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ARAYARA na Mídia: Entidades lamentam aprovação da flexibilização do licenciamento ambiental e cobram veto de Lula: ‘Crime histórico’

Organizações ressaltam impactos da mudança no ano em que o Brasil sedia a COP30

Por 

Luis Felipe Azevedo

 — Rio de Janeiro

Organizações ambientalistas lamentaram a aprovação do projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental pela Câmara dos Deputados, por 267 a 116 votos, na madrugada desta quinta-feira. O texto, que segue para sanção presidencial, cria pelo menos sete tipos de licenciamentos que poderão ser obtidos de forma facilitada, um deles poderá ser obtido por meio de uma termo de compromisso, assinado pelo empreendedor. Na prática, funcionará como uma autodeclaração. As entidades cobram que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vete o texto na íntegra.

Coordenadora de políticas públicas do Observatório do Clima, Suely Araújo afirma que o texto aprovado é um “crime histórico” contra a natureza e “uma vergonha para o Brasil, que intenta se colocar como um líder climático”.

— O Congresso Nacional, refletindo uma visão negacionista da relevância da política ambiental, acaba de jogar pelo ralo dois de seus principais instrumentos: o licenciamento ambiental e a avaliação de impactos ambientais. Caminhamos para uma era de intenso descontrole ambiental e de desrespeito a direitos assegurados expressamente pela Constituição — diz Araújo.

Para a pesquisadora, os “responsáveis diretos (pela aprovação) foram os parlamentares, mas o governo demorou muito a reagir contra a proposta, provavelmente imerso em suas contradições internas”.

— Uma demanda resume o necessário: veta Lula, na íntegra! — defende Araújo.

Assessora de Advocacy do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Luiza Chaer diz que o projeto aprovado é “recheado de inconstitucionalidades, que fomenta a insegurança jurídica e a judicialização, fere o pacto federativo e nos coloca em risco de ultrapassar o ponto de não-retorno da Amazônia”

— Tudo isso às vésperas de recebermos o evento ambiental mais importante do mundo, a COP 30 em Belém. Com os alertas de especialistas e as demandas da sociedade civil ignorados, a votação aconteceu na calada da noite em um plenário vazio – o maior retrocesso da política ambiental brasileira em 40 anos — avalia Chaer.

Já a especialista em Políticas Públicas do Greenpeace Brasil, Gabriela Nepomuceno, afirma que o texto precisa ser vetado integralmente:

— A aprovação do PL da Devastação demonstra que os nossos parlamentares estão mais preocupados em destruir do que aprimorar a legislação ambiental, esvaziando a capacidade do Estado de prevenir e mitigar os impactos de obras Brasil afora. O momento é crítico, mas esperamos que parte dessa lambança feita pelo Congresso Nacional possa ser revertida na sanção presidencial. Veta tudo, Lula! — pede Nepomuceno.

Na avaliação de Nepomuceno, o Congresso Nacional “acabou de dar aval para grandes empresas, principalmente as ligadas ao agronegócio e à indústria, se autodeclararem aptas a construir seus empreendimentos sem vistoria prévia, sem a fiscalização do poder público e sem ouvir as populações afetadas”.

— Na prática, é como se tivessem autorizado um médico fazer uma grande cirurgia sem antes cursar a residência e sem consultar o paciente. Sem dúvidas, é o maior retrocesso ambiental sofrido pelo Brasil em 40 anos — compara Nepomuceno.

O IPAM (Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia) afirmou que “o texto desmonta os pilares do licenciamento ambiental e enfraquece a capacidade do Estado de prevenir danos ao meio ambiente”.

— No momento em que o Brasil se prepara para um dos eventos mais importantes para o futuro da humanidade, a COP30 em Belém, nosso Congresso nos brinda com uma agenda que vai na contramão de nossa liderança global: um PL que usa o correto pretexto de simplificar, para tornar o processo de licenciamento ambiental no Brasil menos transparente e mais arriscado para o meio ambiente — disse André Guimarães, diretor executivo do IPAM.

