+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

Barragem de José Boiteux vai receber R$ 20,9 milhões para voltar a funcionar

A barragem traz deslizamento de terra e enchentes para a comunidade indígena Laklanõ Xokleng

A comunidade da terra indígena Laklanõ Xokleng recebeu a presença de várias autoridades durante o quarto dia do 3º Acampamento Terra Livre Sul, entre elas o governador Carlos Moisés e o Ministro do Desenvolvimento Regional Gustavo Canuto.

A fala do governador Carlos Moisés foi curta e breve. Revelou, pela primeira vez à comunidade Xokleng, o que chamou de “boas notícias de investimento” acerca do convênio assinado na Câmara de Vereadores de José Boiteux e que repassa R$ 20,9 milhões de reais para a recuperação da Barragem Norte do Vale do Itajaí.

Foto: Yasmin Bomfim

Em 1972, a Barragem Norte começou a ser construída para conter as cheias das cidades do Médio Vale do Itajaí – entre elas, Blumenau. Nos anos de 1980 e 1981, testes feitos na Barragem Norte para nivelar a água suportada pela barragem provocaram – e ainda provocam – grandes enchentes nas terras indígenas dos Xokleng.

A Barragem Norte impactou e impacta esta comunidade há 30 anos. Há deslizamentos de terra e enchentes desde então – e a área ficou condenada pela Defesa Civil. Indígenas perderam suas casas e suas plantações – sustento de suas famílias. Além do mais, os reassentados não foram ressarcidos, não tiveram qualquer ajuda ou receberam subsídio do governo devido aos prejuízos causados.

Jonas Pudewell, prefeito de José Boiteux, conta que a barragem foi mal projetada. “Quando fizeram o projeto dela, naquela época, eles não calcularam certo. Então a última enchente que aconteceu, recentemente, deixou as comunidades ilhadas. Não só os índios, como os brancos também – enfim, todas as comunidades que moram na parte de cima da barragem. E outro erro: fizeram as estradas mais baixas que o nível da barragem. Falta, ainda, terminar o canal de vazão da barragem. Imagine se hoje essa barragem estiver cheia e transbordar: vai acabar atingindo todos os barrancos na parte de baixo. Eu já tenho dito isso para as autoridades e reafirmo para vocês: nós temos uma bomba relógio”, alerta Pudewell.  

Foto: Marcelo Zemke/Jornal Vale do Norte

Para Andreia Takua Fernandes, liderança indígena da etnia Guarani, coordenadora do programa indígena da 350.org Brasil e presidente do Conselho Nacional de Saúde Indígena, a maior dificuldade dessa população é que eles estão se retirando do território tradicional e não conhecem seus direitos.

“Eles estão sendo cada vez mais encurralados por conta dos empreendimentos que estão vindo para dentro dessa comunidade. O povo Xokleng está se distanciando de si mesmo. Infelizmente há enchentes, alagamentos em suas casas, em suas plantações. O indígenas estão tentando sair de suas casas, de onde nasceram, e ir para outros lugares que sua própria aldeia. Então, vejo que falta uma comunicação com eles sobre quais direitos eles têm de não aceitarem um empreendimento em seu território. Eles não são obrigados a dizer sim. Mas eles estão praticamente sendo obrigados a isso. Reforço: o maior problema aqui é a falta de informação que esse povo tem sobre seus direitos”, afirma Andreia.

Foto: Yasmim Bomfim

Além do perigo constante de morar perto de uma “bomba relógio”, vale ressaltar que, segundo relatos da comunidade, não houve qualquer consulta aos indígenas na época da construção da barragem. Eles, inclusive, ainda aguardam receber os estudos de impacto ambiental, social, econômico e cultural causados por esse empreendimento.

Texto em colaboração: Andreia Takuá Fernandes, Janaína Bueno de Araújo e Yasmin Bomfim

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

Curso Gratuito:  Leilões de Petróleo, COP30 e Transição Justa às Vésperas de Conferência Global do Clima

A menos de cinco meses da realização da COP30, o Instituto Internacional ARAYARA promove o curso gratuito “Leilão de Petróleo e Gás da ANP, COP30 e Transição Justa”, com o objetivo de ampliar a conscientização sobre os riscos da expansão de combustíveis fósseis no Brasil e fortalecer a mobilização pela justiça climática. O curso será realizado de forma online, no

Leia Mais »

Curso Gratuito:  Leilões de Petróleo, COP30 e Transição Justa às Vésperas de Conferência Global do Clima

A menos de cinco meses da realização da COP30, o Instituto Internacional ARAYARA promove o curso gratuito “Leilão de Petróleo e Gás da ANP, COP30 e Transição Justa”, com o objetivo de ampliar a conscientização sobre os riscos da expansão de combustíveis fósseis no Brasil e fortalecer a mobilização pela justiça climática. O curso será realizado de forma online, no

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Apesar de recomendações do MP, Secretaria do DF não aumenta prazo para consulta pública sobre Plano Diretor

Ministério Público também orientou sobre processo de discussão antes de aprovação do Pdot na CLDF O Governo do Distrito Federal (GDF) mantém o cronograma acelerado para a revisão do Plano Diretor de Ordenamento Territorial (Pdot), desconsiderando recomendações do Ministério Público do DF e Territórios (MPDFT) e demandas do Comitê de Gestão Participativa (CGP), criado em 2020 como instância de diálogo

Leia Mais »

Cúpula dos Povos: mobilização global pela justiça climática ganha força rumo à COP30 em Belém

Na última terça-feira (02/06), Renata Prata, coordenadora de Advocacy do Instituto Internacional ARAYARA, participou do programa Diálogos de Justiça e Paz, promovido pela Comissão Justiça e Paz de Brasília. O encontro, realizado presencialmente com transmissão ao vivo, foi mediado por Ana Paula Inglez, presidente da Comissão, e também contou com a presença de Dorismeire Almeida de Vasconcelos, articuladora da Rede

Leia Mais »