Capacidade global de carvão aumentou para 2.175 GW em 2024 – 259 GW a mais desde que o Acordo de Paris foi assinado em 2015
Levantamento do Global Energy Monitor (.pdf) publicado na quinta (3/4) mostra que o descomissionamento de usinas a carvão na Europa avançou em 2024, com 24 dos 27 países membros da União Europeia projetando o fim da dependência do combustível fóssil até 2033.
No ano passado, as aposentadorias no bloco quadruplicaram em relação a 2023, num total de 11 GW – sendo 6,7 GW apenas na Alemanha. Já Irlanda e Espanha devem encerrar a geração de eletricidade a carvão em 2025.
Enquanto isso, fora da UE, o Reino Unido concluiu a eliminação gradual da fonte fóssil na sua matriz.
Mas em outros lugares, a transição está mais lenta. Nos Estados Unidos, as aposentadorias caíram para 4,7 GW – o menor total anual do país desde 2014, em uma desaceleração que começou em 2021.
O estudo observa, no entanto, que a saída dos EUA do carvão tende a ganhar ritmo nos próximos anos, independente do apoio do governo Trump à fonte.
“Mais carvão foi aposentado durante o primeiro mandato de Trump do que sob Obama ou Biden — uma tendência que deve continuar”, diz o relatório.
A China, maior consumidora global, estabeleceu no plano quinquenal 2021-2015 a meta de descomissionar 30 GW de termelétricas a carvão. O país, no entanto, está ampliando sua capacidade: em 2024, foram adicionados 30,5 GW — 70% do total global — e 94,5 GW começaram a ser construídos.
Isso contribuiu para que a capacidade global de carvão aumentasse para 2.175 GW – 259 GW a mais desde que o Acordo de Paris foi assinado em 2015.
A Índia também registrou seu maior nível de novas propostas de carvão, totalizando 38,4 GW. Aliás, China e a Índia sozinhas são responsáveis por 87% da capacidade de energia a carvão em desenvolvimento no mundo, calcula o monitor.
No Brasil, o dilema da transição justa do Sul
Combustível fóssil com a maior pegada de carbono e a pior taxa de eficiência energética, o carvão mineral responde por cerca de 4% da geração de eletricidade no Brasil, mas foi o grande responsável pelo aumento das emissões por GWh na geração termelétrica em 2023.
As usinas carboníferas brasileiras – concentradas na região Sul – enfrentam agora o dilema da transição energética. Elas tentam encontrar uma forma de dar longevidade aos ativos, ao mesmo tempo em que organizações ambientais apontam a insustentabilidade econômica de manter essas térmicas em operação.
“No período de 2020 a 2024, o governo brasileiro gastou uma média de R$ 1,07 bilhão anualmente em subsídios para a geração de eletricidade a carvão. Os subsídios governamentais para combustíveis fósseis também continuam a superar aqueles para energias renováveis, apesar de estas atraírem mais investimentos estrangeiros”, aponta a Arayara, ONG que contribuiu com o capítulo sobre Brasil no estudo do Global Energy Monitor.
Em fevereiro, a discussão sobre recontratação das usinas termelétricas a carvão no Brasil chegou ao governo federal com o pedido do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), ao Ministério de Minas e Energia pela edição de uma medida provisória para a recontratação da usina de Candiota.
Comprada em 2023 da Eletrobras pela Âmbar Energia, a UTE Candiota teve o fim do contrato em dezembro do ano passado.
A expectativa era que a situação fosse equacionada no marco legal das eólicas offshore, que previa a extensão dos contratos das termelétricas a carvão até 2050. O trecho foi vetado pelo presidente Lula (PT) da versão final do texto, que aguarda confirmação pelo Congresso.
Fonte: Eixos
Foto: reprodução – Catazul/Pixabay