+55 (41) 9 8445 0000 arayara@arayara.org

ARAYARA na Mídia: Por que gás natural não é alternativa sustentável

Petrobras celebra importação de gás natural da Argentina como de menor impacto ambiental. Porém, combustível fóssil polui mais do que dióxido de carbono e uso do fracking para extração causa danos socioambientais.A Petrobras comemorou no início de outubro a primeira importação de gás natural da Argentina como um compromisso com o “desenvolvimento sustentável”. No entanto, o uso deste tipo de combustível fóssil impulsiona o aquecimento global e vai contra iniciativas para diminuir as emissões que causam as mudanças climáticas.

Frequentemente vendido como “combustível de transição” e alternativa rumo à sustentabilidade, o gás natural é uma fonte energética constituída principalmente por metano (CH4), entre outros gases. As emissões de metano são 80 vezes mais potentes do que as de dióxido de carbono (CO2) em um período de 20 anos, podendo permanecer cerca de 12 anos na atmosfera.

Em setembro de 2024, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) do Brasil produziu uma nota técnica sobre as emissões de metano na cadeia do gás natural. Estima-se que há uma emissão total de aproximadamente 728 toneladas de CH4 por ano. O maior volume é emitido durante vazamentos que ocorrem ao longo do processo.

O climatologista e diretor técnico do Instituto Internacional Arayara, Juliano Araújo, responsabiliza o lobby entre as indústrias de petróleo e gás pela comercialização de gás natural como “energia verde” e destaca que o setor é um dos principais responsáveis pelas altas emissões de gases do efeito estufa.

Além dos efeitos ao clima, Araújo afirma que o uso de gás natural como fonte energética traz ainda impactos socioeconômicos para os brasileiros. Por gerar uma energia muito mais cara do que as outras alternativas, investir no uso desse combustível fóssil representa um empobrecimento da população, mais inflação e mais desemprego.

O especialista afirma que a narrativa do gás natural “sustentável” consiste em greenwashing, ou seja, uma estratégia de marketing utilizada para que um serviço ou produto venda sua imagem como sendo melhor para o meio ambiente do que realmente é.

Araújo equipara essa estratégia com a lenda do canto de uma sereia: a ideia de uma queima, em geral, mais limpa que os outros combustíveis fósseis traz um aspecto externo sedutor, como o da sereia, mas quando você é puxado para as profundezas, se depara com as etapas perigosas do processo, como o fracking, que na lenda seria o afogamento da pessoa encantada.

Problemas do fracking

Fracking, ou fraturamento hidráulico, é um método não convencional de extração de gás. “Injeta-se água, fluídos hidráulicos e mais de mil produtos químicos e radioativos para a retirada do metano de uma rocha sedimentar chamada xisto pirobetuminoso”, explica Araújo.

Todos esses compostos fazem com que os sedimentos se rompam e liberem o gás que ficava dentro deles. Os resíduos, por sua vez, em sua maioria permanecem no subsolo e contaminam os lençóis freáticos, o que também polui a água, o ar e toda a produção de alimentos no entorno.

Além disso, uma nota do Instituto Arayara aponta que, para realizar o fraturamento, são utilizados cerca de 11 milhões de litros de água por poço. Essa água é geralmente doce e retirada de diversas fontes hídricas, muitas de água potável. Em conjunto, são injetadas enormes quantidades de solventes químicos que, conforme o instituto, podem ser cancerígenos.

Mais de 90% dos fluidos resultantes do fracking podem permanecer no subsolo. Já no ar, podem ser liberados compostos como benzeno, etilbenzeno e tolueno. Esses químicos são extremamente tóxicos e estão relacionados a uma série de problemas de saúde.

Gás proveniente de Vaca Muerta

O gás natural não convencional que está sendo importado pela Petrobras é proveniente de Vaca Muerta, na Bacia de Neuquén, na Argentina.

“Os 15 anos de exploração do gás em Vaca Muerta não retiraram a pobreza nem a dívida da Argentina. E também não retiraram as dezenas de cidades que hoje são sacrificadas e contaminadas por metais pesados e por materiais radioativos advindos da exploração desse gás. O empobrecimento e o adoecimento de trabalhadores e de comunidades é uma realidade técnica e científica”, aponta o climatologista Juliano Araújo.

