezes sujeita a flutuações de preço e disponibilidade, prejudicando assim a segurança alimentar dessas comunidades.

Além disso, a conversão de terras agrícolas em áreas de exploração de gás pode resultar em perturbações ambientais significativas, incluindo a manipulação do solo, a poluição do ar e a contaminação da água. Isso pode afetar a qualidade dos produtos agrícolas remanescentes, tornando-os potencialmente menos seguros para o consumo. 

Além dos impactos diretos no meio ambiente e na produção de alimentos, os agricultores que residem nas proximidades de poços de fracking frequentemente relatam preocupações alarmantes quanto à exposição a produtos químicos tóxicos e à poluição do ar. A inalação de substâncias químicas contaminantes e poluentes atmosféricos pode resultar em problemas de saúde graves para esses trabalhadores, que desempenham um papel fundamental na produção de alimentos. Essas preocupações não afetam apenas o bem-estar dos agricultores, mas também têm implicações diretas para a segurança alimentar das comunidades em que vivem e trabalham, destacando a urgência de medidas que protejam a saúde daqueles que alimentam a nação e garantam alimentos seguros e saudáveis ​​para todos.

Cientistas da Escola de Saúde Pública Harvard TH Chan analisaram registros de saúde de 15 milhões de beneficiários do Medicare, o programa de seguro de saúde que abrange pelo menos 95% dos americanos com 65 anos ou mais, que residem em áreas de significativa exploração de petróleo e gás entre 2001 e 2015. Além disso, eles coletaram dados abrangentes sobre aproximadamente 2,5 milhões de poços de petróleo e gás que abrangem os principais estados de exploração, de Montana ao Texas e Pensilvânia. Segundo o estudo publicado na revista Nature Energy, quanto mais próximo as pessoas vivem de uma operação de petróleo e gás, maior é o risco de mortalidade precoce, mesmo após a consideração de fatores socioeconômicos, ambientais e demográficos, como gênero e raça.

Fracking the Poor - In These Times

Foto: In These Times

O fracking, apresenta uma ameaça real. Diante dessas preocupações, apoiar a campanha Não Fracking Brasil torna-se essencial para a preservação do nosso meio ambiente e da vitalidade da nossa agricultura. Acesse o site Não Fracking Brasil para obter mais informações sobre como você pode se envolver e apoiar esforços que visam proteger nossas terras, nossa água e nossa segurança alimentar. A ação coletiva é fundamental para garantir um futuro sustentável para as gerações vindouras.

Por Dalcio Costa – Instituto Internacional ARAYARA | COESUS –  Coalizão Não Fracking Brasil

 

Efeitos do Fracking para extração de gás é tema de audiência pública na Câmara dos Deputados

Efeitos do Fracking para extração de gás é tema de audiência pública na Câmara dos Deputados

Comissão de Fiscalização Financeira e Controle convida especialistas da Campanha Não Fracking Brasil e representantes do Ministério da Saúde e IBAMA, dentre outros, para discutir o assunto

Brasília, 24 de outubro – Uma audiência pública de grande relevância trouxe à tona os riscos e desafios associados ao fracking (fraturamento hidráulico) no Brasil. O evento foi conduzido a partir de um requerimento do Deputado Jorge Solla e contou com a participação de diversos especialistas, autoridades e ativistas engajados na luta contra essa prática controversa e de alto risco. Entre os palestrantes estavam Juliano Bueno de Araújo, diretor do Observatório do Petróleo e Gás e Instituto ARAYARA, Luiz Fernando Scheibe, doutor em Geociências pela USP e professor da UFSC, Nicole Figueiredo de Oliveira, diretora da ARAYARA e coordenadora da COESUS – Coalizão Não Fracking Brasil, Agnes Soares da Silva, diretora do Departamento de Vigilância em Saúde Ambiental e Saúde do Trabalhador do Ministério da Saúde, Edmilson Comparini Maturana, coordenador-Geral de Licenciamento Ambiental de Empreendimentos Fluviais e Pontuais Terrestres do IBAMA e Raoni Andrade Rodrigues, assessor da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia, Elton Rocha e Antonio Martins representando o INEMA-BA, além do prefeito da cidade de Toledo-PR, Beto Lunitti e o Deputado Federal Elton Welter, cada um trazendo perspectivas valiosas e preocupações sobre o fracking.