‘Mãe de todas as boiadas’, diz WWF Brasil

 

Em nota a WWF Brasil afirmou que o projeto é ” a maior licença dos últimos 40 anos no Brasil para destruir o meio ambiente”, e que “os danos serão irreversíveis”. A entidade criticou, principalmente, a permissão para o auto licenciamento, e a criação da Licença Ambiental Especial, além da dispensa de licenciamento para atividades agropecuárias, de consulta a povos indígenas em casos de atividades em terras não demarcadas, de pretção da Mata Atlântica e a restrição de atuação da Funai, ICMBio e Iphan.

“Em pleno ano da COP30, que será realizada em Belém (PA) em novembro, o Congresso escolheu passar a mãe de todas as boiadas, ao invés de avançar no enfrentamento da crise climática. A aprovação do PL da Devastação ameaça a liderança do Brasil nas negociações internacionais sobre o clima, além de colocar em risco parcerias comerciais e o acesso a financiamentos que exigem o cumprimento de salvaguardas socioambientais. É profundamente lamentável que o Congresso tenha ignorado os alertas da ciência e os apelos da sociedade civil. Agora, cabe ao Presidente Lula exercer sua responsabilidade e mostrar o seu compromisso com o clima, as pessoas e o meio ambiente, e vetar integralmente o texto. Ainda é possível evitar uma tragédia sem precedentes”, diz a nota.

Segundo a Fundação SOS Mata Atlântica, a lei coloca o futuro do bioma sob ameaça. Isso porque uma emenda do texto altera a Lei da Mata Atlântica e enfraquece a proteção de suas áreas mais preservadas. A Fundação ainda diz que o projeto é inconstitucional, conforme decisão recente do STF, que impediu a revogação de mecanismos que exigem dupla autorização ambiental para o desmatamento na Mata Atlântica .

” A mobilização nas redes sociais, os manifestos públicos e a repercussão na imprensa mostraram que a sociedade brasileira está atenta e atuante. No entanto, a maioria dos parlamentares optou por avançar com um projeto que desrespeita o conhecimento técnico e científico. A votação foi marcada por truculência, desinformação e falta de abertura ao diálogo”, diz a nota.

O Instituto Internacional Arayara diz que a principal preocupação é a retirada da autonomia dos municípios a partir da medida de “auto licenciamento”. Os impactos, diz o instituto, vão “desde a contaminação do ar e da água por poluentes tóxicos até o aumento de ruídos e riscos de acidentes, comprometendo a saúde pública e o bem-estar social”.

— O resultado será um ambiente urbano com múltiplos projetos prejudiciais à saúde, como grandes indústrias, mineradoras ou aterros sanitários, que, sem o controle municipal, se tornarão vizinhos indesejados de moradias, escolas e unidades de saúde, expondo a população a riscos constantes e inaceitável — disse Juliano Bueno, diretor da Arayara e conselheiro do Conama.

“O resultado será um ambiente urbano com múltiplos projetos prejudiciais à saúde, como grandes indústrias, mineradoras ou aterros sanitários, que, sem o controle municipal, se tornarão vizinhos indesejados de moradias, escolas e unidades de saúde, expondo a população a riscos constantes e inaceitável”, acrescentou o diretor da Arayara.

Aprovado na Câmara

O avanço do projeto representa uma derrota para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e também para parlamentares e para a base ideológica mais à esquerda do governo, que apontam retrocessos ambientais. Parlamentares contrários ao texto reclamaram da aprovação e chamaram atenção para o fato de a votação ter sido feita em sessão remota e durante tarde da noite, adentrando a madrugada.

Por outro lado, os ministérios da Casa Civil, Transportes, Agricultura e Minas e Energia já sinalizaram serem favoráveis ao texto, sob a justificativa de que as medidas destravariam obras de infraestrutura em todo o país e melhorariam a capacidade do governo de fazer entregas.

O texto ainda precisará ter a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Caso o petista vete trechos ou todo o projeto, a decisão pode ser revista pelo Congresso Nacional. Ainda assim, integrantes do governo já disseram que as novas regras podem ser questionadas judicialmente.

O projeto foi apresentado originalmente em 2004 pela Câmara, mas foi destravado apenas neste ano após um compromisso firmado entre o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), e a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), conhecida como bancada ruralista. O texto foi aprovado pelo Senado em maio e agora passou pela segunda votação na Câmara.

Fonte: O Globo

Foto : reprodução/ Brenno Carvalho/Agência O Globo

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