Os argentinos que mais sofrem os impactos dessa atividade na região são os mapuches, pertencentes ao povo indígena mais numeroso da Argentina e do Chile. A comunidade de Campo Maripe, em Neuquén, era um cenário de filme cercado por uma paisagem montanhosa, lagos azuis e numerosas formações rochosas. Entretanto, a partir de 2013 esse panorama se dissipou em meio à fumaça dos poços de fracking.

Lorena Maripe, integrante da Confederação Mapuche de Neuquén e habitante da comunidade, teve a sua realidade transformada pela exploração de gás na região. “Essa atividade afetou gravemente a nossa forma de viver, nossa cultura, economia e o espaço onde vivemos”, conta.

Os mapuches têm uma conexão intensa com a natureza e os astros. A sua cultura e cosmovisão são baseadas na oralidade e em ligações espirituais com os espaços terrenos. A terra seria uma parte constituinte do seu ser e, portanto, tudo o que acontece com ela seria sentido também pelos mapuches, não apenas de forma física e material.

Ainda assim, os impactos para a saúde na comunidade também são evidentes. “Sabemos que a contaminação da água afeta a nossa saúde diariamente”, aponta Lorena. Ela responsabiliza os metais pesados derivados do fracking pelos numerosos casos de câncer entre a comunidade e seus familiares, e o Estado pela violação de direitos do povo mapuche.

A DW questionou a Pluspetrol e YPF, responsáveis pela produção de gás natural na região, sobre as denúncias. As empresas não responderam até a publicação da reportagem.

Já a Petrobras afirmou que não tem como precisar a maneira com que o gás é extraído e acrescenta: “Por apresentar menor impacto ambiental, o gás natural tem potencial para contribuir com a redução das emissões de gases de efeito estufa e para a modernização do setor energético”.

 

Fonte: ISTOÉ Dinheiro

Foto: Reprodução

Compartilhe

Share on whatsapp
WhatsApp
Share on facebook
Facebook
Share on twitter
Twitter
Share on linkedin
LinkedIn

Enviar Comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Redes Sociais

Posts Recentes

Receba as atualizações mais recentes

Faça parte da nossa rede

Sem spam, notificações apenas sobre novidades, campanhas, atualizações.

Leia também

Posts relacionados

ARAYARA na Mídia: STJ:audiência pública discute fracking e impactos ambientais na exploração de gás de xisto

Por Gabriela da Cunha Rio, 8/12/2025 – O Superior Tribunal de Justiça (STJ) analisará nesta quinta-feira, 11, a possibilidade de uso do fraturamento hidráulico (fracking) na exploração de óleo e gás de xisto, durante audiência pública convocada pela Primeira Seção sob relatoria do ministro Afrânio Vilela. No primeiro bloco, apresentarão argumentos o Ministério Público Federal, a Agência Nacional do Petróleo,

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: After COP30, Brazilian oil continues its rush towards the global market

A decision to drill at the mouth of the Amazon drew criticism at the UN summit. But Brazil’s oil production still soars, as it hopes to consolidate its role as an exporter decision to approve oil exploration off the coast of Brazil weeks before the country hosted the COP30 climate conference signals the country’s intention to increasingly target the international market, despite

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Brasil escolhe trilhar o mapa do caminho do carvão mineral

Enquanto defende no plano internacional a transição para longe dos combustíveis, o Brasil segue aprovando medidas que dão sobrevida à indústria do carvão mineral Segunda-feira, 24 de novembro, primeiro dia útil após o fim da COP30, a conferência do clima das Nações Unidas. Dois dias depois de lançar ao mundo o mapa do caminho para longe dos combustíveis fósseis, o Brasil sancionou a Medida

Leia Mais »

ARAYARA na Mídia: Leilão expõe contradição da política energética e afasta Petrobras da transição justa

Oferta de áreas do pré-sal pela PPSA ignora tendência global de queda do petróleo e compromete estratégia climática brasileira O Primeiro Leilão de Áreas Não Contratadas do pré-sal representa mais um passo na contramão da transição energética que o Brasil afirma liderar, ampliando a entrega de recursos estratégicos a empresas privadas nacionais e estrangeiras. Enquanto o mundo se prepara para

Leia Mais »