Riscos para a Água e o Solo:

Um dos principais tópicos discutidos na audiência pública foi a ameaça do fracking à água e ao solo. Agnes Soares da Silva, representante do Ministério da Saúde, destacou os perigos associados à contaminação de aquíferos e reservas superficiais, enfatizando os riscos que essa prática pode trazer para a saúde da população em todas as fases.

Desafios Ambientais e de Saúde:

Foram apresentados dados sobre a localização das reservas de gás de xisto no Brasil e no mundo, pelo Dr. Juliano Bueno, ele ressaltou as preocupações com a saúde, incluindo problemas na formação de fetos e doenças em crianças, relacionadas ao fracking. Além disso, Juliano mencionou que estados brasileiros e centenas de cidades já proibiram o fracking, demonstrando a crescente conscientização sobre seus riscos e a rejeição generalizada da população mediante os diversos problemas apresentados. Demais convidados também citaram a questão da saúde e como os diversos níveis, desde municípios até o nível federal vem dimensionando os impactos que uma exploração com esse método de extrair gás de rochas poderia provocar.

Impactos Econômicos:

Nicole de Oliveira, da COESUS , apresentou uma ampla gama de informações atualizadas sobre os impactos econômicos e sociais do fracking. Ela citou que existem mais de 10 mil estudos acadêmicos e científicos que comprovam as consequências negativas dessa prática. Nicole ressaltou que “o fracking é a maior ameaça ambiental enfrentada pelo Brasil” e apontou que 62% dos subsídios no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Governo Federal estão direcionados aos combustíveis fósseis. Além disso, ela mencionou um estudo que revela um aumento de 30% na incidência de crimes violentos em áreas de fracking nos Estados Unidos, bem como a queda de empregos e o grande número de poços perfurados abandonados nos EUA, deixando uma dívida de um trilhão e meio de reais e um passivo ambiental de gases escape que poluem de forma descomunal.

Como exemplo, os representantes de Toledo explicaram o quão importante é manter o método de fracking longe de suas produções agropecuárias que alimentam a população e fazem girar a economia do estado do Paraná, um dos que já tem lei restringindo a atividade do fracking. Potencial para geração de energia limpa é visto como uma das melhores soluções para evitar os riscos de vida causados pela indústria do petróleo e gás.

Variados especialistas, grandes impactos

A audiência pública trouxe à tona uma série de preocupações relacionadas ao fracking, desde riscos ambientais até questões de saúde pública e impactos econômicos. A discussão envolveu especialistas de diversas áreas e ativistas comprometidos com a proteção do meio ambiente e da sociedade. À medida que a conscientização sobre os riscos do fracking cresce, é importante continuar o diálogo e a busca por soluções sustentáveis para o futuro do Brasil.

Um dos principais clamores sociais é a aprovação de uma Lei que proíbe o fracking no Brasil, ou, como citado por Juliano Bueno, uma moratória por 10 ou 20 anos em todo o território nacional.

Este evento ressalta a importância de continuar acompanhando de perto o debate em torno do fracking e as medidas que estão sendo tomadas para proteger o Brasil dos impactos negativos dessa prática, venha conosco e participe desse movimento pela vida, gás da morte não!

 

Assista a íntegra da audiência:

Audiência Pública na Câmara dos Deputados Debate Consequências Climáticas e Alimentares

Audiência Pública na Câmara dos Deputados Debate Consequências Climáticas e Alimentares

Instituto Internacional ARAYARA destaca importância de abordar causas da crise climática

Brasília – Nesta quinta-feira (19/10), a Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados realizou uma audiência pública que colocou em foco o impacto das mudanças climáticas e suas interconexões com crises sociais, econômicas, de saúde e alimentares. O evento ocorreu no plenário 04 do anexo II da Câmara e reuniu especialistas e defensores do meio ambiente em busca de soluções abrangentes para a crise climática.

O Instituto Internacional ARAYARA, uma organização comprometida com a promoção de políticas ambientais sustentáveis, participou do evento. Durante a audiência pública, os representantes do instituto enfatizaram a necessidade de não apenas tratar as consequências, mas também as causas subjacentes à crise climática, que é um fator crucial na insegurança alimentar global.

Renato Santa Ritta, advogado e membro do Instituto ARAYARA, explicou: “A insegurança alimentar é uma consequência direta da crise climática. Estamos testemunhando numerosos projetos, como o fracking e a exploração de carvão mineral, que avançam, sendo os mesmos que  agravam a crise climática. É essencial abordar essas questões em sua raiz”.

A audiência pública reuniu especialistas de diversas áreas, incluindo cientistas, ambientalistas, economistas e representantes da sociedade civil. Durante a discussão, foram destacadas as interconexões entre a crise climática e diversos outros problemas, incluindo a fome, o deslocamento de população devido a desastres naturais e a instabilidade econômica.

A preocupação central foi a necessidade de políticas públicas mais abrangentes que enfrentam as raízes da crise climática e, ao mesmo tempo, combatem suas consequências em cascata. Muitos participantes destacaram a importância de adotar práticas de desenvolvimento sustentável e a transição para fontes de energia limpa como passos fundamentais na luta contra a crise climática.

Esta audiência pública na Câmara dos Deputados representou um passo importante na conscientização sobre a crise climática e seus impactos em diversas esferas da sociedade. O evento declarou o compromisso de diversos setores em encontrar soluções para as questões prementes que afetam o planeta, destacando a necessidade de abordar as causas subjacentes para proteger a segurança alimentar e o bem-estar de todos.

19 de outubro de 2023

Dalcio Costa –  Advocacy do Instituto Internacional ARAYARA

Extração de gás na Argentina causa problema ambiental, denunciam povos indígenas

Extração de gás na Argentina causa problema ambiental, denunciam povos indígenas

Centenas de poços de extração de gás de xisto estão espalhados pela região da reserva de Vaca Muerta, na Patagônia argentina

(Originalmente publicado em https://time.news/ em 22/06/2023)

Em pouco mais de uma década, Emilce Beeguier, 33 anos, viu mudanças na comunidade de Fvta Xayen, onde nasceu perto da cidade argentina de Aelo (1.014 km de Buenos Aires). O município é considerado o coração de Vaca Muerta, uma enorme formação geológica que abriga a segunda maior reserva de gás de xisto do mundo e também é o lar ancestral do povo Mapuche.

 

“Costumava ser tranquilo. Você não conseguia ouvir um carro passando. Agora, com o tráfego na estrada, você não pode atravessar de um lado para o outro como costumava fazer quando era criança, por exemplo”, diz Kona (“jovem militante”, em mapuche).

 

O movimento de caminhões na região se deve à exploração de combustíveis realizada pelo “fracking” ou fraturamento hidráulico, que teve início em 2013. A técnica utiliza milhões de litros de água misturados com areia e reagentes químicos para romper a rocha de xisto no subsolo e extrair petróleo e gás.

 

Vaca Muerta colocou a Argentina entre os maiores produtores mundiais de gás e petróleo não convencionais (aqueles extraídos por “fracking”) e governos sucessivos têm investido na exploração na região.

 

Na terça-feira (20), entrou em operação o primeiro trecho do gasoduto Néstor Kirchner, conectando Vaca Muerta à província de Buenos Aires. O presidente Alberto Fernández está apostando no projeto para amenizar a crise econômica que assola o país, pois será capaz de economizar em importações e reduzir a falta de dólares que impulsiona a inflação.

 

No final de abril, Beeguier viajou de avião pela primeira vez para um evento promovido pela ONG 350.org, para contar às comunidades impactadas por projetos energéticos no Maranhão o que a chegada do “fracking” significou para Vaca Muerta.

 

Caminhões com insumos e resíduos dos poços circulam pelas estradas da região usadas como pastagens e, portanto, afetam diretamente a pecuária, uma atividade tradicional do povo Mapuche. “Eles são atropelados. Temos que ficar contendo os animais o tempo todo para que eles não vão onde sempre estiveram”, diz a ativista.

 

Ela relata que as 17 famílias da comunidade começaram a sofrer os impactos assim que o “fracking” foi aprovado. “Pessoas que não conhecíamos começaram a chegar nos territórios para fazer fraturas, o que prejudicou a água e, eventualmente, a contaminou.”

 

De acordo com um relatório da consultoria Ricsa, em junho de 2021, 15 empresas petrolíferas operavam 1.145 poços de petróleo e gás em Vaca Muerta, principalmente na província de Neuquén, onde está localizado o território Mapuche. A maioria dos poços (67%) pertence à estatal YPF, mas dezenas de outros pertencem a multinacionais como ExxonMobil, Chevron, Shell e Total.

A YPF foi contatada para comentar as reclamações dos Mapuches, mas não respondeu até a publicação do relatório.

A matriz energética argentina é dominada pelo gás natural (55%) e pelo petróleo (33%). Segundo a secretária de Energia do país, Flavia Royon, 47% do petróleo da Argentina e 41% do seu gás são produzidos em Vaca Muerta. Sobre as críticas ambientais ao novo gasoduto, Royon afirmou que “não há questionamento do projeto”.

 

Como funciona a exploração de petróleo e gás por “fracking”

 

Todo o petróleo e gás do mundo estão distribuídos em pequenas gotas ou bolsões de gás abaixo da superfície. No caso dos poços convencionais, as reservas estão localizadas em solos mais acessíveis, como areia ou argila.

 

“Mas algumas dessas reservas estão em rochas muito duras, então nem o petróleo nem o gás conseguem se movimentar lá”, diz o físico Shigueo Watanabe Junior. São formações não convencionais ou reservas de xisto, que só podem ser exploradas por meio do “fracking”.

 

“É uma técnica de fraturar a rocha. Como não se pode usar explosivos lá embaixo, porque queimaria todo o petróleo, usa-se água em altíssima pressão, misturada com alguns reagentes químicos que ajudam a dissolver parte da rocha”, explica ele.

 

Com as fraturas, o petróleo e o gás fluem para um tubo e são levados até a superfície. Como resíduo, há milhões de litros de fluido utilizados na fratura, que são reinseridos no subsolo ou descartados em outros locais – em reservatórios ou, em alguns casos, de forma irregular, às margens de estradas, em rios e em plantações.

 

Tremores de terra e falta de água

 

O “fracking” é foco de controvérsias em todo o mundo devido ao seu impacto socioambiental e climático.

“Quando as fraturas são feitas no subsolo, ocorrem terremotos e tremores na comunidade vizinha”, diz o comunicador Mapuche Fernando Barraza. “As casas estão se rachando.”

 

Em Vaca Muerta, um estudo da Associação Geológica Argentina identificou um “aumento notável” em tremores com intensidade média a moderada entre 2015 e 2020. Foram registrados “eventos isolados e de baixa magnitude”.

 

“Havia um discurso muito convincente de que [o ‘fracking’] traria empregos, progresso e fundamentalmente que não teria impacto ambiental, que era uma atividade limpa em comparação com a extração tradicional de petróleo. Mas o que aconteceu foi exatamente o oposto”, diz Barraza.

 

Ele chama o discurso de “eldoradista”, em referência à lendária cidade feita de ouro e à promessa de riquezas ilimitadas, e afirma que não houve consulta aos povos tradicionais antes das atividades.

 

O líder Mapuche também denuncia dificuldades de acesso à água. “Os lençóis freáticos começaram a ser contaminados e, acima de tudo, algo que nenhuma empresa ou governo que faz ‘fracking’ fala: [as petroleiras] pegam toda a água”, diz ele. “Elas precisam de milhões de litros de água. Leitos de rios foram desviados e rios inteiros secaram.”

 

Bomba climática

 

Nicole Figueiredo, diretora executiva da Arayara, organização que trabalha para promover uma transição energética justa, explica que, em outras partes do mundo, estudos já relacionaram o “fracking” à contaminação da água, causando problemas de saúde, e à diminuição do lençol freático.

 

Ela também destaca que Vaca Muerta é uma “bomba de carbono”, com emissões potenciais de gases de efeito estufa que podem chegar a 5,2 gigatoneladas. “O ‘fracking’ tem impactos locais, mas também tem um impacto climático muito significativo.”

 

A extração de gás natural está associada à liberação de metano na atmosfera – segundo estimativas da Agência Internacional de Energia, o metano é responsável por cerca de 30% do aumento da temperatura do planeta.

 

Ainda de acordo com a Agência Internacional de Energia, para atingir emissões líquidas de carbono zero até 2050, é essencial que não sejam feitos investimentos em novos projetos de combustíveis fósseis. O objetivo é um dos passos para cumprir o Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5°C.

 

O “fracking” é proibido em alguns países europeus, como Espanha, França e Reino Unido (no ano passado, uma tentativa de reverter a proibição levou à saída da primeira-ministra Liz Truss).

 

No Brasil, esse tipo de exploração ainda não ocorre, porém, Paraná e Santa Catarina, onde está localizada uma das maiores bacias de gás de xisto do país, já têm leis que proíbem a prática. Segundo a Empresa de Pesquisa Energética, também existem reservas potenciais no Maranhão, Piauí, Amazonas e Pará.

 

Em janeiro, o presidente Lula (PT) sinalizou que o BNDES financiaria o projeto do gasoduto Néstor Kirchner, mas até agora isso não se concretizou.

 

O repórter viajou a São Luís para participar do evento Boas Energias – Maranhão.

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